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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.30 n.45 São Paulo dez. 2007

 

EDITORIAL

 

Jassanan Amoroso Dias Pastore

Endereço para correspondência

 

 

Este número contém os desdobramentos de um diálogo iniciado no número anterior, em que procuramos investigar a temática Linguagem sob três eixos: o lugar e a função da linguagem, num mundo em que há um questionamento acerca da potência da palavra; a atividade de linguagem que nos é própria, enquanto psicanalistas; e o estatuto do discurso psicanalítico.

Se a psicanálise busca a sua alétheia, a verdade do desejo, e se, no enigma do desejo, verdade e engano são elementos complementares, podemos dizer que é na dimensão do equívoco que a verdade faz sua emergência. O acento, na procura da verdade, recai sobre o âmbito da subjetividade, enquanto abertura para o ser e o pensar. O discurso do sujeito psicanalítico se desenvolve, por conseguinte, no registro do erro e da visitação pelo desconhecido. Na nossa prática clínica, a linguagem se insinua, exatamente, no momento em que o discurso falha. Daí que o não-dito e suas significações não se encontrem excluídos da linguagem.

É em torno de uma concepção transformadora que transita entre os contrários memória e esquecimento, produzindo como que uma invenção da verdade, que se estrutura a palavra “poética” – abrigo da ambigüidade, do paradoxo, da dialética e do luto. Nessa concepção de memória, implicada no processo analítico, é que Freud fez questão de insistir, lembra-nos Luís Carlos Menezes.

Diversos autores nos contam que o discurso psicanalítico, em sua territorialidade, estabelece descontinuidades sobre o contínuo da parole e, assim, permite que um mesmo enunciado assuma significações diversas, de acordo com o contexto discursivo em que emerge. A partir deste poder singular do diálogo analítico, o de deslocar-se na linguagem, dá-se a tessitura da trama metafórica.

A talking cure é a fala destinada ao outro/analista e inscreve a descarga da verbalização no espaço da transferência. Nesse espaço é mister lidar com a repetição que, ao insistir primariamente como força de desligamento, deve ser posta a serviço da manifestação da vida, da expressão dos dilemas pulsionais e das vicissitudes do desejo.

Alguns textos procuram pensar a natureza e as raízes corporais da linguagem. Poderíamos também dizer que muitas narrativas que escutamos em nossos consultórios estão mais próximas da cena, enquanto montagem fantasmática, do que do relato propriamente dito. Escutar essas narrativas encenadas é levar em conta a fala, a partir do real do corpo pulsional.

A linguagem freudiana, segundo Marilene Carone, por transitar entre a palavra cotidiana e o conceito, tornou porosa a convivência entre a especulação teórica e a prática clínica que se desenrola por meio da fala espontânea do paciente e de suas associações livres, de modo que a construção teórica se encontra entranhada da experiência vivida pela dupla analista/analisado. André Carone, dentre outros colaboradores, nos convida a conceber o método psicanalítico como essa busca, constante e incessante, de conexões clínicas e teóricas que partem de investigações e semeiam o terreno comum de uma espessa malha de hipóteses. O inconsciente freudiano, em sua radicalidade, está sempre prestes a se reinventar a cada vez que o sujeito se arrisca a tomar a palavra.

Alguns textos tratam da especificidade das linguagens da criança e das modalidades de intervenção lúdica do analista.

Na aproximação com manifestações de linguagem singulares, emergentes na cultura contemporânea, realizamos a entrevista sobre linguagem eletrônica com Ricardo Barreto, que nos surpreendeu com os alcances possíveis do mundo virtual nos dias atuais.

Na tentativa não só de resgatar a origem editorial da ide – que gira em torno do diálogo entre psicanálise e cultura – e sua importância na abertura de fronteiras para o pensamento como também de discutir as articulações entre linguagem e cultura envolvidas na produção de novas subjetividades, desenvolveremos o tema Cultura no próximo número.

 

 

Endereço para correspondência
Jassanan Amoroso Dias Pastore
R. Capote Valente, 432/82 – Pinheiros
05409-001 – São Paulo – SP
Tel.: 11 3081-4349
E-mail: jassanan@uol.com.br

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