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Ide

versão impressa ISSN 0101-3106

Ide (São Paulo) v.30 n.45 São Paulo dez. 2007

 

EM PAUTA - LINGUAGEM II

 

Ensaio sobre a linguagem e uma práxis psicanalítica

 

Essay on language and the psychoanalytical praxis

 

 

Waldo Hoffmann*

Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
USP. Centro de Saúde-Escola Samuel Bresley Pessoa. Programa de Saúde Mental
PUC-SP. Cogeae

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Delimitando os possíveis territórios do saber, este ensaio procura estabelecer a fundamentação de uma práxis psicanalítica na linguagem e seus efeitos no existir humano. Fazendo referência aos seus aspectos sedutores, estabelece os limites do reducionismo biológico contemporâneo.

Palavras-chave: Epistemologia, Linguagem, Práxis psicanalítica, Realidade psíquica,Territórios do saber.


ABSTRACT

While demarcating the possible relevant areas of knowledge, this essay argues that the foundations of the psychoanalytical praxis are language
and its impacts on human existence. Though referring to the seductive aspects of the present biologist reductionism, it points to its limits.

Keywords: Epistemology, Language, Psychoanalytical praxis, Psychic reality, Areas of knowledge.


 

 

Um ensaio é prosa livre que versa sobre tema específico, sem esgotá-lo, reunindo dissertações menores, menos definitivas que as de um tratado formal, feito em profundidade. É isso que me proponho neste texto.

Práxis é o conjunto de atividades humanas autotélicas, ou seja, que não apresentam qualquer finalidade ou objetivo fora ou para além de si mesmas, cuja manifestação mais representativa é a política, e caracterizadas especialmente por sua natureza concreta, em oposição à pura reflexão teórica. No marxismo, é a ação objetiva que, superando e concretizando a crítica social meramente teórica, permite ao ser humano construir a si mesmo e ao seu mundo, de forma livre e autônoma, nos âmbitos cultural, político e econômico. Trata-se da ação de aplicar, usar, exercitar uma teoria, arte, ciência ou ofício. A psicanálise, enquanto se constitua, concomitantemente, como um método de investigação, numa teoria do psíquico e numa prática terapêutica, é, portanto, uma práxis.

Às vezes me pego muito contente por trabalhar no território do psíquico, com sua matéria flexível, plástica, amoldável, soft enfim. E soft, aqui, só quer dizer transformável, ou seja, sujeito a modificações, e não fácil de lidar. “As palavras são um material plástico, que se prestam a todo tipo de coisa”, afirmou Freud (Freud, 1905/1977, p. 49).

Se eu trabalhasse com a biologia ou a física, teria que pôr as mãos na massa física, na matéria biológica, cometer atos cirúrgicos ou manipular químicas. Estaria pilotando um cíclotron e analisando traços inconstantes em alguma câmara de vapor ou envolto em pipetas, eletroforeses e colorimetrias na ponta da biotecnologia, tentando intervir na herança darwiniana com seus aminoácidos, suas pontes de hidrogênio e seus milhares de anos de mutações e lentas seleções naturais. Estaria aterrorizando Darwin em seu túmulo com o fantasma revivido de Lamarck, com a criação de um Frankenstein ou, quem sabe, de um imortal conde Drácula.

 

Pensar a psicanálise

Enquanto apenas meditarmos sobre sua forma, ela é inerte, mera abstração; enquanto apenas sentimos sua vida, esta é informe, mera impressão. Somente quando sua forma vive em nossa sensibilidade e sua vida se forma em nosso entendimento o homem é forma viva, e este será sempre o caso quando o julgarmos belo.
Schiller, 1990, p. 82.

Freud atribui à novidade de seu método – e, portanto, de seu objeto – o descentramento que o caracteriza, promovendo uma crítica aos conceitos e às representações existentes até então e aderindo à impossibilidade de representar o saber absoluto na medida em que situa sua descoberta do inconsciente em comparação com as revoluções coperniciana e darwiniana.

O descentramento coperniciano ficou conhecido como a primeira ferida narcísica imposta à humanidade pelo saber. A Terra não é mais o centro do universo, e sim um dos planetas que giram ao redor do Sol, uma pequena estrela. Freud prossegue em seu pensamento e afirma que a humanidade sofre uma segunda ofensa narcísica com a Teoria da Evolução. Com Darwin, o homem já não é o centro da criação, mas um ramo do longo e meticuloso processo de mutações e seleções naturais que deu origem às espécies (Freud, 1917/1976c).

Com Freud, o homem já não é senhor de si mesmo. Sua consciência já não é o centro ao redor do qual giram seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. A consciência, assim como a Terra é um pequeno planeta que gira ao redor de seu próprio eixo, transladando ao redor de uma pequena estrela que gira ao redor de um enorme aglomerado de estrelas maiores, é uma consciência errante entre as galáxias de sentido em constante movimentação no “firmamento” da linguagem. Parafraseando Descartes, com seu Cogito ergo sum, Lacan ardilosamente joga: “Eu sou onde não existo e existo onde não sou”.

Há uma ferida, no entanto, à qual Freud não se referiu. Com a teoria materialista da história, Marx retira do homem – de suas idéias e ações – a condição de ser o motor que move a história. Com a ruptura epistemológica por ele realizada, os motores da história se transformam em objetos formais abstratos que fundam um novo campo do saber: as formações sociais e suas contradições, as classes e seus conflitos e o desenvolvimento das forças produtivas. Esses novos objetos formais abstratos, do novo território de saber, o materialismo histórico, constituem agora os motores da história. Assim, a história é descentrada. Os ideais do homem perdem o lugar central no processo histórico. Aos homens, a partir de então, cabe o exercício de funções. Papéis em uma outra cena regida por forças que podemos compreender parcialmente fazendo uso dos provisórios objetos formais abstratos do território inaugurado por Marx.

Inaugurando um novo território de saber, munido de suas sempre provisórias hipóteses e mantendo constantemente sua incomparável habilidade de jogar com o movimento entre a experiência e a especulação no seu trabalho clínico, Freud atribui à psicanálise o posto de terceira ferida narcísica da humanidade.

Freud – que inicialmente acreditava poder tornar consciente o inconsciente e que, em 1914, com “Recordar, repetir e elaborar” (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise), já se mostra preocupado com os limites de sua técnica – dá um grande passo nas investigações do campo por ele fundado, escrevendo em Além do princípio do prazer:

Vinte e cinco anos de intenso trabalho tiveram por resultado que os objetivos imediatos da psicanálise sejam hoje inteiramente diferentes do que eram no começo. A princípio, o médico que analisava não podia fazer mais do que descobrir material inconsciente oculto para o paciente, reuni-lo e no momento oportuno comunicá-lo a este. A psicanálise era então, primeiro e acima de tudo, uma arte interpretativa. Uma vez que isso não solucionava o problema terapêutico, um outro objetivo rapidamente surgiu à vista: obrigar o paciente a confirmar a construção teórica do analista com sua própria memória. Nesse esforço, a ênfase principal reside nas resistências do paciente: a arte consistia então em descobri-las tão rapidamente quanto possível, apontando-as ao paciente e induzindo-o, pela influência humana – era aqui que a sugestão, funcionando como “transferência”, desempenhava seu papel –, a abandonar suas resistências (Freud, 1920/1976a, p. 31).

Nesse texto denso, Freud vislumbra que o que repete não pode tornar-se totalmente consciente. Alguma coisa permanece maldita ou não dita pela linguagem e a finitude da análise se põe em questão. A regra ou o fim a ser alcançado pelo paciente, a livre associação, paradoxalmente chamada de “regra fundamental”, aliada à postura do analista em “atenção flutuante”, abre um campo que se mostrará extremamente fértil em toda pesquisa psicanalítica posterior.

Os desenvolvimentos posteriores da psicanálise vão procurar pensar a função mental que dará conta desses “restos” que também são o desafio da poesia e outras artes. Para dar conta da função analítica, da cura analítica e das transformações operadas no paciente, serão desenvolvidas idéias como a de holding de Winnicott, ainda bastante ligada à imagem do amparo físico da mãe ao ser em formação, até o conceito mais abstrato, rêverie, de Bion. A psicanálise irá pensar, com conceitos diversos e com elementos peculiares, as possibilidades de transformação e os limites de seu território de conhecimento e de intervenção.

Freud afirmava, com relação à clínica psicanalítica, que: “Esta técnica é muito simples. Rechaça todo meio auxiliar, inclusive, como veremos, a mera anotação e consiste simplesmente em não tentar reter nada em particular e acolher tudo com uma mesma atenção flutuante” (Freud, 1912/1968a, p. 418).

Foi se tornando cada vez mais claro, primeiro para Freud e depois para todo psicanalista, que o fim proposto – fazer consciente o inconsciente – não podia ser totalmente alcançado e que os caminhos da teoria e da técnica psicanalítica não eram tão “simples” apesar da “simplicidade” de seu dispositivo.

O paciente não pode recordar a totalidade do que nele se acha reprimido, e o que não lhe é possível recordar pode ser exatamente a parte essencial. Dessa maneira, ele não adquire nenhum sentimento de convicção da correção da construção teórica que lhe foi comunicada. É obrigado a repetir o material reprimido, como se fosse uma experiência contemporânea, em vez de, como o médico preferiria ver, recordá-lo como algo pertencente ao passado (Freud, 1920/1976a, p. 31).

Fundamentado em uma leitura rigorosa e peculiar de Freud, Lacan opta por uma tradução inédita da célebre frase de Freud, “Wo Es war, soll Ich werden”, enunciada em 1933 nas “Novas conferências introdutórias sobre psicanálise” (Freud, 1933/1976b). Não se trata de tornar consciente o inconsciente, e sim de “onde era isso devo eu advir”, ou “Onde era o isso deve o eu advir”. Lacan extrai daí sua máxima: “O que não é Simbolizado retorna no Real”.

Na posição centrada no consciente, estamos habituados a conceber o pensamento como saber. Freud, porém, contesta. O que analisa não é o saber, o que não quer dizer que o saber não seja útil e necessário, mas que ele também pode atrapalhar a atenção livre e flutuante. Freud rasga o véu, rompe o lacre, abre mais uma porta do multiverso e cria um novo paradigma de conhecimento. Hoje sabemos que o que analisa é o pensamento. Portanto, é no campo da linguagem, entranhado no dispositivo psicanalítico – esse playground onde se joga com sentidos e sentimentos –, que o psicanalista, munido de seus objetos formais abstratos (inconsciente, repetição, resistência, transferência), faz sua intervenção.

Para compreender um acontecimento histórico, não usaremos conceitos retirados do território teórico da psicanálise: inconsciente, transferência, castração, narcisismo ou Édipo. Usaremos conceitos do materialismo histórico: desenvolvimento das forças produtivas, luta de classes, relações de produção e formações sociais. O surgimento de uma epidemia ou de um abalo sísmico será compreendido por elementos do território da física, que hoje incorpora a biologia por meio da biologia molecular com seus objetos formais abstratos: prótons, elétrons, quarks, forças eletromagnéticas, força forte, força fraca, átomos e moléculas de complexidade crescente.

Detenho-me nessas questões porque me parece vitalmente necessário estar localizado nos territórios de conhecimento e seus limites. Preciso desses pontos de ancoragem para permanecer, com um mínimo de tranqüilidade, perdido junto aos peculiares seres humanos que me atrevo a atender em psicanálise. Constantemente me pergunto se não estou orientando, sugestionando, moralizando, censurando, normalizando ou até mesmo catequizando as pessoas que estão ali buscando sua identidade e um pouco de liberdade para criar a si mesmos. Permanentemente me questiono se não estou querendo impor ou apenas sugerir valores pessoais, idéias boas para mim, mas não obrigatoriamente boas para outros. Concepções investidas das qualidades de uma “ciência positiva” são especialmente propícias para vestir o hábito da verdade absoluta, autorizar um determinismo perverso e servir como poderosa ferramenta de fabricação de ideologias, a serviço da satisfação de narcisismos pessoais. A história das igrejas e das ciências e suas instituições está repleta dessas distorções que, ao invés de ampliar as possibilidades de desenvolvimento, apenas limitam a liberdade de pensar. O que permite a liberdade de pensar é o insaturado, o que inclui alguma dose de ignorância ou de não dito.

Com freqüência tenho dificuldade em suportar as angustias agorafóbicas das perdas narcísicas que o salto abstracionista de Freud imprimiu no meu trabalho e por isso sinto necessidade de tentar estabelecer as bases sobre as quais erigir e sustentar a diversidade de noções, conceitos, idéias e entendimentos das questões teóricas e práticas com que me defronto diariamente na minha atividade pessoal e institucional como psicanalista.

Para pensar a posição que ocupamos no mundo, nosso anseio em obter uma imagem abrangente da realidade objetiva, cuja noção já nos garante a impossibilidade de tal imagem conter tudo porque nós mesmos somos o primeiro obstáculo a essa ambição, Naguel, um catedrático de filosofia e direito na Universidade de Nova York, afirma:

A ambição de ir além de nós mesmos tem limites evidentes, mas nem sempre é fácil saber onde se localizam ou quando foram transgredidos. Pensamos, com razão, que a tentativa de distanciar-nos de nossa perspectiva inicial é um método indispensável para ampliar nossa compreensão do mundo e de nós mesmos, para aumentar nossa liberdade de pensar e agir e para nos tornarmos melhores. Mas, sendo quem somos, não podemos ir totalmente além de nós mesmos. Não importa o que façamos, continuamos como subpartes do mundo, com acesso limitado à verdadeira natureza do resto dele e de nós mesmos. Não há como saber quanta realidade se encontra fora do alcance da objetividade presente ou futura ou de qualquer outra forma concebida de compreensão humana (Naguel, 2004, pp. 6-7).

Ou, como problematiza Manguel, ensaísta, organizador de antologias, tradutor, editor e romancista:

Somos a língua em que somos falados, somos as imagens em que somos reconhecidos, somos a história que somos condenados a lembrar porque fomos barrados de um papel ativo no presente. Mas somos também a língua em que questionamos essas proposições, as imagens com que invalidamos os estereótipos. E somos também o tempo em que vivemos, um tempo de que não podemos nos ausentar. Temos uma existência própria, e não estamos mais dispostos a permanecer no imaginário (Manguel, 2000, p. 35).

Freud é admirador inconteste de Darwin em se tratando da biologia. Mas, no que se refere à psicanálise, nascem e morrem falantes1 e os espíritos investigados por ela se transformam a cada geração. Mudam rápido, não esperam bilhões de anos por mutações e seleções naturais. Quando se fala da herança psíquica, é o lamarckismo que deve imperar, porque a herança do objeto de investigação da psicanálise se processa de modo transgeracional e apresenta aspectos análogos aos das leis descritas por Lamarck.

Diferentemente dos animais – em que a cada estímulo externo corresponde uma ação, uma conduta, sempre a mesma, determinada por um código genético: uma cadeia instintiva fechada, saturada, não escorregadia –, o homem reagirá a estímulos análogos do ambiente com respostas diferentes, conforme a sua cultura, sua cadeia simbólica, o universo de linguagem em que foi imerso. Terá suas piadas, suas poesias e suas palavras proibidas, impronunciáveis. Todas as famílias, essas maravilhosas, misteriosas e encantadoras microculturas, serão portadoras de conteúdos transgeracionais positivos e negativos, terão seus enforcados e nela não se falará em corda. Esse universo, sempre insaturado, aberto, onde novos sentidos e novas possibilidades são articulados, será então passado às novas gerações, incorporado ao instrumental simbólico disponível.

Quando pensamos a linguagem não como mera nomeação de referentes positivos externos, surge a questão de sua origem ou nascimento. Observamos que as palavras parecem ser os elementos fundamentais e fundadores de sua estrutura. São unidades que conservam sua identidade essencial em diferentes configurações e podem circular separadamente. Mais que isso, suas raízes se conservam, a despeito de prefixos, sufixos e variações semânticas. E mais: novas palavras e novos sentidos para palavras já existentes se desenvolvem quando poetas e escritores fazem uso delas em novos contextos.

Nada semelhante ocorre com os animais. Boutan, baseado em suas observações acerca dos hábitos vocais dos gibões, conclui que os animais não possuem uma linguagem rudimentar. O que eles articulam não é uma linguagem nem jamais conduz a uma linguagem (Langer, 1962). Mesmo abelhas estabelecem códigos. Até nossos computadores têm a chamada “inteligência artificial” fundamentada em códigos. Com a linguagem ocorre algo diferente. Como diz o ditado italiano: “Traduttore, traditore” (“Tradutor, traidor”). As palavras de uma língua remetem a sentidos que palavras de outras línguas são capazes de alcançar apenas de aproximar-se, sem alcançá-los. O potencial semântico de respostas possíveis é infinito.

Minha indisfarçável atração por modos não corriqueiros de pensar, talvez um ponto indissolúvel de minha já distante adolescência, me leva a ficar encantado com o belíssimo movimento que o pensamento de Susanne Langer efetuou. Ela afirma que a maioria das teorias sobre a origem da linguagem parte da idéia de que as palavras denotativas foram unidades primitivas de alguma língua original ou generativa, e que estas foram progressivamente combinadas em proposições cada vez mais complexas. Mas o fato de que palavras sejam as unidades básicas da linguagem e de que o filhote humano, ao “herdar” a linguagem, começa com a palavra – a canhestra palavra-chave do bebê e do estrangeiro, que vale por toda uma sentença (para os iniciados que a escutam) – não leva obrigatoriamente à conclusão de que elas tenham sido os elementos originais da linguagem (Langer, 1962).

Em uma elegante cambalhota, em um descentramento do pensar corriqueiro, Langer propõe que a linguagem se originou de longas ululações que acompanharam rituais coletivos: As reuniões eram provavelmente rituais comensais, ou, antes, medonhas precursoras estéticas do ritual genuíno, e as ululações consistiam nos elementos vocais da dança primitiva. É o que desenvolveremos a seguir.

 

A comunhão, a linguagem e o psíquico

Mortais são aqueles que podem fazer a experiência da morte como morte. O animal não é capaz dessa experiência. O animal também não sabe falar. A relação essencial entre morte e linguagem lampeja, não obstante ainda de maneira impensada. Essa relação pode, contudo, nos dar um aceno para o modo em que a essência da linguagem nos intima e alcança e, com isso, nos sustenta, se é que a morte faz parte do que nos intima.
Heidegger, 2004, pp.170-171.

Um bando de macacos dança e grita, e um dos macacos, dispondo de todas as aquisições biológicas do homem, imerso em uma longa ululação acompanhada dos movimentos físicos e proprioceptivos da dança coletiva, experimenta uma comunhão. Mais tarde, sozinho, entoará essa vocalização – na verdade, uma alusão ao fato experimentado coletivamente – e, quando, por um momento, reviver a experiência da comunhão, terá nascido a linguagem. Essa primeira longa frase não representa um objeto externo, mas possibilita uma experiência de compartilhamento, um compartilhar de sentido. Essa é a primeira palavra da linguagem verdadeira e simbólica, que constitui o humano e o afasta definitivamente do simples código de comunicação.

Mais tarde, ela servirá para nomear referentes externos ou internos, no entanto manterá a característica de dar qualidade humana ao real material e, para sempre intrinsecamente ligada ao ser unívoco que é sua condição, permitirá a Parmênides afirmar que o Ser e o pensamento são uma só e mesma coisa. Mais tarde ainda, Freud não nos deixará escapar: para começar a pensar, é preciso desviar-se da consciência, é preciso inconscientizar-se. Como proclama Deleuze, baseando-se em Marx, os problemas escapam por natureza à consciência, e a ela cabe ser uma falsa consciência (Badiou, 1997). Para a psicanálise, nenhum segmento da realidade tem existência em si, ou seja, nenhum segmento pode ser levado em conta sem a mediação da estrutura da linguagem.

Essa dimensão alusiva da linguagem é destacada por um poeta como Borges em sua sexta conferência em Harvard,2 denominada o credo de um poeta:

Eu queria expressar tudo. Pensava, por exemplo, que, se precisava de um pôr-de-sol, devia encontrar a palavra exata para o pôr-do-sol – ou melhor, a mais surpreendente metáfora. Agora cheguei à conclusão (e essa conclusão talvez soe triste) de que não acredito mais na expressão: acredito somente na alusão. Afinal de contas, o que são as palavras? As palavras são símbolos para memórias partilhadas. Se uso uma palavra, então vocês devem ter alguma experiência do que essa palavra representa. Senão a palavra não significa nada para vocês. Acho que podemos apenas aludir, podemos apenas tentar fazer o leitor imaginar. O leitor, se for rápido o suficiente, pode ficar satisfeito com nossa mera alusão a algo (Borges, 2000, p. 122).

O grande passo do antropóide ao antropos, do animal ao homem, foi dado quando os órgãos vocais se moveram para registrar a ocorrência de uma imagem e suscitaram uma ocorrência equivalente em outro cérebro, e as duas criaturas se referiram à mesma experiência compartilhada. Hoje sabemos que efeito idêntico é obtido pelas linguagens visuais estabelecidas por deficientes auditivos e que prescindem dos órgãos vocais, mas não da capacidade humana de estabelecer linguagem. Suscitar idéias uns nas mentes dos outros, não no curso de ações codificadas, mas no da emoção e da memória – ou seja, em reflexão –, equivale a compartilhar o sentido de alguma coisa, e isso nenhum animal faz. Daí em diante, é provável que a linguagem tenha avançado com impetuosa rapidez; as frases vagamente articuladas da horda reunida contraíram-se em torno de seus núcleos de sentido e originaram palavras longas, ricas e gerais, e fragmentaram-se em palavras especificamente denotativas, até que quase todo o repertório fonético se formalizou em fragmentos separados e a linguagem entrou no estágio sintético de construir sentenças com palavras – o reverso de seu prisco processo de articulação (Langer, 1962).

Esse animal, que carece da cadeia instintiva completa, exatamente pela falta do instinto típico animal,3 está apto a articular linguagem. E é a articulação da linguagem que produzirá o homem, o sujeito. De agora em diante, a partir desse abismo onde a gênese de uma qualidade emergente se instala, o animal será autobiográfico, será um animot, como poeticamente o denominou Derrida (2002). De modo diverso ao 0 e 1, que, articulando-se de maneira complexa, produzem apenas sofisticados programas codificados, marcas diferenciais, sonoras, visuais, táteis, gustativas e olfativas, em sua lógica peculiar e seu caráter ilimitado, se articulando, produzem sentido. Esse sentido emergente pressupõe ou produz um sujeito que os produza e, assim como a Terra, ao girar ao redor de si mesma, produz a ilusão, realisticamente experimentada, de o Sol girar ao seu redor, a linguagem, ao se articular, produzindo sentido e pressupondo um sujeito produtor desse sentido, cria a ilusão, realisticamente experimentada, de que o homem produz linguagem.

É essa propriedade da linguagem de produzir poesias, músicas, filmes, enfim, sentido – consciente –, produzindo, ao mesmo tempo, um aumento de sentidos possíveis – inconsciente –, que, ao pressupor ou produzir a ilusão de um sujeito que a produz, cria e é o caracteristicamente humano. Encontramo-nos imersos na experiência (no ato de experienciar) como observadores operando na linguagem. E é a partir de estar já na linguagem que fazemos a pergunta sobre ela.

O sujeito da psicanálise, o sujeito sobre o qual ela opera, é um sujeito da revolução descentralizadora da ciência moderna. Mas existe um ponto em que Freud escapa do esgotamento que toda revolução produz, ao lidar com sua descoberta como um problema para o narcisismo humano. Ao fazê-lo, ele se posiciona como clínico de uma situação inesgotável, crítico de sua própria revolução, estabelecendo para ela limites e toda uma organização interna. Com isso, renova as possibilidades de seu método. A psicanálise fere o Eu e, para compreender essa circunstância inevitável, é preciso acrescentar que o narcisismo sempre se reduz a uma demanda de exceção para si mesmo. Reciprocamente, a hipótese freudiana do inconsciente é uma maneira radical de afirmar a inexistência de exceções (Chuster, 1999).

Somos todos portadores de uma falta constitutiva. Ao nos constituirmos como sujeito por meio da linguagem, levamos, de quebra, o vazio da distância entre a palavra e o referente (como veremos adiante, com o grão de areia a mais ou o fio de cabelo a menos) e carregamos um sofrer inerente ao ser, ao estar humanamente vivo.

A dialética da linguagem acarreta a dissolução total do objeto positivo. A verdadeira palavra da linguagem, herdeira da primeira palavra, a grande ululação com a qual o grupo (pelo menos dois) de pró-humanos comunga e experimenta uma realidade psíquica, é essencialmente nãotoda. A palavra específica da linguagem não comporta um referente positivo e implica o paradoxo do um grão-a-mais ou do cabelo-a-menos. Qual é o primeiro grão de areia que faz o monte? Qual o último fio de cabelo que se perde para ficar calvo? Quando observamos (observamos?) o monte de areia ou a minha calvície, constatamos que já é tarde demais. Somente a posteriori (après-coup) podemos ter acesso ao monte ou à calvície. O momento nunca é exato, pois simplesmente constatamos que o que temos diante de nós já era, pelo menos um grão ou um fio antes, o monte ou a calvície (Zizek, 1991).

A validade da constatação é retroativa, isto é, ela também continuará válida se retirarmos um grão ou se acrescentarmos um fio de cabelo. Quantas pitadas fazem um bocado? E um borrifo? Quantos espirros ou quantas gotas perfazem um borrifo? Isso ocorre porque, na linguagem, estamos lidando com determinações simbólicas e elas nunca se deixam reduzir à simples representação dos dados positivos, das propriedades positivas. Sempre implicam uma distância, uma separação, um corte em relação ao real positivo.

Portanto, na construção do sujeito humano ou no engendramento da subjetividade humana (realidade psíquica) na e pela linguagem, esse espaço permanece aberto. É desse espaço, distância ou separação, que nasce a tensão pulsional da qual emergirão o desejo e seus – sempre insatisfatórios, incompletos e imperfeitos – “objetos”.

Esse grão supérfluo, sem o qual o monte continuará a ser monte, encarna a função significante da linguagem na construção da realidade. Ficamos tentados a dizer que esse grão a mais representa o sujeito para todos os outros grãos, porque todos os outros grãos adquirem o sentido de monte por e através desse grão a mais.

Eis o paradoxo fundamental da ordem simbólica. A linguagem é sempre excessiva com relação ao real positivo, porém sem esse excedente, que é o caracteristicamente humano, perderíamos as condições para apreender o que quereríamos discernir em “estado bruto”, sem o excesso de sentidos, ou seja, a realidade nela mesma. Encontramos aqui o valor constitutivo da psicanálise como peculiaridade de tratamento do humano: a defesa e o respeito pelo singular. O singular, como o termo indica, é o que singulariza, o excesso, o sintoma, e é, por conseguinte, uma categoria distanciada da dialética do geral/particular e mais ainda do normal/patológico.

O particular não ilustra senão um caso do geral. Um se inscreve no outro como forma de mútuas remessas em troca. Já o singular é o que singulariza, o que se distingue e que se afasta da teoria infantil da primazia universal do pênis. Somente o primitivo se ancora em uma medida única representada pelo pênis que obstaculiza a instalação do reino das diferenças e da diversidade, que é o mundo humano, tão brilhantemente percebido por Freud.

Na maior parte do tempo, estamos imersos na abertura opaca do cotidiano, submetidos ao primado do passado, através do discurso sedimentado. Apesar da saturação e da opacidade que se verificam no cotidiano, este não é claustrofóbico; ao contrário, nele há um movimento fundamental que torna os entes coisas dadas. Esse movimento coisificante, com sua homogeneização do modo de ser dos entes em geral, confere ao cotidiano um caráter arejado.

No cotidiano, tudo é utensílio, ou seja, usamos de um discurso objetificante no interior do qual cada um se torna objeto. No cotidiano eu me acho muita coisa. Há um sex appeal em poder contar com um mundo dado previamente imerso em uma conceituação histórica. Fico submetido a uma tutela desejável, me sentindo uma coisa, o que não deixa de ser uma lide estratégica com o mundo dos entes.

Sob essa tutela desejável de sentir-se uma coisa, esconde-se, porém, a perda da possibilidade do poder ser. Perde-se a experiência fundamental de abertura para um estar aí no mundo. O impessoal é agradável por fazer coisas. No interior do impessoal eu sinto que fiz muita coisa, mas não sou ninguém.

Compartilhamos com Canetti as apreensões tão vivamente expressas em O ofício do poeta, discurso proferido em Munique em 1976:

O que ocorre, na realidade, é que ninguém será hoje um poeta se não duvidar seriamente do direito de sê-lo. Quem não vê o estado do mundo em que vivemos dificilmente terá algo a dizer sobre ele. O perigo de que é alvo, antes preocupação central das religiões, deslocou-se para o aquém. O ocaso do mundo, experimentado mais de uma vez, é visto com frieza por aqueles que não são poetas; alguns há que calculam suas chances de fazer disso seu negócio e engordar cada vez mais com ele. Desde que as confiamos às máquinas, as profecias perderam todo o valor. Quanto mais nos cindimos de nós, quanto mais confiamos a instâncias sem vida, tanto menos somos senhores daquilo que acontece. Nosso poder crescente sobre tudo – sobre o animado, o inanimado, e, principalmente sobre nossos semelhantes – transformou-se em um contra poder, que só aparentemente controlamos (Canetti, 1990, p. 176).

A práxis psicanalítica – ciência dos vestígios, reminiscências e encontros – leva em conta o singular enquanto tal. É claro que não podemos impedir que esse singular se situe dentro de um contínuo social-histórico. A prática psicanalítica inclui a comunicação que transmite/troca a inteligibilidade, sem modificação do outro pela enunciação. Entretanto, o objetivo da psicanálise é, para Bion, ajudar o analisando a tornar-se tão autônomo quanto possível, através da experiência emocional que surge na investigação dos efeitos do inconsciente estruturado como linguagem.

A expressão “experiência emocional” indica uma direção que evita qualquer referência que sugira uma vitória da razão sobre as pulsões. É uma experiência que busca a liberdade de recuperar o caráter nomeador da linguagem, ao promover o encontro do sujeito com o seu aprisionamento no discurso sedimentado. Visa retomar a historicidade dos conceitos no interior de uma narrativa pessoal e com isso recuperar a possibilidade de ser-você-mesmo na experiência fundamental de abertura do ser-aí-no-mundo. Essa experiência emocional deverá estabelecer um novo vínculo do sujeito com o trânsito de pensamentos, sentimentos e idéias nas distintas relações de sua vida.

A tarefa da análise não é a “conquista” do inconsciente pelo consciente, mas antes uma criação do e de inconsciente, pela qual se estabelece uma nova relação entre os dois, que pode começar a ser descrita como uma abertura do consciente para o inconsciente, afirmam Chuster e colaboradores (Chuster, 1999).

A vida não tem sentido, contudo podemos dar um a ela. E o homem é um ser que busca sentido. Antes e durante muito tempo o ser humano criou um fechamento do sentido, por meio do discurso sedimentado e saturado; e volta sempre, pela compulsão à repetição, a esse fechamento. O processo analítico o rompe para que as pré-concepções busquem uma realização e a criação de concepções.

Em Atenção e interpretação, Bion (1979) chamará de language of achievement (“linguagem de êxito”)4 a situação em que a interpretação psicanalítica alcança substituir uma coisa por uma linguagem que cria algo novo na vida do sujeito. Trata-se de uma linguagem que é tanto um prelúdio para a ação como um tipo de ação; o encontro entre psicanalista e analisando é, em si mesmo, um exemplo dessa linguagem. Essa dimensão “ativa” ou criadora da linguagem em ação e que produz um efeito que ultrapassa a intencionalidade do querer é mencionada por artistas e poetas de diferentes modos.

Diante das insistentes interrogações sobre sua atividade criativa, o poeta Paul Valéry assim se pronunciou: “Se, pois me interrogam, se se inquietam (como acontece, e às vezes muito vivamente) acerca do que eu “quis dizer” em tal poema, respondo que eu não quis dizer, mas quis fazer, e que foi a intenção de fazer que quis o que eu disse” (Valéry, 1974, p. 6).

Freud já se referia a esse aspecto um tanto “transgressor” e apaixonado que, a seu ver, aproximava a atividade do psicanalista com aquela do artista. Ele escreveu ao seu grande amigo, o pastor protestante suíço Oscar Pfister:

Creio que a análise peca da calamidade hereditária da virtude; é a obra de um homem demasiado correto que se sente, portanto[,]obrigado à discrição. Ora, estes assuntos psicanalíticos só são compreensíveis dentro de certa identidade e prolixidade, assim como a análise só pode realizar-se quando o paciente abandona as abstrações substitutivas dos pequenos detalhes. A discrição não se concilia, portanto, com a exposição de uma psicanálise; se necessita tornar-se um mau sujeito, transformar-se, renunciar, comporta-se como um artista que compra tintas com o dinheiro da despesa de sua esposa, e que faz fogo com os móveis para que seu modelo não sinta frio. Sem um pouco dessa qualidade de malfeitor não se obtém um resultado completo (Freud & Pfister, 1966, pp. 35-36).

Recordo-me de que, certa sexta-feira, fim de tarde, queixava-me, deitado no divã, de algumas dificuldades e emoções que experimentava em minha vida social. Não me lembro de como passei a relatar uma história que minha mãe contava sobre as vicissitudes da gestação tardia que me trouxe ao mundo. O analista disse alguma coisa, mas a palavra “intruso” reverberou em minha mente. O tempo parou e correu. Anos transcorreram em segundos e, permanecendo eu mesmo, nunca mais vi o mundo do mesmo modo. Muitas cenas passaram rapidamente pelo meu espírito, enquanto permanecia ali em silêncio por um tempo imensurável. Os analistas, em seu setting, como os poetas, com poucas palavras, silêncios e interjeições, produzem, algumas vezes, efeitos que, para serem expressos por filósofos e pela razão, demandariam muitas linhas.

Os procedimentos psicanalíticos pressupõem, para o bem-estar do paciente, um constante suprimento de verdade, tão essencial para sua sobrevivência psíquica quanto é o alimento para a sobrevivência física. Além disso, pressupomos que uma das precondições para sermos capazes de descobrir a verdade, ou pelo menos para procurá-la na relação que estabelecemos conosco e com os outros, é descobrir a verdade sobre nós mesmos (Bion, 2000). Portanto, a verdade é o reconhecimento psíquico (experiência emocional) de que a verdade única e absoluta é inalcançável, de que o real é da categoria do impossível e de que todas as realidades são “virtuais” e sempre insaturadas para o humano. Realidades “virtuais” aqui se referem às formas, humanamente perceptíveis, produzidas ou articuladas em e por uma linguagem, com infinitos vértices e uma totalidade inefável.

Se o Real material fosse possível de captar em um aparato real fisiológico, a verdade seria saturada e única. Estaríamos reduzidos aos ideais positivistas de um materialismo ingênuo.

Evidentemente, as linguagens carregam articulações que se aparentam com a apreensão do Real, tal como as palavras que denominam objetos e que comportam um referente. Porém, as verdadeiras palavras são da ordem do primeiro grão de areia ou do último fio de cabelo e carregam um potencial poético e criador em seu seio. Supomos que, em princípio, não podemos descobrir a verdade sobre nós mesmos sem a assistência do analista e dos outros. Daí a psicanálise ultrapassar a simples introspecção e ser uma ciência social, de no mínimo dois. É provável que essa crença tenha uma base empírica relacionada com um fato que nos é familiar, e provavelmente foi aprendido muito cedo na vida: uma idéia equivocada conduz a uma ação equivocada, a qual leva à frustração e a outras formas de sofrimento. Mas uma ação verdadeira pode acarretar o mesmo, e a natureza do sofrimento experimentado depende da escolha feita. A escolha do uso que podemos fazer da linguagem é, na realidade, uma escolha de método; para nossos propósitos, a diferença essencial da natureza dessa escolha consiste no fato de que uma favorece o método da evasão da frustração, enquanto a outra favorece o método da modificação da frustração (Bion, 2000).

 

Referências

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Endereço para correspondência
Waldo Hoffmann
Rua Monte Alegre, 1132 – Perdizes
05014-000 – São Paulo – SP
Tel.: 11 3862-3972
E-mail: waldohoffmann@uol.com.br

Recebido: 16/04/2007
Aceito: 14/05/2007

 

 

* Psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Médico psiquiatra, foi assessor técnico da presidência da Febem no governo Montoro e membro da Coordenadoria de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, como diretor adjunto da Divisão de Ambulatórios de Saúde Mental do estado. É supervisor no Programa de Saúde Mental do Centro de Saúde-Escola Samuel Bresley Pessoa da USP (CSButantã) e professor no Cogeae da PUC-SP. É diretor da Associação Brasileira de Psicoterapia (Abrap).
1 “Falante” aqui se refere a articulador de linguagem, incluindo, por exemplo, os surdos-mudos tão belamente descritos por Oliver Sacks (1990) em Vendo vozes.
2 A mesma Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, conhecida pela excelência da produção do que se designa como ciências exatas, há muitos anos convida anualmente um grande autor para ocupar a cátedra das “Charles Eliot Norton poetry lectures”, um ciclo de seis conferências durante o ano letivo. Italo Calvino havia escrito cinco das seis conferências que pretendia apresentar nas “Poetry lectures” quando faleceu, semanas antes da viagem, em 19 de setembro de 1985. Duas décadas antes (67/68), também Jorge Luis Borges proferiu em Harvard suas seis conferências no mesmo programa de “Poetry lectures”. O “ofício do verso” foi o título dado a tais conferências proferidas e transcritas de fitas e recentemente encontradas. Essa série de conferências é o retrato falado do autor. Dono de uma memória assombrosa, sem recorrer a notas – nessa época já estava praticamente cego –, o autor faz uso de um farto repertório de exemplos da literatura em inglês moderno e medieval, espanhol, francês, alemão, italiano, latim, árabe, hebraico e chinês, discorrendo com a mesma desenvoltura sobre Platão, Joyce e Frost, bem como sobre as traduções de Homero, a Bíblia e o Rubaiyat de Omar Khayyam. Uma tremenda demonstração das associações quase livres que alguns humanos alcançam fazer circulando no amplo território do que denominamos “linguagem”.
3 Para explicar as necessidades sexuais do homem e do animal, supõe “a biologia” a existência de um instinto sexual (Freud, 1905/1977, p. 771) [grifo meu].
4 No Dicionário Webster,o verbete achievement aparece como algo conquistado por meio de habilidade superior, muito esforço e grande coragem. Conota a conquista de algo notável após grande esforço, apesar dos obstáculos e dos desencorajamentos encontrados, diferentemente de exploit (“êxito em uma exploração”) ou feat (“feito heróico e de coragem”).

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