Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.34 no.1 Rio de Janeiro jan./abr. 2022
https://doi.org/10.33208/PC1980-5438v0034n01A09
ESPECIAL
Departamento de Psicologia da PUC-Rio: 68 anos de uma história de pioneirismo e inovação
Department of Psychology at PUC-Rio: 68 years of a pioneering and innovative history
Departamento de Psicología de la PUC-Rio: 68 años de una historia pionera e innovadora
Terezinha Féres-Carneiro
Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), com pós-doutorado em Psicoterapia de Casal e Família pela Universidade Paris Descartes. Professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. email: teferca@puc-rio.br
RESUMO
Este artigo narra um pouco da história dos 68 anos do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, ressaltando seu pioneirismo, suas iniciativas inovadoras e sua considerável resiliência nas atividades de formação de profissionais e produção do conhecimento. Em 1953, Hanns Lippmann criou, no Instituto de Psicologia Aplicada (IPA) da PUC-Rio, o primeiro curso de formação de psicólogos do país, que começou a ser ministrado nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia. Em 1957, o curso foi transferido para o recém-inaugurado campus da Gávea. Em 1966, o Departamento de Psicologia implantou o primeiro curso de mestrado em psicologia do Brasil. O curso de doutorado foi iniciado em 1985. Com grande tradição na área da psicologia clínica e com incontestável liderança no cenário nacional, o Departamento de Psicologia da PUC-Rio foi mais uma vez pioneiro, implantando, em 2021, o primeiro o Curso de Graduação em Neurociências do país.
Palavras-chave: psicologia; graduação; mestrado; doutorado; neurociências.
ABSTRACT
This article narrates some of the 68 years' story of the Psychology Department at PUC-Rio, emphasizing its pioneer character, its innovative initiatives and its considerable resilience in the formation of professionals and production of knowledge. In 1953, Hanns Lippmann created, in the Institute for Applied Psychology (IPA), the first training course for psychologists in the country, which had classes then in the Santa Casa wards. In 1957, the course was transferred to the newly opened campus in Gávea. In 1966, the Department implemented the first masters course in psychology in Brazil. The PhD course commenced in 1985. With great tradition in the field of clinical psychology and undisputed leadership in the national scenario, the Department of Psychology was once again a pioneer, establishing, in 2021, the first neuroscience undergraduate course in the country.
Keywords: psychology; undergraduate; masters; PhD; neuroscience.
RESUMEN
Este artículo narra un poco de los 68 años de historia del Departamento de Psicología de la PUC-Rio, destacando su carácter pionero, sus iniciativas de innovación y su considerable resiliencia en la formación de profesionales y producción de conocimiento. Creado en 1953 por Hanns Lippmann, en el Instituto de Psicología Aplicada (IPA), el curso de formación de psicólogos fue el primero en el país. Sus clases se impartían entonces en los pabellones de la Santa Casa. En 1957, el curso se trasladó al campus recién inaugurado en Gávea. En 1966, el Departamento implementó el primer curso de maestría en psicología en Brasil. El curso de doctorado inició en 1985. Con gran tradición en el campo de la psicología clínica y con un liderazgo indiscutido en el escenario nacional, el Departamento de Psicología fue nuevamente pionero, implementando, en 2021, la primera carrera de pregrado en neurociencias del país.
Palabras clave: psicología; graduación; maestría; doctorado; neurociencia.
Introdução
Para mim, Terezinha Féres-Carneiro, professora do Departamento de Psicologia já faz algumas décadas, é uma grande honra e uma genuína alegria publicar este texto, que é a narrativa da história do Departamento de Psicologia da PUC-Rio. Ele foi escrito com base na palestra proferida na ocasião do lançamento do curso de graduação em neurociências do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, em 1º de março de 2021, para dar as boas-vindas aos alunos da primeira turma do curso e àqueles que virão. Aqui, narro um pouco da história do Departamento, em seu longo percurso de formação e de construção do conhecimento.
O pioneirismo na psicologia, antes da departamentalização das unidades acadêmicas
Anteriormente ao processo de departamentalização das unidades da PUC-Rio, o nosso departamento era denominado Instituto de Psicologia Aplicada (IPA), no qual, em 1953, o professor Hanns Lippmann criou o primeiro curso de psicologia do país. O curso, que tinha a duração de três anos e meio, era ministrado no período noturno, nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia, e o corpo docente era formado por médicos, filósofos e educadores.
Quatro anos depois, em 1957, o curso foi transferido para o campus da Gávea, recém-inaugurado, passando a ser ministrado no período diurno, sob a direção do Padre Antonius Benkö, um jesuíta, húngaro, chegado ao Brasil em 1954. Dos 43 alunos da primeira turma, apenas sete concluíram o curso, em dezembro de 1956. Entre eles, Aroldo Rodrigues, que veio a ter um importante papel em sua história.
Pe. Benkö, que ficou na direção do nosso departamento por 10 anos, juntou-se a membros de outras instituições, unindo esforços em busca da regulamentação da profissão de psicólogo, com a elaboração de propostas ao Legislativo. Em agosto de 1962, a Lei nº 4.119 institucionalizou a formação e a profissão de psicólogo no país. Nos anos seguintes, o Pe. Benkö foi chamado para integrar a Comissão responsável pelo registro dos psicólogos, evidenciando, assim, a importância e a representatividade do IPA na época. Essa relevância e pioneirismo, que nosso Departamento teve nos primórdios de sua construção, se mantiveram ao longo de toda a sua história.
O primeiro mestrado da PUC-Rio foi implantado em 1963, pela Engenharia Elétrica. Três anos depois, em 1966, sob a direção do professor Aroldo Rodrigues, a Psicologia implantou o primeiro curso de mestrado da área no país. A primeira dissertação, intitulada "Homeostase psíquica e agradabilidade", foi defendida, em 20 de dezembro de 1968, por Leonel Correa Pinto, sob a orientação do professor Carlos Paes de Barros.
A formação do Departamento de Psicologia e de sua pós-graduação
Em 1967, com as mudanças na estrutura da universidade, ocorreu a departamentalização das unidades da PUC-Rio, quando foi criado o Departamento de Psicologia. A partir de então, o IPA passou a se dedicar apenas às atividades de estágio e pesquisa.
Em 1968 (ano em que entrei como aluna no Departamento de Psicologia), o regime de créditos, implantado anteriormente no Centro Técnico Científico (CTC), foi estendido ao Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), ao qual o Departamento de Psicologia está vinculado. Nos anos que se seguiram, foram criados no Departamento, sob a direção do professor Carlos Paes de Barros, vários setores com diferentes enfoques teóricos, numa tentativa de incentivar o desenvolvimento de abordagens clínicas diferentes da psicanálise, que predominava na época.
Em 1972, quando apenas seis cursos de mestrado na área da psicologia eram oferecidos no Brasil, nosso curso foi a o primeiro a ser credenciado pelo Conselho Federal de Educação. Tal credenciamento o tornou uma referência na área.
Em 1976, sob a direção do professor Aroldo Rodrigues, o Departamento de Psicologia implantou um curso de doutorado conjunto com o Departamento de Educação. A primeira turma desse curso foi composta por cinco alunos da Psicologia e cinco alunos da Educação. Participamos dessa primeira turma, como alunos da Psicologia, Bernard Rangé, Cilio Ziviani, Maria Euchares Motta, Vera Lemgruber e eu. Posteriormente, esse curso desvinculou-se do Departamento de Psicologia, permanecendo apenas como um doutorado em educação, e, dos cinco alunos de Psicologia da primeira turma, apenas Maria Euchares nele se doutorou. Os outros colegas e eu fizemos o doutorado em outras instituições.
Em julho de 1977, em meio a uma crise instalada no Departamento de Psicologia, o então reitor, Pe. João Augusto MacDowell, me fez um convite para assumir a direção. Num primeiro momento, hesitei e pedi alguns dias para pensar. Como eu, uma jovem que tinha apenas concluído o mestrado, iria dirigir um departamento com vários professores doutores, meus grandes e admirados mestres: Aroldo Rodrigues, Angela Biaggio, Carlos Paes de Barros, Charles Esbérard, Maria Helena Novaes, Monique Augras, dentre outros? Mas, apesar da apreensão, aceitei o desafio, agradecendo ao Pe. MacDowell pela confiança em mim depositada.
Os desafios rumo à consolidação do Departamento de Psicologia
Exerci a função de diretora do Departamento de 1977 a 1981 e trabalhei muito com professores, supervisores e alunos para promover várias mudanças em sua estrutura. Entendia que a supervisão, ministrada na época nas áreas clínica, escolar e do trabalho, era uma atividade docente; todavia, os supervisores de estágio eram contratados como técnicos, e não como professores. Propus, então, que os técnicos psicólogos passassem a ser contratados como docentes pelo Departamento, ministrando, além do estágio supervisionado, disciplinas em suas respectivas áreas de especialização. Incentivei que cursassem o mestrado, e propus que o IPA passasse a ser denominado Serviço de Psicologia Aplicada (SPA).
Até 1978, o curso de mestrado era oferecido em duas áreas de concentração: psicologia teórico-experimental e psicologia clínica. Embora, em muitos momentos, ele tenha sido considerado centro de excelência, em 1978, com a saída de vários professores do programa, o processo de recredenciamento, feito pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), considerou o corpo docente limitado em número para duas áreas de concentração, e o parecer foi desfavorável.
Como as áreas de especialização dos docentes eram diversas e não havia uma concentração em nenhuma delas, o programa optou naquele momento, para atender à exigência do MEC através da Comissão de Recredenciamento, por um mestrado numa única área, que foi então denominada Processos Motivacionais. A escolha dessa área, excessivamente ampla, refletiu a constituição do corpo docente da época.
Tendo em vista que, já em sua origem, essa área de concentração apresentava problemas, decidimos proceder a uma reavaliação dela. Considerávamos que a delimitação de uma única área de concentração deveria refletir uma real articulação e não apenas se constituir numa solução artificial para atender a uma exigência do recredenciamento. Tornava-se necessária então uma delimitação de objetivos mais específicos e uma concentração na contratação de recursos humanos para a consecução de tais objetivos.
Em 1982, quando o professor Bernard Rangé dirigia o Departamento de Psicologia e eu coordenava a pós-graduação, a área de concentração Psicologia Clínica voltou a ser implantada, com três linhas de pesquisa, tendo em vista a grande tradição do Departamento e a enorme demanda para essa área. Tal reformulação levou o programa a recuperar sua excelência e a ser avaliado, em 1984, com conceito A pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Nessa ocasião, ainda como coordenadora, eu tinha uma ideia determinada de implantar o doutorado, para tirarmos o atraso dos anos anteriores. Fui a Brasília, inúmeras vezes, discutir, na CAPES, com Rosana Arcoverde, então responsável pela área de avaliação, o projeto de implantação do doutorado, que foi aprovado nesse mesmo ano, e iniciado em março de 1985.
Em agosto de 1986, quando a professora Maria Elizabeth Ribeiro se encontrava na direção do Departamento e a professora Maria Helena Novaes na coordenação da pós-graduação, foi lançado o primeiro número da nossa revista Psicologia Clínica, hoje muito bem avaliada no Qualis da CAPES.
Nos oito anos que se seguiram, o Programa de Psicologia Clínica da PUC-Rio manteve o conceito A na CAPES. Todavia, nas avaliações de 1992-93 e 1994-95, o conceito caiu novamente para B, tendo em vista que os prazos para a conclusão dos cursos, sobretudo do doutorado, voltaram a ficar muito longos, e que houve também uma queda na produção bibliográfica do corpo docente.
Nesse mesmo período, na gestão da professora Maria Euchares Motta, houve uma mudança significativa no currículo da graduação, buscando adequar o curso às novas demandas da realidade social. Nos anos de 1997 e 1998, foi construído o anexo ao prédio Cardeal Leme, ampliando consideravelmente o espaço físico do Departamento. Somos todos muito gratos à professora Maria Euchares, cuja ousada iniciativa nos propiciou um ambiente de trabalho confortável e um convívio agradável, na nossa copinha, onde, entre uma aula e outra, podemos tomar um cafezinho ou almoçar em meio ao papo descontraído com os colegas.
No início do ano de 1996, recebi da então diretora, Maria Euchares, e dos colegas do programa insistentes solicitações para que assumisse, mais uma vez, o cargo de coordenadora de pós-graduação e pesquisa. Havia nessas solicitações dos colegas a esperança de que pudéssemos recuperar a tradição de excelência, perdida nas duas avaliações anteriores.
Aceitei o desafio, passando a discutir com os professores a grande importância da produção docente e discente no processo de recuperação da excelência do programa. Discutimos mais uma vez uma proposta de reformulação dos cursos de mestrado e doutorado, com vistas, sobretudo, à redução dos prazos de defesa das dissertações e teses e à articulação das disciplinas com as quatro linhas de pesquisa propostas. Reduzimos o número de disciplinas obrigatórias, que se tornaram apenas disciplinas metodológicas e instrumentais para o desenvolvimento das dissertações e teses, e articulamos melhor as eletivas com os temas das pesquisas desenvolvidas por professores e alunos. Tais medidas tornaram a produção do programa mais consistente e articulada.
O regulamento interno da universidade, na época, estabelecia o prazo de três anos para a conclusão do mestrado, com dois possíveis pedidos de prorrogação, ou seja, o mestrando poderia fazer o curso em quatro anos. O prazo do doutorado, até essa data, era de seis anos, com duas possíveis prorrogações, com o que o doutorando podia completar o curso em sete anos. Na época, era preciso ser mais realista que o rei para reduzir tais prazos.
Uma das principais críticas recebidas pelo programa, na ocasião, era a de que nossos prazos de conclusão do mestrado e do doutorado eram extremamente longos. Argumentamos várias vezes com a Coordenação Central de Pós-graduação e Pesquisa da PUC-Rio que era preciso mudar os prazos da Universidade para as defesas de dissertações e teses. Tentamos mostrar que prazos tão dilatados eram um desserviço que a Universidade prestava aos programas, na medida em que a política de pós-graduação do país estabelecia prazos muito mais curtos para as defesas. O fato é que, menos de dois anos depois dessas insistentes conversas, a PUC-Rio reduziu de três para dois anos o prazo de defesa das dissertações, e de seis para quatro anos o das teses, preservando a possibilidade de duas prorrogações, de seis meses cada. Com o trabalho conjunto de professores e alunos, reduzimos os prazos de defesa de dissertações e teses, e aumentamos a produção qualificada docente e discente, recuperando assim a avaliação 5 na CAPES, no biênio 1996-97.
Entretanto, no triênio seguinte (1998-2000), o programa ampliou o prazo médio de defesas, sobretudo das teses de doutorado, tendo em vista que o novo regulamento da universidade passou a ter vigência apenas para os alunos que ingressaram a partir de 1999. Além disso, o programa teve a produção docente reduzida; foi ressaltado pela CAPES que uma das linhas de pesquisa apresentava produção bibliográfica muito baixa.
De 1998 a 2000, o Departamento foi dirigido pela professora Claudia Garcia, que organizou, em 2000, a comemoração dos 40 anos do SPA. Tivemos a imensa alegria e a grande honra da presença do Pe. Benkö nesse evento. Na ocasião, o SPA teve seu campo de ação ampliado, com a abertura de novas áreas de estágio e com a criação das Jornadas Clínicas Anuais do SPA, que permanecem até hoje.
A modernização do Departamento de Psicologia
Nos seis anos que se seguiram (2000-2006), o Departamento, dirigido pela professora Ana Maria Rudge, ampliou o número de equipes clínicas de diferentes abordagens no SPA, além de promover a reforma de seu espaço físico e a informatização de seus arquivos. Em 2001, a professora Ana Maria Rudge e os colegas da pós-graduação insistiram para que eu aceitasse a Coordenação de Pós-graduação e Pesquisa, mais uma vez, com o objetivo de recuperar o papel de liderança que o Programa de Psicologia Clínica da PUC-Rio, por tantos anos, exerceu no cenário nacional da pós-graduação no país. E, pela terceira vez, aceitei o desafio.
O Departamento de Psicologia teve, nesse momento, mais uma posição inovadora na universidade. Discutimos, nas reuniões do corpo docente, a necessidade de implantarmos no programa o procedimento de credenciamento para orientação na pós-graduação, não apenas para a entrada dos docentes no PPG, mas também para sua permanência nele. Tal procedimento foi aprovado pelo conjunto dos professores, que elegeram uma Comissão de Credenciamento composta por quatro docentes (dois professores associados e dois professores titulares).
Como resultado desse trabalho, no final de 2001, os professores que não apresentaram a produção bibliográfica considerada necessária por essa Comissão não foram credenciados para orientar na pós-graduação e, assim, não receberam novos alunos. Fazer isso foi, certamente, uma experiência difícil e dolorosa, pois implicou na saída de alguns colegas da pós-graduação, mas essa era a única alternativa para recuperarmos o programa e sua tradição de excelência. Tal procedimento passou posteriormente a vigorar no regulamento dos programas de pós-graduação da PUC-Rio, evidenciando o pioneirismo e a capacidade de inovação do PPG em psicologia clínica.
Mais uma vez, os esforços envidados pelo corpo docente e pelo corpo discente da pós-graduação, no sentido, sobretudo, de incrementar a produção bibliográfica e de reduzir os prazos de defesa das dissertações e teses, foram coroados com o resultado da avaliação da CAPES referente ao triênio 2001-2003, na qual nosso programa recuperou a avaliação 5. No segundo semestre de 2004, um novo arranjo das linhas de pesquisa foi discutido e proposto, visando à entrada na pós-graduação de professores com produção bibliográfica de qualidade que se encontravam atuando apenas na graduação.
De 2006 a 2010 a professora Maria Elizabeth Ribeiro dirigiu o Departamento pela segunda vez, implantando os estágios básicos no curso de graduação e dando início ao processo de renovação do corpo docente. Em 2008, sob a liderança do Professor J. Landeira-Fernandez, uma outra revista foi criada no Departamento, Psychology & Neuroscience, hoje editada pela APA (American Psychological Association), e muito bem avaliada no Qualis da CAPES.
A busca pela contínua evolução do Departamento de Psicologia
Em 2012, o professor J. Landeira-Fernandez assumiu a direção do Departamento, cargo que ocupou com muito sucesso até o 2021. Em sua gestão, promoveu uma nova reforma no espaço físico, sobretudo a grande reforma ocorrida no SPA, e deu continuidade ao processo de renovação do corpo docente, devido à saída de alguns professores.
Em 2013, graças ao empenho da direção, da coordenadora da graduação, professora Luciana Pessôa, e do trabalho conjunto de professores e alunos, o curso recuperou a nota 4 no ENAD. Nesse mesmo ano, o Departamento de Psicologia comemorou seus 60 anos. O professor Aroldo Rodrigues proferiu a conferência de abertura e recebeu, ao seu final, uma homenagem especial, pela relevante colaboração ao Departamento nos primórdios de sua história.
Na sessão de abertura do evento comemorativo dos 60 anos do Departamento, ocorrida em 01/11/2013, exibimos um vídeo gravado com o Pe. Benkö, especialmente para aquela ocasião. Foi muito emocionante acompanhar a mensagem de boas-vindas e de sucesso para nosso evento proferida por ele, quando já estava com 93 anos. Nessa mensagem, o Pe. Benkö ressaltou o quanto devemos, para além do nosso sucesso pessoal como psicólogos, estar atentos às necessidades emocionais e espirituais do outro. Treze dias depois, em 24/11/2013, Pe. Benkö nos deixou. A ele, nossa imensa e eterna gratidão!
Quanto ao curso de graduação, a penúltima mudança curricular tinha ocorrido em 2009. A partir de 2013, sob a direção do professor J. Landeira-Fernandez e a coordenação da professora Luciana Pessôa, teve início no Departamento uma discussão que apontou a importância de uma nova reforma curricular do curso de graduação. A proposta de reformulação encaminhada foi consequência de um longo processo de debate, envolvendo todo o corpo docente, bem como diferentes instâncias da Universidade. Ao longo de quatro anos, foram realizados diversos seminários internos e reuniões sistemáticas do núcleo docente estruturante, nos quais foram debatidos temas variados, tendo sido também convidados grupos de professores para discutir questões relativas à necessidade de renovação do currículo vigente na época. A partir desse longo processo de debates e reflexões, constatou-se a necessidade de reformular o currículo, no sentido de aumentar o número de disciplinas obrigatórias, com o objetivo de fortalecer a formação básica de nossos alunos. Detectamos também a necessidade de práticas de laboratório em várias dessas disciplinas, bem como a prática de atividade de pesquisa envolvendo metodologias quantitativas e qualitativas.
O debate sobre a reforma curricular constatou também a importância de aumentar o número de disciplinas relacionadas aos estágios profissionalizantes de nossos alunos, para lhes permitir um maior fortalecimento de sua futura atuação profissional. Assim, os alunos passaram a ter maior oportunidade de trocas profissionais ao longo da formação, vivenciando a importância de manter constantes diálogos entre a teoria e a prática profissional.
O novo currículo, implantado em 2018, adotou o sistema de núcleos, ou seja, conjuntos de disciplinas com objetivos específicos comuns, com variados graus de interdependência mútua. Assim, ele ficou organizado em cinco núcleos: Núcleo de Formação Religiosa; Núcleo de Formação Básica do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH); Núcleo de Disciplinas Obrigatórias em Psicologia; Núcleo de Disciplinas Eletivas em Psicologia; e Núcleo de Disciplinas Eletivas Livres.
O currículo vigente teve aumento da carga horária de 150 horas, que passaram a totalizar 4.260 horas de aulas teóricas e práticas; porém, em número de créditos o aumento foi de apenas 2 créditos, passando de 240 para 242 créditos, o que não produziu qualquer acréscimo no custo financeiro do curso em relação ao currículo anterior, uma vez que a mensalidade paga pelo aluno é determinada pelo número de créditos cursados, e não pela respectiva carga horária.
Quanto à pós-graduação, implantamos em 2021, também sob a direção do professor J. Landeira-Fernandez e a coordenação do professor Jean Natividade, um novo currículo. Foi um prazer e uma alegria para mim ter podido colaborar com o professor Jean no ano de 2020, na coordenação adjunta do PPG, visando sobretudo à elaboração e implantação do novo currículo.
A área de concentração do nosso curso de pós-graduação é a Psicologia Clínica. Numa época em que a interdisciplinaridade é fundamental, por ser facilitadora das experiências na multiplicidade de suas dimensões, e em que os saberes se articulam uns aos outros para além de suas fronteiras, a Psicologia Clínica, do modo como se configura em nosso programa, tem buscado responder a essas demandas contemporâneas. As perspectivas translacionais surgidas nos últimos anos, uma tendência global das ciências, ressaltam a importância da articulação entre pesquisa e clínica, objetivo sempre presente em nosso PPG, que tem consolidado sua identidade, priorizando o estudo dos aspectos contextuais envolvidos nas experiências subjetivas, conforme as diferentes teorias e práticas do campo clínico.
Nosso programa de pós-graduação está organizado em cinco linhas de pesquisa: Psicanálise: clínica e cultura; Psicologia social: indivíduo e sociedade; Família, casal e criança: teoria e clínica; Clínica e neurociências; e Saúde e desenvolvimento humano.
Como vimos na história do nosso programa, sua área de concentração foi intitulada, ao longo do tempo, de formas distintas, predominando Psicologia Clínica, como também ocorreram várias mudanças em suas linhas de pesquisa. Todavia, desde 1996, nenhuma reformulação significativa na estrutura curricular, sobretudo no que diz respeito à distribuição de disciplinas obrigatórias e eletivas, foi realizada. A última modificação, ocorrida em 2013, foi relacionada principalmente a um novo arranjo das linhas de pesquisa. Em vista da extensa renovação do quadro de docentes do programa (metade dos professores ingressou após 2013), da qual derivou o aprofundamento da reflexão mais geral sobre o projeto político-pedagógico do PPG e sobre a função da psicologia no campo das humanidades, uma mudança mais significativa na estrutura curricular se fez necessária.
No novo currículo são propostos três tipos de disciplinas: obrigatórias, optativas e eletivas. Tal proposta busca dar aos mestrandos e doutorandos uma formação sólida, tendo em vista suas atividades futuras enquanto docentes e pesquisadores. Uma das novas disciplinas introduzidas no currículo, epistemologia, obrigatória para os níveis de mestrado e doutorado, busca desenvolver a capacidade de reflexão crítica sobre os impasses epistemológicos constitutivos da psicologia, com o fim de formar pesquisadores abertos para a interlocução com outros saberes que compõem o campo das humanidades. No mestrado, o aluno deverá cursar um total de 24 créditos, e no doutorado, 42 créditos. Com a nova organização curricular, queremos formar, tanto no nível de mestrado como no de doutorado, docentes-pesquisadores com sólidos conhecimentos teóricos e metodológicos, que possam responder com excelência às demandas da sociedade contemporânea.
Novamente o pioneirismo no Departamento de Psicologia: graduação em neurociências
Em relação ao Curso de Graduação em Neurociências, cuja abertura em nosso Departamento celebramos no início de 2021, quando compilei este histórico, podemos dizer que ele era, há alguns anos, um sonho acalentado pelo professor Daniel Mograbi e que agora se torna realidade, graças ao seu empenho e à sua dedicação. O crescimento do campo da neurociência e o consequente aumento da demanda por formação nessa área levaram à abertura de cursos de graduação em diferentes países, sobretudo nos EUA (onde há cerca de 100 cursos) e em vários países desenvolvidos da Europa Ocidental. No Brasil, existe hoje um curso de bacharelado em neurociências, oferecido pela Universidade Federal do ABC (UFABC) como extensão do bacharelado em ciência e tecnologia. Além desse, há dois outros cursos no país com propostas semelhantes. Um deles é oferecido pela Universidade Federal Fluminense (UFF), no âmbito do curso de graduação em ciências biológicas com ênfase em neurociências; outro, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ministrado nos mesmos moldes.
O curso de graduação em neurociências proposto pelo Departamento de Psicologia da PUC-Rio tem como objetivo formar profissionais que associem o conhecimento acadêmico de excelência advindo das neurociências às particularidades atualmente encontradas na sociedade, em especial no contexto brasileiro. Assim, os egressos estarão capacitados para ingressar no mercado de trabalho, principalmente em áreas relacionadas ao ensino e à pesquisa, bem como com tecnologia, economia, educação e saúde, entre outras, com foco claro na produção de progresso social por meio do conhecimento.
Desse modo, o curso pretende suprir uma demanda crescente do mercado de trabalho por profissionais voltados para as interações do ser humano com o ambiente, considerando aspectos neuropsicológicos, biológicos, humanos e sociais do indivíduo e como eles interagem com os recursos naturais e os produtos tecnológicos. De natureza interdisciplinar, o curso tem caráter altamente pioneiro e inovador. Sua estrutura curricular evidencia que os objetivos formulados serão atingidos com sucesso. Tal estrutura está distribuída em oito períodos semestrais, com carga horária total de 3.315 horas, e 221 créditos. As disciplinas do grupo de conteúdos básicos são oferecidas entre o primeiro e o quinto períodos, e se distribuem pelas grandes áreas de conhecimento: psicologia, biologia, filosofia, letras, química, física e informática. A partir do sexto semestre, têm início os estágios supervisionados e, ao longo dos dois últimos semestres, o aluno deverá escrever sua monografia.
O graduado em neurociências que tiver interesse em seguir com sua formação numa graduação em psicologia terá a opção de completar a grade do curso com mais 112 créditos específicos do curso de psicologia, que podem ser integralizados em quatro semestres. Da mesma forma, o psicólogo que almejar uma graduação em neurociências terá a opção de completar o curso acrescentando as disciplinas associadas aos outros departamentos, assim como a monografia e os estágios supervisionados, totalizando 83 créditos, integralizáveis em três semestres. O corpo docente do curso é altamente qualificado, composto por 22 professores, dos Departamentos de Psicologia, Química, Letras, Filosofia, Física, Biologia e Teologia, todos, exceto um, detentores do grau de doutor.
Na ocasião da minha palestra, terminei dizendo, aos calouros da primeira turma do curso de Neurociências: "Assim, parabenizo vocês, alunos da primeira turma de um curso marcado pela excelência, por seu caráter interdisciplinar e altamente pioneiro e inovador, pela consistência de sua estrutura curricular face aos propósitos formulados, pela excelente qualificação do seu corpo docente, e o louvável objetivo de formar profissionais que respondam a uma demanda da sociedade contemporânea.".
O futuro reserva ainda muito para o Departamento de Psicologia
Como vimos, ao longo da história do nosso Departamento, foram necessárias muitas reformulações e muitas experiências inovadoras, além de muitos procedimentos pioneiros, para que o Departamento de Psicologia da PUC-Rio, com seu curso de graduação em psicologia, seu recém-implantado curso de graduação em neurociências, e seu programa de pós-graduação em psicologia clínica, pudesse cumprir, nestas quase sete décadas, a tarefa de produzir conhecimento e de formar psicólogos e neurocientistas, mestres e doutores de forma competente para continuar exercendo o papel de liderança que sempre lhe coube no cenário da psicologia no Brasil.
Sinto-me orgulhosa de ter participado tão intensamente e por tanto tempo desta história. São 54 anos, desde que entrei no Departamento, em 1968, como aluna, e 49 anos, desde que, em 1972, passei a integrar seu corpo docente. Foi com a alegria daqueles que exercem prazerosa e apaixonadamente seu ofício que desempenhei todos os cargos da estrutura acadêmico-administrativa do Departamento de Psicologia: fui coordenadora de graduação, coordenadora geral de estágios do SPA, coordenadora de pós-graduação e pesquisa, diretora do departamento e membro de várias de suas comissões. E é com muita emoção que, em nome de todos nós, professores, alunos e funcionários, presto ao Departamento de Psicologia da PUC-Rio uma merecida homenagem, parabenizando todos aqueles que colaboraram na construção da sua história.
Agradecimentos e homenagens
Para finalizar, gostaria de parabenizar o professor Daniel Mograbi, o professor J. Landeira-Fernandez, a professora Luciana Pessôa e todos os professores que colaboraram na elaboração do curso de graduação em Neurociências, pela qualidade da proposta, pelo pioneirismo e pela inovação.
Gostaria também de prestar uma homenagem especial aos nossos mestres, alguns dos quais já falecidos, que foram pioneiros na implantação do curso de graduação em psicologia e do programa de pós-graduação em psicologia no Brasil, e que compartilharam conosco, em várias ocasiões, suas inquietações e seus projetos para a psicologia brasileira. Eles, pioneiros e inovadores, nos deixaram uma preciosa herança, e nos ensinaram também, amorosamente, que a herança pode ser transformada, levando-nos como discípulos a não ter medo de ousar e de inovar, legado que, também nós, devemos deixar aos nossos alunos, em nossa função de formá-los para o exercício profissional, para ensino e para a pesquisa.
Muito obrigada!
Recebido em 09 de fevereiro de 2022
Aceito para publicação em 10 de fevereiro de 2022
Não houve financiamento para a pesquisa.