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Aletheia
versão impressa ISSN 1413-0394
Aletheia vol.54 no.1 Canoas jan./jun. 2021
https://doi.org/DOI10.29327/226091.54.1-7
DOI 10.29327/226091.54.1-7
ARTIGOS EMPÍRICOS
Sentidos produzidos por ouvidores de vozes sobre suas experiências com as vozes
Senses produced by voice hearers about their experiences with voices
Maria Laura de Oliveira Couto 1; Luciane Prado Kantorski 2
Universidade Federal de Pelotas
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo conhecer os sentidos produzidos por ouvidores de vozes sobre suas experiências com as vozes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório. Se deu através de entrevistas semi-estruturadas realizadas com dezesseis ouvidores de vozes usuários de um Centro de Atenção Psicossocial da cidade de Pelotas/RS. Evidenciou-se que o sentido que o ouvidor atribui às vozes é subjetivo, individual, e dependente de fatores externos, como os discursos a que esse ouvidor é exposto no seu meio histórico e social ao longo do tempo. Fica nítida a importância de não se minimizar as características e os conteúdos das vozes, a fim de auxiliar os ouvidores a estabelecerem sentidos e possíveis relações com suas histórias de vida.
Palavras-chave: ouvidores de vozes; alucinação auditiva; produção de sentido.
ABSTRACT
the present study aims to know the senses produced by voices hearers about their experiences with voices. This is a qualitative exploratory research. It was done through semi-structured interviews conducted with sixteen voice hearers users of a Psychosocial Care Center in the city of Pelotas/RS. It was evidenced that the sense that the voice hearer attributes to voices is subjective, individual, and dependent on external factors, such as the discourses to which this voice hearer is exposed in his historical and social reality over time. It is clear the importance of not minimizing the characteristics and contents of voices in order to help the voice hearers to establish meanings and possible relationships with their life histories.
Keywords: voice hearers; auditory alucination; meaning production.
Introdução
Ouvir vozes que outras pessoas não ouvem é um fenômeno que vem ganhando espaço no meio científico, tanto em pesquisas quantitativas quanto em qualitativas. Isso vem acontecendo graças à criação do Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes, que vem propor uma nova visão sobre essa experiência, que até então vem sendo compreendida pela psiquiatria como um sintoma de doença mental, denominado Alucinação Auditiva (Calazans & Lustoza, 2014).
Estudos pioneiros como os de Sidgwick (1894) e Tien (1991), já mostravam um interesse por essa temática, procurando identificar a relação entre ouvir vozes e o diagnóstico de esquizofrenia. Assim, o primeiro constatou que, em uma amostra de 17.000 pessoas, 8% dos homens e 12% das mulheres já tinham ouvido vozes em algum momento. Enquanto que o segundo, ao analisar uma amostra de 18.572 pessoas, obteve uma prevalência de 2.3% que ouvem vozes com frequência em contraste com a prevalência de 1% com diagnóstico de esquizofrenia. Esses estudos já evidenciavam a existência de uma parcela significativa na população de pessoas que ouvem vozes, e que a maioria delas não possui nenhum diagnóstico. Esse dado sugere uma habilidade em lidar com as vozes que acaba protegendo as pessoas de adentrar no sistema psiquiátrico (Baker, 2016).
Assim, os ouvidores que não conseguem lidar com as vozes e acabam procurando a ajuda da psiquiatria, recebem o tratamento medicamentoso como a única possibilidade de recuperação (Baker, 2016). Contudo, segundo Varese et al. (2016), León-Palacios et al. (2015) e Mackinnon, Copolov e Trauer (2004), esses ouvidores não diferem dos demais pela forma como ouvem vozes, mas pela forma como vivem essa experiência, referindo vozes intrusivas, dominantes e de conteúdos predominantemente negativos. Ademais, o uso da medicação não garante o desaparecimento das vozes, visto que existe uma parcela de 30% de pessoas que segue ouvindo vozes mesmo com doses elevadas de antipsicóticos (Curson et al., 1985).
Paralelo a isso, existem ouvidores que consideram as vozes como um fenômeno positivo em suas vidas, percebendo-as como úteis e como fonte de reconhecimento (Baker, 2016). Assim, os sentidos que esses sujeitos atribuem à experiência não costumam estar associados a sintomas de doença, mas a outros aspectos, como a religiosidade, a mediunidade, entre outros (Cottam et al., 2011; Mccarthy-Jones, Waegeli & Watkins, 2013; Brum, Jardim, Pavani & Wetzel, 2018).
Um autor que contribui para a problematização dos sentidos que cada ouvidor atribui às suas vozes é Bakhtin (2011), que em sua obra sobre gêneros do discurso trabalha com o conceito de polifonia. Para o autor, cada discurso é composto por vários discursos, ou seja, de cada enunciado provém diversas vozes, tornando-o polifônico (Bakhtin, 2011). No caso dos ouvidores de vozes, pode-se pensar que além dos discursos dos próprios sujeitos, há o discurso das vozes que eles escutam, que também é polifônico. Assim, as vozes são carregadas de discursos como o biomédico, o religioso, entre muitos outros, que falam da realidade singular de cada ouvidor, e o ajudam a dar sentidos mais ou menos estáveis para as vozes que eles escutam. Nessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo conhecer os sentidos produzidos por ouvidores de vozes sobre suas experiências com as vozes.
Método
O estudo possui abordagem qualitativa do tipo descritiva e foi realizado em um CAPS tipo ll, na cidade de Pelotas/RS, localizado no bairro Fragata. A escolha do local se deu pelo fato de o serviço possuir o único grupo de ouvidores de vozes de Pelotas. O CAPS Fragata foi inaugurado em 1992, e por ser um serviço de atendimento psicossocial do tipo II, possui funcionamento diário que atende pessoas adultas com sofrimento psíquico, visando à atenção integral aos seus usuários (Ferreira, 2013). O serviço oferece assistência à saúde mental segundo os preceitos normativos da regulamentação federal, a qual tem como principal proposta, a reabilitação psicossocial e a desinstitucionalização (Argiles et al., 2010).
Os participantes do estudo foram dezesseis ouvidores de vozes que frequentam o CAPS II Fragata e que participam do grupo sobre essa experiência, dos quais 11 são mulheres e 5 são homens. Como critérios de inclusão dos participantes considerou-se: adultos, com idade igual ou maior a 18 anos, que frequentam o CAPS II Fragata e o grupo de ouvidores de vozes; estar de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); e concordar com a divulgação e publicação dos dados em meio acadêmico e científico. E como critério de exclusão considerou-se: não permitir o uso de gravador nas entrevistas.
A coleta de dados foi realizada em abril de 2018 e se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas, as quais tiveram, em média, uma duração de 30 minutos. Os dados coletados nas entrevistas foram registrados mediante o uso de gravador de voz, e posteriormente foram transcritos na íntegra, conferindo fidedignidade à fala dos entrevistados. As entrevistas abordaram a experiência de ouvir vozes, como quando começou, quais as explicações que são atribuídas a ela, se o ouvidor consegue conversar com as vozes, se recebe ordens das mesmas, e quais estratégias utiliza par lidar com a experiência. Os participantes foram identificados ao longo do texto como entrevistado 1, entrevistado 2 e assim por diante. Os dados foram analisados por meio da análise de conteúdo de Bardin (2011).
O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Enfermagem da UFPel sob o parecer n°2.201.138 e seguiu os preceitos éticos postulados no Código de Ética dos profissionais de psicologia, bem como a Resolução nº 466/2012 do Ministério da Saúde (MS) e do Conselho Nacional da Saúde (CNS), que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.
Apresentação dos sujeitos
Os ouvidores entrevistados serão apresentados a seguir, através de um breve relato de suas histórias de vida, idade, sexo e religião.
Entrevistada 1: 56 anos; sexo feminino; umbandista - começou a ouvir vozes quando era criança. As vozes cessaram no período da adolescência e retornaram quando teve sua primeira filha, aos dezoito anos. Sua família a considerava louca e a levava na igreja na tentativa de fazer as vozes desaparecerem. Somente aos trinta anos procurou ajuda em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde realizou tratamento medicamentoso por um tempo e depois foi encaminhada para um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) tipo II. Após esse período, teve várias internações em Hospital Psiquiátrico, e relata que a religião teve um papel muito importante na sua recuperação.
Entrevistado 2: 42 anos; sexo masculino; espírita - começou a ouvir vozes ao se envolver amorosamente com uma mulher casada. Quando esta mudou-se para outra cidade, ele resolveu ir atrás dela e mudou-se para lá também, onde começou a trabalhar como frentista. Relata ter contraído muitas dívidas, pois sua companheira gastava grande parte do seu salário. Frente a pressão do relacionamento e do novo trabalho, entrou em depressão e procurou ajuda em uma UBS. Em seguida as vozes apareceram, levando-o a três internações psiquiátricas na cidade onde trabalhava. Voltou para Pelotas, e foi morar com a mãe. Em um episódio de crise tentou matá-la, e foi internado 8 vezes. Hoje mora em uma clínica, devido aos riscos que oferecia a mãe e ao padrasto, visto que as vozes ordenavam diariamente para matá-lo. Frequenta o CAPS, e convive bastante com a mãe, com quem tem um bom vínculo. Quando anda de ônibus com a mãe, relata ouvir vozes que o dizem para matar crianças e idosos. Ele relata fazer muito esforço para se controlar.
Entrevistada 3: 26 anos; sexo feminino; não possui religião - começou a ouvir vozes quando tinha quinze anos, quando ainda estava na escola. Conseguiu se formar e fez Ensino Técnico em Enfermagem, quando começou a ouvir vozes com conteúdo mais pesados. Já teve várias internações em Hospital Psiquiátrico e ainda hoje tem dificuldade em resistir aos comandos das vozes que a mandam se machucar.
Entrevistado 4: sexo masculino; não possui religião - começou a ouvir vozes aos dezessete anos, quando estava completando o Ensino Médio. Relata ter saído da sala de aula um dia e resolveu nunca mais voltar, não conseguindo concluir os estudos. Então começou o tratamento em um CAPS II. Escuta vozes até hoje, as quais não o incomodam mais. Mora com o irmão mais velho e lamenta não ter conseguido terminar os estudos por causa das vozes. O irmão é professor e possui muitos livros, o que o entrevistado valoriza muito, e aproveita para ler em casa.
Entrevistada 5: 45 anos; sexo feminino; acredita em Deus - começou a ouvir vozes aos quarenta anos, quando precisou fazer histerectomia devido a tumores malignos. Foi uma grande desilusão para ela, visto que queria ter mais filhos. Relata que desde então nunca mais teve paz, pois passou a ver pessoas que os demais não viam e a escutar vozes de conteúdos muito pesados. Ela apresenta seu casamento como algo insatisfatório desde o início, pois o marido a maltratava muito. Ele foi seu primeiro e único namorado. Ela queria ter filhos e ele não, então ele a fazia tomar duas cartelas de anticoncepcional ao invés de uma por mês e colocava seus pés em agua quente e agua fria alternadamente para fazê-la abortar. Relata que o marido gosta de vê-la doente e não se separa porque não quer dividir os bens. Diz não querer mais viver, e que só não comete suicídio porque precisa cuidar dos pais e da única filha.
Entrevistada 6: 38 anos; sexo feminino; não possui religião - não sabe precisar quando começou a ver vultos e ouvir vozes, mas lembra que ainda era criança. As vozes costumam ser de premonição, e a deixam sempre com muito medo. A única pessoa com quem ela conversava a respeito era a mãe, que já faleceu, mas acreditava nela, ao contrário dos demais familiares. Diz ter muita depressão há vários anos, e ter perdido todo o cabelo em função disso. Relata ter passado cerca de 10 anos dentro de um quarto escuro, pois não tinha vontade de fazer nada. Acredita que a depressão está piorando nesse momento, visto que não está tomando todas as medicações para poder amamentar sua filha.
Entrevistada 7: 38 anos; sexo feminino; não possui religião - começou a ouvir vozes ainda criança, e lembra das suas tias tentando amenizar a situação dizendo que ela não ouvia nem via nada, que era só imaginação. Sua relação com os vizinhos é complicada, pois pensa que as vozes falam de sua vida para os mesmos, o que faz com que ela acabe se isolando. Tem apresentado dificuldade nas atividades diárias, pois passa muito tempo dormindo ou deitada.
Entrevistada 8: 54 anos; sexo feminino; não possui religião - foi casada e sofreu violência doméstica, apanhou e foi abusada sexualmente diversas vezes. Quando se separou, começou a ouvir vozes sempre que arranjava algum companheiro. Relata que as vozes pareciam tentar protegê-la de se envolver amorosamente com alguém, para que não fosse violentada novamente. Hoje não ouve mais as vozes, mas relata sentir a presença das mesmas na sua casa, as quais não deixam que ninguém entre lá além dela mesma. Isso a deixa muito triste, porque gostaria de ter um companheiro para dividir sua vida, e poder receber pessoas que gostam na sua casa. Além disso, vê vultos, principalmente a noite.
Entrevistado 9: 39 anos; sexo masculino; não possui religião - relata ter começado a ouvir vozes quando o seu avô faleceu. Nessa ocasião ele tomou todos os seus remédios para tentar acabar com a própria vida. Tem muito medo das vozes, e não gosta de falar sobre o assunto, pois só de pensar nas vozes diz sentir muita dor na cabeça.
Entrevistado 10: sexo masculino; não possui religião - começou a ver pessoas que os outros não viam quando tinha cerca de sete anos, após ter sido estuprado pelo ex-cunhado. As vozes apareceram na adolescência, quando estava no Ensino Médio. Ele relata ter sido o período mais difícil da sua vida, pois teve muita depressão e isolamento social. Faz um ano que teve alta do Hospital Psiquiátrico, e desde então não feriu mais a si mesmo. Segundo o entrevistado, a medicação ajuda até um certo ponto, principalmente na frequência das vozes, mas que ainda assim ele vê e escuta pessoas que os demais não o fazem, todos os dias.
Entrevistada 11: 54 anos; sexo feminino; espírita - começou a ver e a ouvir pessoas que os demais não o fazem quando tinha cinco anos de idade. Teve uma infância difícil, seu pai era alcoólatra e batia na sua mãe com muita frequência. Tinha muito medo que sua mãe acabasse morrendo. Seu pai morreu quando tinha dezesseis anos, e então começou a vê-lo, ouvi-lo e a senti-lo no seu corpo. Frente a isso, sua avó resolveu levá-la a um Centro Espírita para fazer um tratamento espiritual. Segundo ela, seu filho de cinco anos também já estava muito perturbado em função das dificuldades da mãe. Separou-se do marido, que também era alcoólatra, e diz que sua casa ficou mais tranquila. Tentou suicídio quatro vezes há seis anos atrás. Hoje conta com a ajuda da religião e da psiquiatria, porque segundo ela, sua mediunidade é desequilibrada, fazendo com que ela precise dos remédios. Contudo, queixa-se da medicação, pois acredita interferir muito na sua capacidade de pensar. Atualmente, diz ter oscilado muito, tem semanas que se sente indisposta e não consegue fazer nenhuma atividade, e outras em que fica bem. Está preocupada com o fato de que, na sua última crise, a psiquiatra dobrou a quantidade de antipsicótico, e ela não terá dinheiro para comprar a medicação.
Entrevistada 12: sexo feminino; não possui religião - diz ter começado a ouvir vozes há muito tempo, quando morava em outro local. Sente muita saudade dos pais, que já faleceram, e culpa-se por não visitá-los no cemitério. Possui duas filhas adultas, já é avó, mas não tem contato com ninguém, o que a deixa muito triste. Atualmente as vozes tem lhe deixado muito ansiosa, o que a fez voltar a fumar depois de um ano abstinente. Quando não precisa ir ao CAPS, não faz nada em casa, pois não sente ânimo.
Entrevistada 13: 53 anos; sexo feminino; não possui religião - começou a ouvir vozes em 2012 quando perdeu a mãe. Está em tratamento no CAPS desde então, e não conseguiu trabalhar mais. Além da mãe, também perdeu um cunhado, o pai e o irmão, acontecimentos que só colaboraram para a piora de sua saúde.
Entrevistada 14: 57 anos, sexo feminino; espírita - começou a ouvir vozes quando já tinha mais de trinta anos. Ouvia barulhos dentro de casa que seu marido não conseguia ouvir, e por isso não acreditava, dizia que era bobagem. Isso mudou em uma ocasião, que disse estar ouvindo alguém mexer na porta do quarto e esta de fato bateu. Desconfia que a casa possa ter algo de sobrenatural, pois além dos barulhos, teve uma situação em que encontrou todos os seus CDs no chão da sala formando o nome de seu ex-marido. Ouve vozes de pessoas conversando quase que diariamente, assim como vê pessoas que os outros não conseguem ver. Diz acreditar no espiritismo e ter lido vários livros em busca de uma explicação para as vozes.
Entrevistado 15: 37 anos; sexo masculino; não possui religião - começou a ouvir vozes aos vinte e cinco anos, quando caiu de um telhado. Trabalhava de servente de obras e estava arrumando a casa de um familiar. Relata de forma detalhada sua primeira internação em hospital psiquiátrico, e o quão traumático foi para ele a forma como o trataram lá dentro. Sente muita culpa pela morte de esposa, visto que quando ela morreu, ele estava internado e não pode se despedir. Ele relaciona a queda do telhado com o fato de fumar muita maconha na época.
Entrevistada 16: 37 anos; sexo feminino; acredita em Deus - relata ouvir vozes de um amigo imaginário desde criança, o que acreditava ser algo positivo em sua vida. Contudo, aos vinte e nove anos perdeu um irmão, e a partir daí começou a ouvir vozes com conteúdo negativo e com mais frequência. Relata que, após essa perda, nunca mais se recuperou, pois não consegue mais sair sozinha de casa, nem realizar suas atividades como antes. Tem muito medo de ficar sozinha em casa, pois já tentou suicidar-se mais de uma vez por causa dos comandos das vozes. Além disso, agride fisicamente o marido com frequência, e chegou a matar um de seus gatos porque a voz ordenou, o que a faz sentir culpada.
Resultados e Discussão
Ouvir vozes que os demais não o fazem é uma experiência extremamente complexa, que pode apresentar características distintas e acarretar múltiplos sentimentos em cada ouvidor, configurando, portanto, uma experiência individual e subjetiva, passível de interpretação (Corstens, Longden, McCarthy-Jones, Waddingham & Thomas, 2014). Além de causar diferentes emoções, as vozes são carregadas de diferentes discursos, os quais são capazes de mostrar um pouco das percepções de cada sujeito, e do seu contexto histórico e social, os quais vêm se mostrando muito influentes no sentido que cada ouvidor atribui as suas vozes.
Nessa perspectiva, Bakhtin (2011) realizou diversas reflexões acerca dos diferentes tipos de discurso, o que ele denominou de gêneros do discurso. Segundo o autor, esses gêneros resultam em formas-padrão relativamente estáveis de um enunciado e são determinadas sócio-historicamente. Assim, a comunicação só acontece através dos gêneros do discurso, os quais são utilizados sem que sejam sequer percebidos. Tais gêneros nos são dados, conforme Bakhtin (2011, p. 282) "quase da mesma forma com que nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até começarmos o estudo teórico da gramática".
Dessa forma, o discurso tem a função de exprimir a intenção do falante, e dependendo da situação em que isso ocorre - se mais formal ou mais despojada - é que será escolhido o gênero do discurso a ser utilizado. Da mesma forma, o autor afirma que o falante escolhe as palavras de acordo com o gênero do discurso que irá utilizar, e ele ilustra essa ideia com o seguinte exemplo: "Neste momento, qualquer alegria é apenas amargura para mim" (Bakhtin, 2011, p. 293). Nesse caso, a palavra alegria se refere à tristeza, significa que esta palavra está refletindo o seu sentido através do gênero, sendo interpretada pelo contexto discursivo. Esta expressividade não é da palavra enquanto unidade da língua, já que alegria remeteria à felicidade, mas é o resultado do funcionamento da palavra dentro do discurso. Portanto, as palavras da língua não são de ninguém, mas o contexto singularmente individual do enunciado sim (Bakhtin, 2011).
Fazendo um paralelo com a temática dos ouvidores de vozes, e pensando no conteúdo e nas características das vozes que eles escutam, pode-se pensar que, apesar de as palavras pronunciadas pelas vozes de diferentes ouvidores serem iguais, o enunciado dessas palavras é singular e individual. Ou seja, mesmo que dois ouvidores escutem a palavra inútil, ela terá enunciados diferentes, pois eles estarão atrelados a contextos diferentes de discurso e, consequentemente, terão sentidos diferentes para cada ouvidor.
Para Bakhtin (2011), cada ato de enunciação é composto por diversas vozes. Assim, cada discurso é composto por vários discursos. Isto é o que o autor denomina de polifonia. Contudo, não se trata apenas de uma retomada de diferentes vozes dentro do discurso, pois estas vozes dialogam dentro dele. No caso dos ouvidores, é possível verificar que as vozes que eles escutam estão carregadas de diferentes discursos, como o próprio discurso biomédico, ou o discurso espiritualista, os quais podem atuar dando sentido para essas vozes, como nos casos a seguir:
Aí lá disseram para mim "não, tu tem mediunidade e isso que tu ouve não são totalmente vozes, isso são coisas que vem né...avisos" e eles me explicaram "às vezes tu tem e é do lado espiritual, e tem muitas vezes que é intuição" a pessoa tem uma intuição, pressentimento né... E tu tem que aprender a separar [...] E eu comecei né... mas é que tem a parte desse lado, e tem a parte da doença. Aí eu tenho que ir né, vou lidando. (Entrevistada 1) Olha, a explicação que eu aceitei indo em busca de uma solução para o meu problema eu hoje aceito plenamente como filosofia de vida e vivo conforme os conceitos da doutrina espirita, mas sempre existe o lado cientifico que a gente procura refletir sobre a questão. Pode ter sido...também, analisando fora da doutrina espírita, porque eu tive uma infância muito difícil, fui filha de pai alcoólatra e a minha mãe na minha gravidez ela passou muito trabalho, muitas situações de medo, de tensão, a minha infância toda foi vendo meu pai agredir a minha mãe, foi vendo minha mãe sair de casa com seis filhos e indo dormir na casa da vizinha, eu tinha muito medo que meu pai matasse a minha mãe... ele ameaçava. (Entrevistada 11)
Dizem que eu tenho que desenvolver o meu dom para ajudar os outros, mas... a maioria dos espíritas falam isso aí... eu até cheguei esses dias a ir na igreja, naquela X, para ver. E aí deu o acaso de ser naquele dia da sessão do descarrego, já faz duas semanas eu acho. (Entrevistado 6)
No caso das entrevistadas 1, 6 e 11, ficam evidentes dois tipos de discurso: o religioso e o biomédico. Ambos atuam dando sentido para a experiência de ouvir vozes, que hora é compreendida como capacidade mediúnica, hora é compreendida como o sintoma de uma doença mental. Para Romme e Escher (1997), entender o fenômeno da audição de vozes com a ajuda de crenças espirituais, pode ajudar o ouvidor a lidar com essa experiência sem se tornar refém da mesma.
De forma semelhante, MacCarthy-Jones et al. (2013) concluiram, após realizar entrevistas com ouvidores, que a religiosidade poderia ajudar a dar sentido as vozes quando nenhuma outra explicação pareceu convincente para o ouvidor. Contudo, o estudo de Cottam et al. (2011) alcançou resultados diferentes, pois ao investigar se crenças religiosas tornariam a experiência de ouvir vozes menos angustiantes, verificou que o fato de os ouvidores fazerem uso ou não de serviços de saúde mental teria maior influência na experiência de ouvir vozes do que o fato de o ouvidor possuir alguma crença religiosa. No caso das entrevistadas 1 e 11, a religiosidade claramente vem a somar positivamente à experiência de ouvir vozes, ajudando-as a dar sentido para esse fenômeno, enquanto que a entrevistada 6 parece ainda não ter bem claro qual o papel que essas crenças terão no seu cotidiano com as vozes.
Para Bakhtin (2011), é a partir do diálogo entre as vozes que compõe um discurso que se dá a construção da consciência individual do falante. Portanto, no contexto dos ouvidores de vozes, a construção dessa consciência se da de forma muito mais complexa, pois além dos discursos que compõe o discurso do próprio ouvidor, existem discursos que permeiam os discursos das vozes que ele escuta, os quais se influenciam mutuamente. Assim, é nessa construção da consciência individual, permeada por diferentes discursos, que falam tanto de um contexto histórico, quanto social, que vão se estabelecendo sentidos mais ou menos estáveis para as vozes que compõe a existência de cada ouvidor.
Outro fator que influencia diretamente no sentido atribuído as vozes, são os traumas que podem ter sido vivenciados pelo ouvidor. Assim como a entrevistada 11, que relata traumas vivenciados na infância, as falas a seguir trazem situações que ocorreram com outros ouvidores:
Olha, eu acredito muito em vida após a morte, mas ai ao mesmo tempo eu fico em dúvida. Eu não sei assim, explicar direito. Faz uns oito anos que eu perdi o meu irmão do meio, dai pra adiante eu desandei, nunca mais me ajeitei. (Entrevistada 16)
É porque eu fico com pena, elas eram minhas e eu não pude fazer nada por elas isso me dói muito aqui dentro, muito muito muito. Eu tenho muita dor na parte pélvica da barriga porque eu tenho aderência sabe, então a vontade que eu tenho é de abrir assim e botar as criancinhas tudo aqui pra dentro porque eu acho que ai elas iam ficar protegidas tu entende? Elas iam se regenera aqui na minha barriga, é assim que eu penso. Pobrezinhas elas ficam ali sentadas me olhando, choram… E tão sempre me chamando de mãe então era porque era pra ser meu né? Eu entendo que elas querem que eu.. mas eu não consigo ir até elas porque o homem não deixa. (Entrevistado 5)
No caso da entrevistada 5, as vozes tiveram início com a retirada do útero. Essa cirurgia acarretou um sofrimento profundo, pois ela tinha planos de ter mais filhos. Assim, não só o evento traumático foi um disparador da audição de vozes, como também se apresenta no próprio conteúdo das mesmas. O entrevistado 15 apresenta uma relação semelhante entre evento traumático e início da audição de vozes, como relatado a seguir:
Só falam, eu tenho certeza que é a minha mãe que quer me levar e a minha falecida esposa que quer vir me levar, isso que eu penso, eu tenho certeza que é elas, eu tenho certeza não é mais ninguém. A minha mãe era muito apegada a mim. (Entrevistado 15)
Para o entrevistado 15, as vozes tiveram início quando ele caiu de um telhado, porém, os discursos das vozes são determinados por eventos traumáticos posteriores, como a morte da mãe e da esposa. Ele culpa-se pela morte de ambas, pois acredita que poderia ter procurado ajuda médica para a mãe e proporcionado uma vida mais longa para ela, assim como a morte da esposa, que ocorreu durante a sua primeira internação em hospital psiquiátrico, impossibilitando-o de se despedir.
Os traumas, segundo Andrew, Gray e Snowden (2008), tornam as pessoas mais vulneráveis à audição de vozes. Contudo, os autores afirmam que, a natureza do trauma e o quanto ele permanece mal resolvido para o ouvidor, é que irá determinar o sentido que o mesmo atribui às vozes (Andrew et al., 2008). Portanto, reafirma-se a importância de se explorar a história de vida do ouvidor, para que se possa chegar o mais próximo possível de uma compreensão do que as vozes falam por meio de seus discursos, sejam eles referentes a eventos traumáticos, a crenças religiosas, ou até mesmo a questões histórico-sociais, como preconceitos raciais, de gênero, entre outros.
Bakhtin (2011) avança ainda mais nas suas reflexões sobre gêneros do discurso, afirmando que nossos pensamentos são frutos de um contato permanente com os pensamentos alheios, pensamento este que expressamos no enunciado. Dessa maneira, a consciência individual é produto de um diálogo entre várias consciências. Com base nessa afirmação, pode-se pensar em vários arranjos de reflexão entre os ouvidores e as vozes que eles escutam, como por exemplo, o fato de que os enunciados das vozes são produtores dos pensamentos do ouvidor, como pode ocorrer em casos de vozes de comando. Pode-se citar como exemplo o caso do entrevistado 2, que ao ouvir comandos para matar a companheira, era tomado por uma grande vontade de fazê-lo. Isso é exposto a seguir, também na fala da mãe do ouvidor, visto que este solicitou que ela o acompanhasse na entrevista e o ajudasse a responder as questões.
Eu queria matar a N. Outra pessoa que eu queria matar também era o M., marido da X. também. (Entrevistado 2)
Eu tenho certeza que ele tinha vontade de matar a N. porque ela já foi daqui casada para lá, para Porto Alegre, então ele ficou com raiva dela porque ela preferiu o outro do que ele. Então ele ficou assim né, triste, com mágoa, então foi isso aí que ele queria matar ela... Psicologicamente né. (Mãe do entrevistado 2)
Nesse caso, além de envolver o trauma de um abandono, que deu origem as vozes, assim como nos casos já relatados, é possível verificar mais nitidamente, a influencia dos enunciados das vozes no pensamento do ouvidor. Mas é possível que os pensamentos dos ouvidores também sejam produtores dos enunciados das vozes, como no exemplo a seguir:
Eu acho que elas eram minhas amigas, para me proteger. Porque eu acho que de tanto que eu fui espancada, elas arrumaram uma maneira de me proteger de outros. (Entrevistada 8)
Como citado anteriormente, a entrevistada 8 foi espancada e abusada sexualmente várias vezes pelo companheiro, e após a separação, ela começou a ouvir vozes que a mandavam se retirar do local toda vez que se relacionava amorosamente com outros homens. Nesse caso, é possível que o medo de ser violentada novamente influenciasse o conteúdo das vozes, que como forma de preservação, mandavam-na ir embora e se afastar desses homens, os quais passaram a ser visto como ameaças à sua integridade.
Outro fator que se mostrou associado ao início das vozes foi o uso de álcool, como pode-se observar na fala do entrevistado 4:
Quando eu era adolescente eu ia muito no bailão estrela Gaúcha e eu tomava muito álcool, era bem alcoólatra.. aí depois que eu comecei a ouvir as vozes... não sei se foi por causa do álcool. Ia para festa e me embebedava muito [...] Aí eu comecei a ouvir vozes, não sei se foi por causa do álcool também.. (Entrevistado 4)
Stephane, Arnaout e Yoon (2018) investigou possíveis correlações entre condições sociodemográficas, padrões clínicos de uso de álcool e comorbidades psiquiátricas em dois grupos: bebedores com e sem um histórico de alucinações causadas por abstinência alcoólica. Como resultado, os autores encontraram que níveis mais elevados de educação e de padrão de vida poderiam proteger contra as alucinações, enquanto que fatores como isolamento social, hipervigilância, exposição ao álcool durante o desenvolvimento do cérebro e a exposição severa ao álcool podem predispor os sujeitos à audição de vozes.
Como se pode observar nos casos apresentados, o sentido que cada ouvidor atribui às suas vozes é algo complexo, pois é influenciado por diferentes fatores, como a história de vida do ouvidor e o contexto histórico-social em que ele se desenvolveu, visto que esse contexto pode ser determinante dos discursos que o ouvidor foi exposto. Assim, encontrar um sentido para as vozes é algo que demanda um investimento psíquico por parte do ouvidor sobre essa temática e, principalmente, um investimento em autoconhecimento. Por esse motivo, nem todos os entrevistados deste estudo apresentaram clareza sobre a temática, como foi o caso dos ouvidores 7, 9, 10, 12 e 13, que não atribuíram nenhum sentido para as vozes, e os entrevistados 3 e 14 que, como exposto a seguir, também não possuíam muita clareza sobre a origem das vozes:
Não sei, não consigo entender até hoje assim sabe é uma coisa meia...Não sei da onde começou [...] Ou por brigas dentro de casa assim. Minha cabeça ficou muito pesada e acho que pode também ter ajudado a começar. (Entrevistada 3)
Ai sinceramente eu não sei, não sei que eles querem me dizer, se é um algum deboche... mas porque deboche, às vezes eu pergunto "porque debochando?" ou eu penso se é alguns anjinhos daqueles bem malvado debochando, ou será que eu fui uma pessoa muito ruim na vida passada, sei lá uma coisa assim. (Entrevistado 14)
Segundo Contini (2017, p. 25), o ouvidor de vozes, quando no início dessa experiência, não classifica e nem procura classificações para as vozes, apenas pensa a quem elas podem pertencer, principalmente quando quem fala não está visível, e é apenas uma voz. Assim, esta é ouvida e não escutada, pois "a escuta requer que se preste atenção ao que está sendo dito, atitude que nenhum ouvidor assume logo no início" (Contini, 2017, p. 25).
Considerações Finais
O presente estudo objetivou conhecer os sentidos produzidos por ouvidores de vozes sobre suas experiências com as vozes. A partir do exposto, pode-se evidenciar o quanto que o sentido que o ouvidor atribui às vozes é subjetivo, individual, e dependente de fatores externos, como os discursos a que esse ouvidor é exposto no seu meio histórico e social ao longo do tempo, visto que este é composto por diferentes crenças, ideologias, concepções de homem e preconceitos, os quais se manifestam claramente no conteúdo das vozes que eles escutam.
Somado a isso, outro fator que se mostrou nas falas apresentadas, foi o quanto cada ouvidor é capaz de elaborar a sua experiência de audição de vozes, relacionando-a com a sua história de vida, a qual pode ter marcas de eventos traumáticos ou estressantes que coincidem com o início das vozes.
Dessa forma, fica nítida a importância de não minimizar as características e os conteúdos das vozes, e passar a explorá-las em profundidade, na tentativa de que a pessoa ouvidora de vozes estabeleça possíveis relações com a sua história de vida e com os discursos que vem sendo exposta ao longo do tempo.
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Endereço para correspondência
E-mail:marialauradeoliveiracouto@gmail.com
Recebido em: outubro de 2019
Aceito em: setembro de 2020
1 Maria Laura de Oliveira Couto: Psicóloga, Mestre em Ciências pela Universidade Federal de Pelotas, doutoranda no Programa de pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Endereço: Irmã Amábile, nº 411 – CEP: 96090- 810. Telefone: (53) 981193808.
2 Luciane Prado Kantorski: Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo Ribeirão Preto, Professora Titular da Universidade Federal de Pelotas.