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Psicologia Escolar e Educacional

versão impressa ISSN 1413-8557

Psicol. esc. educ. v.4 n.1 Campinas  2000

 

RESENHA

 

A criança, o professor e a leitura

 

 

Geraldina Porto Witter

Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)
Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Endereço para corespondência

 

 

Dillon, D. R. Kids Insight. Newark, IRA: 2000. xi + 193 p.

Dillon é professora na Purdue University onde atua na área de Educação enfocando a Alfabetização e os métodos qualitativos. Esta atuação e formação transparece ao longo do livro aqui enfocado.

O livro é composto por uma breve Introdução, sete capítulos e seis apêndices além de outros pré e pós-textos convencionais, tais como agradecimentos, referências e índices de autores e conteúdos.

Na Introdução, a Autora situa o livro na coleção destinada a professores que trabalham no ensino fundamental (The Kids Insights Series) cuja meta é oferecer informações práticas para professores da 28 série apresentando histórias sobre crianças e adolescentes, que sirvam de base para a tomada de decisões acadêmicas. São apre-sentadas suas vivências e de outros professores que observaram, ouviram e conversaram com alunos paraconhecê-los melhor em suas relações com os textos. A autora esclarece que a clientela preferencial do livro são os professores mas que o mesmo também pode ser útil aos docentes universitários que cuidam da formação e da atualização de professores. Destaca a necessidade de aproveitar o melhor possível o que já existe e está dando resultado e as características dos alunos. Apresenta pontos que os professores devem cuidar freqüentem ente para um adequado envolvimento e atualização de suas práticas.

• Refletir e escrever sobre suas práticas de en-sino não esquecendo suas tensões e dilemas.

• Colher outros dados junto aos alunos usando instrumentos para medir a aprendizagem, entrevistas e questionários, o que for útil para conhecer os alunos, o ensino e o processo de aprendizagem.

• Analisar os muitos dados de fontes diferentes para reformular suas crenças e práticas. Ler pesquisas na área.

• Reconsiderar suas idéias sobre alfabetização, leitura, ensino e avaliação.

• Construir uma visão sempre renovada das necessidades de cada aluno.

O Capitulo 1 enfoca como manter o olhar da criança para ganhar compreensão, a partir de um texto literário procura mostrar estratégias que podem ser usadas para que todos compreendam, mantendo-se o cuidado de atender às necessida-des de cada estudante. Enfoca como estudar os personagens, como saber se houve compreensão e como generalizá-la com o devido cuidado. Aqui caberia lembrar que são considerações im-pressionistas da autora, o que recomenda maior cuidado e criticidade no uso das informações em ambientes educacionais diferentes. Fecha o capi-tulo apresentando os capítulos subseqüentes.

No capitulo seguinte discute a importância de se saber onde se quer chegar, o que se espera do aluno, o que se quer ensinar-aprender durante a prática em sala de aula. Isto pede levar em consideração quem são estes alunos e a discussão com eles (ou responsáveis) sobre quais os pro-pósitos pretendidos. Encartados no capitulo aparecem quadros de bibliografia complementar para os professores. São discutidos os papéis do questionar, da reflexão, da escrita.

De certa forma o tema é retomado e ampliado no Capitulo 3 mostrando que questionar pede compreensão de onde se pretende chegar e o conhecimento do ambiente de origem do aluno, de sua experiência passada. Também implica em conhecer a origem das crenças sobr e ensino e aprendizagem de leitura, da escrita e das práticas usadas em sala de aula.

No Capitulo 4, a Autora lembra a neces-sidade dos professores identificarem as crenças e práticas comumente usados, descobriu as tensões entre elas para resolver os problemas diários em sala de aula. É necessário ajudar o professor a chegar a este conhecimento. É importante saber que a aprendizagem é um processo natural, que todos podem aprender; que a linguagem é fundamental; que a aprendizagem é um processo de de-senvolvimento que cobre todo o ciclo de vida; que os aprendizes precisam estar ativamente engajados, serem autodisciplinados, criativos e motivados; que os alunos devem ter opções sobre o que e como aprendem e se envolverem com o próprio traba-lho. Além disso localizar um problema pode ser muito produtivo e enriquecedor no contexto educacional.

Usar o conhecimento sobre o aluno nos aspectos anteriormente referidos é o cerne do capítulo seguinte, onde quadros analíticos oferecem ajuda adicional ao leitor. É importante que o docente aprenda sobre a escolha (do que ler); mudança (de tarefa e comportamento); controle (do aluno sobre sua própria apren-dizagem); colaboração (do professor-aluno; aluno--aluno); construção de significados (ênfase em estratégias e metacognição) e uso das conse-qüências (reforçadores) para o estabelecimento de comportamentos produtivos (responsabilidade, auto-controle etc.).

Em seguida (Capítulo 6) são apresentadas compreensão e reflexão sobre a leitura e a prática. Destaca-se a proposta de um conceito sobre alfabetização/ leitura até eventos de leitura, prática e discursos. Propõe uma série de questões que os professores devem se fazer para assegurar melhor atuação junto aos alunos. Entre elas: "Como posso ouvir mais cuidadosa e criticamente aos meus alunos?... Como posso substituir minhas rotinas de ensino?... O currículo não está excluindo as questões de interesse dos alunos?.. etc.

O último capítulo é um breve post-escrito que retoma seu desejo de alcançar com o livro outras pessoas interessadas na matéria, fechando a obra com algumas idéias para o desenvolvimento profissional. Algumas são: combinar com os colegas um período regular para encontros para tratar do assunto; fazer um diário sobre o que pensa sobre o assunto; conversar com os alunos sobre seus pontos de vista; fazer planos para o futuro; não perder tempo; comparar o que pensa com o que pensam os colegas etc.

Seguem os Apêndices que são inte-ressantes. O primeiro apresenta o registro de um diários de docente e sua interpretação; o segundo enfoca cinco proposições para os docentes acompanharem seu próprio desempenho; o terceiro consiste em uma tabela de comportamentos e atividades envolvendo aprendizagem de leitura e de escrita e que devem ser aumentados ou diminuídos; o quarto é a apresentação de um a lista de padrões (estabelecida pelo IRA), para aprendizagem de leitura/escrita em inglês; o quinto trata dos princípios a serem seguidos no ensino da leitura pelo professor; o último arrola o que se tem de consenso sobre aprendizagem da leitura (13 tópicos).

As referências são atuais e predomi-nantemente constituídas por artigos de periódicos. O índice de autores e de conteúdo (este muito geral) podem ser úteis a leitores e pesquisadores.

A obra é interessante mas requer muita cautela no uso das sugestões, muita criticidade e pesquisa para uso em outras realidades, já que faltam bases em dados quantitativos que permitam usá-las com segurança, dentro de uma margem de erro conhecida.

 

 

Endereço para corespondência
Av. Pedroso de Morais, 144 - Apto. 302 Pinheiros
São Paulo - CEP 05420
Fone: (11) 30321968