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Psicologia Escolar e Educacional
versão impressa ISSN 1413-8557
Psicol. esc. educ. v.12 n.1 Campinas jun. 2008
RESENHA
A influência da filosofia clássica para a educação atual
The classical philosophy influence in the actual education
Nayane Martoni Piovezan *
Murueta, M. E. (2007). Educación em cuatro tiempos: Rousseau, Kant, Marx, Nietzsche interpretados para el siglo XXI. Amapsi: México. 127 pgs.
A atualidade da ciência incita que revisores e avaliadores de periódicos considerem trabalhos nos quais sejam utilizadas referências muito novas, de 10 anos atrás. Dessa forma, perdeu-se a amplitude e grandeza das publicações com idéias clássicas, já que seriam, na visão moderna, antigas e antiquadas, colocando a filosofia como algo supérfluo. Isso acarreta na falta de aplicabilidade real das pesquisas e no avanço tecnológico da época que tenham uma correlação com a grade da decadência social.
Em seu livro, "Educación em cuatro tiempos", o autor Marco Antonio Murueta buscou disseminar as idéias clássicas de quatro filósofos, que, apesar de terem sido construídas em séculos passados (XVII e XIX), referem-se a quatro momentos diferentes de um mesmo sistema de vida em voga, ainda, no século XXI. Dessa forma, o autor promove a dispersão da filosofia dialogando o passado com o presente, explorando e confrontando as idéias e pensamentos de Rousseau, Kant, Marx e Nietzsche.
Na introdução, Murueta discorre as teses dos quatro filósofos e também de outros, relativas à educação e as coloca como matéria-prima para produzir novos enfoques e alternativas educativas tão relevantes e viáveis dentro do mundo tecnológico do século XXI. Versa sobre a decadência da educação, conseqüência das novas tecnologias que constituem o eixo da vida atual e eliciam a marginalização e o individualismo nas pessoas, resultando em psicopatologias, desgastes emocionais e violências de diversas índoles. Trata da visão da escola atual, impotente e desacreditada, das exigências de formação para a competição por vagas de trabalho, dos profissionais da área da educação, da necessidade de aumento da qualidade da educação e retomada de pedagogias propostas pelos filósofos citados.
Em outro capítulo, Laura Guadalupe Zárate Moreno teve como foco a educação superior e sua função social, o que a formação universitária deve promover para o indivíduo e para a sociedade, citando alguns dos principais problemas desse nível de ensino no âmbito do México e ligando a situação atual enfrentada com a ideologia democrática proposta por um dos pensadores que mais tem influenciado o século XXI, Rousseau.
No capítulo seguinte, Enrique Bernal Franco e Marco Eduardo Murueta falam sobre a competitividade presente no mundo atual globalizado, a perda de valores e decorrente busca do bem-estar próprio, da individualidade e, finalmente, sobre a ética dos funcionários universitários, que dirigem e administram as universidades. Os autores falam sobre a qualidade do ensino, que deve desenvolver a reflexão, a consciência crítica, a autoridade moral, que por sua vez, geram a capacidade de o indivíduo reivindicar e lutar por melhorias de vida e situações que acontecem com maior freqüência no mundo do século XXI. Nessa formação, a instituição de ensino superior, mais do que os níveis escolares anteriores, tem um papel muito importante, cabendo a ela promover e desenvolver essas qualidades nos cidadãos. É discutido o ponto de referência que o funcionário universitário deve constituir para promover na comunidade educacional a autoridade moral, o engajamento a grandes ideais e colocadas em ascensão as idéias do mais rigoroso e preciso filósofo, quando se fala em ética e moral, Emanuel Kant. Suas idéias propõem que para o desenvolvimento da vocação ética, é necessário o pensar no outro, a preocupação com a comunidade e sentimentos alheios e, nesse quesito, os autores explicitam o papel das universidades visto pelo prisma dos pensamentos Kantinianos.
No penúltimo capítulo, destacam-se os pensamentos de Carlos Marx diante da imersão da escola no mundo globalizado, escrito por Luis Miguel Ramírez Torres. O autor analisou as idéias de Marx passando pelo conceito de homem proposto por ele, pela importância do desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais e sócio-culturais, o qual é atribuído como responsabilidade, em primeiro lugar, da família e depois da escola. Considerando o ensino e a escola atual embutidos num mundo globalizado como o do século XXI, Torres expõe as duas vertentes dos pensamentos de Marx relativos à educação, a saber, a análise crítica da sociedade burguesa, sua educação e suas instituições e a proposta de uma nova sociedade, educação e instituição escolar, nas quais seja possível a formação de um homem desenvolvido unilateralmente. Assim, a escola para Marx, é o suporte para que o homem desenvolva sua ideologia.
No último capítulo, Carlos Hernández Reyes trata do desenvolvimento integral do ser humano, não somente de sua parte intelectual - como tem sido nas instituições educacionais modernas - ou, ao contrário da parte física e estética - como as escolas que formam atletas carentes de desenvolvimento intelectual e sensibilidade. Discute as idéias de Nietzsche, que são apoiadas no desenvolvimento de todas essas qualidades a partir de valores infundados (diante da sociedade atual) e da razão, levando o homem a ter contato consigo mesmo, com a humanidade, a terra, com a vida e o universo. Contato este, que traria a alegria de viver e a felicidade, mostrando que "não basta passar pela vida, sem transcendê-la" (pg. 125).
Essa obra literária construída por autores mexicanos serve como objeto de reflexão, já que muitas vezes, os profissionais envolvidos, direta ou indiretamente, com a área educacional, talvez contaminados por idéias capitalistas e individuais da sociedade moderna, não tomem contato com os pressupostos desses filósofos, que fazem muito sentido no mundo em que vivemos. Este livro é muito pertinente quando se pensa na melhoria do sistema educacional vigente no século XXI.
Sobre a autora:
* Nayane Martoni Piovezan é mestranda em Avaliação em Psicologia Educacional da Universidade São Francisco.