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Psychê

versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.10 n.17 São Paulo jun. 2006

 

ARTIGOS

 

A ternura tátil: o corpo na origem do psiquismo

 

Tactile tenderness: body’s origins of the psyche

 

 

Ivanise FontesI

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O artigo aponta a importância do corpo na origem do psiquismo. Esse fato cria a necessidade de rever a noção de corpo na teoria psicanalítica. A sensorialidade ganha uma nova dimensão com a análise do texto freudiano O ego e o id. A contribuição de duas psicanalistas, F. Tustin e G. Haag, também ressalta o aspecto sensorial na constituição primordial do psiquismo. O fenômeno da transferência é colocado em evidência por favorecer o retorno das impressões sensíveis. A inclusão da escuta do corpo sensível do paciente é fator relevante no atendimento das psicopatologias com uma construção egóica precária, como nas personalidades aditivas, os casos-limites, as psicossomatizações e os estados depressivos.

Palavras-chave: Corpo, Sensorialidade, Nascimento psíquico, Psicopatologias contemporâneas, Transferência.


ABSTRACT

The article stresses the importance of the body in the origin of the psyche. This fact creates the necessity to revise the notion of body in psychoanalytic theory. The sensorial dimension gains a new dimension through the analysis of the freudien text “The ego and the id”. The contribution of two psychoanalysts F. Tustin and G Haag also highlights the sensorial aspect of the earlier psychic constitution. The transference phenomenon gains a special place because it retrieves sensible impressions. The inclusion of listening of the patient’s sensible body is the relevant factor in the attendance of the psychopathologies related to ego’s weak construction as addictive personalities, borderlines, psychosomatic illness and depressive states.

Keywords: Body, Sensoriality, Psychic birth, Contemporary psychopathologies, Transference.


 

 

Introdução – Freud precursor

Pretendo neste artigo apontar dois aspectos que julgo centrais para uma atualização da Psicanálise: o resgate da dimensão da sensorialidade na constituição primordial do psiquismo e a inclusão do corpo no trabalho de transferência.

Freud em seu texto de 1923 – O ego e o id – já reservava um lugar especial para o corpo na constituição do psiquismo. Ele não só postulava a existência de um ego corporal anterior a tudo, mas chamava a atenção para a questão da superfície do corpo – a pele.

“O ego é antes de tudo um ego corporal” (Freud, 1923,p. 238), acrescentando ainda em nota de pé de página de 1927 que “o ego deriva em última instância das sensações corporais, principalmente daquelas que têm sua fonte na superfície do corpo. Assim, pode ser considerado uma projeção mental da superfície do corpo, e além disso, como vimos anteriormente, ele representa a superfície do aparelho mental (1923, p. 238).

Devido à sua bipolaridade tátil – Freud faz alusão ao fato de que sinto o objeto que toca a minha pele ao mesmo tempo em que sinto minha pele tocada pelo objeto –, a pele prepararia o desdobramento psíquico do ego (eu/não eu). Seria, portanto, na pele que o ego aprenderia o psíquico. Poderíamos dizer que a pele ensina o ego a pensar.

Na aparição do ego e em sua separação do Id, um outro fator, além da influência do sistema PC, parece ter desempenhado um papel. O próprio corpo, e antes de tudo sua superfície, é um lugar do qual podem resultar simultaneamente percepções externas e internas. É visto como objeto estranho, mas ao mesmo tempo ele permite ao tato sensações de dois tipos, podendo ser uma delas assimilada a uma percepção interna (1923, p. 238).

Nesse sentido, é bem pertinente a afirmação de Freud de que o ego é a projeção mental da superfície do corpo. A experiência tátil seria, por assim dizer, modelo da experiência psíquica.

 

O Corpo na origem do psiquismo

Em geral não temos idéia do quanto o corpo, desde muito cedo, está implicado na constituição do psiquismo1.

Em primeiro lugar, precisamos admitir que o nascimento biológico e o nascimento psicológico não coincidem no tempo. Em frase de abertura de seu livro Nascimento psicológico da criança, M. Mahler diz que o primeiro “é um evento bem delimitado, dramático e observável; o último, um processo intrapsíquico de lento desdobrar” (1977, p. 15).

O momento em que se dá o primeiro esboço da consciência de si ocorre por volta de cinco meses, e não tem sido simples identificá-lo. A questão é tão atual que neurobiólogos, como Damásio (2000), vêm pesquisando sobre o mistério da consciência. As descobertas da neurociência têm fornecido elementos para identificar cada vez mais redes neuronais responsáveis por ações específicas, mas exatamente em que momento isso gera uma consciência de si, ainda é obscuro. Afinal, a partir de que combinação de fatores o bebê apresenta uma primeira consciência de um eu, diferenciado do mundo?

Proponho uma breve descrição do que seria o eixo central do que estamos aqui denominando “nascimento psíquico”, cuja origem estaria no corpo.

Para adquirir um primeiro senso de existir como unidade psíquica, o bebê precisará alcançar uma consciência de separação física da mãe. É importante frisar essa referência ao físico. F. Tustin, autora reconhecida por sua pesquisa sobre autismo, salienta em sua obra que se trata inicialmente da separação entre corpos. Sair da unidade-dual para perceber a existência de um eu e de um não-eu é a trajetória inicial para o desenvolvimento de um psiquismo. De início, portanto, ego corporal para construir um ego psíquico. Segundo ela, a maneira como o bebê toma consciência do “não-eu” é essencial à constituição de sua identidade individual.

O cerne da questão está em que o bebê normal, com uma mãe responsiva – assim nomeada por Tustin – precisará adquirir gradativamente essa consciência de que existem dois e não um só. Digo gradativamente porque o bebê vai oscilar entre uma ilusão de continuidade física e uma quebra da continuidade corporal – oscilação necessária para que ele se assegure de uma possibilidade de separação não catastrófica. Não é o caso das crianças autistas, que justamente pela falta de contato (em geral têm mães deprimidas), vivem a separação como queda absoluta – um “buraco negro”, título do livro de Tustin, para quem o autismo é uma aberração resultante de uma experiência traumática de separação corporal.

Interessa-nos aqui a constatação de que no autismo esse processo de separação se fez de forma abrupta. Para Tustin, mães deprimidas não podem realizar esse ir e vir necessário. Privando o bebê do contato afetivo, produzem uma distância física provocadora da percepção precoce de separação. Em relação a esse aspecto temos a importante contribuição de Green (1988, p. 239-274) sobre a “mãe morta”. O autista estaciona aí, criando com sua cápsula autista uma sobrevivência psíquica, em uma tentativa de evitar qualquer contato com esse não-eu tão assustadoramente temido. Todas as energias da criança são concentradas, então, para criar uma capa protetora de sensações de “ser”, para manter o “não-eu” ao largo.

Em uma evolução normal, o bebê não precisará agarrar-se às sensações, em uma equação adesiva, como os autistas. Ao contrário, nesse berço de sensações no qual vivem, irá dirigir-se para as percepções e para tudo que for da ordem do cognitivo. Pensar é partir das sensações corporais e transformá-las em idéias e conceitos, em direção à construção de uma equação simbólica.

Uma das primeiras angústias, talvez a mais precoce, segundo Tustin, é a de esvair-se, derramar-se, liquefazer-se, partindo inclusive do fato de que o corpo é inicialmente sentido pelo bebê como líquido ou gasoso – 70% de nosso organismo é constituído por fluidos. Se não me sinto “envelopado”2 por uma mãe corro perigo de me esvaziar pelos “buracos” de minha pele ou de meus orifícios. Anzieu fala em um “eu-pele poroso” ou escorredor (1989, p. 210). Para garantir uma existência, nem que seja artificial, posso tornar meu corpo volumoso, “trabalhando” meus músculos ou alimentando-me em excesso. Trata-se do risco de um aniquilamento existencial. Essa tentativa de se “encorpar” pelo medo de desaparecer impõe um paradoxo: o corpo enrijecido, inflado, fica impenetrável às sensações. Dessa forma, ele não se permite sentir – há uma inibição do tempo sensível. Na medida em que me anestesio, vestindo um sobre-corpo muscular3, por exemplo, bloqueio esse trajeto que vai da sensação à idéia.

As impressões táteis, gustativas, olfativas têm a função de disparadores tanto da memória sensível quanto daquilo que necessito para apreender o mundo. Ao bloquear essa função, anestesiando-a ou exacerbando-a, ficamos inertes psiquicamente.

 

Geneviève Haag e a substância psíquica

Com a Psicanálise podemos tentar responder a pergunta “como o espírito vem ao corpo?”. Esse é o título do artigo da psicanalista francesa Geneviève Haag (1997), autora sobre cujas idéias tenho me debruçado, por apresentar contribuições importantes sobre esse tema. Em inúmeros artigos publicados em revistas francesas defende a necessidade de um aprofundamento incessante e mais detalhado nas primeiras etapas da formação do ego corporal, como por exemplo, Do nascimento físico ao nascimento psicológico (1989) e A experiência sensorial fundamento do afeto e do pensamento (1992).

Haag fala em “substância psíquica” (1989, p. 219), que iria formar-se a partir da passagem do bebê por uma série de experiências com seu próprio corpo. Seguidora do método E. Bick de observação de bebês, e especialista na clínica de autismo, ela aponta que é na evolução do tratamento dessas crianças que temos a oportunidade de observar, como que em câmera lenta, o desabrochar do psiquismo. Na medida em que saem de seu encapsulamento, acompanhadas transferencialmente, manifestam um primeiro esboço de eu, e fornecem uma série de aspectos corporais ilustrativos desse complexo nascimento psicológico. A autora afirma:

No estado autista propriamente dito a criança é dominada por angústias do eu corporal: a queda sem fim e a liquefação, até a formação de seu sentimento de envoltório cujo desenvolvimento eles mesmos, à semelhança do que se passa no desenvolvimento normal, conseguiram detalhar para nós: é preciso combinar o tátil das costas, o envoltório sonoro com a penetração do olhar / psiquismo – isso forma um “em volta” (1997, p. 23).

Pelas pesquisas dessa autora, vemos que a simbiose normal não implica apenas em uma “fusão” em que somos engolfados, mas em um longo processo, complexo e indispensável para a construção de um ego corporal e do self. Há que se falar, portanto, em “gestação psíquica” para que haja um “nascimento psíquico”. Para poder separar-se é preciso interiorizar a não-separação (1989, p. 219).

O interesse, então, é saber o que se passa “antes” desse começo de processo de consciência de separação – dito de outra forma, “antes” do começo do processo de separação das peles psíquicas. Diversos autores, entre eles Winnicott, brindaram-nos com teorizações sobre essa etapa mais que crucial do desenvolvimento.

A hipótese de Haag sobre a noção de “estrutura rítmica do primeiro continente” (1986, p. 45-50) é algo extremamente inovador dentro desse tema. Ela revela a importância dos movimentos de vaivém, tanto da interpenetração dos olhares mãe-bebê, quanto do bico do peito na boca (durante o aleitamento) como garantia de um ritmo fundamental para a estruturação psíquica (Fontes, 2003, p. 330-333).

A primeira integração, isto é, a introjeção de uma primeira pele psíquica, refere-se a esse “olho no olho”, tão intenso a partir do segundo mês de vida, acrescido da interpenetração da boca, e combinado com o suporte posterior da junção costas-nuca-pescoço, integrando também o envelope verbal suave. A partir desse momento, o sentimento-sensação de ter esse primeiro envelope em vias de diferenciação começa a se esboçar, talvez com um mínimo de sentimento de “espaço” entre as duas peles.

Nessa organização da primeira pele, do esqueleto interno e das articulações do corpo, o tátil deve merecer destaque como exemplo de que o corpo sensível é condição básica dos processos de subjetivação. Essa “interpenetração” essencial, da qual nos fala Haag, precisa estar aliada às qualidades de doçura provenientes precisamente do tátil (1991, p. 53-54). É no contato com brinquedos de pelúcia ou com tecidos extremamente suaves – no caso de tratamentos com autistas esses recursos são introduzidos no setting analítico – que o bebê aprende o doce do tátil e o transporta para o sentimento de ternura. Em muitas situações de angústia de despedaçamento ou de esfolamento, essas sensações do suave e do doce são a possibilidade de elaborar qualidades sensoriais de uma continência apaziguadora.

Portanto, em um funcionamento mais primitivo (precoce), as principais emoções são ainda confundidas com essas sensações, a ternura com a doçura tátil e visualmente verificadas, para só após, com o desenvolvimento, transformarem-se em representação da ternura.

A ternura é, portanto, inicialmente tátil!

 

O corpo na transferência

As psicopatologias contemporâneas nos lançam em outros territórios que não mais os da neurose clássica. Sobre tal evidência alguns analistas têm se pronunciado – desde J. Kristeva, que em 1993 publicou seu livro sobre As novas doenças da alma aos psicossomatistas da Escola Psicossomática de Paris, falando em processos auto-calmantes para caracterizar uma dessas patologias, a somatização. Joyce McDougall já apontava para essa gama de pacientes “inanalisáveis” em seu Em defesa de uma certa anormalidade (1983). Alguns brasileiros, como Luís Cláudio Figueiredo (2003), Gilberto Safra (2004), entre outros, têm voltado sua atenção também para o tema.

Sejam somatizantes, casos-limite, estados deprimidos ou personalidades aditivas, todos esses pacientes desafiam o analista pela incapacidade de representação. Mas, afinal, se considerarmos que são sintomatologias que têm como denominador comum uma precariedade de simbolização, precisaremos reconhecer que o trabalho analítico não se fará mais dentro dos preceitos da associação livre e atenção flutuante. Esses assim chamados “pacientes modernos” caracterizam-se por dificuldade associativa extremamente profunda, e estão longe das questões ligadas à ameaça de castração. O que está em jogo, na maioria dos casos, é a ameaça à existência, isto é, têm medo de perder o senso intrínseco da existência. Encontram-se ainda em busca de uma organização egóica que lhes ficou impossibilitada precocemente.

Quando P. Fédida propõe o autismo como modelo paradigmático em psicopatologia fundamental, oferece-nos um respaldo teórico inigualável para a compreensão dessas nosografias contemporâneas, que têm provocado tanto impasse na clínica analítica4. Sua hipótese é que “o autismo adquiriu tal nível de pertinência semioclínica que sua descrição fenomenologicamente apurada transforma-o em uma verdadeira fonte de modelização” (Fédida, 1992, p. 151).

Podemos, portanto, considerar uma espécie de concha autística em jogo nessas novas modalidades de patologia da atualidade. Encontramos em algumas delas “próteses psíquicas” para dar conta de uma ilusória sensação de consistência. Nesse sentido, o modelo do autismo defendido por P. Fédida é tão pertinente. Há uma tentativa de dar conta de uma precária construção de um eu, discriminado de um não-eu. Cria-se uma equação adesiva, na qual as sensações são exacerbadas para garantir uma existência, mesmo que frágil. Não há possibilidade de equações simbólicas, ou estas são muito inconsistentes. A dificuldade está justamente em poder fazer o trajeto que vai da sensação à idéia, e portanto, à representação.

Venho assim denominando Psicanálise do Sensível a essa tentativa de repensar o lugar do sensorial na teoria e técnicas analíticas. Gostaria justamente de apontar para a possibilidade de inclusão da escuta do corpo sensível do paciente.

Por meio do fenômeno de repetição, característica fundamental do processo de transferência, as seqüelas de impressões podem retornar. Esse material carnal retorna evidentemente em busca de ser representado. A transferência presta-se a essa reprodução de sensações anteriormente experimentadas.

Face à angústia arcaica do paciente, o analista encontra-se freqüentemente em uma situação delicada – porque é o momento em que a memória corporal manifesta-se em lugar da linguagem verbal, e o corpo do analista faz parte desse processo, a sensação sentida do paciente pelo próprio analista. Se o analista encontra seu lugar de recepção sensório-cinestésica, o paciente poderá comunicar seus signos sensoriais e tentar transmitir suas vivências de intimidade e de estranheza5. Essa ampliação de recursos técnicos no atendimento reinscreve a atuação do analista. A mobilização dessa memória corporal possibilita a representação psíquica de situações traumáticas registradas no corpo, e pode contribuir para reverter quadros psicopatológicos.

Será necessário verificar que novos procedimentos o analista precisará acionar para entrar em sintonia, como dizia Ferenczi, com “uma capacidade de entrar em acordo com as sensibilidades do paciente” (1928, p. 64).

Na comunicação analista-analisando é preciso considerar uma via sensorial, que é parte inerente ao tratamento. Se não levarmos em conta essa modalidade de comunicação, o processo analítico perderá em sua eficácia. Certos pacientes, ao nos colocarem dificuldades técnicas, exigem que o analista encontre palavras com mais capacidade sensorial – elas devem recuperar sua relação com o corpo para serem mais representativas. Tentar ligar palavras às sensações que originalmente lhes forneceram sentido é dar corpo à linguagem. No tratamento das afecções narcísicas, essa espécie de reaquecimento da palavra impõe-se mais do que em qualquer outro.

A noção de transferência ganha uma nova dimensão por essa reatualização da sensorialidade. O fenômeno transferencial instaura as mais refinadas manifestações, em que os movimentos regressivos poderão ter lugar, aspectos corporais incluídos. É preciso que o analista seja capaz de exercer sua imaginação e sua capacidade de regressão para ter acesso ao material fornecido pelo paciente.

Fedida, em seu livro Por onde começa o corpo humano: retorno sobre a regressão (2001), fala em uma “realidade corporal do psiquismo”. Não saber onde o corpo começa nem onde termina é das primeiras experiências vividas. Poder delimitá-lo, dar-lhe fronteiras, prepara a formação do ego. Conhecer melhor o percurso – nada simples – que vai do ego corporal ao ego psíquico pode nos servir de orientação, de mapa, diante dos fenômenos de repetição das sensações mais precoces vividas na regressão em análise. E a partir daí, quem sabe, poder acompanhar nossos pacientes na construção de um “lugar geométrico do eu”, como diria o escritor Ítalo Calvino (2000) em seu ensaio sobre o opaco.

Do mesmo modo que a poesia nos reenvia a uma experiência de sensações por meio de uma seqüência de palavras fora de uma lógica discursiva, a transferência presta-se ao encontro das vicissitudes da experiência vivida, em uma reprodução de sensações anteriormente experimentadas. Finalizo, então, com poesia de Manoel de Barros:

O Pêssego
Proust
Só de ouvir a voz de Albertine entrava e
orgasmo. Se diz que
O olhar do voyeur tem condições de phal
(possui o que vê)
Mas é no tacto
Que a fonte do amor se abre
Apalpar desabrocha o talo
O tacto é mais que o ver
É mais que o ouvir
É mais que o cheirar
É pelo beijo que o amor se edifica
É no calor da boca
Que o alarme da carne grita
E se abre docemente
Como um pêssego de Deus

 

Referências Bibliográficas

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Endereço para correspondência
Ivanise Fontes
Beco do Boticário, 1 / 201 – Cosme Velho
22241-110 Rio de Janeiro - RJ
Tel.: +55-21 2285-5147
E-mail: ivanisefontes@bol.com.br

Recebido em 28/03/05
Segunda versão recebida em 04/07/05
Aprovado em 19/08/05

 

 

Notas

I Psicanalista; Doutora em Psicanálise (Universidade Paris 7/Denis Diderot); Pós-doutorado (Laboratório de Psicopatologia Fundamental do Núcleo de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP); Autora de La Mémoire corporelle et le Transfert e Memória Corporal e transferência: fundamentos para uma psicanálise do sensível.
1 As idéias aqui apresentadas foram desenvolvidas na participação de mesa redonda intitulada “Trauma e corpo: da sensação à representação” no VII Congresso Brasileiro de Psicopatologia e I Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental, realizado na PUC-RJ em setembro de 2004.
2 Segundo Anzieu, para que um sujeito se constitua há a necessidade de desenvolver envelopes psíquicos. Em seu livro Eu-pele, observamos desde um envelope tátil – a pele – até envelopes sonoro, gustativo, olfativo, muscular e térmico. A partir da experiência corporal desses diversos sentidos nasce um sujeito que se sente inteiro.
3 E. Bick (1968) descreve o caso de um bebê, cuja contenção psicológica externa (pelo meio ambiente) falhou, que apresentava uma espécie de “auto-contenção muscular” – uma espécie de segunda pele, em lugar de um invólucro de pele autêntica.
4 Em meu artigo “A Pierre Fedida: uma homenagem particular” (2003/2004), ressalto a importância dessa visão do autor sobre o autismo como paradigma para uma psicopatologia fundamental, apresentando algumas de suas idéias sobre o tema.
5 Uma descrição de caso clínico dentro dessa perspectiva foi apresentada no capítulo IV do livro de minha autoria (Fontes, 2002).