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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. vol.32 no.33 São Paulo  2022

https://doi.org/10.37388/CP2022/v31n32a01 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

A questão da aprendizagem é uma questão central da psicopedagogia. Existem milhões de teorias para se explicar a aprendizagem, mas nunca explicaremos totalmente a aprendizagem, porque nós fazemos parte da aprendizagem. A aprendizagem é processo, aprendizagem é vida, não é finito, ou melhor, só deixamos de aprender quando morremos. Nossa última aprendizagem é aprender a morrer.

Maria Cecilia Castro Gasparian

A revista "Construção Psicopedagógica" busca contemplar os leitores com um conteúdo atual e sob múltiplos olhares. A sua missão é divulgar o conhecimento em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento humano, nas suas diversas facetas.

Este volume traz temas que se interrelacionam em diversos artigos: os diferentes aspectos da aprendizagem, sejam pedagógicos ou socioemocionais, que se refletem na constituição do sujeito, seja na primeira infância, na adolescência ou no ingresso à vida adulta.

Portanto, neste volume, há um destaque para a Psicopedagogia Institucional, que é apresentada em ampla discussão, por meio dos autores que representam suas ideias como sujeitos culturais, trazendo reflexões de recomposições de suas experiências individuais e coletivas, destacando os aspectos socioemocionais em diferentes etapas do desenvolvimento e constituindo-nos como sujeitos únicos. Segundo Gasparian:

Temos um nome que nos foi dado, ninguém nos pergunta como queremos nos chamar, dentro desse nome tem um contexto, a partir daí faremos uma história de vida, temos que fazer nossa biografia, nos localizarmos e criarmos uma identidade pessoal, tendo uma bagagem não só hereditária, mas uma bagagem psicológica e uma bagagem afetiva, social e cultural, e uma posição que temos dentro da família, que será diferente de todos.

Desta forma, o leitor poderá apreciar desde artigos originais até relatos de experiências sobre: a perspectiva psicanalítica em instituições com experiências psicopedagógicas no Brasil e Estados Unidos; a ação interventiva em instituições, preocupada desde a adaptação escolar de crianças de 2 a 5 anos, até a construção da subjetividade na primeira infância; a influência da tecnologia no desenvolvimento do adolescente; a ressignificação da prática da inclusão e permanência de atores que ingressam à universidade. Finalizando, terá o leitor o acesso a uma resenha que traz reflexões teórico-práticas sobre a Psicopedagogia Institucional. A obra apresenta orientações para o processo avaliativo, culminando na intervenção e atuação da prática psicopedagógica.

O primeiro artigo, ASPECTOS EMOCIONAIS DA ADAPTAÇÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS DE DOIS A CINCO ANOS: CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DOCENTE, escrito por Lais Sanches do Nascimento e Andreia Cristiane Silva Wiezzel, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente, São Paulo, nos traz uma análise dos aspectos emocionais que permeiam a adaptação escolar de crianças na Educação Infantil. Esses aspectos envolvem sentimentos e reações que surgem no momento da entrada na escola:

A vivência escolar traz desafios para a criança e sua família, que enfrentam sentimentos de insegurança, medo, preocupação e dor pela separação. Todos esses sentimentos são comuns durante o processo de adaptação, entretanto, é importante a sua superação, já que podem interferir no comportamento da criança no ambiente escolar.

Assim, o planejamento das atividades deve ser feito com muita atenção, preparando atividades construtivas e calmantes que colaboram na adaptação escolar, ofertando às crianças momentos de tranquilidade e boas sensações.

Uma boa técnica para a elaboração do planejamento é a entrevista com a família para coletar dados sobre a criança. A partir da identificação das características das crianças, de atividades que geram prazer e a rotina, é possível realizar adequações, de forma que a escola se torne um espaço atraente, isto é, com brincadeiras conhecidas pelas crianças, músicas aconchegantes e alimentos que remetam à casa, dando uma sensação de continuidade, pelo menos no início dessa transição espacial.

O segundo artigo, STOUT FIELD ELEMENTARY SCHOOL: UMA PARCERIA QUE DEU CERTO!, produzido por Cecília Iacoponi Hashimoto, da Millikin University, Decatur, Illinois, USA, compartilha uma experiência inédita realizada pela Escola de Educação da Universidade de Indianápolis, no Estado de Indiana, Estados Unidos, durante o período de janeiro a maio de 2019. Fizeram parte dessa pesquisa trinta e seis candidatos do primeiro ano da Escola de Educação, além das duas professoras responsáveis pelo curso de Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil da Universidade de Indianápolis, em parceria com a Escola Elementar Stout Field.

Nos Estados Unidos, não há vestibular. Seu desempenho, ao longo dos quatro anos de Ensino Médio, garante-lhe um score que varia de 0 a 4. Esse será um dos elementos que faz o aluno competir com as melhores escolas do país. Os candidatos se inscrevem nas universidades, munidos de cartas de recomendação de professores e portfólios (no caso de Escola das Artes). Há instituições que solicitam, também, vídeos de performances ou testes de habilidades. Durante a graduação, o aluno pode trocar o curso por outro de seu interesse. docente

A experiência de aproximação com a realidade do trabalho foi muito rica e apontou apenas uma desistência, diminuindo, assim, a troca de cursos, prática comum nos Estados Unidos.

O próximo artigo, produzido por Teresa Messeder Andion, do Centro Universitário UNIFIEO/Osasco-SP, JOGO DE AREIA PSICOPEDAGÓGICO - JAP UMA TÉCNICA LÚDICA PSICOPEDAGÓGICA UM INDICADOR PARA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E AFETIVO DA CRIANÇA, nos traz uma técnica de avaliação e intervenção dos processos de aprendizagem, com o objetivo de construir, nos espaços de atendimento psicopedagógico, um momento de brincar terapêutico, um brincar simbólico, livre e espontâneo, que possibilite o desenvolvimento cognitivo e afetivo de sujeitos em situação de dificuldades e distúrbios de aprendizagem

[...] a maior relevância do Jogo de Areia Psicopedagógico - JAP é a de proporcionar ao sujeito um brincar livre, o mexer com as mãos na areia seca ou molhada, um jogar espontâneo, criativo destituído de regras, sem juízo de valor, sem competição, sem ganhos ou perdas quantitativas oferecendo a oportunidade a quem o utiliza, criança, jovem ou adulto, de ser e agir livremente construindo e desenvolvendo seu pensar espontaneamente e criativamente por meio do brincar livre, espontâneo e simbólico.

O artigo seguinte nos traz um relato, nos traz um relato de experiência e pesquisa, produzido por Danila Gomes Freire da Silva e Liberalina Santos de Souza Gondim, da Faculdade de Ciências Humanas e Exatas do Sertão do São Francisco, TECNOLOGIA E ADOLESCÊNCIA: INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE. Trata-se de um assunto atual e muito pertinente, pois a tecnologia, como nova modalidade de inserção social, proporciona novas formas de pertencimento e definição do que somos. Os meios digitais auxiliam nesse processo de interação, Contudo, assim como a tecnologia facilita a comunicação, ela pode também trazer consigo malefícios que prejudicam o desenvolvimento pessoal, principalmente, de adolescentes.

Para crianças e adolescentes, essas plataformas representam muito mais que simples instrumentos de comunicação e informação: elas proporcionam um espaço de afirmação subjetiva, que ofertam possibilidades de estar em constante interação com seus semelhantes....

Constatou-se também que, em oposição ao que pensa o senso comum, não existe uma correlação oriunda entre o uso das mídias digitais e o desenvolvimento clínico de transtornos ansiosos e depressivos. Ainda assim, pode-se identificar um impacto da dependência tecnológica nos grupos etários de adolescentes. Em virtude dos dados mencionados e tendo em vista as contribuições provenientes das mídias digitais, percebe-se de forma efetiva a interferência que essas plataformas têm acerca da elaboração da subjetividade dos adolescentes, e como essas têm ocasionado mudanças significativas na instituição de conexões, comunicação de integrabilidade.

O presente artigo UM OLHAR PARA A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA DAS CRIANÇAS NAS CRECHES: UMA PROPOSTA PSICOPEDAGÓGICA PARA O TRABALHO EM CRECHES COMUNITÁRIAS se destina a compartilhar um projeto de supervisão para educadores de creches comunitárias, na cidade do Rio de Janeiro. Produzido por Ana Celina Aquino Vasconcellos, Maria Luiza Teixeira, Cinthia Peixoto Figueiredo Vieira, Danielle Goldsztajn, Vivianne Candiota, do PRÓ-SABER e, Maria Christina Catão, do CEPERJ.

O estudo traz o reconhecimento de que os educadores podem contribuir de forma significativa para o desenvolvimento integral da primeira infância. O projeto atendeu cinquenta e três profissionais, entre diretoras, coordenadoras, professoras e auxiliares responsáveis por crianças a partir de 2 anos de idade, com o objetivo de ampliar o olhar dos profissionais para reconhecerem recursos e ferramentas que facilitem, no campo educativo, o desenvolvimento das crianças atendidas, além de, também, cuidar de sua saúde mental e da prevenção de problemas que podem ser percebidos na primeira infância.

Acreditamos tal qual KUPFER & BERNARDINO (MARIOTTO, 2009) que "...o essencial do ato educativo na primeira infância não se situa no plano pedagógico nem no plano da puericultura - educar é criar as condições para o surgimento de um sujeito" (MARIOTTO, 2009, p. 12). Assim, ao utilizar os eixos oferecemos a possibilidade de que os próprios professores, auxiliares e atendentes reconhecessem o que há de subjetivo no seu fazer com as crianças.

O próximo relato de experiência e pesquisa, VIVÊNCIA DE MÃES UNIVERSITÁRIAS DO ISB/UFAM, escrito com muita sensibilidade por Karoline da Rocha Ferreira e Maria Aparecida Silva Furtado, da Universidade Federal do Amazonas, traz uma questão que se revela atual e socialmente relevante: a maternidade associada à vida universitária.

Nesse período, a mulher necessita desdobrar-se na função de ser acadêmica e de ser mãe, além de outras atribuições profissionais, sociais e familiares. Estudos sobre a vivência de mães universitárias mostram que o contexto emocional, familiar, social, financeiro, dentre outros, pode transformar-se em um desafio diário quanto à permanência dessas mães na academia.

[...] os resultados demonstraram que o exercício da conciliação da maternidade com a universidade é um dos maiores desafios enfrentados pelas acadêmicas aqui estudadas.

As autoras esperam que os resultados possam contribuir de forma significativa para futuras estratégias de ajuda, principalmente da saúde mental, que visem à melhoria da assistência prestada às mães universitárias.

O artigo seguinte BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E AS COMPETÊNCIAS SÓCIOAFETIVAS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, escrito por Denise D'Auria Tardeli, da Universidade Metodista, São Paulo, Eliane Queiroz Cunha Pralon, do Centro Universitário Adventista de São Paulo, e Patrícia Margarida Coelho, da Universidade Santo Amaro e Universidade Metodista de São Paulo. A presente pesquisa se pauta no documento oficial da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), a fim de compreender a relevância das competências socioemocionais e as relações afetivas no ensino e na aprendizagem. Segundo o BCNC, essas competências são muito importantes, pois:

"Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas" (BRASIL, 2018, p. 10).

Pode-se destacar que o estudo evidenciou que:

[...] a partir da compreensão da BNCC, é possível constatar que a ampliação cognitiva está interligada às questões socioafetivas e que o estudo sobre as competências socioemocionais são de extrema necessidade, tanto para o ambiente escolar quanto para a sociedade, o ampara que tenhamos cidadãos críticos e conscientes de seu papel, capazes de lidar com suas próprias emoções, usando-as para criar soluções e melhorias para a coletividade como um todo

Finalmente, chegamos à resenha do livro A INSTITUIÇÃO QUE APRENDE SOB O OLHAR DA PSICOPEDAGOGIA, sistematizada por Paulo Sergio de Oliveira Junior, do Instituto Sedes Sapientiae, São Paulo. Partindo da memória afetiva e profissional das autoras quanto à escolha pela Psicopedagogia Institucional, a obra apresenta orientações para o processo avaliativo, culminando na intervenção e atuação da prática psicopedagógica em grupos.

O livro divide-se em três partes e a relevância do trabalho desenvolvido pelas pesquisadoras é claramente expressa no capítulo inicial. De acordo com elas, há, no Brasil, poucos trabalhos dessa modalidade de Psicopedagogia e, aqueles que existem, estão voltados, prioritariamente, para escola, havendo poucas referências a outros tipos de organização: "o foco deste livro é a instituição que aprende e como ela se organiza para que ela se mantenha como espaço de aprendizagens" (PORTILHO et al., 2018, p. 17).

Além disso, o livro traz uma contribuição muito importante apresentando também a atuação psicopedagógica em empresas e em comunidades, reforçando que o trabalho psicopedagógico também pode ser preventivo.

Assim, finalizamos este número da "Revista Construção Psicopedagógica", agradecendo aos autores que contribuíram com a presente edição, enriquecendo o fazer psicopedagógico,

Além da gratidão pela companhia na leitura, convidamos para que nos ajude na divulgação de nossa revista e esperamos também que você, leitor, nos alegre com a sua contribuição para o próximo número. Seu artigo será muito bem-vindo! Ele é muito importante para nós!

 

Marlene Coelho Alexandroff

Editora Científica

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