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Construção psicopedagógica

versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474

Constr. psicopedag. vol.33 no.34 São Paulo  2023  Epub 08-Mar-2024

https://doi.org/10.37388/cp2023/v33n34a05 

RELATO DE PESQUISA

BULLYING: ESTUDO COMPARATIVO DE PERCEPÇÕES DE ESCOLARES, PROFESSORES E TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

BULLYING: COMPARATIVE STUDY OF PERCEPTIONS OF SCHOOLCHILDREN, TEACHERS AND ADMINISTRATIVE TECHNICIANS

Pedro Gustavo Silva1 

Maeve Silva2 

Rafaella Cristina Campos3 

Marcelo Antônio Lopes4 

Leandro Veloso Silva5 

1 Bacharel e licenciado em Educação Física pela FAGAMMON, (Lavras, MG). Faculdade Presbiteriana Gammon, Lavras, MG, Brasil.

2 Bacharel e licenciada em Educação Física pela FAGAMMON, (Lavras, MG). Faculdade Presbiteriana Gammon, Lavras, MG, Brasil.

3 Psicóloga CRP/MG 04.36010. Mestre e Doutora em Administração pela UFLA (Lavras, MG). Consultora Estratégica de Gente & Gestão. Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

4 Psicólogo pela UNIFENAS (Alfenas, MG). Universidade José do Rosário Vellano, MG, Brasil.

5 Doutor pela UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil.


RESUMO

O bullying é uma manifestação social de caráter violento e, por vezes, silencioso, que assola a sociedade vigente, de modo que se fazem necessárias reflexões sobre sua abrangência, principalmente, em um âmbito que possa ser um dos mais percussores para seu desenvolvimento: a escola. O presente estudo teve, como objetivo, analisar e comparar duas escolas (uma pública e uma privada), no município de Lavras, sul de Minas Gerais, como estava sendo tratado o assunto bullying. Os estudos seguem uma perspectiva qualitativa como metodologia e método de produção. A análise foi feita a partir da percepção de alunos, professores e profissionais administrativos. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada para a coleta e produção dos dados dos professores e técnicos administrativos. Para coletar informações sobre a percepção dos alunos, foram aplicadas dinâmicas de relacionamento interpessoal. Os resultados obtidos foram satisfatórios para a pesquisa e pode-se notar que ambas as escolas precisam abordar mais a temática, tendo em vista que todos que participaram da pesquisa sabiam da existência do fenômeno. Entretanto, uma grande parte desconhecia coisas simples de causa e consequência, fato que deixou claro que a equipe escolar das escolas, por mais que possuíssem sistemas diferentes de ensino, não priorizam a preparação profissional para lidar com o bullying. Concluiu-se que esse resultado não é afirmativo para se dizer que todas as escolas não sabem sobre bullying, mas que pesquisas nesse sentido devem ser feitas com mais frequência e ações devem ser tomadas nessas escolas, principalmente, em municípios pequenos, para que, por meio de ações educativas, o bullying seja combatido.

Palavras-Chave: Bullying; escola; bullying escolar; escolares; agressão sistemática

ABSTRACT

Bullying is a social manifestation of a violent and sometimes silent character that plagues the current society so that reflections on its scope are necessary, especially in a context that may be one of the most influential for its development: the school. The present study aimed to analyze and compare between two schools (one public and one private) in the municipality of Lavras Sul MG, as the subject of bullying was being treated. The studies follow a qualitative perspective as a methodology and production method. The analysis was based on the perception of students, teachers and administrative professionals. A semi-structured interview was applied to collect and produce data from teachers and administrative technicians. To collect information about students’ perception, interpersonal relationship dynamics were applied. The results obtained were satisfactory for the research, and it can be noted that both schools need to address the topic more, considering that everyone who participated in the research knew about the existence of the phenomenon, however, a large part were unaware of simple things about the cause and consequence. A fact that made it clear that school staff, despite having different teaching systems, do not prioritize professional preparation to deal with bullying. It was concluded that this result is not affirmative to say that all schools do not know about bullying, but that research in this sense should be done more frequently and actions should be taken in these schools, especially in small municipalities, so that, through educational actions, bullying is combatted.

Key words: Bullying; school; school bullying; schoolchildren; systematic aggression

Introdução

O bullying é uma manifestação social de caráter violento e, por vezes, silencioso, que assola a sociedade vigente, de modo que se fazem necessárias reflexões sobre sua abrangência, principalmente, em um âmbito que possa ser um dos mais percussores para seu desenvolvimento: a escola (ALVES, 2016).

O termo bullying tem vasta variedade de significados e sentidos, que vão se sedimentar dependendo do contexto sócio-histórico e cultural dos envolvidos – pessoas e instituições. Mas, em um panorama geral, pode-se definir que bullying, ou agressão sistemática, como um ato de exposição e agressão repetida, partindo de ações intencionais que ofendem e prejudicam, socialmente e subjetivamente, um indivíduo (SILVA & ROSA, 2013).

Caracteriza-se, principalmente, pela desigualdade relacional entre os pares, submetendo um indivíduo a outro. Este desequilíbrio relacional e comportamental se reflete em atitudes corriqueiras entre eles, em que há intimidação do alvo e poder legitimado ao agressor. Esses atos podem se concretizar, também, por meio de agressão física, verbal, atitudinal e até cibernética (NETO, 2005).

O bullying, dada a sua complexidade de manifestação e estabelecimento, é classificado de diversas formas, buscando distinguir as nuances entre agressor e agredido e o impacto sócio relacional. Sua forma direta acontece quando o agressor tem contato físico com o agredido, proferindo ameaças, ofensas verbais ou gestuais. Sua forma indireta se refere às atitudes de indiferença, difamação, isolamento de um grupo, que acontecem na ausência do alvo (CALHAU, 2011).

Já o cyberbullying - que tem crescido cada vez mais pelo mundo, dado o aumento do uso e disponibilização de aparelhos eletrônicos e acesso a mídias sociais - trata-se do uso dos meios de comunicação tecnológicos (redes sociais, e-mails, sites de relacionamento, celulares, entre outros) como recurso para comportamentos difamatórios de forma repetida intencionalmente, causando danos a outra(s) pessoa(s) (NETO, 2005; CNJ, 2010).

A busca pela compreensão do fenômeno social bullying vem despertando opiniões diversas dos envolvidos – alunos (agressor e agredido), escola (instituição e professores) e família (CNJ, 2010). Discussões sobre a responsabilização, formas de prevenção, e o crescente número de conflitos, alguns com divulgação em mídias sociais, mostram que, socialmente, estamos longe de alcançar soluções globais e imediatas para não só estancar esse problema que, além de ser escolar, é público, mas também, de compreender os fatores que permitem a ocorrência e prevalência de ações cada vez mais agressivas dos envolvidos no fenômeno bullying (FISCHER, 2010).

Foi dessa forma, com a segregação racial, com as relações femininas e feministas, com a homossexualidade, incômodos sociais que, antes, eram empurrados para debaixo do tapete, agora, emergem com força, trazendo à tona a profundidade de suas raízes problemáticas e demandando debate na busca da erradicação das diferenças discriminatórias, que originam estes problemas sociais. (MARAFON; SCHEINVAR; NASCIMENTO, 2014).

O bullying é real e se espalhou por todo o contexto escolar e social. A imprensa divulga superficialmente os fatos e explora essa percepção da vítima e do agressor. O Estado pouco avança em políticas públicas de contenção e prevenção. A escola e a família, por vezes, perpetuam a discussão sobre responsabilização e se esquecem de focar nos envolvidos.

O que se tem hoje são ações que buscam paliar o problema, de forma distante e pontual, e que possuem resultados pouco eficazes, devido à grande demanda nacional que o problema enfrenta (CALHAU, 2011).

Com base na contextualização, acima realizada, é possível dizer que, por mais que o bullying seja um desafio macrossocial, faz-se necessário pensar em formas de contenção, prevenção e compreensão que partam de um âmbito microssocial, uma vez que é nas relações ordinárias e cotidianas que o bullying surge e se manifesta. Sendo assim, pergunta-se: Como estão sendo tratados os casos de bullying nas escolas públicas e privadas no município de Lavras, sul de Minas Gerais?

Nesse sentido, o objetivo do estudo é verificar as principais manifestações do fenômeno e comparar as formas de prevenção e contenção dele, numa escola pública e numa privada na cidade de Lavras. Para tanto, optou-se por dois objetivos específicos para a produção e coleta de dados. Primeiro: identificar, através da perspectiva dos alunos, a manifestação do bullying (direto e/ou indireto) e suas características, em um contexto social e individual na escola. Segundo: compreender, através da perspectiva dos professores e da instituição escola, quais são as diretrizes e condutas a serem tomadas para prevenção e combate do bullying.

Dessa forma, justifica-se importante a realização desse estudo, devido à sua amplitude negativa dentro dos ambientes educacionais e a falta de políticas públicas voltadas à sua erradicação e/ou paliação. A prática dessa violência demonstrou interesse público de pesquisa a âmbito nacional e/ou regional e, de forma qualitativa, trazer à população informações de como o bullying tem sido enfrentado nas escolas de nosso país.

Segundo o IBGE (2013), o bullying é um dos vilões da juventude. Mais de 30% dos jovens já participaram de alguma forma dessa violência. Dentre os dados obtidos, o IBGE concluiu que 20,8% desse total é formado somente por agressores, dado que indica que 1 em cada 5 jovens, dos 13 aos 15 anos, pratica bullying com seus colegas na escola.

Pôde-se constatar também que, dentre esses números, a maioria dos praticantes são do sexo masculino e que o número foi, relativamente menor para as vítimas, devido aos episódios serem de mais de um praticante por vítima (IBGE, 2013).

O principal motivo das ocorrências foi a de vítimas estarem acima do peso. Essa ocorrência se deve ao fato de que a maioria dos jovens não aderem a práticas de atividades físicas diariamente ou nada praticam, mesmo com as aulas de Educação Física Escolar – ponto de nossos olhares –, sendo obrigatórias nas escolas de todo o país (IBGE, 2013).

Justifica-se também, devido ao formato que essa pesquisa implica, que não é de caráter restrito às aulas de Educação Física e, sim, da escola como um todo. Os eixos temáticos de atuação do professor de Educação Física, elaborados pelos PCN´s, são: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo (BRASIL, 1997; 1998), possibilitando, ao professor, ter opções de trabalho além da pura prática esportiva e passando a trabalhar questões atitudinais em suas aulas, diferente da trajetória histórica da prática docente de Educação Física que sempre visou conteúdos procedimentais. Entretanto, a proposta da inclusão dos eixos transversais constrói-se a partir da perspectiva da associação das aulas com grandes problemas sociais (DARIDO, 2010).

Nota-se, então, que o estudo tem elevada importância na Educação Física e na escola, no sentido de investigação das causas dessa violência intra e extra-escolar e, possivelmente, criar maneiras de combatê-la e tornar a temática bullying mais frequente nas aulas e mais falada dentro da escola.

Contextualizando a temática

O embasamento teórico de apoio a esta pesquisa foi construído a partir de bases bibliográficas de pesquisas nacionais, com enfoque na realidade do nosso país. Foram selecionados artigos publicados na base de busca SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), nos anos de 2006 a 2017, para garantir atualidade ao tema.

A busca inicial apontou 75 (setenta e cinco) artigos, resenhas de livro e estudos de caso mas, de acordo com a temática, foram selecionados apenas 28 (vinte e oito) títulos. O critério de seleção dos artigos se deu a partir do método de pesquisa utilizado e integrado.

As palavras-chave foram: bullying e escola. As áreas temáticas de concentração foram: ciências humanas e ciências da saúde. Foram selecionados apenas artigos oriundos de nossa nação e de nosso idioma nativo. Os títulos que fugiam ao tema também foram descartados. Foram descartados, também, 5 (cinco) artigos que tratavam da temática bullying em estudos na área de Enfermagem e 1 (um) artigo que tratava de bullying na Educação Médica.

Diante da leitura dos estudos de apoio, constatou-se que há grande necessidade de elevar o grau de atenção para esse tipo de pesquisa, devido à quantidade de estudos iguais que se preocuparam em apenas conceituar o bullying em suas causas e consequências, abrindo mão da carência de pesquisas voltadas para erradicação do problema e na forma de como paliá-lo, ou até mesmo passar a olhar esse caso de forma mais crítica e menos etimológica.

Bullying na perspectiva dos agressores e vítimas

A relevância do bullying deve ser associada aos seus vários fatores e características específicas, e também com suas peculiaridades contextuais, considerando a individualidade dos envolvidos, bem como as características culturais, sociais e econômicas e as formas de manifestação (FREIRE; AIRES, 2012).

Dessa forma, destaca-se uma importante característica do bullying: por ter numerosas repetições, há dificuldade de identificação, pois esses atos, por vezes, acontecem longe de pessoas adultas, não havendo as denúncias por parte das vítimas que se tornam acuadas diante das agressões (TREVISOL; CAMPOS, 2016).

As vítimas que sofrem esse tipo de transtorno têm dificuldades sociais em se relacionar com outras pessoas por se sentirem inferiores, levando em consideração sua produtividade no decorrer de suas atividades práticas do dia a dia e, principalmente, no âmbito escolar. Se não houver prevenção, torna-se um ambiente altamente agressivo, sem ordem e responsabilidade (SILVA; COSTA, 2016).

Uma grande dificuldade por parte das vítimas é o bullying ser encarado, na maioria das vezes, como uma “brincadeira” e não como violência de fato. Essa denominação impede a ação pedagógica e aumenta as intimidações, devido ao fato da sutil forma que ele se espalha em muitos lugares e o apoio que a plateia dá. Enfrentar essa situação sozinha, sem apoio de ninguém, acarreta numa construção de identidade comprometida pelo medo (ARAÚJO et al., 2012).

O bullying, quanto ao agressor, é um ato que gera grande agressividade e, quase sempre, com as mesmas vítimas, por períodos intensos e, muitas vezes, afetados pelo desequilíbrio da posse de poder (SILVA et al., 2012). De fato, os agressores não possuem vínculo de amizades com outras pessoas, tornando-se pessoas sozinhas, e quando abordados sobre suas relações familiares, eles indicam que também sofrem ou já sofreram agressões por parte de algum membro familiar. Grande parte deles tem pouca presença familiar em sua vida escolar (OLIVEIRA et al., 2015).

Quando a vítima sofre a prática do bullying, ela acarreta, ao longo da vida estudantil, vários transtornos, incluindo a depressão, além do fato de terem dificuldades em se autodefender, o que as tornam mais limitadas perante as ocorrências (FORLIM; PEREIRA; WILLIAMS, 2014).

Há mais indícios de situações isoladas de bullying do que alunos que participam dessas duas manifestações da violência – agredir e ser agredido. Apelidos e intrigas, fora de sala, são as formas mais frequentes de se praticar esse tipo de violência, além de se verificar queda na autoestima dos adolescentes, principalmente, as do gênero feminino (SILVA; COSTA, 2016).

As causas mais frequentes de bullying no gênero masculino são lesões por causa de brigas, discussões ou por apanharem em casa, ou por não ter o apoio da família e sua supervisão (MALTA; et al,2012).

Para que tenhamos efetivas ações educativas de prevenção na escola, em relação às vítimas, é necessário a participação da escola e da família, numa proposta conjunta a ser trabalhada com os adolescentes e professores, por dentro dos assuntos (CALIMAN; 2016).

Bullying na perspectiva da escola e equipe docente

O bullying pode ocorrer em diversos locais, contudo, no ambiente escolar sua incidência enquanto fenômeno é maior (ZAINE, REIS & PADOVANI, 2010; SILVA & ROSA, 2013) pois, mesmo o ambiente escolar sendo um importante espaço para formação cidadã de crianças e adolescentes, e que os prepara para conviver e atuar em sociedade diante de mecanismos de sociabilidade e integração entre as diferentes visões de mundo, o que se pode perceber é que as violências, nesses espaços, decorrem do individualismo, da competitividade, da exclusão, da humilhação e desigualdades sociais reproduzidas na sociedade atual, diante do despreparo da comunidade escolar em lidar com estes problemas (NETO et al., 2014; WEIMER; MOREIRA, 2014).

Os marcadores da normalidade estão mais sutis e a identificação que escapa dessa norma se dá em nome da prevenção em relação a novos e maiores problemas que poderiam vir a atingir a população como, por exemplo, a obesidade, o racismo e as violências, todas alçadas ao patamar de endemias (MARAFON, SCHEINVAR & NASCIMENTO, 2014; MIZIARA & VECTORE, 2014).

Ainda que os docentes não aleguem que comportamentos agressivos dentro da escola sejam culpa da gestão ou do despreparo dos profissionais, eles apontaram também deficiências do sistema escolar, como possíveis culpados dessa violência. Mencionam elementos advindos da estrutura escolar/educacional que podem ter relação com o surgimento de comportamentos violentos, como: estrutura física inadequada e salas superlotadas, a falta de preparação para educar sem agredir, a falta de espaço para que os alunos se expressem (FISCHER et al., 2010).

Segundo Silva & Costa (2016), a presença do bullying no âmbito escolar, evidencia uma estrutura informal de dominação, em que os alunos que julgam os demais e exercem a violência, desviam o foco social da escola, que é dar conhecimento para uma formação cidadã, fato que desencadeia um atraso institucional e se torna incapaz de fazer do ambiente escolar, um lugar de convívio saudável entre os alunos.

Contudo, é importante destacar que, antes de classificar um ato violento como bullying, deve-se analisar o contexto da situação, levando-se em consideração as características individuais das pessoas envolvidas, bem como os contextos familiar e escolar, pois esses núcleos sociais influenciam o comportamento do indivíduo (FREIRE & AIRES, 2012; SILVA & ROSA, 2013).

Entretanto, segundo Fischer et al. (2010), há despreparo da maioria das escolas para reduzir ou eliminar a ocorrência de situações de violência escolar. Isso se deve à escassez de recursos materiais e humanos, bem como à falta de capacitação dos professores e das equipes técnicas.

Como professores e equipes técnicas tendem a achar que as causas da violência entre alunos são exteriores à escola - localizadas na família ou na sociedade em geral - são poucas as ações institucionais com foco no combate à violência entre os alunos relatadas pelos docentes.

Portanto, pode-se compreender, que o bullying expõe as escolas às situações de vulnerabilidade, devido ao grande contingente de pessoas que nelas frequentam. Porém, a escola não é a grande pioneira da violência, pois as atitudes são, sumamente, um fenômeno multicausal, complexo e, por vezes, se deve a fatores de ordem social e econômica. Logo, esse fato necessita de uma ação humanista para sua resolução, em que família, escola e alunos participem integralmente, reconhecendo os jovens como protagonistas e portadores de direitos para a construção da sociedade (MALTA; et al, 2014; MELLO; et al, 2016).

Vivemos em uma época em que a diferença não deve mais ser alvo de barbárie, e as crianças e adolescentes precisam entender isso. Contudo, antes disso, eles devem ser instruídos sobre seus comportamentos, e isso cabe aos pais e educadores, preparando-os corretamente.

Procedimentos metodológicos

Este estudo trata-se de uma pesquisa com intuito de investigar a ação e percepção do corpo discente e docente de escolas públicas e privadas quanto às causas e consequências do bullying escolar e a dificuldade deles em lidar com essa situação dentro e fora dos ambientes escolares. Para tanto, opta-se para a natureza metodológica do estudo, o formato de uma abordagem de pesquisa qualitativa, pois este tipo de produção permite identificar, interpretar e transformar a realidade social percebida.

A abordagem qualitativa tem raízes filosóficas na Fenomenologia, o ambiente natural é a fonte de dados; a pesquisa tem caráter prioritariamente descritivo; o investigador está preocupado com o significado que as pessoas dão às coisas, às situações, à realidade; o enfoque é indutivo; tem relação estreita com a dialética: a realidade é vista como dinâmica, histórica e socialmente construída em situações de interação vivenciadas pelo sujeito, tende a considerar o que ocorre de modo subjetivo, mesmo que não quantificável, em prol da compreensão do fenômeno (NININ, 2013, p.45).

Os termos que estruturam as pesquisas qualitativas são compostos por um conjunto de substantivos cujos sentidos se complementam em: experiência, vivência, senso comum e ação. E o movimento que informa qualquer abordagem ou análise baseia-se em: perceber, entender e discutir (MINAYO, 2012).

O método utilizado foi o comparativo, que permitiu colher resultados obtidos em escolas públicas e privadas, nas suas formas de entendimento e preparação de profissionais e alunos para com o problema em questão, sua forma de tratar essa situação no dia a dia, averiguando se houve ou não diferença na compreensão e discussão dos casos.

O método comparativo desenvolve-se pela observação de indivíduos, classes, ou fatos, com vistas a destacar as diferenças e semelhanças entre eles. Tem como intenção estabelecer leis e correlações entre os vários grupos e fenômenos sociais, mediante a comparação que irá estabelecer as semelhanças e/ou diferenças (CANTINI, 2012).

Para produzir e coletar o material empírico dos educadores e dos técnicos administrativos, foram realizadas entrevistas semiestruturadas pois, segundo Flick (2009, p. 143), com esse método “é mais provável que os pontos de vista dos entrevistados sejam expressos de forma significativa”, por se tratar de uma situação de entrevista com um planejamento aberto, portanto, mais eficiente que algum instrumento padronizado ou apenas respostas a um questionário.

A entrevista semiestruturada teve a intencionalidade de avaliar o entendimento dos mesmos sobre a manifestação da violência em questão, suas formas de manifestação e contenção dentro da própria instituição. A realização da entrevista se deu mediante aceitação por parte dos participantes e atendendo aos critérios éticos, logo no início da pesquisa, assegurando a todos sigilo a suas informações, protegendo sua imagem, nome e qualquer tipo de informação pessoal.

Para produzir e coletar o material empírico junto aos alunos, foi realizada uma dinâmica de cunho interpessoal (descrita mais adiante), no interior das aulas de Educação Física, com a intencionalidade de reconhecer a realidade vivenciada por eles, possibilitando interpretações de mais dados empíricos, de acordo com a temática em questão.

Caracterização dos Participantes e Local da Pesquisa

Definiu-se o lócus como a cidade de Lavras (MG), dada sua historicidade e concentração de escolas. A cidade é conhecida como a ‘Cidade dos Ipês e das Escolas’, tendo em todo o seu território (64) escolas públicas e (22) escolas privadas, de acordo com o site www.escolas.inf.br.com. A demanda de matriculados é crescente, dada a característica de Lavras ser uma cidade satélite, ou seja, na sua região, há muitas outras cidades que dependem desta para realizar suas atividades de subsistência e formação, tais como trabalho e estudo.

Desta forma, definiu-se também a partir do território dessa cidade, duas escolas de vertentes distintas para fazer parte do estudo, tornando esse o cunho comparativo, ou seja, esse estudo irá sobrepor duas realidades, abordando uma mesma temática que é a manifestação do fenômeno bullying.

O método comparativo desenvolve-se pela observação de indivíduos, classes, ou fatos, com vistas a destacar as diferenças e semelhanças entre eles (PRODANOV; FREITAS, 2013).

Como participantes da pesquisa foram abordados professores, alunos e responsáveis técnicos administrativos. Os critérios de inclusão para os respondentes da pesquisa foram: se professor ou técnico administrativo da escola, esses deveriam estar na mesma há, pelo menos, um ano, para que fosse possível dizer o tema abordado na realidade específica da escola. Se for aluno, que estivesse regularmente matriculado na instituição, devendo sua participação ter sido consentida pela escola por pais, mães e responsáveis. Os técnicos administrativos os quais são referidos neste trabalho, deveriam ser, estritamente, pessoas ligadas à gestão da escola, como direção geral e departamental.

Todos os participantes, bem como as escolas, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, garantindo privacidade e sigilo de identidade, como sugere os critérios éticos de pesquisas com seres humanos, segundo a Resolução Nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Descrição da Produção e Coleta de Dados

O instrumento para produção e coleta de dados foi uma entrevista de estrutura semiaberta para 16 (dezesseis) professores e 04 (quatro) componentes da seção administrativa da escola e observação participativa em uma turma de 6º Ano, com a faixa etária de 11 a 12, há mais ou menos 1 ano, em cada escola também participante, no acontecimento de uma dinâmica com foco na “relação interpessoal”.

Quanto à realização da dinâmica, aconteceu no interior das aulas de Educação Física Escolar, e seguiu uma ordem intencional para cada situação, de tal forma que: em um primeiro momento, os alunos fossem avisados sobre o que iria acontecer, deixando-os cientes sobre a intenção da pesquisa e proposição da participação efetiva de todos.

Em um segundo momento, já com a temática introduzida, passou-se a realização da dinâmica, em duas etapas. A primeira, tendo o nome de ‘Torre do bullying’, funcionou da seguinte forma: o professor, utilizando-se de copos descartáveis e pedaços de papel colados em cada um deles, distribuiu um copo para cada aluno, depois, pediu para que cada um, escrevesse no copo a primeira palavra que viesse à sua cabeça quando escutavam a palavra bullying. Esse processo teve a intenção de verificar qual é o entendimento deles sobre o fenômeno, em uma só palavra.

Após as escritas no copo, o professor, por meio de observação e registro, coletou as informações ,anotando todas as palavras escritas pelos alunos em seus copos. Na sequência pediu para que cada um deles, de forma organizada, iniciasse a formação de uma ‘torre de copos’. Quando essa torre tomou forma e estava quase completa, o professor, com a ajuda de um dos alunos, derrubou a torre de forma bem “explosiva”.

Deste modo, os alunos puderam notar que, seus copos e devidas palavras neles escritas, desabaram, demonstrando a forma com que uma vítima de bullying se sente, após passar por cada uma das coisas que eles descreveram. A “queda da torre” pode ser representada pela explosão ou desabamento da vítima, após um somatório de ocorrências de bullying.

E os copos significaram cada sensação, cada episódio ou descrição que a vítima sentia ao passar por aquilo. Nesse momento, os professores pesquisadores realizaram uma breve explanação sobre a temática e averiguaram a existência de casos na escola, identificando como os alunos relataram esses acontecimentos.

A segunda etapa que compõe a dinâmica foi realizada a partir da distribuição de balões de diferentes cores para cada um dos alunos. A distribuição foi por preferência de cores, diante das opções. Depois de distribuídos, foi pedido que eles enchessem os balões por um tempo de 10 segundos.

Depois tiveram que amarrar os balões e jogá-los no chão de forma espontânea e sem estourar. A partir disso, os pesquisadores pediram para que olhassem para o chão e verificassem o que acharam da situação, e de tantas formas e cores diferentes para cada um dos balões, apontassem um de que não gostavam. Após ouvir algumas opiniões, os pesquisadores explicaram a intenção da dinâmica. Os balões representavam a sociedade, as cores, os tamanhos e formas que os balões tomaram, representavam as diferenças de cada ser humano e suas escolhas.

Entretanto, mesmo com as diferenças, todos eles ainda continuavam com a mesma essência, ainda eram balões e mereciam devido respeito e atenção, pois foram escolhidos pela preferência individual de cor, assim como foram enchidos da forma como também escolheram. Uma breve conversa para trocas de experiências também se estabeleceu para registrar os sentimentos e experiências.

Análises e discussões possíveis

A análise dos dados produzidos foi realizada a partir da proposta de análise descritiva-reflexiva que, por sua vez, é detalhada e auxilia para um melhor entendimento e verificação do contexto do estudo, remetendo a uma reflexão sobre sua causa. A partir disso, pode-se caminhar adiante e direcionar uma explicação ao acontecimento (GRAHAM, 2009).

A percepção do bullying a partir da ótica dos alunos

A partir da aplicação da dinâmica em classe, para os alunos do 6º ano da escola pública, pode-se notar que, quando foi iniciado como questionamento “o que é o bullying”, todos sabiam descrever o fenômeno, seja a partir de um entendimento pessoal de cada um, seja por um episódio que já viram, seja por terem passado por alguma situação parecida, seja por simplesmente terem ouvido falar ou por mera imaginação. Mas todos entendiam a manifestação desse tipo de violência como uma simples brincadeira de mau gosto.

Quando explanados sobre como seria a dinâmica da “Torre de Copos”, todos escreveram uma palavra que, para eles, caracterizava o bullying. No momento em que escreviam, houve muita risada, em que muitos se lembraram de coisas que já tinham acontecido com colegas e outros muito retraídos e afastados, pois não queriam que os outros soubessem o que estavam escrevendo, dentre outras reações.

Puderam-se verificar, palavras como: violência, ódio, desrespeito, preconceito, macaco, intolerância, gordo, dentre outras. Tais palavras foram ditas em voz alta, pelos proponentes, após escritas pelos alunos e questionados sobre quem escreveu cada uma delas, e pedindo para justificar suas escolhas.

A partir das justificativas, notou-se que grande parte deles escreveu palavras que, ou já viram colegas sofrerem a violência, ou por terem sido vítimas, principalmente, em relação às palavras: gordo e macaco, que se referiam às agressões que eles mesmos já teriam sofrido na escola.

Esse fato trouxe à tona, o que os alunos percebem do bullying, porém encarando-o como uma simples brincadeira ou não sabendo o grau de violência que a vítima às vezes é submetida sem nenhuma necessidade, e não mensuravam a gravidade dos problemas que vitima experimentava ou que poderia acarretar ao longo de sua vida.

Quando foi proposta a montagem da torre, todos gostaram da ideia e tiveram muito cuidado para montar e ler a palavra que o colega do lado tinha escrito. Após a torre ter sido montada, um colega derrubou as torres com muita fúria. A partir desse momento, houve muita risada de alguns, outros ficaram impressionados e outros desconfiaram de que se tratava de algo combinado, mas logo sacaram a proposta que a torre trazia que era de representar os sentimentos e sensações que a vítima de bullying sentia e sofria quando atacada.

Após isso, foi dada uma explicação mais aprofundada sobre o bullying para os mesmos e eles foram questionados quanto às ocorrências na escola, se viram, sofreram ou ficaram sabendo sobre. Muitos deles relataram ter visto várias vezes, com colegas que eram mais “gordinhos”, “baixinhos” ou até mesmo “mais escurinhos”, adjetivos usados por eles para descreverem os fatos.

Um dos alunos relatou: “eles me chamam de baleia, colchão amarrado (...) e eu não gosto (...), me sinto muito mal”, outros relataram exclusão de grupos, principalmente das aulas de Educação Física, por serem baixinhos e muito magrinhos. Outros disseram que já sofreram, mas preferiram não se abrir.

A partir da explicação, notou-se certa tensão dentre eles, pois não sabiam de fato, as consequências que o bullying poderia causar nas vítimas, nem as várias formas de manifestação em que ele poderia ocorrer.

A segunda etapa da dinâmica foi para evidenciar a relação interpessoal, e serviu para mostrar que muitos deles, se sentiam inseguros perante seus colegas. Quando foram submetidos a encherem seus balões, jogá-los no chão e depois escolher uma cor que não gostavam, houve rejeição por parte de muitos deles, mas após uma boa conversa sobre a necessidade de saber aceitar o outro, foram se soltando e aceitando a brincadeira. No fim, boa parte deles participaram, alguns realmente não quiseram, uns por medo de se expor e outros por não aceitarem ser expostos.

Na escola privada, houve outro tipo de percepção, pois o número de aluno por classe é menor, a escola então passa a ser mais estruturada no sentido de percepção de casos de violência na escola, tendo em vista que, um professor consegue averiguar esses tipos de caso e ter mais controle nas aulas, entretanto podem-se notar casos de bullying mesmo com a amostra bem pequena.

Ao iniciar a dinâmica, assim como na escola pública, eles foram questionados sobre o que pensavam sobre o bullying. Puderam-se notar respostas semelhantes ao da escola pública, onde classificaram o bullying como uma simples brincadeira ‘pesada’ com o colega ou como: apelidos maldosos, exclusão de grupos, etc.

Quando submetidos a escreverem suas palavras nos copos, as palavras foram semelhantes às da escola pública, tais como: ódio, preconceito, violência e gordo dentre outras. Quando questionados sobre quem escreveu cada palavra e qual a justificativa, não hesitaram quanto suas escolhas. Puderam-se perceber várias situações diferentes, desde as experimentadas individualmente, até situações com colegas próximos onde o viram mudar de escola devido as provocações.

Alguns deles relataram ter sofrido bullying ali mesmo naquela escola devido à sua composição corporal, entretanto, não quiseram relatar como tudo aconteceu e mantiveram-se retraídos.

A dinâmica seguiu com a mesma sequência de acontecimentos, então, quando houve a montagem da torre, eles foram companheiros e se ajudaram para que ela fosse montada sem cair. Entretanto, quando ela foi derrubada, houve muita tensão por parte deles, mais do que os alunos da escola pública.

Quando explanados sobre o motivo daquela queda, um aluno se emocionou, pois a queda da torre e as palavras que estavam naqueles copos o tocaram muito.

A partir desses fatos, pode-se notar que, diferente da escola pública, os alunos da escola privada, apresentaram mais emoção e sentimento quando foram esclarecidos sobre como o bullying acontecia e as suas consequências.

Na dinâmica interpessoal dos balões, houve semelhança à escola pública, podendo-se notar como nossas crianças/adolescentes reagem quando submetidos a encarar as diferenças em relação aos outros, reforçando como o trabalho pedagógico para ensinar a conviver ainda precisa ser árduo nas escolas, principalmente, nas aulas de Educação Física, em que fica evidente a participação corpórea de todos e a resistência daqueles que geralmente não participam, para fazer com que haja uma harmonia entre eles, no sentido de se aceitarem e se respeitarem enquanto estudantes de uma mesma escola.

A percepção do bullying a partir da ótica de professores e técnico administrativos

A coleta de dados dos professores e técnicos administrativos foi feita a partir da aplicação da entrevista semiestruturada, ferramenta que permitiu que tudo fosse analisado detalhadamente no entorno da compreensão da temática.

Segue a seguir as análises descritivas possíveis, relacionadas às questões mais expressivas que compuseram as verificações para cada tipo de amostra e suas respectivas discussões em cada uma das escolas:

– Primeira questão em destaque: Para você, o que caracteriza bullying no contexto escolar?

Dos 16 (dezesseis) professores da escola pública que compuseram a amostra, 14 caracterizaram o bullying como atrito verbal persistente, seguido pelo atrito físico persistente, que foi a resposta de 12 deles. 04 participantes não se posicionaram nem se justificaram.

A produção dos dados levou em consideração as interpretações a partir das respostas e justificativas, para que pudessem transcrever o que entendiam do fenômeno enquanto causa. Pode-se notar singularidades nas respostas, como: ‘são apelidos que colocam nos colegas’1, ‘palavras que possam ofender, de forma rotineira, uma pessoa’, ou até mesmo justificativas complementares, como: ‘tanto atrito físico quanto verbal, podem configurar o bullying. Iniciando pelo verbal e em alguns casos, também físico como forma mais grave’.

Diante da amostra da escola privada, composta também por 16 (dezesseis) professores, concluiu-se que 11 deles caracterizaram o bullying como ‘atrito verbal persistente’, seguido pelo ‘atrito físico persistente’. Houve 07 professores que não se justificaram ou se posicionaram.

Considerando que houve respostas significativas, buscamos interpretar as justificativas, e observamos semelhanças na expressão das ideias tais como: ’envolve o físico e verbal’, ‘agressões intencionais, físicas ou verbais’ para caracterizar o fenômeno de violência como abrangendo todas as características, tanto verbais quanto físicas.

O modo como o fenômeno é compreendido pelos professores, em ambas as escolas, indica que a formação docente passa por desafios no sentido de compreender que o bullying exige mais conhecimento de causa e consequência e demanda de uma abordagem que não seja meramente descritiva ou informativa, já que as causas do bullying não se ratificam apenas na racionalidade (SILVA & ROSA, 2013).

Por outro lado, Santos (2007), acredita que, para se combater o bullying, ou prevenir suas causas, não é necessário que o professor saiba conceituar o bullying. Porém, faz-se necessário que eles conheçam o fenômeno, e suas consequências, para facilitar seu trabalho de prevenção dentro ou fora da sala de aula. O bullying, em sua maior abrangência, nada mais é do que uma forma de desrespeito ao próximo e às suas diferenças e pertence ao professor a responsabilidade de trabalhar esses conceitos em classe, sem necessariamente saber concretizar o bullying (SANTOS, 2007).

Em suma, nota-se pela maioria das respostas, despreparo por parte dos professores em conceituar e entender o fenômeno bullying, porém, foi concluído que todos sabiam que o fenômeno acontece, e quais suas maiores formas de caracterização, mesmo não sabendo conceituá-lo com coerência.

Em relação à amostra dos técnicos administrativos, concluiu-se que, dos 04 colaboradores da escola pública, 02 classificaram o bullying como ‘atrito verbal persistente’ e 02 como sendo outra coisa e justificaram que era ‘tanto atrito verbal quanto físico’ ou como uma ‘dificuldade para aceitar os outros’.

Já na escola privada a amostra dos técnicos administrativos, mostrou que 03 dos 04 respondentes caracterizam o bullying como ‘atrito verbal persistente’, seguido por 01 que o caracteriza como ‘atrito físico persistente’.

No espaço destinado à justificativa, notaram-se respostas diferentes, como: ‘no bullying ocorre agressões tanto físicas quanto como verbais’, ‘pode ser física ou psicológica, intencionais e repetidas causando dor e angústia’, ‘é uma ação cruel de alguns indivíduos valentões sobre os mais fracos’.

A visão dos técnicos administrativos sobre o bullying é, todavia, mais superficial, se comparada com a visão dos professores, e considerando sua pratica cotidiana. Porém, vários desdobramentos deste fenômeno acontecem nos setores em que eles estão inseridos e cabe a eles, de certa forma, fazerem parte do processo de contenção desse fenômeno e saberem como e quando o bullying acontece.

Na escola como um todo, deve haver medidas de adoção da temática bullying em todos os seus segmentos, não excluindo os setores administrativos, para que assim, haja de forma hegemônica, o entendimento, prevenção, combate e erradicação deste fenômeno de violência.

– Segunda questão em destaque: Para você, qual é o maior desafio sobre o bullying no contexto escolar?

Diante das alternativas dadas, houve maior destaque para a ‘pouco ou nenhum apoio familiar dos alunos envolvidos no fenômeno do bullying’, de modo que 13, dos 16 professores da escola pública, optassem por essa resposta. Em segunda instância, ficaram os que optaram por responder como desafios, ‘a falta de recursos educacionais, a falta de apoio da supervisão’ e ‘outros’. Somente 02 integrantes dessa amostra responderam ‘pouco ou nenhuma capacitação profissional sobre o bullying’.

No espaço destinado à justificativa, houve heterogeneidade nas respostas, podendo dar destaque para algumas, tais como: ‘educação sucateada por falta de recursos’, ‘(...) na maioria das vezes é difícil o controle do mesmo, e nem sempre pode se contar com a participação da família, principalmente de quem o pratica’, ‘(...) o maior desafio sobre o bullying é atenção especial por parte do Estado com profissionais especializados para atenderem só os alunos que praticam como os que são vítimas’.

Na análise da escola privada, notou-se uma grande relevância na participação familiar, porém menor do que a amostra obtida na escola pública: 08 respondentes optaram por demarcar essa relação. Logo após, a opção ‘outros’, com 07 respostas atribuídas e ‘pouco ou nenhum recurso educacional’, com 04 respostas marcadas, seguido pelas opções ‘pouco ou nenhuma capacitação profissional’ e ‘pouco ou nenhum apoio da supervisão’.

Para justificar as escolhas, notam-se respostas com alto grau de preocupação com o envolvimento da família, tais como: ‘a família é instrumento, imprescindível, para a resolução de qualquer problema escolar (...)’, ‘a família deve se envolver mais com o aluno’, ‘muitas vezes a família dos envolvidos não reconhece a gravidade dos fatos que podem deixar marcas para toda a vida’, ‘falta de estrutura familiar, falta de respeito ao próximo’.

As práticas de violência corriqueiras na escola devem ser compreendidas e analisadas socialmente. Isso cabe às formas de organização e os sujeitos que fazem parte desse meio (ANTUNES & ZUIN, 2008). E dada a complexidade de causa e gravidade das consequências do fenômeno bullying, a interação dos sujeitos que participam do desenvolvimento do indivíduo, devem ser homogêneas e trabalhar de forma íntegra, para que esse indivíduo cresça ciente sobre as diferenças e saiba respeitá-las.

Quanto aos técnicos administrativos, houve maior destaque também na participação familiar, onde 02 respondentes da escola privada marcaram essa alternativa, 01 deles acusou a ‘falta de recursos’ como desafio. Já os respondentes da escola pública não marcaram a alternativa com relação à família, posicionando-se quanto à ‘falta de capacitação profissional sobre o bullying ’ou o ‘pouco ou nenhum apoio da supervisão’ e ‘pouco ou nenhum recurso educacional’.

Para justificar as escolhas, as respostas da escola pública variaram em: ‘bullying é um problema das escolas, que antes não era visto dessa forma e sim, simples intrigas, brigas entre os alunos’, ‘a falta de conhecimento acaba dificultando o contexto’. Já as justificativas encontradas na amostra da escola pública são ainda mais heterogêneas: ‘(...) as escolas não estão preparadas para enfrentar este fenômeno. Percebemos que profissionais da educação possuem dificuldades para distinguir o bullying de situações de mera indisciplina’.

Esse fato reforça mais uma vez que a falta de capacitação por parte de todos os profissionais da escola é imprescindível para a análise dos casos. A escola toda deve saber diferenciar fatos cotidianos como: brigas, discussões entre alunos, pois ambos os casos possuem características semelhantes, entretanto, o bullying possui caráter exclusivo de repetitividade corriqueira (NETO, 2005).

– Terceira questão em destaque: Qual é o seu papel quando há o bullying identificado?

Pela análise obtida na escola pública, 14 respondentes dos 16, marcaram a opção de ‘propor ações de melhorias’, seguido pela opção de mediadores de conflitos, em que 07 deles optaram por esta alternativa. 06 respondentes marcaram a opção de ‘intervir nos conflitos’, e somente 01 dos integrantes da amostra marcaram a opção outros, considerando que, 07 utilizaram mais de uma alternativa para concluírem sua resposta.

Observadas pelas justificativas e respostas como: ‘promover projetos, objetivando colocá-los em prática’, tentar refletir como os envolvidos sobre a questão’, onde os professores entendem que ações de melhoria devem ser realizadas, porém, são inexistentes na escola.

Por outro lado, notam-se respostas como: ‘através de diálogo, leituras, debates, tento promover em minhas aulas uma conscientização de que a prática de bullying é nefasta ao comportamento/formação de nossos alunos’, que mostra que alguns professores já utilizam de métodos para estudar o bullying em sala de aula.

Analisando as respostas obtidas na escola privada, concluiu-se que 11 respondentes marcaram a opção de ‘propor ações de melhoria’, número menor do que o da escola privada, porém, de maior escolha por parte da amostra. 07 deles marcaram a opção de ‘interventores nos conflitos’, número equiparado ao da escola pública, levando em consideração que 03 deles optaram por marcar mais de uma alternativa.

A partir da análise das justificativas, observaram-se respostas singulares, tais como: ‘buscar entender melhor o tema e assim ter condições para propor tais melhorias’, ‘tentar trabalhar com a prevenção e maior informação dos profissionais’, reforçando mais uma vez a importância da capacitação profissional. Por outro lado, notou-se uma homogeneidade de respostas que defendem que a prática do diálogo pode promover um ambiente mais propício ao respeito mútuo.

Através das alternativas propostas, concluiu-se que, nas duas escolas, o pensamento dos professores e técnicos administrativos quanto às propostas de ações de melhoria foram quase unânimes, considerando a totalidade da amostra. Entretanto, partindo da ótica obtida nas justificativas, notou-se um despreparo igualitário relacionado à efetividade dessas práticas, dando a entender que, eles sabem de suas funções enquanto proponentes, mas não sabem como fazer isso sem subsídio de entendimento de caso.

A partir das respostas dos técnicos administrativos, observou-se que, tanto na escola pública quanto na privada, os respondentes concordaram que são responsáveis por propor ‘ações de melhoria’, seguida pela opinião de que também são ‘interventores de conflitos’.

As justificativas variaram, podendo citar algumas mais complementares, como: ‘meu papel é fazer mediação, intervenção, intervenção e procurar a razão do problema e buscar ajuda especializada’, ‘propor projetos na escola que os alunos se envolvam mais e tenham mais consciência do problema’, ‘conhecer mais o tema, condições de melhoria’.

Mais uma vez, reitera-se a importância de criação de meios ou programas que permitam a discussão, cada vez maior, dos temas relacionados ao bullying. Cabe ao corpo docente e aos gestores escolares participarem dessas discussões, criando sistemas de identificação e de prevenção, produzindo conhecimento e, também, produzindo sujeitos que vão atuar nesses conhecimentos (WEIMER; MOREIRA, 2014).

Considerações finais

O objetivo do estudo foi verificar as principais formas de manifestação de bullying e comparar as formas de prevenção e contenção do mesmo, entre uma escola pública e uma privada na cidade de Lavras (MG). Notou-se, a partir dos dados obtidos, que a amostra satisfez a intenção da pesquisa.

Pode-se concluir que a temática bullying precisa ser mais introduzida, discutida e problematizada dentro das duas escolas, pois não houve discrepância relevante ao modo que ambas retratam o acontecimento do fenômeno bullying aos seus alunos.

Entretanto, foi satisfatório saber que quase a totalidade dos participantes deste estudo sabia da existência do fenômeno na sociedade e que ele ocorria dentro da escola. E que todos concordavam que precisa fortemente ser combatido. Desta forma, precisa fazer parte da cultura escolar, com professores e profissionais da educação mais preparados e com alunos prontos a não aceitarem nenhum tipo de sistematização de agressões.

É preciso lidar de frente com possíveis situações de violência, não apenas através de um viés de uma resolução ou normativa que subsidie legalmente as ações a serem efetivadas, de fato, assumindo posturas e medidas que devem ser tomadas, no que diz respeito à preparação dos profissionais da/na educação, para lidarem com a violência e para não deixarem que ela se prolifere.

Nesse sentido, é de suma importância entender e compreender que esse resultado não é afirmativo para declarar que todas as escolas não sabem ou sabem pouco sobre a ocorrência sistematizada do fenômeno bullying, mas que pesquisas, nesse sentido, devam ser feitas e estimuladas com mais frequência, além das ações educacionais serem tomadas nessas escolas, principalmente, em municípios pequenos para que, por meio delas, o bullying seja identificado e notado, caminhando em direção à sua erradicação.

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