EDITORIAL

Diversidade e mal-estar na saúde: modos de cuidar – XII Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

Prezadas leitoras e leitores,

Em ocasião da Décima Segunda edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, anunciamos o primeiro Número de 2019 da Revista da SBPH animados pela égide da proposta Diversidade e Mal-estar na Saúde: Modos de Cuidar. O argumento do evento, que acontecerá em Salvador/BA, é o sopro da atualidade que perpassa as práticas e as pesquisas em Psicologia Hospitalar. A Diversidade como questão aos imperativos da universalização é o fundamento da Psicologia que busca avançar a partir da pesquisa e da prática orientada por princípios éticos. Aquilo que é da ordem do diverso se articula inevitavelmente ao mal-estar como o que é impossível de se fazer todo, uni-verso. A ausência de totalidade relança os pesquisadores da Psicologia Hospitalar e áreas afins em uma busca que ultrapassa os ditames do que já está instituído. O di-verso é indispensável na constituição do universo não-todo que o pesquisador vislumbra nas mais diferentes perspectivas de sua prática.

Nosso primeiro número do volume 22 se inicia com quatro trabalhos que, de maneira diversificada, colocam questões sobre os limites de uma universalização no campo da Psicologia Hospitalar. Esse questionamento tem ressonâncias sobre a prática que se torna passível de elaborações, processo que recebe a pesquisa como indispensável. Primeiramente, com É possível falar em colaboração nos hospitais brasileiros? Uma revisão integrativa da literatura (Baião, Maciel & Santos) aponta-se que a prática de ações colaborativas em hospitais parece ser uma tendência que busca adequar serviços na atualidade. Nessa revisão, demonstra-se que a colaboração em hospitais é uma terminologia ampla que pouco se reconhece como conceito. Em Vicissitudes da experiência laborativa de enfermeiros de unidades de terapia intensiva neonatal (Rosa & Quiroga), o campo laboral é tomado a partir de sua importância identitária. Partindo da Psicodinâmica do Trabalho e da Psicanálise, o objetivo é compreender especificidades no trabalho de enfermeiros em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal. Já em (Im)Possibilidades de atuação interprofissional dos residentes multiprofissionais em contexto hospitalar (Rebouças, Gondim & Pinheiro), são abordados os impasses na atuação da equipe de residentes multiprofissionais no contexto hospitalar. A pesquisa é participante, de abordagem qualitativa, de natureza exploratória e trata sobre o cuidado ao paciente crítico cardiopulmonar. Por sua vez, As narrativas ficcionais na dor e cuidados paliativos: a construção do ateliê jardim de histórias (Kierniew, Fröhlich & Moschen) apresenta uma pesquisa-intervenção realizada em um hospital geral. Trata-se da elaboração dos primeiros passos metodológicos de um dispositivo intitulado Ateliê Jardim de Histórias. O estudo objetiva discutira ficção como forma de extensão das condições narrativas daqueles que se ocupam de pacientes em um Setor de Dor e Cuidados Paliativos.

Em Cuidados paliativos em terapia intensiva: a ótica da equipe multiprofissional (Lima, Nogueira & Werneck-Leite) objetivou-se verificar a percepção do conceito de Cuidados Paliativos a partir da ótica dos profissionais de saúde atuantes em uma Unidade de Terapia Intensiva. É um estudo qualitativo que visa acréscimos à literatura acerca da percepção do conceito de Cuidados Paliativos por profissionais intensivistas. Envelhecimento e doença crônica: uma análise da autonomia decisória de pacientes idosos com mieloma múltiplo (Menezes & Lima) propõe analisar a percepção de idosos e idosas com Mieloma Múltiplo acerca da sua autonomia durante o tratamento realizado em ambulatório de hematologia. Aponta-se que os participantes reconhecem a autonomia decisória como validada, mesmo que informações sobre o diagnóstico e tratamento não apareçam no discurso dos pacientes de maneira considerada efetiva. Manifestações corporais do sofrimento psíquico: psicossomática em contexto de Pronto-Socorro (Milhorim & Costa Neto) propõe considerações sobre a dinâmica dos aspectos psicológicos em pacientes em um Pronto-Socorro. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e exploratório, de abordagem clínico-qualitativa, que utiliza como recurso metodológico o estudo-série de casos. Impacto da microcefalia no subsistema fraterno por meio do teste da família: estudo de caso (Barata, Santos, Costa, Barbosa & Pontual Santos) parte da compreensão de que o nascimento da criança com microcefalia repercute sobre o sistema familiar gerando mudanças na rotina e nas relações entre os seus membros. O objetivo do estudo é avaliar efeitos sobre o subsistema fraterno e a repercussão deste fenômeno na relação materna.

Voltados à dinâmica familiar, A internação de um filho em unidade de terapia intensiva pediátrica: narrativas maternas (Azevedo, Hemesath & Oliveira) utiliza narrativas pessoais de mães que tiveram filhos internados, em situação de doença aguda e grave, em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. As narrativas proporcionaram às mães a oportunidade de (re)significar a experiência de ter tido um filho internado; já Satisfação familiar nos cuidados intensivos avaliada por meio do FS-ICU 24 (Madureira, Parreiras, Pereira & Houri) investiga a satisfação dos familiares dos pacientes internados no centro de terapia intensiva. Evidenciou-se a influência de fatores relacionados à comunicação equipe-família como um dos principais fatores quanto à satisfação.

Especificamente sobre o processo gestacional, Rede social significativa no processo gestacional: uma revisão integrativa (Maffei, Menezes & Crepaldi) busca caracterizar a produção científica nacional e internacional acerca da rede social significativa de mulheres no processo gestacional. Os resultados indicam a importância do parceiro e do apoio emocional deste na constituição da maternidade e o apoio social como fator de proteção; em O pré-natal psicológico como um modelo de assistência durante a gestação (Benincasa, Freitas, Romagnolo, Januário & Heleno) descreve-se a contribuição de um programa de Pré-Natal Psicológico durante a gestação, a pesquisa considera a correlação entre a produção de conhecimento em torno da maternidade e a intervenção sobre ela. Indica-se que o Pré-Natal Psicológico se configura como um importante programa de apoio para a gestante e familiares; já Fatores promotores do vínculo mãe-bebê no puerpério imediato hospitalar: uma revisão integrativa (Silva & Braga) investiga, por uma revisão integrativa da literatura, os fatores promotores de vínculo mãe-bebê no hospital.

Fechando nosso número, A utilização do jogo como recurso terapêutico no processo de hospitalização da criança (Giaxa, Tavares, Oliveira, Eying & Burda) busca identificar as contribuições do uso do jogo como recurso terapêutico no processo de hospitalização da criança. O método utilizado foi a pesquisa bibliográfica, exploratória e qualitativa sobre o tema do uso do jogo no contexto hospitalar. Reflexões sobre vivências da criança com câncer diante da morte (Barbato, Antunes & Lourenço) é uma revisão narrativa da literatura com o objetivo de compreender como as crianças diagnosticadas com neoplasia maligna vivenciam a possibilidade de morte. A psicologia no contexto de produção do cuidado segundo a percepção de pessoas com doença oncológica (Pires, Souza, Pereira, Lima, Quintana & Costa de Souza) analisa a percepção de pessoas com doença oncológica acerca da inserção do psicólogo nas equipes interprofissionais e as repercussões de suas funções na produção de cuidado.

É com franco objetivo de que o atual volume atenda aos interesses das leitoras e dos leitores que congratulamos as autoras, os autores e as/os pareceristas que tomaram o trabalho editorial como responsabilidade científica e profissional.

Boa leitura!

Cordialmente,
Prof. Dr. Marcos Vinicius Brunhari
Editor-chefe da Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar