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Avaliação Psicológica
versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431
Aval. psicol. v.3 n.2 Porto Alegre nov. 2004
RESENHA
Risser, R. (2003). Estudos sobre a avaliação psicológica de motoristas. São Paulo: Casa do Psicólogo. Tradução de Reiner J. A. Rozestraten.
Fernanda Andrade de Freitas
Universidade São Francisco
O livro Estudos sobre a Avaliação Psicológica de Motoristas retrata no contexto estrangeiro, a realidade da Psicologia do trânsito. Os autores relatam diversas atividades, críticas construtivas e reflexões quanto à atuação e à intervenção do psicólogo e de trânsito. Esses relatos nos concedem a oportunidade, como psicólogos, de questionarmos e refletirmos o andamento da Psicologia do Trânsito no contexto brasileiro.
Esse livro foi editado em 1997, organizado pelo Dr. Edgar Spoerer, com o título original Assessing the Driver e traduzido para o português pelo Dr. Reiner Rozestraten, pesquisador engajado nos assuntos relacionados à Psicologia do Trânsito no contexto brasileiro. Vale ressaltar que o livro é composto por 11 capítulos, desenvolvidos por nove pesquisadores da área de diversas nacionalidades.
Inicialmente, o pesquisador Ralf Risser aborda a questão da Validade dos Instrumentos e das atividades do Diagnóstico e Seleção de Motoristas (DSM). Nesse capítulo, questiona a relevância de avaliar o motorista que pretende retirar a Carteira Nacional de Trânsito (CNH). Segundo o autor, na Espanha a avaliação dos motoristas é realizada pelos psicólogos apenas quando há suspeita de falta de aptidão, caso contrário, essa avaliação é realizada por pessoas com formação médica ou jurídica. A discussão central desse capítulo consiste em encontrar instrumentos válidos para o DSM. Lars Aberg, no terceiro capítulo, relata os Problemas relacionados com a seleção de motoristas e a validades de testes. Tanto esse autor quanto Ralf Risser descrevem alguns norteadores para que a validação dos testes ocorra: a necessidade de se traçar um perfil comportamental do motorista no trânsito, a análise dos resultados dos testes em comparação com comportamento observado e se correspondem às expectativas dos pesquisadores, entre outros. Aberg apresenta uma visão crítica em relação à testagem dos candidatos, embora aponte caminhos para que a Área de Psicologia do Trânsito seja desenvolvida.
Como complementação às discussões anteriores, o organizador do livro aborda a questão dos Problemas de validade no diagnóstico e na seleção. Discute a respeito dos critérios para considerar um motorista apto ou inapto. Posiciona-se diferentemente dos outros pesquisadores em relação ao critério de validade dos testes psicológicos para o diagnóstico, pontuando que os acidentes podem ser uma das variáveis, mas outra variável pode ser: as observações de comportamentos que refletem erros definidos por peritos, considerando a existência de uma correlação significativa entre variáveis comportamentais no trânsito e acidentes. O autor argumenta que os conhecimentos psicológicos tendem a complementar os exames médicos que por si só não seriam suficientes para avaliar o futuro motorista.
Rainer Christ, no quarto capítulo, aborda O que são critérios válidos de seleção? Motoristas idosos como um exemplo geral. Esse autor apresenta uma relação de critérios para predizer um bom motorista. Além da propensão a acidentes, os conjuntos de comportamentos e de funções básicas são considerados precondições para uma direção adequada. Com base em critérios para selecionar idosos, que se caracterizam como bom ou mau motorista, ele relata diversas pesquisas a fim de delinear os critérios satisfatórios para um bom motorista idoso. Finalizando o capítulo, o autor afirma que os testes psicológicos podem ser complementados por meio de uma entrevista semi-estruturada, para saber aspectos familiares, profissionais, divertimentos e hobbies, experiência e incidentes na participação no trânsito, a respeito da adaptabilidade, dos componentes ligados aos cuidados com a saúde, dos traços gerais e opiniões sobre direção e habilidade de dirigir.
John Groeger, no sétimo capítulo, Testes psicológicos podem predizer habilidade para dirigir?, expõe as dificuldades inerentes à avaliação psicológica no trânsito e questiona assuntos relacionados à Psicometria, a saber, a validade e a precisão dos testes psicológicos utilizados na seleção de motoristas. Ele critica a utilização dos testes e descreve estudos que evidenciam ou não a validade e a fidedignidade dos que avaliam o tempo de reação, a coordenação motora, a atenção, a inteligência, o estilo perceptivo e a personalidade do motorista. Ele defende a importância do uso, pelo Psicólogo do trânsito, de utilizar testes que possuem estudo de validade e precisão.
No oitavo capítulo, Jacobshagen Wolfgang, trata da Avaliação médico-psicológica na Alemanha: sistema, resultados de classificação, recidivismo, taxas e validades de preditores. Nesse capítulo, o autor retrata o sistema de avaliação de condutores infratores e a sua reabilitação na Alemanha. Ele afirma que desde a década de 1950 foi instituída a avaliação, cuja preocupação era medir aspectos físicos. Diante disso, os psicólogos foram se inserindo nesse contexto para ministrar cursos aos condutores que faziam uso de álcool. Nesse país, há ênfase nos cursos de reabilitação dos condutores que tiveram uma pontuação atingida por uma soma de infrações. Para finalizar, esse autor enfatiza a necessidade de o Psicólogo se apropriar de alguns conhecimentos para uma intervenção mais eficaz.
O pesquisador Hans Utzelmann, no segundo capítulo, fala a respeito da Orientação do serviço da Psicologia do Trânsito como uma ciência aplicada. O autor pontua a importância da atuação dos psicólogos no contexto do trânsito, e que a Psicologia do Trânsito deva se adaptar aos critérios de resultados à realidade do mundo de aplicações da avaliação, levando-se em consideração o desenvolvimento biográfico, as atitudes, o comportamento, entre outros. O autor defende a integração entre a psicologia do Trânsito acadêmica e a prática.
No quinto capítulo, Urs Gerhard trata a Segurança de trânsito além da prevenção: ilustrada com o exemplo de motoristas bêbados. O autor questiona a pertinência de se estudar, como critério de validação dos testes psicológicos, os acidentes de trânsito. Lembra que o principal objetivo da Psicologia do Trânsito é aumentar a segurança dos usuários; e, entretanto, ressalta a necessidade da exploração de outros critérios e maior investimento no processo de psicodiagnóstico. Nesse capítulo exemplifica três casos de intervenção do psicólogo, por meio da avaliação psicológica e defende a relevância do papel do Psicólogo no trânsito.
O sexto capítulo Os psicólogos têm alguma coisa a oferecer em treinamento, aperfeiçoamento e seleção de motoristas?, o autor Mika Hatakka norteia algumas possibilidades de desenvolvimento da Psicologia do Trânsito. A primeira é a seleção dos motoristas por meio de outros critérios além das habilidades psicomotoras e as exigências fisiológicas consideradas na seleção, por exemplo, as metas de vida e a habilidade para viver, as metas e os contextos do "dirigir" (finalidade, contexto social), o domínio das situações do trânsito e a manobra do veículo. A segunda é o treinamento do motorista, de acordo com o número de infrações e o número de acidentes. Nesse tópico, o autor valoriza a cognição, a emoção, a avaliação de riscos e a concepção de si mesmo como motorista. Pontua que o feedback e o desenvolvimento da auto-avaliação podem ser instrumentos fundamentais para o bom desenvolvimento de um motorista.
No décimo capítulo, Wolf-R Nickel, retrata a Reabilitação de motoristas bêbados - Efetividade do programa e controle de qualidade. O autor cita que as pessoas que fazem uso do álcool e dirigem podem ser consideradas risco à sociedade, por isso, chama a atenção para a relevância de programas de reabilitação para as pessoas que tiveram sua C.N.H. retida em função do consumo de álcool ao dirigir, apontando para a importância de esses programas demonstrarem sua qualidade na intervenção. Os critérios a serem analisados são os processos de desenvolvimento, a avaliação e a administração. O autor descreve também outros programas sugeridos por outros pesquisadores.
No décimo primeiro capítulo, redigido pelo organizador do livro, discute-se as apresentações realizadas nos capítulos anteriores possibilitando a identificação dos problemas referentes à validade e ao diagnóstico, traçando metas para o trabalho fundamentando as intervenções dos Psicólogos do trânsito e solidificando e requerendo uma postura crítica, ética e científica desses profissionais inseridos nessa área.
Esse livro, embora não apresente uma divisão didática entre os temas tratados pelos pesquisadores, ressalta a questão da validade dos testes psicológicos, os seus critérios e a sua relevância para a seleção dos motoristas. Numa proporção menor, mas não de menos importância, estão descritas as experiências das intervenções dos Psicólogos do Trânsito. Vale ressaltar que esse livro é a convergência de estudos e pesquisas realizadas sobre a Psicologia, mais especificamente do Trânsito, que nos possibilitam a problematização e a viabilização dos assuntos abordados anteriormente, por cada pesquisador, no contexto brasileiro.
Recebido 5/12/2004
Aceito 30/1/2005