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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.4 n.1 Porto Alegre jun. 2005

 

RESENHA

 

Temas em avaliação psicológica

 

 

Gisele Aparecida da Silva Alves1

Universidade São Francisco

Endereço para correspondência

 

 

Primi, R. (2005). Temas em Avaliação Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo

Entende-se por avaliação psicológica a busca sistemática de conhecimento a respeito do funcionamento psicológico em situações específicas, que possa ser úitl para orientar ações e decisões futuras. A avaliação psicológica se refere a um processo de busca de dados, agrupando diferentes informações com três objetivos principais, conhecer os sujeitos, identificar o problema e programar uma intervenção.

A eficácia do instrumental utilizado no processo de avaliação psicológica está diretamente ligada à quantidade e qualidade de informações, oriundas de pesquisa científica acumulada, relacionadas à interpretação dos resultados destes instrumentos. A Psicologia Brasileira sofreu um período de descrédito na área em questão entra as décadas de 70 e 80, tendo retomado suas atividades na década de 90, quando um conjunto de eventos importantes ocorreu, como por exemplo, a criação do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP).

Com o objetivo de disponibilizar às pessoas interessadas na área estudos e reflexões atuais sobre avaliação psicológica e educacional, o livro Temas em Avaliação Psicológica, organizado por Ricardo Primi, é produto de um grupo de estudantes e pesquisadores de pós-graduação que se reuniram nos Simpósios de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP) em 1998 e 2000.

O livro é composto por 13 capítulos. Os quatro primeiros tratam de questões mais amplas sobre a avaliação psicológica. No Capítulo 1, Reflexões sobre os Instrumentos de Avaliação Psicológica, os autores Ana Paula Porto Noronha e João Carlos Alchieri fazem uma reflexão acerca de aspectos históricos da avaliação psicológica, fazendo menção também aos instrumentos, destacando a necessidade de se conhecer melhor a qualidade e a construção de novos instrumentos, que se configura como uma prática recente. Os autores ainda salientam que outros estudos relativos à avaliação psicológica podem ser desenvolvidos com o objetivo de superar com urgência as dificuldades encontradas neste processo, já que apesar dos avanços na área poderem ser observados atualmente, novos desafios surgiram.

No segundo capítulo, Avaliação Psicológica no Setor da Saúde, Eda Marconi Custódio discute questões relativas aos principais instrumentos utilizados no contexto da saúde. A autora faz reflexões acerca das discrepâncias entre os instrumentos utilizados no âmbito internacional e os instrumentos disponíveis e usados no Brasil, trazendo informações a partir de um levantamento que mostra que a maioria dos instrumentos utilizados em avaliação psicológica no setor da saúde não são ensinados na graduação, fazendo com que cursos de especialização em psicologia hospitalar sejam cada vez mais procurados por pessoas interessadas na área. Com relação ao uso de instrumentos de avaliação psicológica, a autora destaca três aspectos, a saber, a resistência, por parte de muitos psicólogos ao uso de instrumentos, talvez pautados pelo desconhecimento das características dos mesmos; a falta de estudos brasileiros sobre os instrumentos existentes, ainda que haja avanços e; a importância de que os psicólogos na área da saúde não se limitem apenas à avaliação psicológica, mas que façam levantamentos junto à população, por exemplo, de crenças e comportamentos comuns que levam a algum tipo de patologia.

Avaliação Neuropsicológica em Crianças e Adolescentes é o título do terceiro capítulo organizado por Mario R. Simões que discute objetivos e especificidades da avaliação neuropsicológica em crianças e adolescentes, um assunto cada vez mais crescente. O autor traz informações a respeito da perspectiva histórica da avaliação neuropsicológica, das áreas de avaliação aos testes neuropsicológicos, incluindo funções como atenção, linguagem, competências motoras, sensoriais e perceptivas, aprendizagem e memória, problemas relativos à utilização de testes neuropsicológicos e indica progressos nesta área, destacando importâncias relativas ao desenvolvimento da padronização dos instrumentos utilizados.

João Carlos Alchieri e Denise Ruschel Bandeira abordam no quarto capítulo, assuntos relativos ao ensino de procedimentos de avaliação psicológica nas universidades do Brasil, levando o leitor, em especial docentes, a refletir sobre a forma como esses procedimentos são ensinados. Os autores enfatizam a importância da interdisciplinaridade e comunicação entre professores e pesquisadores para o desenvolvimento da área no Brasil.

Nos próximos dois capítulos, os instrumentos de avaliação da personalidade são abordados. No capítulo 5, O Modelo dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade, os autores Carlos Henrique S. S. Nunes e Claudio Hutz fazem uma apresentação do modelo do CGF (Cinco Grandes Fatores), conhecido internacionalmente na literatura como "Big Five", mas pouco difundido no Brasil, que propõe cinco fatores denominados Extroversão, Neuroticismo, Realização, Socialização e Abertura para novas experiências. Os autores trazem dados de pesquisas recentes no Brasil acerca do CGF, que disponibilizam à comunidade dados mais exatos e confiáveis a respeito dos instrumentos para avaliação da personalidade dentro dos cinco grandes fatores (CGF). No Capítulo 6, Novas Contribuições ao teste das pirâmides coloridas de Pfister, Anna Elisa de Villemor Amaral também se refere à avaliação da personalidade fazendo uso de uma técnica projetiva. A autora discute a origem e uso do Pfister e descreve o resultado, de forma resumida, de sua pesquisa sobre a validade do teste aplicado a uma diversidade de quadros psicopatológicos, como esquizofrenia, transtorno depressivo, transtorno por abuso de álcool, transtorno do pânico, transtorno obssessivo compulsivo e transtorno somatoforme.

Nos quatro capítulos seguintes, parte-se para um dos construtos mais estudados em avaliação psicológica, a inteligência. Luiz Pasquali relata, no capítulo 7, Inteligência: Um Conceito Equívoco, o problema em se ter vários teóricos fazendo definições obscuras e ambíguas do conceito inteligência, levando à falta de consistência nas teorias psicológicas a respeito desse construto. O autor faz uma discussão sobre o conceito de inteligência, em que ela deve ser localizada na estrutura da personalidade e que tipo de função ela é e tenta ainda, esclarecer por meio de seus estudos alguns equívocos existentes na literatura.

Em A terceira Edição das Escalas Wechsler de Inteligência, capítulo 8, as autoras Elisabeth do Nascimento e Vera L. M. De Figueiredo apresentam edições atualizadas e aperfeiçoadas dos instrumentos WISC-III e o WAIS-III. O capítulo traz informações das normatizações americanas dos dois testes e também resumem pontos principais da adaptação dos instrumentos no contexto brasileiro, deixando claro as limitações do estudo, já que as amostras utilizadas não foram representativas da população e portanto, configurando as normas de interpretação como provisórias. No capítulo 9, Instrumentos Disponíveis no Brasil para Avaliação da Inteligência, Iraí Cristina Boccato Alves apresenta um levantamento e uma breve análise de 21 testes psicológicos que avaliam este construto disponíveis no Brasil. É destacada a falta de estudos de validade, precisão e padronização de alguns intrumentos, falta mais grave encontrada pela autora, além de identificar a falta de conhecimento de muitos psicólogos acerca de alguns dos instrumentos. No capítulo 10, Caminhos para a Avaliação da Criatividade: Perspectiva Brasileira, as autoras Solange Muglia Wechsler e Tatiana de Cassia Nakano trazem uma discussão a respeito do tema criatividade e sua avaliação no Brasil, analisando publicações brasileiras num período de 18 anos.

Os três últimos capítulos abordam a Teoria de Resposta ao Item (TRI), sendo que nos dois últimos, a TRI é aplicada na análise dos dados dos provões de 2000 e 2001 . A autora do capítulo 11, Aplicação da Teoria de Resposta ao Item na Avaliação Educacional, Claudette Maria Medeiros Vendramini apresenta conceitos básicos da TRI e sua utilização na avaliação do desempenho de universitários em uma prova de Estatística. O capítulo se encontra dividido em duas partes. A primeira revisa conceitos básicos para o entendimento da TRI e a segunda refere-se à aplicação da teoria , contendo um exemplo prático, e a interpretação de seus resultados. O Capítulo 12, Teoria de Resposta ao Item e o Modelo Rasch de Mensuração: Uma análise do Provão de Psicologia, os autores Cilio Ziviani e Ricardo Primi apresentam os modelos de Rasch e os aplicam na análise dos dados dos provões. O capítulo se divide em duas partes. A primeira refere-se aos fundamentos do modelo desenvolvido por Rasch na década de cinquenta, destacando suas caracteristicas e a segunda analisa diferenças entre resultados ou valores que foram preditos pelo modelo e resultados ou valores que foram de fato observados. Segundo os autores, esses valores são chamados resíduos por serem "valores que representam a diferença entre a expectativa teórica do modelo Rasch e o desempenho de fato observado, do examinando ou do ítem".

No capítulo 13, Provão (ENC) de Psicologia 2000 e 2001: Análise dos Parâmetros Psicométricos, o autor Luiz Pasquali analisa também dados do provão, mas desta vez, utilizando o modelo de três parâmetros. O autor analisa a validade das provas objetivas de 2000 e 2001 por meio da análise dos parâmetros psicométricos, tentando explicar o desempenho quase não satisfatório de futuros psicólogos nestas provas e verifica, em suas conclusões a respeito da análise das duas provas, além de falhas de conhecimento de temas epistemiológicos e de fundamentos em Psicologia, o desconhecimento acerca da cobertura de temas "secundários" na área, deixando refletir, portanto, a má qualidade do ensino universitário em Psicologia e a ambiguidade na definição do objeto de estudo da psicologia.

Trata-se de um livro muito bem organizado, com temas pertinentes à prática da avaliação psicológica, também discutindo aspectos históricos e teóricos a respeito de vários conceitos relacionados ao processo de avaliação. Esta obra traz contribuições importantes para a área que vem se devenvolvendo nos dias atuais, porém os autores sempre se preocupam em mostrar que ainda há carência de pesquisas e que mesmo tendo havido avanços, novos desafios continuam surgindo, trazendo a necessidade de mais pesquisas para o desenvolvimento da área de avaliação psicológica no Brasil.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: gimizuta@yahoo.com.br

 

 

Sobre a autora:

1 Gisele Aparecida da Silva Alves é acadêmica do curso de Psicologia e vinculada ao Programa de Iniciação Científica (PIC) da Universidade São Francisco.

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