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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. v.8 n.3 Porto Alegre dez. 2009

 

NOTAS TÉCNICAS E RESENHAS

 

Avanços e tendências da orientação profissional e ocupacional no Brasil

 

 

Caio Cesar Rodrigues de Toledo*

Universidade São Francisco

 

 

Levenfus, R. S., & Soares, D. H. S. (orgs.). (2010). Orientação Vocacional Ocupacional. Porto Alegre: Artmed.

 

A escolha de uma profissão se dá prioritariamente na transição escola-trabalho. No entanto, na atualidade, novas demandas e discussões estão ocorrendo, visto que além da adolescência, outros momentos de passagem podem ser enfrentados por profissionais em recolocação no mercado de trabalho, por exemplo, ou ao longo de seu histórico ocupacional. Nesse ensejo, apresenta-se a obra Orientação Vocacional Ocupacional, na qual novos estudos e propostas são apresentados, a fim de desmistificar a orientação como um processo mágico e de propor que o autoconhecimento do orientando receba maior atenção.

O livro conta com a organização de Rosane Schotgues Levenfus, Dulce Helena Penna Soares e outros colaboradores. O processo de reconstrução desta segunda edição se deu no Iº Congresso Latino-Americano e VII Simpósio de Orientação Vocacional e Ocupacional organizado pela Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP). Assim, o livro é organizado em seis partes, a saber, a contextualização; os diferentes contextos; as diferentes abordagens; a Orientação Profissional em situação específica; a apresentação de testes e instrumentos específicos para diagnósticos e intervenção e as técnicas para intervenção e orientação.

A primeira seção, 'Contextualização', está composta por três capítulos, sendo que o inicial se refere à discussão proposta por Yvette Piha Lehman intitulada Orientação Profissional na Pós-modernidade. A autora discute as novas demandas mercadológicas e suas influências, tendo em vista as mudanças observadas no mercado de trabalho. Desta forma, a Orientação Profissional se vê frente a novos espaços de intervenção, de modo que a autora destaca a importância de profissionais qualificados e previamente preparados para atender às novas demandas e atuar como suporte para os indivíduos em diversos momentos de crise.

No segundo capítulo Escola e escolha profissional: um olhar sobre a construção de projetos profissionais, Maria da Conceição Coropos Uvaldo e Fabiano Fonseca da Silva discutem o papel da escola e de seu compromisso de reproduzir valores sociais. Os autores questionam a imparcialidade da escolha profissional e propõem que a autonomia seja devolvida ao aluno, com o intuito de que ele busque experiências, construa suas representações, e crie estratégias próprias frente à escolha.

Principais temas abordados por jovens vestibulandos centrados na escolha profissional é o título do trabalho escrito por Rosane Schotgues Levenfus e Maria Lucia Tiellet Nunes. As autoras abordaram dúvidas, decisões, escolhas, interferências financeiras, universidades, mercado, informações, influências sociais e/ou familiares, autoconceito, identificação e os vestibulares. As temáticas foram trabalhadas em um grupo de adolescentes e, a título de resultados, foram encontradas relações entre a qualidade das relações objetais e a o momento da escolha.

A segunda parte do livro é iniciada com o capítulo de Regina Anzolch Crestani, intitulado Orientação profissional na escola privada. A autora apresenta os resultados do levantamento referente à utilização da Orientação Profissional, a partir dos quais foi possível compreender que pouca importância se dá à temática, visto que somente 30% das escolas privadas a utilizam. Adicionalmente, a autora sugere algumas atividades que podem ser usadas para trabalhar com conflitos e representações do dia-a-dia, como um alerta para a formação de alunos independentes e formadores de opinião.

Luciana Albanese Valore disserta sobre a Orientação profissional em grupos na Escola Pública: direções possíveis, desafios necessários. Alguns alertas são feitos, dentre eles, destaca-se a necessidade de desmistificar o imaginário social no que se refere à utilização da Orientação Profissional; ao mesmo tempo, enfatiza que o orientador deve abdicar de pré-conceito e manter a imparcialidade na efetivação da técnica.

Finalizando os 'Diferentes Contextos de Orientação' (segunda seção), Milta Costa da Silva Rocha, propõe uma discussão sobre o Projeto de carreira, plano de vida: passos para um gerenciamento de vida profissional e pessoal. A autora disserta sobre o tema de maneira bastante contundente, enfatizando que os projetos profissionais são pessoais e, que sob esta perspectiva, as respostas a este momento de transição também devem ser. A autora ainda se preocupa em classificar e diferenciar projeto ideal, de projetos reais, alertando quanto à possibilidade do jovem se iludir por projetos idealizados e fantasiosos.

Na terceira etapa do livro são discutidas as 'Diferentes Abordagens em Orientação'. O primeiro capítulo é de responsabilidade de Marucia Patta Bardagi, A abordagem cognitivo-evolutiva do desenvolvimento vocacional. A autora descreve o desenvolvimento vocacional como um aspecto do desenvolvimento global do indivíduo, e ao lado disso, enfatiza a relação entre o autoconhecimento e a escolha de carreira. O trabalho também discute os períodos de transição enfrentados pelo sujeito em sua trajetória, além do conceito de maturidade.

No capítulo de Maria de Gloria Hissa e Marita de Almeida Pinheiro reflete-se sobre as Metodologias de ativação da aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica em orientação profissional. As autoras problematizam a interação do homem com o mundo, sob o enfoque psicodinâmico. Discutem à luz da dialética e das complexas redes de vínculos e relação sociais. As autoras compreendem o indivíduo como um ser ativo frente à sua existência e em um processo contínuo de desenvolvimento.

Sob a influência da teoria psicanalítica, em especial os conceitos de instâncias psíquicas, e a idéia de inconsciente atuante, entre outros aspectos, assim como sob influência da psicologia social, com a noção de vínculos, de grupo interno de estrutura e dinâmicas de grupos foi composto o trabalho Orientação vocacional ocupacional: abordagem clínica pedagógica de autoria de Rosane Schotgues Levenfus. A autora, de forma cautelosa, diferencia a orientação profissional da orientação vocacional/ocupacional, como tentativa de se construir parâmetros para a área.

A quarta etapa do livro destina-se à apresentação de 'Orientações Profissionais em situações específicas'; três capítulos compõem esta seção, todos escritos por Rosane Schotgues Levenfus e Maria Lucia Tiellet Nunes. No primeiro, O temor da escolha errada em filhos de pais separados, o foco é o exacerbado medo de errar na escolha, tendo em vista o impacto dos acontecimentos familiares. A relação entre a escolha conjugal e profissional é trazida e discutida com assertividade entre um grupo de jovens, filhos de pais separados.

No capítulo seguinte, mantendo a mesma premissa, as autoras tratam da temática Jovens com perda parental: lidando com o luto e com a escolha profissional. A experiência profissional com um grupo de jovens com histórico de perda parental é exposta. A este respeito, as autoras afirmam que vínculos seguros permitem o desenvolvimento da autoconfiança e da autoestima, mecanismos importantes na construção da identidade do sujeito.

O último capítulo desta seção tem o título: A não escolha profissional em jovens simbiotizados. Apresentou-se um grupo que com queixa de dificuldades na separação-individualização, de modo que o material coletado foi compreendido por meio da análise de conteúdo. A reflexão proposta é no sentido da importância dos pais facilitarem o processo de individualização dos filhos, como forma de ajudar na construção da autonomia do adolescente, e da construção de própria identidade.

'Testes e instrumentos para diagnóstico e intervenção em orientação' são apresentados na seção seguinte, composta por 7 capítulos. O primeiro capítulo Teste de Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP): uma proposta de interpretação psicodinâmica foi elaborado por Rosane Schotgues Levenfus e Denise Ruschel Bandeira. As autoras construíram o instrumento com base em 10 diferentes campos de interesses, sendo eles: Físico/Matemático; Físico/Químico; Cálculos/Finanças; Jurídico/Social; Organizacional/Administrativo; Comunicação/Persuasão; Simbólico/Lingüístico; Manual/Artístico; Comportamental/Educacional; e Biológico/Saúde. O AIP não mensura somente o maior campo, e sim, avalia aqueles que se apresentam acima da média.

No capítulo seguinte, Contribuições da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) para a orientação de carreira, Ana Paula Porto Noronha, Acácia Aparecida Angeli dos Santos e Fermino Fernandes Sisto, apresentam a Escala de Aconselhamento Profissional. O objetivo é caracterizar preferências por algumas atividades profissionais em detrimento de outras, com vistas a fornecer aos usuários o estabelecimento de perfis de carreira. Assim a escala de 61 itens foi organizada em sete dimensões: Ciências Exatas; Artes e Comunicação; Ciências Biológicas e da Saúde; Ciências Agrárias e Ambientais; Atividades Burocráticas; Ciências Humanas e Sociais Aplicada; e Entretenimento. Ainda neste capítulo é explicado pelos autores as formas utilizadas para analisar os interesses do indivíduo sob a perspectiva de atividades que possam estar presente em carreiras distintas.

O capítulo que segue Berufsbilder Test (BBT): teste de fotos de profissões em processo de orientação profissional foi proposto por André Jacquemin, Lucy Leal Melo-Silva e Sônia Regina Pasian, no qual descrevem sucintamente o instrumento em si e concentram a atenção sobre as possibilidades informativas e o uso do BBT. O objetivo do teste é a clarificação da inclinação profissional, e, em resumo, pode-se dizer que esta técnica projetiva permite a orientação daqueles que desejam compreender melhor sua vida, sua pessoa e seu destino. O instrumento é composto por 96 fotos, que representem pessoas exercendo alguma atividade profissional, possibilitando ou não a identificação do orientando àquela situação.

O Teste de frases incompletas pra orientação profissional: uma proposta de análise foi escrito por Kathia Maria Costa Neiva. No capítulo é apresentado um estudo de caso a fim de clarear como se constitui o instrumento e suas análises. O Teste de Completar Sentenças é composto por 25 frases, e a tarefa do orientando é completá-las. Estas frases são formuladas de modo a elucidar conteúdos vinculados a situação investigada, sendo que as respostas dos sujeitos serão comparadas com a resposta-exemplo, e pontuadas em uma escala de sete pontos de acordo com o grau de ajustamento e desajustamento do indivíduo. Assim, a autora trata o instrumento como um facilitador no diagnóstico e na compreensão da dinâmica do processo de escolha profissional e na exploração da identidade vocacional.

Por fim, no último capítulo desta seção, Jogo: critérios para a escolha profissional, escrito por Kathia Maria Costa Neiva, o objetivo é discorrer sobre as idéias teóricas que norteiam este instrumento. A autora relata que a utilização do Jogo resgata a autonomia do orientando e coloca o orientador em um papel de facilitador do processo de busca de identidade vocacional. O instrumento permite que o orientando reflita sob suas expectativas em relação ao futuro profissional, sendo que a técnica não se restringe aos psicólogos, podendo ser utilizados por professores, e outros profissionais que objetivem estender a reflexão dos jovens em momento de escolha.

Na sexta e última etapa da obra será dissertado também por inúmeros autores, referente às 'Técnicas para Intervenção em Orientação', sendo que as primeiras autoras a discutir sobre o tema são Dulce Helena Penna Soares & Edite Krawulski, abordando a Modalidade de trabalho e utilização de técnicas em orientação profissional. No capítulo as autoras abordam as modalidades individuais e grupais do trabalho em orientação profissional, procurando ressaltar características, vantagens e desvantagens. Elas enfatizam importância de um orientador ter um referencial teórico bem definido, para sustentar sua prática e a busca pelo conhecimento de técnicas e teorias, facilitando assim, a atuação neste processo.

O capítulo seguinte foi proposto por Dulce Helena Penna Soares com vistas à apresentação de Técnicas e jogos pra a utilização em grupos de orientação. No capítulo a autora relata 11 técnicas e jogos detalhadamente, com destaque para objetivos, formas de aplicação materiais utilizados e comentários finais. Sendo assim, essas contribuições podem ser aplicadas no grupo, em momentos diferentes, como apresentação e integração, levantamento de interesse, informação profissional, escolha propriamente dita, por meio de seus determinantes e de suas influências.

No capítulo seguinte, O uso de narrativas de vida na orientação de carreira: um enfoque construtivista escrito por Mauro de Oliveira Magalhães, trata-se da indecisão de carreira em uma perspectiva construtivista, como a busca de significados integradores das experiências passadas, presentes e futuras do indivíduo. O autor relata que a intervenção do orientador tem por objetivo explorar e articular o tema central de vida do cliente, fazendo com que ele perceba a unicidade de sua escolha, reforçando sua capacidade de decidir e assumir a autoria de sua identidade.

A avaliação dos valores na orientação de carreira é de autoria de Mauro de Oliveira Magalhães. Neste capítulo o autor disserta sobre o processo de construção da identidade, sendo que há um embate entre valores familiares, e a variedade de outros modelos culturais. Sob esta perspectiva, a diferenciação e a integração desses valores à personalidade é uma tarefa crucial, e o conhecimento disto poderá favorecer as opções conscientes dos indivíduos.

Rosane Schotgues Levenfus escreve O uso da autobiografia escrita na orientação profissional. A autora cita que a autobiografia não se limita a uma rica fonte de coleta de dados, mas pode ser vista como uma forma de apontar importantes elementos para a compreensão do processo de escolha profissional. Para ela, isto permite elucidar os fatos e as experiências que necessitam ser compreendidos em um processo de orientação.

Também Rosane Schotgues Levenfus escreve sobre a Técnica dos bombons. Esta pode ser aplicada em pequenos ou grandes grupos, tendo por objetivo proporcionar aos orientandos a oportunidade de fazer uma profunda reflexão acerca de como se processa a escolha profissional, e de forma lúdica fazer com que os orientandos apresentem insight sobre as bases nas quais ele se apóia no momento da escolha.

No ultimo capítulo que fecha a sexta e última etapa da obra é apresentada A técnica do "Círculo da Vida", escrita por Mariza Tavares Lima. A autora descreve a técnica como facilitadora do levantamento da motivação do cliente, criada com base no conhecimento sobre o desenho como possibilidade de expressão do psiquismo, cuja utilização de cores pode ser entendida como expressão/representação da emoção. A autora de forma detalhada explica como se dá a aplicação e os objetivos da técnica, a fim de ajudar no diagnóstico ou também no prognóstico da orientabilidade.

Em síntese, entende-se que a obra é de suma importância para profissionais da área de Orientação Educacional e Profissional, pois aborda uma gama de conhecimentos e distintas formas de atuação, favorecendo assim, o melhor entendimento do processo de escolha ou re-escolha profissional. Sendo assim, acredita-se que é uma obra destinada ao profissional de psicologia, e profissionais da educação que tenham esse contato com a temática.

 

 

Sobre o autor:

* Caio Cesar Rodrigues de Toledo: Discente de Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. E-mail: caiocesar_toledo@yahoo.com.br.

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