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Avaliação Psicológica
versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431
Aval. psicol. vol.13 no.3 Itatiba dez. 2014
Perfil de liderança de treinadores e desempenho de equipes em competição
Coaches' leadership profile and team performance in competition
Perfil de liderazgo de entrenadores y desempeño del equipo en competiciones
Elisa Dell'Antonio1; Mario Luiz Couto Barroso
Universidade do Estado de Santa Catarina
RESUMO
Este estudo analisou o perfil de liderança dos treinadores de voleibol feminino sub19 do estado de Santa Catarina, considerando a autopercepção dos treinadores e das atletas, e o desempenho das equipes na competição. Participaram seis equipes, 70 atletas e seis treinadores. Os instrumentos utilizados foram duas versões da Escala de Liderança no Desporto – autopercepção e perfil real. Baseados em estatística descritiva e inferencial, os resultados evidenciam equipes voltadas para o treino-instrução e reforço positivo. A autopercepção dos treinadores diverge da percepção das atletas no estilo de decisão. Com relação ao desempenho, destacam-se os times em que as atletas entendem seus treinadores como democráticos. As equipes que ficaram nas duas primeiras colocações não apresentaram diferenças estatisticamente significativas nas dimensões avaliadas.
Palavras-chave: liderança; treinadores; desempenho; voleibol.
ABSTRACT
This research assessed the leadership profile of under-19 women's volleyball coaches from Santa Catarina, Brazil, considering coaches' self-perception, athletes' perception of their respective coach profile, and the volleyball teams' competition performance. Six teams, 70 athletes and 6 coaches participated in the study. The instruments applied were two versions of the Leadership Scale for Sports (LSS) – the self-perception and real profile. Using both descriptive and inferential statistics, results show "Training and Instruction" and "Positive Feedback" as the six teams' main preferences. Coaches' self-perception diverges from athletes' perception with regard to decision style. When performance was analyzed, the stand-out teams were those that considered their coaches' profile to be democratic. There were no statistically significant differences between the champion team and the runner-up.
Keywords: leadership; coaches; performance; volleyball.
RESUMEN
Este estudio examinó el perfil de liderazgo de los entrenadores de voleibol femenino Sub-19 del estado de Santa Catarina, teniendo en cuenta la percepción de los entrenadores, atletas percibidos por el perfil y el rendimiento de los equipos de la competición. Seis equipos participaron, con un total de 70 atletas y 6 entrenadores. Los instrumentos utilizados fueron dos versiones de la Escala de Liderazgo para el deporte – la percepción y el perfil actual. Se utilizó estadística descriptiva e inferencial. Los resultados muestran que los equipos se centraron en la formación, la enseñanza y el refuerzo positivo. La percepción de los entrenadores se diferencia de la percepción de los atletas en el estilo de decisión. En cuanto al rendimiento, se destacan los tiempos en que los atletas entiendan sus entrenadores como democrático. Los equipos que estaban en las primeras dos colocaciones no mostraron diferencias estadísticamente significativas entre ellos.
Palabras-clave: liderazgo; entrenadores; rendimiento; voleibol.
O esporte competitivo está cada vez mais exigente. A evolução da técnica e da tática equipara as equipes (Sonoo, Hoshino, & Vieira, 2008). Neste contexto, o esporte vem adquirindo características de interdisciplinaridade: a medicina, fisiologia, nutrição, psicologia e outras ciências exercem grande influência na realidade do treinamento e no desempenho em eventos competitivos (Casal, 2000).
Nas últimas décadas, muitos estudiosos da psicologia se apropriaram de questões importantes relativas ao esporte, pesquisando e atuando na área para melhorar o desempenho de atletas, técnicos e equipes. Estudos de Coimbra et al. (2008) concluíram que tanto técnicos quanto atletas consideram muito relevantes os temas da Psicologia do Esporte, com destaque para o desenvolvimento de técnicas e estratégias psicológicas.
Dentre os temas pesquisados pela Psicologia do Esporte, o fenômeno da liderança merece destaque. A liderança diz respeito à influência de uma pessoa sobre outra pessoa ou sobre um grupo, para atingir objetivos sob certas circunstâncias (Lopes, Samulski, & Noce, 2004; Loughead, Hardy, & Eys, 2006). Santos (2009) afirma que a função do líder é muito importante dentro da dinâmica de grupo, com papel determinante no rendimento da equipe.
Estudos na área indicam que a liderança no esporte é influenciada por vários fatores. Diante disso, Chelladurai e Saleh (1980) desenvolveram o modelo multidimensional de liderança no esporte (MML), concebendo-a como um processo interacional. Para os autores, a liderança efetiva pode variar conforme as características do líder, dos atletas e do contexto. O MML tem como foco três tipos de comportamento do líder (requerido, preferido e real) e apresenta as variáveis que determinam tais comportamentos. São elas as características da situação, do líder e dos membros, abrangendo ainda as consequências das formas de comportamento, que englobam o desempenho do grupo e a satisfação de seus componentes (Chelladurai, 2013). Sobre os tipos de comportamento do líder, Weinberg e Gould (2008) descrevem que o comportamento requerido varia conforme a exigência da situação; o preferido revela a predileção dos integrantes do grupo; o real é o que o líder de fato exibe, sofrendo influência tanto da situação quanto dos membros do grupo liderado.
Dentro de uma equipe esportiva, atletas e outros membros do grupo podem desempenhar o papel de líder (Eys, Loughead, & Hardy, 2007), no entanto essa função é delegada formalmente ao treinador. Costa, Samulski, e Costa (2010) afirmam que, na sociedade em geral e no meio científico em particular, é relativamente recente a preocupação em estudar com maior rigor as variáveis de atuação do treinador no contexto esportivo. Cada vez mais, a figura do técnico ganha espaço e respeito neste cenário. Reconhece-se sua importância no papel de líder na organização dos esforços e tarefas individuais, para otimizar o rendimento coletivo e garantir a satisfação de seus membros (Erickson, Côté, Hollenstein, & Deakin, 2011; Lopes et al., 2004).
A relação entre técnico e atleta é dinâmica, multifacetada e complicada (Shepherd, Lee, & Kerr, 2006). É uma relação fundamental para entender o esporte, devido às responsabilidades desempenhadas pelo treinador na preparação física, técnica, tática e até mesmo psicológica dos atletas (Dignani, 2007). Yang e Jowett (2012) afirmam que, para os atletas, é importante ter um relacionamento eficaz com o treinador, pois ele pode lhes proporcionar segurança em tempos difíceis (lesão, quedas de desempenho), orientação durante as transições e apoio durante crises emocionais (falhas em grandes competições).
Pensando a função do treinador e sua relação com o desempenho dos atletas em quadra, Brandão e Carchan (2010) concluíram que o comportamento do treinador como líder tende a influenciar a atuação dos atletas em jogo. Barroso, Krebs, Velho, Fensterseiffer, e Rotta (2007), em seu estudo com psicólogos de equipes de futebol profissional, indicam que o comportamento do técnico está na origem de atitudes agressivas por parte dos atletas, ficando atrás somente dos itens importância do jogo e provocações do adversário. Neste contexto, habilidades de liderança são marcas do técnico eficaz e bem-sucedido (Khalaj, Khabiri, & Sajjadi, 2011). No voleibol, em particular, o técnico assume papel de liderança muito importante durante o período competitivo. Nesse período, além de instruir os atletas durante as paradas técnicas, o treinador, devido à proximidade física, pode auxiliar os jogadores entre as disputas de pontos e até mesmo durante um rally, além, é claro, de auxiliá-los em treinamentos e fases preparatórias, para coordenar e conduzir a equipe na direção proposta (Dignani, 2007).
Levando em consideração esse papel desempenhado pelo técnico, o presente estudo teve como objetivo investigar o perfil de liderança dos treinadores de voleibol feminino do estado de Santa Catarina, comparando a autopercepção de liderança dos treinadores com o perfil real percebido por suas respectivas atletas, e comparando tais percepções com o desempenho das equipes.
Método
A amostra da pesquisa foi composta pelos treinadores e atletas de voleibol feminino das seis equipes classificadas para a segunda fase da etapa estadual dos XXIV Joguinhos Abertos de Santa Catarina (2011). No total, foram seis treinadores (cinco homens e uma mulher), com idade entre 28 e 52 anos (M=40,33; DP=9,22) e tempo de atuação como técnico variando entre nove e 29 anos (M=19,33; DP=8,41). Todos eram formados e pós-graduados em educação física. Ressalta-se que o regulamento da competição na qual foi realizada a coleta de dados permite somente a atuação de profissionais com registro no Conselho Regional de Educação Física (CREF). Participaram também 70 atletas de voleibol feminino com idades entre 15 e 18 anos (M=16,3; DP=1,03) e tempo de prática na modalidade variando entre dois e 11 anos (M=6,1; DP=2,36).
Na coleta de dados, empregou-se a Escala de Liderança no Desporto (ELD) nas versões autopercepção e perfil real. A ELD foi desenvolvida por Chelladurai e Saleh em 1980 e adaptada para a língua portuguesa por Serpa et al. em 1988 (Santos, 2009). O questionário é composto por 40 situações que apresentam cinco possibilidades de resposta em escala tipo Likert (de 1=nunca a 5=sempre). As perguntas são divididas em dois estilos e cinco dimensões. O estilo de decisão é composto pelas dimensões autocrática e democrática. O estilo de interação é composto pelas dimensões treino-instrução, suporte social e reforço positivo (Santos, 2009). A versão de autopercepção foi aplicada aos treinadores, questionando o que eles percebem sobre seu próprio comportamento de liderança. A versão de perfil real foi aplicada às atletas questionando o que elas percebem acerca do comportamento de liderança dos seus respectivos treinadores.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UDESC (62/2011) e os dados foram coletados durante os XXIV Joguinhos Abertos de Santa Catarina (2011), com autorização dos técnicos das equipes e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos técnicos e atletas. No caso de atletas menores de idade, foi solicitado o termo de consentimento assinado pelos pais ou responsáveis.
Análise de Dados
Na análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva e inferencial. O teste de normalidade Kolmogorov- Smirnov indicou a distribuição normal dos dados. Utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes com o objetivo de comparar a autopercepção de cada treinador com a percepção das respectivas atletas e foi usado o teste ANOVA OneWay com post-hoc de Tukey para diferenciar a percepção dos seis grupos de atletas sobre seus respectivos treinadores. Para todos os testes, utilizou-se o pacote estatístico SPSS 17.0 e considerou-se o nível de significância de 5%.
Resultados
Em benefício da comparação, as equipes foram numeradas de acordo com sua colocação final no campeonato. Pela comparação da autopercepção dos técnicos com o perfil real percebido pelas atletas, é possível observar uma correlação moderada/forte (valor de r variando de 0,69 a 1) de concordância entre as opiniões dos técnicos e das atletas no estilo de interação. A Tabela 1 apresenta os resultados do teste t de Student para amostras independentes, comparando a autopercepção dos treinadores com a percepção das atletas sobre os comportamentos de liderança dos treinadores em cada dimensão do estilo de interação, com destaque para treino-instrução e suporte social.
Os resultados das comparações entre a percepção dos grupos de atletas sobre seus treinadores nas dimensões do estilo de interação, realizadas pelo teste ANOVA OneWay, apresentaram diferenças significativas para as dimensões treino-instrução, (F=3,69; p=0,005), e suporte social, (F=6,45; p=0,000). Na dimensão treino- -instrução, as diferenças apontadas pelo post-hoc de Tukey entre a equipe 5 e as equipes 1, 3 e 4 foram p=0,020; 0,031; e 0,018, respectivamente. Na dimensão de suporte social, as diferenças encontradas entre a equipe 4 e as equipes 1, 2, 5 e 6 foram p=0,000; 0,001; 0,020; 0,002.
De acordo com a Tabela 2, é no estilo de decisão que se encontram as maiores diferenças entre a autopercepção dos técnicos e a percepção das atletas sobre eles. Nesse aspecto, destacam-se as equipes 1 e 2 no estilo democrático e as equipes 3 e 5 no estilo autocrático.
Considerando as dimensões de maneira geral, apurou- se que não existem diferenças significativas entre a percepção das atletas e a autopercepção dos treinadores nos quesitos de treino-instrução e suporte social. Assim, as diferenças estão entre as dimensões de reforço positivo, comportamento democrático e autocrático.
Os resultados das comparações entre a percepção dos diferentes grupos de atletas sobre seus treinadores apresentaram diferenças significativas nas duas dimensões do estilo de decisão. Na dimensão de comportamento democrático, (F=8,426; p=0,000), a percepção das atletas da equipe 4 sobre seu treinador apresenta a média mais baixa (M=2,39; DP=0,58), diferindo significativamente da percepção das atletas das equipes 1, 2, 5 e 6 (p=0,000; 0,001; 0,020; 0,002, respectivamente). Destacam-se também as médias elevadas na percepção das atletas das equipes 2, 5 e 1 sobre seus treinadores.
No comportamento autocrático, (F=10,019; p=0,000), a percepção das atletas da equipe 4 sobre seu treinador apresentou média de 2,80 (DP=0,56), significativamente superior ao valor médio da percepção das atletas das equipes 1, 2 e 5 sobre seus treinadores (p=0,007; 0,022; 0,000, respectivamente). A percepção das atletas da equipe 3 sobre seu treinador gerou média elevada de 3,14 (DP=0,44) e diferiu significativamente da percepção das equipes 2, 5 e 6 (p=0,00; 0,00; 0,007, respectivamente). Destaca-se a baixa média da equipe 5 (M=1,75; DP=0,6).
Discussão
A literatura tem demonstrado que os treinadores podem influenciar positiva ou negativamente seus atletas (Poczwardoski, Barott, & Jowett, 2006). Assim, a possibilidade desse profissional intervir, pontualmente, durante uma partida e no intervalo de jogo demanda forte relação de confiança com o atleta, o que pode ser determinante para o sucesso (Costa et al., 2006). Em pesquisa de Dignani (2007) com atletas de voleibol, 71,4 % dos participantes perceberam o comportamento do treinador como fator constante de influência em sua atuação. Segundo a autora, essa influência depende de como o treinador estabelece a comunicação durante a partida.
Os resultados apontam que existe uma correlação moderada/forte entre a autopercepção dos treinadores e a percepção das atletas sobre seus treinadores nos estilos de interação, com evidência para a dimensão treino-instrução. Essa dimensão se caracteriza por profissionais orientados ao treinamento com técnicas sobre habilidades, estratégias, enfatizando e facilitando a preparação rigorosa e coordenando as atividades dos membros da equipe (Santos, 2009). Os dados sugerem que treinadores e atletas concordam com a forma de condução dos treinos, o que pode ter forte influência sobre o desenvolvimento e desempenho individual e coletivo.
A exceção se verifica na equipe 3, na dimensão reforço positivo, em que o treinador se percebe com a média máxima (5,00) e as atletas lhe atribuem média de 4,04 (DP=0,32). O estudo de Lopes et al. (2004), realizado com atletas das categorias de base da seleção brasileira de voleibol, indica que as participantes veem como ideal a utilização das dimensões suporte social e treino-instrução, sendo que esta última também é a dimensão preferida e mais utilizada pelos treinadores (Costa et al., 2006; Cruz & Gomes, 2009; Khalaj et al., 2011; Loughead & Hardy, 2005).
No presente estudo, observam-se diferenças mais significantes no estilo de decisão, aproximando-se em parte dos dados levantados por Cruz e Gomes (2009), os quais apontam que as maiores diferenças entre a percepção dos técnicos e das atletas aparecem nas dimensões treino-instrução, autocrática e democrática. De acordo com a Tabela 2, as atletas das equipes 3 e 5 consideram seus treinadores mais autocráticos do que a autopercepção deles, resultado similar ao do estudo de Simões, Conceição, Câmara Neri, e Azevedo Junior (2006). Isso demonstra a tendência de o treinador descrever seu estilo como democrático, enquanto os atletas consideram seu estilo autoritário, provocando relações e reações de dependência relativamente fortes (tanto no sentido positivo quanto no negativo). No entanto, nas equipes 1 e 2, o comportamento democrático dos treinadores é percebido pelas atletas com médias elevadas quando comparado à autopercepção dos treinadores, assemelhando-se aos resultados de Sonoo et al. (2008). Esse caso poderia ser explicado pelo fato de as atletas admirarem seu líder ou, ainda, por perceberem as escolhas sem abertura à opinião como algo natural na liderança de seu treinador.
Embora o perfil de liderança mais relacionado com treinadores seja o que exprime a dimensão treino-instrução e comportamento autocrático (Costa et al., 2010; Loughead & Hardy, 2005), a literatura mostra que o treinador não precisa ser totalmente democrático ou totalmente autocrático (Dignani, 2007; Khalaj et al., 2011) – ainda que autores como Weinberg e Gould (2008) indiquem a preferência do sexo feminino por técnicos democráticos. O estudo de Cruz e Gomes (2009), realizado com técnicos de handebol, afirma que os treinadores tendem a utilizar o comportamento autocrático, enquanto os liderados preferem o comportamento democrático, tendência confirmada por Lopes et al. (2004) e Sonoo et al. (2008). Isso pode justificar parcialmente o melhor desempenho das equipes 1 e 2, pois esse comportamento torna ambas as partes mais coesas, aparentemente indo ao encontro da hipótese de que o desempenho motor e a satisfação dos atletas podem ser mais elevados quando a percepção do técnico coincide com a preferência dos atletas (Sonoo et al., 2008).
Analisando as dimensões e o resultado das equipes na competição, é possível inferir que as diferenças estão entre as dimensões de suporte social, comportamento democrático e autocrático. Verificou-se que, na dimensão de suporte social, a percepção das atletas da equipe 4 acerca do comportamento do seu treinador apresenta diferença frente à percepção das atletas das equipes 1, 2, 5 e 6. Nesse fator, o técnico se preocupa com o bem-estar dos atletas e tenta estabelecer relacionamentos afetuosos (Santos, 2009). As equipes 1 e 2 atingiram a maior média nessa dimensão, similarmente ao estudo de Gomes (2005), segundo o qual os melhores resultados se relacionam com treinadores com comportamento de reforço positivo e suporte social mais evidentes. Essas dimensões, juntamente com treino- -instrução, relacionaram-se com a satisfação de atletas profissionais da modalidade de skate (Khalaj et al., 2011). O estudo de Weiss e Friedrichs (1986) apontou que a satisfação dos atletas se liga às dimensões reforço positivo e suporte social. No entanto, o suporte social elevado também foi associado ao baixo desempenho da equipe na relação vitória/derrota. Hoshino, Sonoo, e Vieira (2007) verificaram que as equipes com melhores colocações em diversas modalidades dos Jogos da Juventude e Jogos Abertos do Paraná (2005) possuíam técnicos que utilizavam menos comportamento de suporte social, concordando com os dados apresentados pelos dois autores e contrariando os resultados desta pesquisa.
De acordo com os dados, é no estilo de decisão – autocrático e democrático – que se encontram as maiores diferenças entre a percepção das atletas sobre seus treinadores e a autopercepção deles. A dimensão de comportamento democrático possui vantagens, como alta racionalidade e posse nas decisões, melhor compreensão e melhor execução. Porém, tem desvantagens por demandar mais tempo para conhecer o grupo, necessitando de boa coesão grupal (Cruz & Gomes, 2009).
Sobre o comportamento autocrático, Sonoo et al. (2008) enfatizam que é o estilo mais aceito no contexto esportivo profissional, tanto pelos treinadores quanto pelos atletas. Contudo, as baixas médias apresentadas pelas equipes 1, 2 e 5 segurem que esse comportamento não é diretamente proporcional ao desempenho da equipe na competição.
Apesar de autores como Weinberg e Gould (2008) relacionarem a preferência feminina pelo estilo de decisão democrático, ainda não há consenso na literatura sobre o comportamento de decisão ideal. Para Khalaj et al. (2011), não há um estilo de liderança que seja o melhor em todas as circunstâncias. Há, porém, a necessidade de que o técnico se adapte à situação. Os atletas esperam ter um treinador competente do ponto de vista técnico, mas que não seja científico em excesso, que seja companheiro, amigo e cordial, justo no relacionamento com os integrantes da equipe (Brandão & Carchan, 2010). Espera-se que respeite as características individuais dos atletas e saiba lidar com cada um deles, deixando evidente o potencial e as limitações dos membros do grupo, assim como as expectativas que possui com relação a cada um (Dignani, 2007).
Verificou-se, também, que as seis equipes pesquisadas apresentam semelhança nas dimensões de treino- -instrução, suporte social e reforço positivo, ocorrendo diferenças no estilo de decisão. Sobre a percepção das atletas, o comportamento democrático do treinador tem forte relação com o resultado. Os dados nos possibilitam inferir que as equipes nas quais o treinador consegue expressar sua liderança com autocracia e ser percebido pelas atletas como democrático são mais eficazes.
Apurou-se que não há diferenças significativas entre as duas equipes mais bem colocadas, sugerindo que o comportamento adotado por esses treinadores, neste momento, tenha sido o mais eficaz. Também é possível inferir que, dados os comportamentos similares de comando dos técnicos campeão e vice-campeão, o quesito liderança não esteve entre os fatores que determinaram a vitória da equipe 1 sobre a equipe 2, provavelmente recaindo sobre os aspectos técnicos, táticos, físicos e demais fatores psicológicos.
Como limitação, deve-se considerar o fato deste estudo ter analisado somente o perfil de liderança dos treinadores das equipes. Múltiplos fatores que interferem no resultado esportivo (estrutura, investimento, condição das atletas) não foram analisados. Sugere-se, por fim, aplicar o mesmo instrumento em equipes masculinas, com outras faixas etárias, investigando o perfil de liderança dos técnicos e comparando os resultados com os levantados neste estudo.
Referências
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Recebido em janeiro de 2013
Reformulado em setembro de 2013
2ª reformulação em março de 2014
Aprovado em abril de 2014
Sobre os autores
Elisa Dell'Antonio: é Bacharel em Educação Física (UDESC). Mestre em Ciências do Movimento Humano (UDESC).
Mario Luiz Couto Barroso: é Graduado em Educação Física (UFSC). Especialista em Metodologia e Treinamento do Voleibol (UGF). Mestre em Ciências do Movimento Humano (UDESC). Professor Voluntário e Técnico da equipe de voleibol feminino da Universidade Federal de Santa Catarina.
1Endereço para correspondência: R. Pascoal Simone, 358, Coqueiros, 88080-350, Florianópolis-SC. E-mail: elisadellantonio@yahoo.com.br