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Avaliação Psicológica
versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431
Aval. psicol. vol.15 no.spe Itatiba ago. 2016
Aplicabilidade do Inventário de Depressão de Beck-II em idosos: uma revisão sistemática
Applicability of the Beck Depression Inventory-Ii in the elderly: A systematic review
Aplicabilidad del Inventario de Depresión de Beck-II en ancianos: una revisión sistemática
Irani Iracema de Lima Argimon1; Luis Henrique Paloski; Marianne Farina; Tatiana Quarti Irigaray
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RESUMO
Este estudo investigou o uso do Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) em idosos por meio de uma revisão sistemática. Além disso, objetivou-se caracterizar as amostras de idosos, se clínicas ou não, a finalidade do uso instrumento, bem como os locais de recrutamento dos participantes. Foi realizada a busca de artigos, por dois juízes, nas bases de dados indexadas na Medline, PsycINFO e Embase. Utilizaram-se as recomendações da Declaração Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses para essa revisão. A partir de critérios de inclusão/exclusão, foram recuperados e analisados oito artigos. Apenas um dos estudos não envolveu amostra clínica, o BDI-II foi utilizado com a finalidade de mensurar a intensidade dos sintomas depressivos em diferentes contextos, em estudos longitudinais e transversais. Os locais de recrutamento dos participantes foram, principalmente, em clínicas. Conclui-se que o BDI-II é um instrumento aplicável e sensível para a avaliação de sintomatologia depressiva em idosos.
Palavras-chave: inventário de depressão de Beck, depressão, idosos.
ABSTRACT
This study investigates the use of the Beck Depression Inventory-II (BDI-II) in the elderly through a systematic review. Additional objectives were to characterize the samples of elderly subjects, whether clinical or not, the purpose of using the instrument, as well as the location of recruitment of participants. Two referees performed the article search in the databases indexed in Medline, PsycINFO and Embase. The recommendations of the Declaration in Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses were used for this review. From inclusion/exclusion criteria, eight articles were retrieved and analyzed. Only one of the studies involved a nonclinical sample; the BDI-II was used for the purpose of measuring depressive symptom intensity in different contexts in longitudinal and transverse studies. Subject recruitment locations were predominantly in clinics. It follows that the BDI-II is an applicable and sensitive tool for assessment of depressive symptoms in the elderly.
Keywords: Beck inventory depression, depression, elderly.
RESUMEN
Este estudio analizó el uso del Inventario de Depresión de Beck-II (BDI-II) en ancianos, a través de una revisión sistemática. Por otra parte, también se investigó si las muestras de los ancianos eran clínicas o no, la finalidad del uso del instrumento y los lugares de reclutamiento de los participantes. La búsqueda de artículos fue realizada por dos jueces, en las bases de datos indizadas en la Medline, PsycINFO y Embase. Para esta revisión fueron utilizadas las recomendaciones de la Declaración Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses. A partir de criterios de inclusión/exclusión fueron recuperados y analizados ocho artículos. Sólo uno de los estudios no incluyó muestra clínica. El BDI-II fue utilizado con el propósito de medir la intensidad de los síntomas depresivos en diferentes contextos, en estudios longitudinales y transversales. Los lugares de reclutamiento de los participantes fueron principalmente las clínicas. Se concluyó que el BDI-II es un instrumento aplicable y sensible para la evaluación de la sintomatología depresiva en ancianos.
Palabras-clave: inventario de depresión de Beck, depresión, ancianos.
A depressão é um transtorno psiquiátrico, cujos principais sintomas são o humor deprimido e a perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades (Batistoni, 2008). É um problema comum em idosos. Embora tenha uma proporção considerável de casos, muitos deles não são diagnosticados e nem tratados por profissionais que trabalham com idosos, atribuindo como uma consequência do processo de envelhecimento normal (Cartaxo, Gaudêncio, & Lacerda, 2011; Diniz & Teixeira, 2014; Piccoloto, Wainer, Benvegnú, & Juruena, 2001).
Mesmo sabendo que a depressão é frequente na população de idosos, estima-se que os sintomas depressivos clinicamente significativos sejam mais frequentes (Barcelos-Ferreira, Izbicki, Steffens, & Botino, 2010). A prevalência de depressão em idosos varia de acordo com a metodologia, instrumentos e contexto das pesquisas. Segundo um estudo de revisão sistemática e meta-análise, a prevalência de episódio depressivo maior em idosos brasileiros que vivem na comunidade é de 7%, enquanto que a prevalência de sintomas depressivos é de 26% e de distimia é de 3,3% (Barcelos-Ferreira et al., 2010). A depressão é mais frequente em idosos institucionalizados e hospitalizados (cerca de 30%) (Batistoni, 2010).
Uma das ferramentas mais utilizadas para avaliar a intensidade de sintomas de depressão em populações clínicas e não clínicas é o Inventário de Depressão de Beck. A primeira versão das Escalas Beck no Brasil foi adaptada por Cunha (2001), e elas são compostas pelo Inventário de Depressão de Beck (BDI), Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), Escala de Desesperança de Beck (BHS) e a Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI). O BDI foi publicado em 1961 na Filadélfia e, gradualmente, tornou-se uma das ferramentas mais utilizadas para avaliar a intensidade dos sintomas de depressão em pacientes diagnosticados e para identificar casos prováveis de depressão em populações não clínicas (Andrade, Sesso, & Diniz, 2015; Campos & Gonçalves, 2015).
Especificamente em relação ao uso da primeira versão do BDI com idosos, verifica-se divergências quanto a sua confiabilidade na avaliação de sintomas depressivos em idosos (Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961; Cunha, 2001). O estudo de Trentini et al. (2005) ao comparar idosos com adultos em relação a sintomatologia depressiva no BDI, verificou que os idosos apresentaram escores significativamente maiores na subescala Somática e de Desempenho. Os autores desse estudo concluíram que se deve avaliar com parcimônia esse resultado, tendo em vista que o fator idade, o declínio natural e as doenças decorrentes do envelhecimento podem influenciar as respostas dessa população em função dos sintomas avaliados não serem necessariamente de depressão, e sim condições físicas decorrentes da fase do ciclo vital em que se encontram. Assim, pode-se pensar que ocorre um aumento gradual de sintomas depressivos com o avançar da idade, o que pode ser decorrência do envelhecimento biológico natural, em que há declínio nas capacidades físicas dos idosos, e não necessariamente da presença de sintomas depressivos (Machado, Ribeiro, Cotta, & Leal, 2011; Newmann, Klein, Jensen, & Essex, 1996).
A segunda versão do BDI, o BDI-II, foi publicado em 1996 e é um instrumento de autoaplicação, composto por 21 itens, com a finalidade de mensurar a severidade da sintomatologia depressiva (Beck, Steer, & Brown, 1996), sendo embasado no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais Quarta Edição (APA, 1994) da Associação Psiquiátrica Americana. A adaptação do instrumento no Brasil foi realizada em 2011. O manual sugere pontos de corte para avaliação da intensidade dos sintomas depressivos, sendo eles mínimo (0-13), leve (14-19), moderado (20-28) e grave (29-63) (Gorenstein, Pang, Argimon, & Werlang, 2011).
O BDI-II foi construído para avaliação da sintomatologia depressiva em pessoas a partir dos 13 anos, assim, o instrumento pode ser utilizado também com idosos (Goodkind et al., 2015), tendo em vista que, no envelhecimento, a depressão é uma problemática que necessita de instrumentos sensíveis para o adequado rastreio e possível intervenção. Nessa nova versão do instrumento, a proposta foi de preencher essa lacuna, sendo capaz de avaliar a sintomatologia depressiva em idosos de forma mais fidedigna, considerando as condições inerentes a essa fase do ciclo vital, em que há declínio natural das condições físicas e cognitivas (Tolea, Morris, & Galvin, 2015; Vivan & Bicca, 2015). Assim, essa nova versão divide-se em duas subescalas: cognitiva- afetiva (itens do 1 ao 13) e físicos-somáticos (itens do 14 a 21), sendo apropriada para o uso com idosos. Desse modo, este estudo teve o objetivo investigar o uso do BDI-II com o público idoso. Além disso, buscou-se caracterizar as amostras de idosos, se clínicas ou não, a finalidade do uso de instrumento e, ainda, os locais de recrutamento dos participantes.
Método
O presente estudo inspirou-se nas recomendações da Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta- Analyses (PRISMA), que visam orientar a elaboração de revisões sistemáticas da literatura e meta-análises na área da saúde humana (Moher, Liberati, Tetzlaff, & Altman, 2009). O primeiro passo foi formular a questão da pesquisa que consistiu em Qual o uso do Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II) em idosos?.
No processo de construção da string, foram realizados diversos testes com diferentes descritores a fim de encontrar uma que contemplasse o maior número de estudos sobre o assunto. Depois de realizar os testes com a string construída com a ajuda das ferramentas Term Finder da base PsycINFO e do índice Medical Subject Headings (MeSH) da base Pubmed/Medline, chegou- -se à conclusão que a string que mais retornou estudos foi: Beck Depression Inventory-II OR BDI-II AND ≥65 years, também foi utilizado o restritor para o período das publicações, sendo dos últimos três anos. Salienta-se que o uso das ferramentas Term Finder da base PsycINFO e do índice Medical Subject Headings (MeSH) da base Pubmed/Medline recuperam artigos em diferentes idiomas, não abrangendo apenas a língua inglesa. A fim de verificar a existência de revisões sistemáticas anteriores sobre o assunto, foram realizadas buscas na Cochrane Database of Systematic Review (CDSR), Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE). Nessas buscas, não foram encontrados estudos especificamente sobre a temática, envolvendo o uso do BDI-II em idosos.
A busca de artigos foi realizada por dois juízes, nas bases de dados indexadas na Medline, PsycINFO e Embase. As bases de dados Scielo e Redalyc não foram utilizadas porque os pesquisadores, nas buscas realizadas, não encontraram artigos que englobassem o uso do instrumento com idosos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão adotados.
Os critérios de inclusão utilizados foram os seguintes: 1. artigos empíricos; 2. envolver as duas variáveis: Inventário de Depressão de Beck (BDI-II) e Idosos; 3. língua inglesa, espanhola ou portuguesa. Esses critérios foram aplicados por meio da leitura do título e do resumo dos artigos. Os critérios de exclusão foram os seguintes: 1. estudos com outras fases do desenvolvimento, que não fossem idosos; e 2. estudos duplicados. Referente ao ano da publicação dos estudos, foi incluído o restritor de 01 de janeiro de 2013 a 12 de setembro de 2015 (últimos três anos).
Os pesquisadores analisaram, de forma independente, os artigos relevantes e emitiram parecer sobre a inclusão ou não desses na revisão. Nos casos em que houve divergências de parecer, foi contatado um terceiro juiz. Depois do processo de seleção dos estudos e definidos aqueles que seriam incluídos na revisão, os pesquisadores fizeram a tabulação dos dados. Na sequência, apresenta- -se um fluxograma (Figura 1) do processo de obtenção de artigos.
Resultados
Com a finalidade de apresentar as informações dos estudos incluídos na revisão sistemática, apresenta-se a Tabela 1. Ela reúne de maneira sintética, as autorias dos artigos, o ano da publicação, o país onde o estudo foi realizado, o número e o sexo dos idosos incluídos nas amostras, a média e desvio-padrão da idade, a escolaridade, a caracterização da amostra, se clínica ou não, e, por fim, a finalidade do uso do BDI-II no estudo.
No processo de busca de artigos nas bases de dados, foram encontrados 353 artigos, estando eles distribuídos da seguinte forma nas bases de dados: PsycINFO (107) Embase (128) Medline (118). Apesar do número expressivo de artigos encontrados (N=353), muitos deles foram excluídos em função de não avaliarem somente a população idosa, havia artigos com amostras de pessoas a partir de 13 anos, tanto saudáveis, quanto com algum diagnóstico de doença física ou mental. Por exemplo, vários estudos não categorizavam os resultados do BDI-II, fazendo uma média geral para participantes de 13 a 88 anos.
Conforme mostra a Figura 1, após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram oito artigos. Os artigos incluídos englobaram 1074 participantes, sendo 672 (63%) mulheres e 402 (37%) homens, com idades entre 60 a 90 anos (M=68,51 anos). Observou-se que em todos os artigos ocorreu a prevalência de mais mulheres do que homens, sendo que apenas um (Skorvanek et al., 2015) incluiu em sua amostra mais participantes do sexo masculino do que do feminino. Os participantes de sete estudos foram recrutados, em sua maioria, em clínicas que ofereciam atendimento para pessoas com doença de Parkinson e doença de Alzheimer (Buhse, Banker, & Clement, 2014; Carvalho, Tan, Springate, & Davis, 2013; Marquett et al., 2013; Matsui et al., 2013; Skorvanek et al. 2015; Williams, Kay, Rowe, & McCrae, 2013; Yamanishi et al., 2013).
Referente ao país de origem dos participantes, um deles é do Brasil (Zuppa et al., 2015) e os outros sete são estrangeiros. Sendo um deles da Eslováquia (Skorvanek et al., 2015), dois do Japão (Matsui et al., 2013; Yamanishi et al., 2013), e quatro dos Estados Unidos (Buhse et al., 2014; Carvalho et al., 2013; Marquett et al., 2013; Williams et al., 2013).
O nível de escolaridade dos idosos das pesquisas foi apresentada com média e desvio-padrão em quatro artigos, sendo que a média nesses estudos ficou em torno de 14 anos de estudo (Carvalho et al., 2013; Marquett et al., 2013; Williams et al., 2013; Zuppa et al., 2015). Dois estudos não apresentaram a escolaridade dos participantes (Matsui et al., 2013; Yamanishi et al., 2013). Outros dois estudos distribuíram a escolaridade dos indivíduos em categorias e não apresentaram a média e desvio padrão. No estudo de Skorvanek et al. (2015), 44% (n=38) dos idosos tinham baixa escolaridade, 36% (n=31) média e 20% (n=18) alta escolaridade. Buhse et al. (2014) organizaram a escolaridade dos participantes nas seguintes categorias: ensino médio 31% (n=66); curso superior não concluído 24% (n=51); curso superior concluído 21% (n=45); especialização, mestrado ou doutorado 23% (n=49).
Em relação à caracterização dos idosos, se clínico ou não, observou-se que apenas um estudo envolveu participantes saudáveis na sua amostra, em que o critério de inclusão era ter boa saúde, sendo excluídos os idosos que haviam usado algum fármaco (Zuppa et al., 2015). Esse estudo buscou verificar os efeitos da acupuntura na qualidade do sono, angústia psicológica e imunossenescência, sendo esta realizada em um instituto de geriatria e gerontologia.
A metade dos estudos (n=4) avaliou idosos com doença de Parkinson, um deles recrutou em um ambulatório de neurologia (Skorvanek et al., 2015) e os outros em quatro clínicas especializadas para tratamento da doença de Parkinson (Matsui et al., 2013; Yamanishi et al., 2013), ou com sinais precoces de doença de Alzheimer ou Declínio Cognitivo Leve (Carvalho et al., 2013). Ainda, um dos estudos trabalhou com idosos diagnosticados com depressão, recrutados da comunidade (Marquett et al., 2013). Outro envolveu participantes com distúrbio do sono, sendo os idosos do grupo clínico recrutados de um ambulatório de Terapia Cognitivo-Comportamental e os do grupo não clínico, da comunidade (Williams et al., 2013). Por fim, a pesquisa de Buhse et al. (2014) foi com idosos diagnosticados com esclerose múltipla, recrutados em quatro centros especializados no tratamento dessa doença.
No que diz respeito à forma de preenchimento do BDI-II, apenas o estudo de Buhse et al. (2014) ressaltou que os pacientes que não conseguiram preencher o instrumento sozinhos, receberam o auxílio de um terceiro.
Em três artigos o BDI-II foi utilizado com o intuito de avaliar a presença de sintomas depressivos em pacientes com Doença de Parkinson (Matsui et al., 2013; Skorvanek et al., 2015; Yamanishi et al., 2013). Em outros dois, o instrumento foi utilizado para avaliar o efeito de uma intervenção na redução de sintomatologia depressiva (Marquett et al., 2013; Zuppa et al., 2015). Os autores Williams et al. (2013) usaram o BDI-II para verificar os sintomas depressivos em grupo de idosos com e sem queixa de insônia. Outro estudo averiguou a intensidade da sintomatologia depressiva em idosos com esclerose múltipla (Buhse et al., 2014). Por fim, Carvalho et al. (2013) utilizaram o instrumento para investigar sintomas depressivos em idosos com declínio cognitivo leve e em idosos na fase inicial da Doença de Alzheimer.
Discussão
O principal objetivo deste estudo foi investigar a aplicabilidade do BDI-II com idosos, buscando caracterizar os participantes, se de grupo clínico ou não, a finalidade do uso do instrumento e os locais de recrutamento dos participantes. Como principal achado, verificou-se que a aplicabilidade do BDI-II ocorre tanto com idosos saudáveis quanto idosos de grupos clínicos, em diversos contextos. Dentre os grupos clínicos, verificou-se o uso do BDI-II com idosos com depressão, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, declínio cognitivo leve, distúrbio do sono e esclerose múltipla.
Verificou-se que apenas um estudo avaliou idosos saudáveis (Zuppa et al., 2015), sendo que todos os outros incluíram idosos de grupos clínicos (Buhse et al., 2014; Carvalho et al., 2013; Marquett et al., 2013; Matsui et al., 2013; Skorvanek et al., 2015; Williams et al., 2013; Yamanishi et al., 2013). Esse achado pode estar relacionado ao fato de que na velhice existe uma diminuição gradativa da capacidade funcional, que é inerente a essa fase do ciclo vital (Machado, Braga, Garcia, & Martins, 2012). A presença de três artigos com participantes com Parkinson mostra que as doenças neurodegenerativas são mais comuns no envelhecimento (Peter-Derex, Yammine, Bastuji, & Croisile, 2015; Shah et al., 2015), sendo que estas podem estar relacionadas à presença de sintomatologia depressiva. Uma hipótese de explicação para esse achado de um maior número de estudo com idosos clínicos, provavelmente, decorre do fato de que o estudo do envelhecimento saudável é algo ainda recente. Por muito tempo, os estudos focalizaram apenas aspectos patológicos do envelhecimento, relacionando depressão com uma parte natural deste fenômeno (Gatti, Witter, Gil, & Vitorino, 2015; Santos, Ribeiro, Rosa, & Ribeiro, 2015).
Na maior parte dos estudos, o BDI-II foi utilizado com o intuito de avaliar a presença e intensidade de sintomas depressivos em pacientes com doença de Parkinson (Matsui et al., 2013; Skorvanek et al., 2015; Yamanishi et al., 2013), doença de Alzheimer (Carvalho et al., 2013) e esclerose múltipla (Buhse et al., 2014). Em outros dois artigos, o instrumento foi utilizado para avaliar o efeito de uma intervenção na redução da sintomatologia depressiva (Marquett et al., 2013; Zuppa et al., 2015). Esses achados demonstram a aplicabilidade do instrumento tanto para verificar a eficácia de uma intervenção quanto para verificar a intensidade da sintomatologia depressiva em estudos transversais.
A maior parte da amostra dos estudos foi composta por mulheres e possuía um nível alto de escolaridade. Nenhum estudo incluído nessa revisão demonstrou relações significativas entre nível de escolaridade e sintomatologia depressiva. Essa alta prevalência de participantes do sexo feminino pode estar relacionado ao fato de que as mulheres tendem a ser mais longevas do que os homens (Machado et al., 2011) e serem mais propensas a desenvolver quadros depressivos.
No processo de construção desta revisão, avaliou- -se tanto a qualidade dos artigos, por meio do Extrato Periódico Qualis, quanto à confiabilidade do instrumento nos estudos. A confiabilidade do BDI-II foi apresentada pelo alfa de Cronbach em quatro artigos, sendo que em três deles (Carvalho et al., 2013; Skorvanek et al., 2015; Williams et al., 2013) ficou com o a=0,90 e em um α=0,88 (Marquett et al., 2013). Esses valores são considerados confiáveis, para os instrumentos psicológicos (Field, 2009), que devem apresentar acima de 0,70.
Referente ao Qualis dos estudos, a única revista que está disponível na plataforma Sucupira Web Qualis (2015) área Psicologia, foi o estudo brasileiro, em que a sua classificação é A2 e seu fator de impacto 2.030 (Zuppa et al., 2015). Os periódicos dos demais estudos apresentaram fator de impacto 2.395 (Skorvanek et al., 2015), 6.063 (Yamanishi et al., 2013), 1.127 (Matsui et al., 2013), 1.5 (Buhse et al., 2014), 1.93 (Carvalho et al., 2013), 1.751 (Marquett et al., 2013) e 5.416 (Williams et al., 2013). Com base nessas informações, pode-se inferir que os periódicos têm um alto fator de impacto (Bastos, 2010).
A utilização do BDI-II demonstrou-se adequada para o rastreio de sintomatologia depressiva em idosos. Tendo em vista que a depressão é uma das enfermidades de maior prevalência em idosos, o BDI-II mostrou ser um instrumento fidedigno para avaliar sintomatologia depressiva nessa população, tanto por medida preventiva, quanto para fins diagnósticos, tornando-se uma importante ferramenta para os psicólogos na construção das suas intervenções (Beck et al., 1996).
Outro ponto importante a ser salientado é que esta revisão contempla estudos de diversos países, em que utilizaram o BDI-II, em contextos distintos, que focam o processo de envelhecimento, tanto saudável quanto patológico, como doença de Alzheimer, declínio cognitivo leve, esclerose múltipla, doença de Parkinson. Apresentase como limitação desta revisão sistemática o fato dela não contemplar estudos em um período maior de anos. Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na construção deste estudo, defendendo a importância da existência de diferentes instrumentos sensíveis e validados para avaliar a sintomatologia depressiva em idosos.
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recebido em setembro de 2015
reformulado em maio de 2016
aprovado em agosto de 2016
Sobre os autores
Irani Iracema de Lima Argimon: é psicóloga, mestre em educação, doutora em Psicologia Clínica (PUCRS), professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Luis Henrique Paloski: é psicólogo e mestrando em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, bolsista CAPES.
Marianne Farina: é psicóloga e doutoranda em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, bolsista CAPES..
Tatiana Quarti Irigaray: é psicóloga, especialista em Psicologia Clínica, doutora em Gerontologia Biomédica (PUCRS), professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
1Endereço para correspondência: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Avenida Ipiranga, 6681, Partenon, 90619-900, Porto Alegre-RS. E-mail: argimoni@pucrs.br