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Avaliação Psicológica

versão impressa ISSN 1677-0471versão On-line ISSN 2175-3431

Aval. psicol. vol.18 no.3 Itatiba jul./set. 2019

https://doi.org/10.15689/ap.2019.1803.15246.12 

RESENHA

 

Avaliação Psicológica no Brasil: Caminhos e Possibilidades

 

 

Ellen Carolina de Paula Faria; Amanda Miranda Gomes de Azevedo; Eliana Santos de Farias

Universidade de Mogi das Cruzes, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência

 

 

A obra "Avaliação Psicológica: A atualidade da prática profissional" foi coordenada por Poliana Landin, Rayana Almeida e Andréia Roma. O livro publicado em 2017 pela Editora Leader é composto por 11 capítulos (155 páginas) que apresentam diferentes facetas da Avaliação Psicológica. Esse material é resultado do esforço coletivo de professores desse campo de estudo e apresenta a consolidação dos trabalhos realizados junto ao Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG) no Brasil.

A publicação tem como objetivos propiciar, por meio da compilação das experiências e estudos de profissionais da área, reflexão e fortalecimento dos saberes de Avaliação Psicológica em diferentes contextos. Além disto, este livro foi elaborado visando à possibilidade de sua utilização como material complementar ao estudo desse tema, que é considerado fundamental para a atuação dos psicólogos. Portanto, apresenta uma compilação de diferentes estudos envolvendo a Avaliação Psicológica, o que proporciona uma ampliação da visão sobre as possibilidades de atuação do psicólogo nesta área.

No livro são apresentados vários testes utilizados na área de Avaliação Psicológica. É importante ressaltar que há um sistema desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (2019a), o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) que avalia, por meio de uma comissão consultiva, a qualidade dos instrumentos a partir de um conjunto de pré-requisitos que os tornam favoráveis ou não para o uso dos profissionais. Dessa forma, dada a relevância do uso de testes com comprovações cientifica, serão informadas as situações dos testes quando estes forem citados no parágrafo, com base no SATEPSI. Para tanto, serão utilizadas as seguintes siglas: "TF", para testes favoráveis; "TD" para testes desfavoráveis; "NP" para instrumentos não privativos; "NA" para testes não avaliados pelo sistema e "NE" para testes não encontrados em nenhuma das listas, ou seja, testes ou escalas não submetidas à avaliação.

No primeiro capítulo, intitulado "Avaliação Psicológica como um processo: aspectos técnicos e éticos", a autora, Maria Cristina Barros Maciel Pellini, apresenta como objetivos: considerar as referências sobre avaliação psicológica e a produção de documentos nos diversos contextos em que ela pode ser utilizada, além de explorar as principais dificuldades técnicas e éticas encontradas tanto para avaliação quanto para os registros realizados. Utiliza informações de documentos emitidos pelo Conselho Federal de Psicologia (2005), como o Código de Ética Profissional do Psicólogo e a Resolução 007/2003 (Conselho Federal de Psicologia, 2003), para discutir o comprometimento que se espera dos profissionais psicólogos com a qualidade dos serviços prestados e os documentos escritos resultantes desse processo. Mostra-se relevante ressaltar, que o Conselho Federal de Psicológia (2019b) instituiu uma nova resolução com regras para elaboração de documentos escritos produzidos pelo psicólogo, sendo esta a Resolução 004/2019 que revoga a Resolução 007/2003.

Em continuidade, nesse capítulo, é ressaltado pela autora que, mais do que meramente um produto, o resultado da Avaliação Psicológica afeta o avaliado, o solicitante e toda a sociedade, bem como o reconhecimento da Psicologia enquanto ciência e profissão. Assim sendo, o profissional deve ser capacitado para realizar esse tipo de trabalho, atuar com ética e respeito à integridade humana, e cabe ao Conselho Federal de Psicologia zelar pela qualidade dos serviços prestados. Como conclusão de seu texto, a autora reafirma a necessidade de uma visão abrangente que considere o processo histórico e os determinantes envolvidos nos desafios e problemas da Avaliação Psicológica no Brasil.

No capítulo dois, "Avaliação Terapêutica: uma nova abordagem para o psicodiagnóstico", Philipe Gomes Vieira expõe a necessidade de tornar o psicodiagnóstico mais benéfico ao sujeito, fazendo com que ele seja mais ativo e tenha suas curiosidades respondidas ao longo do processo e, sendo assim, o objetivo é proporcionar reflexão sobre as possibilidades existentes para que essa necessidade seja atendida. A temática do texto gira em torno da exposição de uma proposta já existente de Avaliação Psicológica que "auxilie o cliente a esclarecer os conflitos por ele vivenciados", sendo essa proposta chamada de "Avaliação Terapêutica". Como conclusão, o autor postula que a Avaliação Terapêutica revela-se como uma experiência que possibilita o empenho do avaliando em mudanças referentes à sua realidade.

Já o terceiro capítulo da obra, escrito por Poliana Landin e Rayana Almeida enfoca a "Avaliação em Psicologia Positiva" e objetiva apresentar as possibilidades de avaliação nesse campo, no Brasil. Inicialmente, as autoras explanam sobre a Psicologia Positiva como um estudo do "funcionamento positivo e as potencialidades humanas" e, de acordo com elas, trata-se de uma temática em crescimento no país. Posteriormente, as autoras relatam que muitas pesquisas visam à produção de instrumentos para avaliação da Psicologia Positiva, sendo que há, atualmente, uma série deles validados para a população brasileira, tais como o Values in Action Inventory of Strengths VIA-IS, escalas disponibilizadas em livros e a escala dos Pilares da Resiliência. Os instrumentos citados não foram encontrados em nenhuma das listas disponíveis no SATEPSI. Por fim, as autoras relatam a aplicabilidade da Psicologia Positiva em diversos contextos, bem como citam a importância da realização de mais pesquisas sobre o tema.

Ana Cristina Resende apresenta "Os diferentes propósitos e métodos de avaliação da personalidade" no capítulo quatro do livro, objetivando expor as possibilidades de avaliação da personalidade em diferentes contextos. Após citar que "a investigação da personalidade é considerada uma das áreas mais consolidadas e desafiadoras na Psicologia", a autora relata que a avaliação da personalidade é solicitada, frequentemente, para seis propósitos e que tal construto é estudado a partir de quatro métodos diferentes. Cada tópico é apresentado e descrito pela autora. Ao final, Resende afirma que a avaliação da personalidade pode trazer contribuições relevantes em diversos contextos, sendo que cada método possui vantagens e desvantagens que devem ser considerados pelos psicólogos que realizam a avaliação.

Uma revisão de literatura é realizada no capítulo cinco, "Teste Palográfico: levantamento de publicações e pesquisas realizadas no Brasil nos últimos dez anos", escrito por Fábio Camilo. Neste, o autor objetivou apresentar uma descrição das principais publicações que tiveram por base o teste Palográfico. Inicialmente, ele contextualiza a avaliação psicológica e o uso de testes, citando que a aceitação do uso desses instrumentos melhorou após a Resolução 002/2003 do CFP, em que os testes passaram a ter que cumprir requisitos mínimos para serem utilizados. Em seguida, relata os avanços das publicações sobre o Palográfico (TF), o que gerou mudanças em seu manual. Camilo refere ainda sobre os estudos em que utilizam o teste e cita que os resultados demonstram a amplitude da utilização do palográfico,

Informações sobre um teste utilizado nos processos de seleção de pessoas é oferecido no capítulo seis da obra, intitulado de "Metodologia HumanGuide®: o impacto da personalidade na dinâmica e no desempenho de equipes". Nesse capítulo, com o objetivo de apresentar o teste (TF) e suas possibilidades de uso, a autora Giselle Mueller Roger Welter relata a influência da personalidade e da interação grupal para atingir resultados. Além disso, explora possibilidades de utilização dos dados para verificar aspectos da personalidade dos candidatos, bem como examinar a sinergia do grupo. Como conclusão de sua pesquisa, a autora afirma que o referido teste constitui um recurso válido para obter informações sobre a personalidade das pessoas e para simular o desempenho de equipes. É válido ressaltar que o referido instrumento é um teste disponibilizado on-line, de origem sueca, que foi traduzido e adaptado para o português. O teste apresenta parecer favorável pelo SATEPSI desde 2009 e possui aprovação de seus estudos de normalização até 2024.

Poliana Landim, Lucas Francisco Carvalho e Rayana Almeida trataram do assunto "Avaliação da Personalidade e Validade Incremental" no sétimo capítulo da obra, com o objetivo de explorar a contribuição da validade incremental na avaliação da personalidade. No que tange aos testes de avaliação da personalidade, existem dois tipos que são caracterizados pelos autores: expressivos e de relato, os quais podem apresentar baixa correlação, porém, tal fato não indica necessariamente que são contraditórios. Para verificação dos resultados dos testes, os autores propõe o uso da validade incremental, sendo que esta "refere-se à capacidade de uma medida para melhorar a capacidade preditiva de outra". Algumas dimensões desse conceito abrangente são caracterizadas pelos autores, que concluem que, na prática clínica e na pesquisa, tal validade se mostra como fundamental.

No oitavo capítulo do livro, "Avaliação Neuropsicológica Cognitiva Infantil e aplicabilidade instrumental clínica", escrito por Fernando José Silveira e Lariana Paula Pinto, são apresentados alguns dos instrumentos da Avaliação Neuropsicológica Infantil disponíveis para serem utilizados pelos psicólogos, com o objetivo de "apresentar os principais recursos utilizados, atualmente, na avaliação neuropsicológica no Brasil". Cada recurso apresentado pelos autores auxilia na avaliação de um ou mais destes construtos: inteligência, linguagem, atenção, memória, percepção, práxis, funções executivas e habilidades acadêmicas. Os instrumentos citados (WISC-IV (TF), SON - R 2½ - 7[a] (TF), Neupsilin-Inf (TF), THCP (TF), BPA (TF), TAVIS IV (TF), REY (TF), Benton (TF), Bender (TF), Tarefas para Avaliação Neuropsicológica de Linguagem e Funções Executivas em Crianças (NE), LPI (NE), TDE (NP), Teste de Compreensão Leitora (NE), Provas de Avaliação dos Processos de Leitura (NE) e Teste de Leitura (NE), Escrita e Aritmética (NE)) visam ampliar o conhecimento dos profissionais e auxiliá-los nas demandas clínicas e, assim sendo, fornecer opções comprovadamente científicas para a avaliação neuropsicológica infantil. Os autores concluem que há um repertório amplo de instrumentos que podem auxiliar os profissionais a perceber o funcionamento cognitivo das crianças atendidas.

"A Avaliação Psicológica e seus recursos como estratégias no processo de Orientação Profissional e de Carreira" (OPC) é tratado no capítulo 9 do livro, escrito por Lariana Paula Pinto e Fernando José Silveira. Tal capítulo tem como objetivo expor alternativas para o processo de orientação profissional e de carreira, apresentando instrumentos que podem ser utilizados para esse fim. Os autores fazem uma breve contextualização sobre o homem e o mundo do trabalho, para depois citar os objetivos da orientação profissional e discorrer sobre a aplicação da avaliação psicológica nesse processo de escolha. Por fim, apresentam alguns instrumentos utilizados na OPC, tais como: a Escala de Aconselhamento Profissional (TF), o teste de avaliação dos Interesses Profissionais (TF), o Teste de Fotos de Profissões (TF), a Escala de Maturidade para a Escolha Profissional (TF) e a Escala de Autoeficácia para a Escolha Profissional (TF). Os autores apresentam como conclusão a importância da ampliação de estudos na área para tornar a avaliação mais confiável e eficaz.

Lucas Dannilo Aragão Guimarães trata no capítulo 10 um tema de interesse na área da Psicologia Forense: a detecção da mentira, sendo este intitulado "Detecção da mentira na perícia psicológica forense: vieses, indicadores não verbais e metodologias". O autor, com o objetivo de apresentar os principais vieses na metodologia pericial de detecção de mentira, expõe alguns dos indicadores verbais e não verbais que auxiliam na detecção do comportamento intencional de mentir. Os indicadores não verbais são explorados pelo autor e se referem às mudanças nas reações do corpo e das expressões da face quando um indivíduo está mentindo. Nesse capítulo, são citados dois tipos de mentira (ocultação e a falsificação), as técnicas que podem ser utilizadas para a identificação da mentira pelos peritos e os vieses que podem nublar a percepção do profissional, influenciando dessa forma a detecção do ato de mentir. Por fim, o autor afirma que "os métodos de detecção da mentira no contexto psicológico pericial são classificados basicamente em indicadores verbais e não verbais [...]". Contudo, para identificação da mentira, é necessário que o profissional considere as variáveis e o contexto envolvidos nesse fenômeno, pois não há um único indicador que seja exclusivo do comportamento de mentir.

No último capítulo, "Dados do perfil psicológico de agressores sexuais infantis através do Psicodiagnóstico de Rorschach" (TF), o autor Handersenn Shouzo Abe apresenta um percurso histórico para fornecer informações sobre o perfil psicológico de agressores sexuais. No decorrer do capítulo, o autor delineia o perfil psicológico de sete agressores sexuais de crianças a partir do teste de Rorschach. Com a análise dos resultados dos participantes, foi constatado que a maioria dos sujeitos tem dificuldades para reconhecer outras pessoas, dificuldades de controlar seus impulsos sexuais e má introjeção do conteúdo materno. O autor finaliza ressaltando a importância de mais pesquisas na área, visando a prevenção da formação de indivíduos agressores sexuais de crianças ou, pelo menos, um melhor controle sobre eles e seus impulsos.

A leitura da obra de Landin, Almeida e Roma se faz relevante e é recomendada aos estudantes e profissionais que buscam o aprendizado ou atualização nos estudos em Avaliação Psicológica, pois apresenta uma visão geral sobre esse campo de estudo, desde as questões éticas até a questões técnicas envolvidas no processo, apresentando também instrumentos que podem ser utilizados com variados objetivos, como para psicodiagnóstico, avaliação psicológica da personalidade, recrutamento e seleção de pessoal, avaliação neuropsicológica, orientação profissional, dentre outros. Apesar de caracterizada pelas coordenadoras como uma obra de caráter complementar, o livro traz informações significativas e reflexões pertinentes sobre as facetas da avaliação Psicológica. Dessa forma, as autoras trazem, em uma linguagem técnica, porém de fácil compreensão, um livro interessante e atrativo para ser lido, sendo uma leitura apropriada que pode ser adotada em disciplinas de graduação em Psicologia para apresentar aos estudantes a extensão e as possibilidades da área de Avaliação Psicológica.

 

Referência

Landin, P., Almeida, & R., Roma, A. (Orgs.) (2017). Avaliação Psicológica: A atualidade da prática profissional. São Paulo, SP: Leader.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia (2003). Resolução CFP Nº 007/2003. Brasília: Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia (2005). Resolução CFP Nº 010/05. Brasília: Conselho Federal de Psicologia.         [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia (2019a). Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI). Recuperado de http://satepsi.cfp.org.br        [ Links ]

Conselho Federal de Psicologia (2019b). Resolução Nº 4 de 11 de Fevereiro de 2019. Diário Oficial da União.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Ellen Carolina de Paula Faria
Av. João Batista de Santana, 1357
Bandeira Branca, Jacareí, SP 12323-360
Email:ellenec.faria@outlook.com; amandaa_gomes@hotmail.com; elianass@gmail.com

Recebido em fevereiro de 2018
Aprovado em maio de 2019

 

 

Nota sobre os autores
Ellen Carolina de Paula Faria é psicóloga pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). E-mail: ellene.faria@outlook.com
Amanda Miranda Gomes de Azevedo é psicóloga pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). E-mail: amandaa_gomes@hotmail.com
Eliana Santos de Farias é psicóloga (UBC), mestre, doutora e pós-doutoranda em Psicologia (PUC-Campinas), docente de Psicologia (CUSC), SP. Contato: elianass@gmail.com. Centro Universitário São Camilo / Rua Raul Pompia, 144, Pompia, São Paulo, SP, Brasil.

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