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Estudos e Pesquisas em Psicologia
versão On-line ISSN 1808-4281
Estud. pesqui. psicol. v.6 n.1 Rio de Janeiro jun. 2006
ARTIGOS
A contribuição da abordagem clínica de Louis Le Guillant para o desenvolvimento da Psicologia do Trabalho
The contribution of the Louis Le Guillant's clinical approach for the development of the Labor Psychology
Paulo César Zambroni de Souza*, I; Milton Athayde**, II
I Universidade Federal de Itajubá
II Universidade do Estado do Rio de Janeiro
RESUMO
Neste artigo, propusemo-nos a apresentar – a partir da história das questões do campo psi na França – elementos para a discussão acerca da Psicologia do Trabalho. Entendemos que a tradição da denominada Psicopatologia do Trabalho, em suas diversas linhagens, configura-se como uma das vias de desenvolvimento da análise (psicológica) do trabalho. A vida e a obra do psiquiatra francês Louis Le Guillant levantou questões – no período que vai da década de 1940 até a de 1960 – que são ainda hoje absolutamente relevantes, no campo da Psicologia e da Psicopatologia do Trabalho. Faremos, de início, uma apresentação de seus feitos enquanto psiquiatra, a seguir trataremos de suas pesquisas e propostas no referido campo. Ao lado disto, vamos realçar as proposições que Le Guillant levantou a partir de cada uma de suas iniciativas, entendendo que sua prática e sua teorização podem trazer luz a alguns problemas que enfrentamos atualmente.
Palavras-chave: Psicologia e psiquiatria social, Psicologia do trabalho, Psicopatologia do trabalho, clínica do trabalho, Psicoterapia institucional.
ABSTRACT
In this paper we aim to present – from the history of the psi questions in France – elements for discussion about labor psychology. We understand that the tradition entitled “labor psychopathology” in its several possibilities, is one of the ways to develop the labor psychological analysis. The life and work of the french psychiatric Louis Le Guillant arose questions – from the decade of 1940 until the decade of 1960 – that are still absolutely relevant nowadays in psychology and labor psychopathology. Initially, we will present his goal as a psychiatrist, then we will detail his researchers and approaches in this field. Besides that, we will stress the propositions that Louis Le Guillant addressed from each of his approaches, concluding that his theory and practice may enlighten some recent daily problems.
Keywords: Social Psychology and Psychiatry, Labor psychology, Labor psychopathology, Labor clinic, Institutional psychotherapy.
O psiquiatra francês Louis Le Guillant (1900-1968) é considerado (DEJOURS, 1980; CLOT, 1996a; DORAY, 1996) um dos principais líderes de um grupo de fundadores da Psicopatologia do Trabalho (e da Psicoterapia Institucional) na França, apresentando um pensamento original sobre as relações subjetivas dos seres humanos no seu meio de trabalho e na vida. Neste sentido, pode-se considerar que ele contribuiu para o desenvolvimento de uma importante abordagem clínica em Análise do Trabalho, ainda muito pouco explorada em suas potencialidades, no Brasil.
Considerando os desafios emergentes da crise econômica capitalista (desemprego estrutural e tecnológico) e das transformações tecnológico-organizacionais, entendemos que nos cabe ampliar/reconceituar o trabalho e afirmar sua centralidade, desvelando-o como terreno fundamental das contradições e das invenções (ATHAYDE, 2004). Com este artigo, pretendemos colaborar para inventariar as contribuições da Psicologia em matéria de Análise do Trabalho, conforme propõe Clot (1999).
A primeira referência que tivemos de Le Guillant se deu na década de 1970, na busca de uma abordagem “concreta” do “drama” humano (POLITZER, 1928/1974), no campo da Psicologia e Psiquiatria Social, quando enveredávamos pela linhagem da Psicoterapia e Análise Institucional (LOURAU, 1975). A segunda referência marcante veio em 1980, no livro de Dejours: Travail: Usure Mentale: essai de psychopathologie du travail (publicado no Brasil em 1987). Posteriormente, novamente o encontramos em textos do campo da Psicopatologia do Trabalho (DORAY, 1987). A partir daí, a vontade de melhor compreender a vida e a obra de Le Guillant vem se ampliando, assim como os materiais disponíveis: em 1984, foi publicada uma coletânea de seus textos – Quelle psychiatrie pour notre temps? Travaux et écrits de Louis Le Guillant. Nos anos 90, o autor que mais nos fez manter o interesse foi Clot (1992; 1995; 1996a), assim como Billiard, que publicou em 2001 sua tese de doutorado sobre a emergência da Psicopatologia do Trabalho (PPT). Este conjunto de textos foi a base de nossos estudos, parcialmente apresentado neste artigo.
Reiteramos que não se trata de texto de especialistas como historiadores, nem de uma tese elaborada sobre o autor. Nosso método de trabalho, entretanto, deve ser assinalado. A partir do momento em que fomos afetados por Le Guillant, vimos procurando um contato exaustivo com sua produção, através da coletânea de textos escolhidos (no citado livro publicado em 1985), e de outros de seus escritos, que buscamos levantar em revistas francesas (por exemplo, L’Évolution Psychiatrique, Information Psychiatrique e La Raison). Utilizamos também obras de seus parceiros mais próximos (sejam psiquiatras de sua geração, como Paul Sivadon, ou da geração seguinte, como Lucien Bonnafé, com quem criara a revista La Raison, incentivados por Henri Wallon), seus contemporâneos de debates (como foi o caso de F. Tosquelles, líder da clássica experiência de Saint Alban e da constituição da Psicoterapia Institucional, em ambos os casos na companhia de Bonnaffé) ou seus comentadores e críticos, assim como daqueles que buscam hoje explorar suas potencialidades, entre os quais Doray e Clot. Entre os autores brasileiros, encontramos um reduzido número de referências, sendo a primeira em Seligmann-Silva (1986), depois em Codo, Sampaio e Hitomi (1993) e, em seguida, em Lima (1998; 2002) e Merlo (2002). Analisamos cada um dos textos referidos, cruzamos as informações entre si e, sempre que necessário, com a história da França e internacional, no século XX. Assim, temos procurado compreender suas experiências e proposições teórico-metodológicas e práticas, o impacto de suas idéias, situando-as historicamente, assim como sua história de vida, seu estilo de pensamento e suas filiações filosóficas e políticas (inclusive partidárias, como sua relação com o Partido Comunista Francês - PCF).
1. A PRESENÇA DE ABORDAGENS CLÍNICAS DO TRABALHO NA HISTÓRIA DAS RELAÇÕES ENTRE PSICOLOGIA E TRABALHO, NA FRANÇA
Na Europa, em particular na Inglaterra e na Holanda, desde a década 1940, já estava na pauta a questão da ‘neurose industrial’, da ‘frustração no trabalho’. Pode-se então registrar (BILLIARD, 1996) o atraso da França neste debate. Entretanto, sua entrada se dá de forma, a nosso ver, muito fecunda.
Para entender o lugar de Le Guillant na Psicologia do Trabalho, podemos nos aproximar seja de textos mais antigos, como os de Reuchlin (1971), ou mais específicos sobre análise do trabalho, como o de Leplat (1993), seja dos manuais de Psicologia do Trabalho mais recentes, como os de Guillevic (1993) e Levy-Leboyer e Sperandio (1987), além de textos de autores externos à disciplina, como os de Torbiaux (1993). Preferimos destacar o Seminário sobre história da Psicologia do Trabalho organizado no ano universitário 1994-1995, por Yves Clot (que organizou sua publicação em 1996), como um evento que reuniu materiais decisivos para esclarecer a herança francesa e compreender os problemas contemporâneos desse campo disciplinar, assim como a relevância da modalidade de Psicologia do Trabalho, aqui em foco.
Já na apresentação desse livro com as intervenções no Seminário, Clot – à distância de qualquer pretensão de unificação superficial – ensaiava uma periodização provisória (1996b, p. 12-13):
a) no período que envolve as duas guerras mundiais, encontramos a presença do conjunto – heterogêneo e contraditório – das iniciativas psicotécnicas;
b) entre os anos 50 e o fim dos anos 70, além da continuidade das psicotécnicas, seguindo uma de suas heranças, encontramos a constituição de uma linhagem extraordinária da análise do trabalho (Psicologia Ergonômica e Análise Ergonômica do Trabalho), patrimônio cuja grandeza ainda não tem, em Psicologia do Trabalho, no Brasil, um aproveitamento e produção à altura. Entretanto, chamamos aqui atenção para um elemento decisivo: nasce, neste mesmo período, sob influência de Le Guillant e outros, uma modalidade original de Análise do Trabalho, sob a denominação mais freqüente de Psicopatologia do Trabalho;
c) no período seguinte, ainda em curso, lado a lado com outras vertentes – como as que se costuma designar por Psicologia Social e Psicossociologia do Trabalho, além da Ergonomia e da Psicologia Ergonômica (que, sob influência da Psicologia Cognitiva, se diversificaram) – encontramos outras correntes, como a Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, Davezies, Cru) e a Clínica da Atividade (Faïta, Clot), apresentando um significativo desenvolvimento.
Vamos, neste artigo, – tendo Le Guillant como intercessor – apresentar para análise esta abordagem, cuja proveniência pode ser registrada desde o início do século XX, emergindo nos anos 50 (Billiard, 1996; 2001; Doray, 1987; 1996).
2. LE GUILLANT E A FUNDAÇÃO DA PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO (PPT)
Os textos1 considerados de fundação da Psicopatologia do Trabalho (PPT) na França são de autoria de Paul Sivadon e de Louis Le Guillant. Sivadon, também psiquiatra de destaque em todo esse processo (desde a ‘Revolução Psiquiátrica’ dos anos 20-30 na França), publicou em 1952 um artigo intitulado “Psycho-pathologie du Travail”, onde esta é considerada como um “[...] prolongamento direto da Psiquiatria hospitalar, da Ergoterapia e da readaptação [...]” (BILLIARD, 2001, p.178). Em paralelo, um ano antes, isto é, em 1951, Le Guillant já havia feito uma importante intervenção no Symposium de Bonneval, intitulada “Psychologie du Travail” (texto ao qual retornaremos), e, em 1954, publicou, na mesma revista (L'Evolution psychiatrique), outro artigo, intitulado “Introduction à une Psichopathologie Sociale”.
Na intervenção/texto de 1951/52, que tem como objeto a Psicologia do Trabalho, Le Guillant, sem meandros, critica a Psicotécnica, “paralisada por um objetivismo esperto e prudente”. Este investimento crítico e sua fertilidade não param aí. Sua abordagem vai se apresentar e desenvolver contra aquela modalidade de Psicologia do Trabalho, então predominante na França, na medida em que a Psicotécnica teria dado as costas para as questões pertinentes à subjetividade e à vida social. Conforme Clot (2000), entendemos que vai se configurando um fecundo programa teórico-metodológico-investigativo, “centrado na condição social de alienação em que se exerce a atividade profissional” (p. 324), uma “clínica nova” (buscada por um grupo de psiquiatras, como Le Guillant, Sivadon e Veil), “uma clínica e um método de análise melhor ajustados a manifestações psicopatológicas em sua relação com o trabalho” (BILLIARD, 2001, p. 173). O que Le Guillant procurou enfatizar, entretanto, não foi a condição social patogênica em si, mas acima de tudo as contradições, incompatibilidades e conflitos que essa condição contém e que ela tenta impor ao sujeito. Ou seja, o humano nunca está apenas passivo, reduzido à condição em que ele se encontra, pois que elas não só suscitam resistências como atividades inesperadas.
Por outro lado, emerge uma questão pertinente ao ângulo de análise que incide no contemporâneo, pois estamos convivendo em um meio social de trabalho em que não mais se duvida ou recusa a mobilização psíquica dos trabalhadores, ao contrário, com freqüência crescente se a prescreve. O que esta abordagem clínica permite-nos visualizar é que, paradoxalmente, os mecanismos e forças da mobilização desejada, muitas vezes, podem ser melhor compreendidos através dos impedimentos, tropeços e fracassos de mobilização a que são tão freqüentemente submetidos os trabalhadores. Isto que Clot (2000), agregando autores como Vigotski, designa por introduzir “as potências do negativo na análise do trabalho” (p. 325). Ou seja, o que essa abordagem propõe e toda uma linhagem clínica de análise do trabalho vai explorar é uma crítica a toda conceituação reducionista de atividade de trabalho, buscando ampliar o conceito, chamando atenção para sua complexidade, seu caráter contraditório, hoje explorados por diversas perspectivas,na França (SCHWARTZ; CLOT; DEJOURS; DAVEZIES; ZARIFIAN)2.
Além desse feito, ele colocou questões em seu tempo, seja na esfera da Psicologia do Trabalho, do campo da Saúde do Trabalhador e do que chamamos hoje de Reforma Psiquiátrica, fazendo experiências e pesquisas, apontando para problemas que permanecem ainda sem solução. Tendo a clareza de que visitar a vida e a obra deste personagem de nossa história poderia lançar luz sobre tais problemas, no início da década de 1980, constituiu-se na França um grupo para estudar e fazer um levantamento de sua obra. Publicaram em 1984 uma coletânea com 25 de seus textos, intitulada Quelle Psychiatrie pour notre temps? Travaux et écrits de Louis Le Guillant.
O delineamento desse campo de pesquisa e intervenção em nosso país devemos a Edith Seligmann-Silva, por ela denominado Saúde Mental e Trabalho. Sua parceria junto ao movimento sindical de São Paulo (principalmente via DIEESE e DIESAT) foi decisiva, publicando em 1986 um artigo que se tornou histórico – “Crise econômica, trabalho e saúde mental” – no qual apresenta este novo campo e em seu interior a PPT. O primeiro autor por ela citado é exatamente Le Guillant, com uma rápida análise da contribuição do grupo que ele liderava. Consideramos que esse artigo de Seligmann-Silva, entre outros fatores, preparou o terreno para a receptividade e sucesso editorial do primeiro livro de Dejours, “Loucura do trabalho” no Brasil, somente publicado no ano seguinte (1987). No artigo de 86 ela destacava, sumariamente, o lugar de Le Guillant como fundador da PPT.
A partir de então, verificamos o crescimento desse campo no Brasil, com a formação de diversos grupos de ensino, pesquisa e intervenção. Mais recentemente, alguns artigos têm sido publicados, fazendo referência a Le Guillant, como os de Lima (1998; 2002) e Merlo (2002). Entretanto, no campo mais amplo da Saúde Mental, envolvendo a chamada Reforma Psiquiátrica, a Psicoterapia Institucional e suas derivações anteriormente, já havia referências a Le Guillant, dado seu papel fundador, também aí, como figura destacada da corrente francesa da ‘Revolução Psiquiátrica’ desde as décadas de 1920-1930 (LOURAU, 1970/1975, p.181).
3. NOVAS INVESTIGAÇÕES SOBRE OS PROCESSOS DE SAÚDE/DOENÇA MENTAL E TRABALHO
Em um de seus encaminhamentos profissionais (pois ele teve um papel importante também quanto à saúde mental na infância), Le Guillant cada vez mais se aproximou dos mundos do trabalho, de situações que acontecem fora de instituições psiquiátricas, propondo idéias em dissonância com aquelas apregoadas pela Sociologia americana e pela Psicanálise de então, percurso em parte possibilitado por um movimento realizado pela Psiquiatria Social.
De fato, a Psiquiatria Social do fim da década de 1940 na França passou a realizar uma reflexão sobre o lugar da Psiquiatria na sociedade. Desta maneira, não mais se restringiu a um movimento de transformação dos hospitais psiquiátricos e à criação de estruturas extra-hospitalares para tratar de doentes mentais. Ela foi para a sociedade, preocupada em criar um ambiente de maior aceitação ao doente mental e em prevenir futuros problemas dessa ordem. Voltou-se para os grupos societários e os mundos do trabalho, aproximando-se de outras categorias profissionais no campo da saúde (como das enfermeiras) e, em especial, dos médicos do trabalho (BILLIARD, 2001, p.139). Com isto, psiquiatras como os já citados buscaram conhecer – para denunciar e intervir – as condições de vida (individuais e coletivas), supostamente capazes de provocar ou agravar problemas mentais. Quanto a Le Guillant, como psiquiatra de esquerda, ligado ao PCF (ao qual filiou-se em 1947, influenciado pela luta na Resistência), militava no sindicato de médicos psiquiatras e mantinha proximidade com alguns sindicatos (CGT), o que levou a aumentar seu interesse pelas condições de trabalho de algumas profissões e a levantar problemas de ordem psicopatológica que nelas se apresentavam (BILLIARD, 2001, p. 269). Assim, ele aproximou três campos de saberes até aí distintos: mundos dos trabalhadores, Medicina do Trabalho e Psiquiatria, realizando um ‘casamento’ pouco freqüente entre a “consciência operária e a ciência dos doutores” (DORAY, 1996, p.126). Este casamento, embora raro, pareceu-nos capaz de produzir bons frutos, como o que aconteceu na década de 1960, com o Movimento Operário Italiano de luta pela saúde, quando se criou um dispositivo para compreender-transformar a nocividade presente nas situações de trabalho, em que dialogaram experiência e conceito, em uma “Comunidade Científica Ampliada”. Um encontro e uma prática atentos à produção de subjetividade no trabalho, à “psicologia não escrita”, colaborando de forma decisiva para a constituição de “uma outra psicologia do trabalho”, tendo em Ivar Oddone e Alessandra Ré seus representantes mais ilustres (ODDONE, RÉ; BRIANTE, 1976/1981).
Le Guillant procurou desenvolver pesquisas no campo do que se passou a denominar “Psicopatologia do Trabalho” (PPT), sempre levando em consideração uma perspectiva sociogenética dos problemas mentais. Buscava estabelecer conexão entre os problemas psicopatológicos, as condições de existência e as situações vividas pelo doente. Desejava, assim, estabelecer verdadeiros nexos causais que ligassem fatos realmente vividos em um determinado ambiente a uma situação concreta de adoecimento. Assim, poderia realizar o que chamou de “nova clínica”, que levasse em consideração situações reais de vida e trabalho.
Essa compreensão da psicopatologia, sob influência de uma dada leitura do marxismo, pretendia estar embasada no materialismo dialético, o que permitiria articular indivíduos e fatos sociais. No entanto, Le Guillant acabou inicialmente aceitando uma diretriz do PCF e buscando, mesmo que por um curto período, uma adesão absoluta às teses pavlovianas, de modo que toda “manifestação psicopatológica” foi entendida, neste período, apenas como um reflexo do condicionamento social e das condições de trabalho (BILLIARD, 2001, p.206). O psiquismo, nesta concepção, de fato não participa ativamente do processo dialético, ficando apenas em uma posição de passividade frente aos fatos sociais. Seus primeiros trabalhos em PPT tiveram essa marca, da qual somente se libertou mais tarde, com uma aproximação da perspectiva fenomenológica.
3.1 - A “neurose das telefonistas”
O pós-guerra foi palco de urgências de recuperação, onde a ‘batalha pela produção’ e modernização das empresas, configurando uma industrialização sem precedente, baseada no taylorismo, fez-se acompanhar de ganhos salariais. Após a crise política de 1947, a França adere ao Plano Marshall, introduzindo um novo modelo de desenvolvimento, no interior do qual as ‘elites’ dos mundos do trabalho foram aculturados via “Missões de Produtividade” nos EUA. Cada vez mais a luta exclusiva no plano salarial ampliou a distância com relação aos problemas emergentes do trabalho concreto, da atividade. Na perspectiva predominante, tratava-se de investigar as ‘resistências à mudança’ e os problemas de ‘motivação’. Neste quadro fala-se de novas patologias, decorrentes da modernização e da ‘fadiga nervosa’.
É nesse contexto que se movimenta o que se tornou a PPT. Em 1956, Le Guillant apresentou no artigo “La névrose des téléfonistes” (La Presse Médicale, nº 64), a pesquisa que realizara (com colaboradores), no serviço piloto de Villejuif, a partir de suas relações com a CGT, a respeito da profissão de telefonista. No ano seguinte, publicou o artigo “Quelques notes méthodologiques a propos de la névrose des téléfonistes” (Les Conditions de Vie et Santé), onde é muito claro em suas críticas à Medicina, falando da conexão entre condições de vida-trabalho e problemas de saúde. Nesse texto, afirmava que a Medicina freqüentemente se equivocava, de forma decepcionante, ao não considerar adequadamente aquela conexão (DORAY, 1996, p.126-127).
No texto de 1956, apresentava as descobertas a que chegara, ainda hoje absolutamente pertinentes: descrevia o que denominou a “síndrome subjetiva comum da fadiga nervosa”, caracterizada por fadiga, astenia, levando a uma diminuição da capacidade de concentração no trabalho e uma influência negativa (“intoxicação”) na vida pessoal pela repetição de palavras e gestos do trabalho fora do contexto laborativo. Descrevia também a “síndrome geral de fadiga nervosa”, quadro polimórfico envolvendo “problemas do humor e do caráter”, manifestando-se por uma “crise de nervos” no trabalho e por impaciência com o marido e os filhos, intolerância ao ruído, além de, em um terço dos casos, aparecerem sintomas depressivos importantes. Evidencia também, com a pesquisa, diversas alterações no sono (hipersonia diurna, insônia noturna, adormecimento tardio, pesadelos), efeitos que se evidenciavam fora da situação de trabalho, mas que acabavam por levar a uma queda no rendimento profissional, além de situações difíceis na vida pessoal. Por fim, Le Guillant relatava uma série de perturbações somáticas (uma “rebelião fisiológica”) que revelariam um sofrimento em decorrência das exigências das situações de trabalho e das formas de gerência, tais como palpitações, tremores, algias precordiais, cefaléias, vertigens, náuseas, problemas gástricos, entre outros.
Le Guillant afirma que a síndrome acima descrita não seria exclusiva das telefonistas, mas, ao contrário, poderia ser encontrada em pessoas em atividade de trabalho, cujas condições fossem objetiva ou subjetivamente penosas ou, ainda, que exigissem um ritmo excessivamente rápido de operações.
Na compreensão de Doray (1996, p. 126-130), seria preciso ler estes dois artigos em contraponto, permitindo vir à tona a estratégia de Le Guillant. No primeiro (publicado em – La Presse Médicale – revista médica prestigiosa e muito lida), não atacava a Medicina e, ao contrário, apresentava os resultados batizando o primeiro dos quatro pontos que definiam o quadro de “perturbações dominantes”: tratar-se-ia de uma “síndrome” que, apesar de sua definição imprecisa, teria em seus sinais possibilidade de mensuração rigorosa, existindo um fundo comum frente à singularidade, o que permitiria um rigor epidemiológico. E mais, a meta onde pretendia de fato chegar, de forma autorizada: esta síndrome poderia estar sendo compartilhada por trabalhadores, vítimas de um mesmo modo de exploração.
É o mesmo Doray quem nos chama atenção para um a priori transgressivo, colocado em prática nesta pesquisa: dava-se confiabilidade à perspicácia das principais interessadas, as telefonistas. Sua palavra viva, seu testemunho, era incorporado, em busca de dar conta da hipercomplexidade da situação concreta da sua atividade.
Continuando na tentativa de estabelecer rigor científico e tomando como base a orientação da ‘ciência soviética’ (ou seja, a ‘ciência’ oficial de Estado, a mesma que desautorizara a obra de Vigotski e outros), Le Guillant vai recorrer à teoria e ao método dos reflexos condicionados de Pavlov. Se, por um lado, esta orientação teórica possibilitou-lhe atentar para as condições do meio de vida e de trabalho, por outro, acabou por limitar suas possibilidades de análise, visto desconsiderar uma série de elementos que dizem respeito, no caso das telefonistas, a questões da sexualidade, de gênero, etc. Posteriormente, com o refinamento de sua capacidade de observação e reflexão, somada a um gradual afastamento do PCF, Le Guillant passou a utilizar elementos da fenomenologia como ferramenta importante na compreensão psicopatológica.
Antes de efetuar essa transição, ainda sob a orientação da reflexologia, após publicar com Jean Bégoin em 1957 o artigo “Les névroses des mécanografes” (Bulletin de Psychologie, n. 10), Le Guillant escreveu, no ano seguinte, o prefácio à tese do próprio Bégoin, intitulada O Trabalho e a Fadiga: a Neurose das Telefonistas e dos Mecanógrafos. Os dois autores afirmavam que a análise da fadiga deveria considerar três planos: fisiológico, psicoafetivo e psicossocial, sempre tomando como ponto de partida o trabalho e as relações objetivas ali criadas, entre o trabalhador e o mundo específico do seu trabalho. Embora considerassem os três planos acima descritos, afirmavam que os problemas de ordem individual simplesmente refletiriam o que vem das relações de trabalho no mundo objetivo (BILLIARD, 2001, p.210).
Nesse texto, ao falar da necessidade de rapidez nas operações das telefonistas, eles afirmavam que era necessário que elas estivessem “enervadas”, nervosas, para que o trabalho ocorresse na velocidade necessária. Neste sentido, as doenças por elas enfrentadas seriam necessárias para o bom andamento do trabalho. Deste modo, mesmo operando nos limites desta abordagem, já na década de 1950, Le Guillant levantava em suas pesquisas questões (na esfera da PPT) ainda hoje consideradas válidas, visto que os trabalhadores implicam-se subjetivamente em seu trabalho (SCHWARTZ, 1988), e que na realização de tarefas repetitivas e rápidas surgem diversas desordens em seu funcionamento. Pior, conforme antecipado por Le Guillant: o sofrimento psíquico pode ser explorado pelo capital como forma de aumentar a produtividade (DEJOURS, 1980).
3.2 - A pesquisa sobre a condição de empregada doméstica
Nos anos 60, encontra-se a França em um novo momento, com a terrível e cruel guerra da Argélia (pela sua independência do colonialismo francês) chegando ao fim. Quanto aos mundos do trabalho, questões pertinentes ao transporte aéreo e férreo (nos quais, a França tornou-se uma referência), a pilotagem de aviões e trens emergem como as demandas mais importantes. A abordagem pavloviana revela então sua capacidade explicativa esgotada, conjuntura em que empreendem diversas tentativas de fundar a PPT em base psicanalítica (BILLIARD, 1996). Vejamos como se movimenta Le Guillant.
Em 1963, ano em que Le Guillant rompe finalmente com o PCF (DORAY, 1996), ele publica em L’Evolution Psychiatrique um artigo para nós fundamental: “Incidentes psicopatológicos da condição da empregada doméstica”. Trata de um assunto que já havia anunciado em 1961, em uma conferência junto ao grupo que editava aquela revista – como registra Doray (1996). Na audiência, estava a nata da Psiquiatria, de extração burguesa, que, como ele, fazia uso desse tipo de trabalhadora – onde apresentara, sem complacência, a situação de ‘alienação social’ destas trabalhadoras.
Interessou-se por esse assunto ao perceber o grande número de empregadas domésticas, faxineiras, originárias de uma região específica da França (como o nordeste brasileiro), entre as pessoas que se internavam em Villejuif. Nesse estudo, apesar de Le Guillant não abandonar sua vontade de adesão ao materialismo histórico e reafirmar que a sociogênese das doenças mentais seria soberana sobre a psicogênese, utiliza-se de elementos da abordagem de Karl Jaspers, especificamente o que este chamava de “compreensão simultaneamente fenomenológica e objetiva” (BILLIARD, 2001, p.222).
Partindo da análise de sua história e das condições concretas de trabalho, ele evidencia nesse estudo a relação de subordinação da trabalhadora com relação a seu patrão, particularmente marcante no caso das empregadas domésticas, sendo tomada como ponto fundamental na análise.
Le Guillant considerou inicialmente as condições de trabalho das domésticas para entender o surgimento de seus sintomas, condições que as deixavam sem horário que limitasse sua jornada, dormindo em quartos absolutamente desconfortáveis, com baixos salários. Nem seu nome original era respeitado, alterando-o de modo a facilitar a comunicação com os filhos dos patrões. Somava-se a isto o fato de que grande parte delas era de filhas de imigrantes. Essas condições formavam uma “gestalt social”3, trazendo consigo uma situação de humilhação capaz de gerar um intenso ressentimento que surgiu como um elemento novo na avaliação de Le Guillant, na medida em que considerou esse ressentimento – subjetivo e não mais apenas objetivo (como os elementos que apareciam em suas análises anteriores) – fundamental na formação de sintomas dessas mulheres. Vemos aqui mostras do uso de elementos teóricos que vão mais longe do que poderia alcançar apenas com as ferramentas de Pavlov. Le Guillant pontua um importante avanço metodológico: as análises ‘subjetiva’ e ‘objetiva’ em Psiquiatria não deveriam ser duas coisas distintas, seria fundamental considerá-los como dois aspectos indispensáveis em toda análise psicopatológica.
Segundo sua compreensão, aquele ressentimento alimentava-se do fato dessa trabalhadora dirigir seu trabalho a alguém que não reconhecia seu valor. Aqui vemos novamente a importância das descobertas de Le Guillant para a nascente PPT. Vemos também sua capacidade de fazer descobertas, cuja validade ultrapassam seu tempo, pois que vamos encontrar, a partir dos anos 90, com a Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS, 1995), a relevância da “dinâmica do reconhecimento” para a saúde mental.
O ressentimento seria então o ponto de partida para a formação de seus sintomas. Esse ressentimento, fundado no ódio que sentia por ver-se humilhada, produzia na doméstica efeitos nefastos, visto que essa hostilidade transformava-se em uma grande culpa alimentada por uma ambivalência de sentimentos, frente a seus patrões. Assim, apesar do ódio e do ressentimento, essas jovens viviam esses sentimentos de maneira conflituosa, visto não serem aceitos por sua formação moral e religiosa. Em decorrência disto, voltavam-se contra elas mesmas na forma de sintomas. Para Le Guillant era como se, apesar de todo sofrimento, não lhes fosse permitido ocupar um lugar que não o da submissão frente aos patrões, utilizando-se de Hegel4, (“dialética do senhor e do escravo”), como outro elemento teórico para tentar compreender a psicopatologia das empregadas domésticas. Conclui dizendo que a difícil tarefa da Psiquiatria seria compreender como a passagem da vivência de uma dada situação leva a uma determinada alteração psicopatológica.
3.3 - As pesquisas sobre condutores de locomotiva
Ainda no contexto antes assinalado, em 1964, ele apresentou na Faculdade de Medicina de Paris as “Reflexões sobre uma Condição de Trabalho Particularmente Penosa dos Agentes de Condução de Locomotivas de Grande Velocidade: a V.A.C.M.A.(Vigília Automática de Controle de Manutenção de Apoio)”, uma pesquisa encomendada pelos trabalhadores da SNCF (grande empresa francesa de transporte ferroviário), que relatavam estar entrando em um estado de grande sofrimento devido àquela inovação tecnológico-organizacional: um mecanismo que obrigava os condutores a acionar, com os pés ou as mãos, o rearmamento de um dispositivo automático a cada cinqüenta e cinco segundos; caso ele não o fizesse soava uma estridente campainha. Além disto, o dispositivo teoricamente permitia que a locomotiva fosse operada por apenas uma pessoa, o que levaria ao perigoso isolamento o piloto e ao desemprego os segundos condutores, par que tradicionalmente dirigia o trem. Alegavam que isto era a gota d’água, pois trabalhavam em condições absolutamente insalubres, com altas temperaturas, espaço limitado, intensos ruídos, irregularidade de horários que levavam à impossibilidade de ter sono regular, trazendo uma série de alterações fisiológicas. Queixavam-se de solidão e graves problemas familiares, além da quase inexistência de amigos (LE GUILLANT, 1984, p. 216-217).
Ele tentou inicialmente utilizar o mesmo método de análise da pesquisa das telefonistas. Ao identificar os diversos níveis de complexidade que o problema dos condutores apresentava, concluiu que aquele método não daria conta, neste contexto. Posteriormente, declarou ser praticamente impossível demonstrar rigorosamente o caráter penoso e nocivo dessa condição de trabalho, apesar de tal condição ser incontestável, inegável – o que, como lembra Clot (2000), foi depois confirmado pela análise ergonômica e antropotecnológica efetuada por Wisner (1985, p.28).
Frente a essa dificuldade, Le Guillant recorreu novamente à análise de base fenomenológica, utilizando a noção de “gestalt”, entendida aqui como “[...] configuração global da experiência” (LE GUILLANT, 1984, p. 217). Essa noção veio no sentido de tentar compreender uma profissão em sua globalidade, entendendo todos os aspectos intrínsecos a um determinado posto de trabalho, contrapondo-o aos outros postos e às outras profissões. No caso dos condutores de trem, tratar-se-ia de compreender todas as operações deste profissional e todas as condições nas quais esta profissão se exercia, conforme citamos acima, assim como compreender que lugar essa profissão ocupava na sociedade e, por conseguinte, o reconhecimento que ela recebia.
No caso dos maquinistas, sua análise registrava a presença de “hipovigilância”, que, agregada à fadiga oriunda de ritmos perturbados, gerava a “angústia do sono”. Ou seja, configurava-se uma condição social global, que se expressaria através da rejeição do dispositivo VACMA, ressentimento expresso, por exemplo, quando falavam de seu descontentamento com a supressão do segundo homem na cabine, gerando a perigosa solidão. Destaca-se ainda nesta pesquisa o quanto Le Guillant apontou um caminho de compreensão, ao aceitar o desafio da complexidade com que se deparou (CLOT, 2000). Ousou assinalar que a atividade realizada por estes trabalhadores – identificáveis em seus modos operatórios observáveis – não dava conta do real da atividade, pois o que escapa ao próprio trabalhador e ao observador é muitas vezes uma parte importante da atividade de trabalho em seu caráter complexo e contraditório.
4 - CONCLUINDO
Neste artigo, pretendemos ter colaborado para o inventário das contribuições em matéria de Análise (psicológica) do Trabalho, de compreensão da função psicológica do trabalho. Procuramos fazê-lo através de mais uma aproximação, em língua portuguesa, sobre a obra desse genial pesquisador e combatente pela vida que foi Louis Le Guillant. Infelizmente, sua morte no ano tão simbólico de 1968, interrompeu o progresso de suas pesquisas, que ficaram como herança e como porta de entrada, tanto para uma dada modalidade de Psicologia e Psicopatologia do Trabalho (aqui indicada), quanto para a Reforma Psiquiátrica e o campo da Saúde do Trabalhador – a serem apresentadas em outro artigo. Destacamos aqui seu esforço por evitar a neutralização e naturalização da atividade de trabalho, recusando o fetichismo operatório em que uma certa Psicologia do Trabalho a colocou e mantém. A este desafio, Le Guillant nos agrega outro a ser enfrentado, que também remete ao caráter contraditório da vida. Enfrentemos os desafios frente aos quais Le Guillant não recuou, e avancemos nos problemas que hoje nos instigam.
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Endereço para correspondência
Paulo César Zambroni de Souza
E-mail: paulozamsouza@yahoo.com.br
Milton Athayde
E-mail: miltonathayde@uol.com.br
Recebido em: 03/05/2005
Aceito para publicação em: 16/11/2005
NOTAS
* Doutor em Psicologia Social, Professor Adjunto da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI.
** Docente do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Psicólogo, doutor em Engenharia de Produção e Ergonomia pela COPPE/UFRJ. Pós-doutor pelo Département d'Ergologie - Análise Pluridisciplinar de Situações de Trabalho, Université de Provence, França.
1 Fora do campo específico aqui focado, Le Guillant anteriormente publicara: “Une expérience de réadaptation sociale institué pour les événements de guerre” (L’Higiène Mentale, 1946-1947, nº 6) ; “Objet et méthode de la neuropsychiatrie” (L’Évolution psychiatrique, 1948, XII, [3] : 95-133) e “Le psychiatre et l’enfance” (La Raison, nº 1, 1951). No ano de 1954 publicou, ainda na revista La Raison, os artigos: “Delire centré sur um membre fantôme chez um hémiplégique gauche par lésion vasculaire avec anosognosie” (HECAEN, H.; AJURIAGUERRA, J. de; LE GUILLANT, L.; ANGELERGUES, R. In : L'Evolution psychiatrique, 1954, XIX (2) : 273-279) e “La notion de ‘type nerveux’” (LE GUILLANT, L.; ANGELERGUES, R. In : L'Evolution psychiatrique, 1954, XIX (3) : 507-538).
2 Na medida em que estes autores serão citados no decorrer do artigo, dispensamo-nos agora de referenciá-los. Por outro lado, entendendo que eles já têm uma considerável produção disponível, dispensamo-nos de indicá-la em sua integridade, servindo os textos indicados como ponto de partida para os leitores interessados.
3 A expressão “gestalt social” remete à influência sobre muitos psiquiatras, naquele período, da Fenomenologia e do Gestaltismo (BILLIARD, 2001).
4 Doray chama atenção para os limites na incorporação teórico-metodológica do marxismo por Le Guillant – “digamos claramente: a relação de Le Guillant com o marxismo, por exemplo, decorria mais da referência (ou da reverência) do que de um trabalho no interior da própria teoria” (DORAY, 1987, p 127).