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Revista Psicologia Organizações e Trabalho
versão On-line ISSN 1984-6657
Rev. Psicol., Organ. Trab. vol.20 no.1 Brasília jan./mar. 2020
https://doi.org/10.17652/rpot/2020.1.Editorial
Qualidade da redação científica: desafio à formação de pesquisadores e à publicação
Quality of scientific writing: a challenge for training researchers and for publishing
Calidad de la escrita científica: un desafío para la formación de investigadores y la publicación
Roberto Moraes CruzI; Jairo Eduardo Borges-AndradeII; Daniela Campos Bahia MosconIII; Marcos Ricardo Datti MichelettoIV; Marina Greghi SticcaV; Mary Sandra CarlottoVI; Germano Gabriel Lima EstevesVII; Paola Barros DelbenVIII
IEditor-Chefe - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
IIEditor Sênior - Universidade de Brasília (UnB)
IIIEditora Associada - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
IVEditor Associado - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP)
VEditora Associada - Universidade de São Paulo (USP)
VIEditora Associada - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
VIIEditor Júnior - Universidade de Rio Verde (UniRV)
VIIIEditora Júnior - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
A publicação de um artigo representa, para muitos profissionais e estudantes em programas de formação de pesquisadores, a etapa final de um projeto científico, realizado, geralmente, com base em estudo meticuloso e análise de dados exaustiva. No Brasil, considerando o fato de que a maior parte dos projetos de pesquisas são concebidos e executados sob os auspícios de universidades, muitos deles com financiamento público, há a expectativa de que a produção de conhecimento resultante desses projetos siga as condutas éticas esperadas, contribua na promoção de novos conhecimentos ou intervenções úteis à comunidade e seja comunicada em veículos científicos considerados relevantes.
Cientistas, profissionais e estudantes frequentemente usam a linguagem falada para elaborar, descrever e comunicar ideias. Na linguagem escrita há, de fato, um maior distanciamento entre aquele que escreve e o destinatário da produção escrita. Por isso, a necessidade de uma linguagem formal, pensada e planejada antecipadamente. A linguagem escrita possibilita sistematizar conhecimentos atuais e pregressos, estimular a reflexão crítica com base em processos de análise e síntese de achados construídos ou em construção, relacionar e interligar evidências, alimentar o volume de conhecimentos disponíveis em base de dados e acessados a todo momento, além de documentar a propriedade intelectual daqueles que publicam.
Assim, a linguagem escrita é parte integrante da produção e divulgação do conhecimento científico e, portanto, de se fazer ciência. Produzir a comunicação escrita é um imperativo ético e profissional, especialmente para aqueles em posições acadêmicas. O uso dos documentos escritos disponibilizados em periódicos científicos serve, não somente para comunicar resultados das pesquisas realizadas, mas para validar os conhecimentos produzidos e auxiliar em ações ou tomada de decisão no caso de problemas que necessitem desses conhecimentos.
É possível verificar, entretanto, nas revisões sucessivas realizadas por editores e pareceristas, ao longo do processo de avaliação de forma, mérito e conteúdo dos artigos enviados aos periódicos científicos, fragilidades na linguagem e escrita técnico-científica, além dos costumeiros problemas gramaticais. É perceptível, também, o pouco processo de maturação da escrita nos artigos submetidos às revistas, muitas vezes identificada por meio do uso de frases isoladas, carência de argumentos, uso de expressões do senso comum, perda de foco/objetivo, dificuldades na análise e síntese dos achados, imprecisões conceituais, inconsistências na linguagem escrita, dentre outros aspectos. No caso da rPOT, por razões idênticas, são arquivados artigos em sua fase inicial de avaliação, especialmente quando acompanhados da ausência de aderência do estudo ao escopo da revista.
Esses aspectos levantam a hipótese da dificuldade em promover o ensino e a desenvolver habilidades para o uso da redação científica no processo de formação de graduandos e pós-graduandos, seja para construir argumentos ou relatar evidências produzidas por meio de comunicações científicas. É necessário, portanto, promover habilidades para filtrar as informações mais importantes, pensar o que se pretende escrever, redigir e rever exaustivamente o texto elaborado, considerando o conjunto de prescrições e regras que determinam o uso correto da língua escrita. Todas essas habilidades, quando desenvolvidas, aumentam consideravelmente as chances de se produzirem comunicações científicas com maior qualidade redacional.
A equipe da rPOT tem se esforçado em prover informações importantes aos autores acerca dos problemas formais, técnicos e redacionais identificados nos artigos encaminhados à publicação. Problemas esses que comprometem o conteúdo e os achados derivados da produção científica. Com o processo de intensificação das publicações em língua estrangeira, o processo de revisão de manuscritos deverá se acentuar, impondo desafios à internacionalização da rPOT e à manutenção da qualidade de seu processo de editoração. A rPOT pretende continuar oferecendo informações relevantes à comunidade, por meio da publicação de manuscritos científicos que expressem a diversidade da produção científica em Psicologia das Organizações e do Trabalho e áreas afins.
O ano de 2019 foi profícuo em publicações na rPOT. Foram quatro volumes com um total de 41 artigos, com aumento de cerca de 25%, em média, em relação aos números dos anos anteriores. A intensificação no ritmo das publicações reflete a necessidade de aprimorar o processo de gestão da rPOT, visando reduzir o tempo entre a submissão, aprovação e publicação dos manuscritos, garantindo a qualidade das publicações científicas.
O primeiro número da rPOT, em 2020, traz a publicação de 12 manuscritos, com uma variedade importante de assuntos e metodologias, brevemente descritos, a seguir.
Work engagement and job crafting of brazilian professionals investigou as relações entre condições de trabalho, desenho do trabalho e engajamento no trabalho em dois grupos de profissionais, destacando o papel dos preditores e fatores que influenciam o engajamento no trabalho. Pathological personality as predictor of work engagement, job satisfaction, and burnout in a community sample verificou a capacidade preditiva do Indicador de Personalidade Patológica (IPP) sobre engajamento no trabalho, satisfação com o trabalho e Burnout, identificando a importância em avaliar traços de personalidade nos processos de contratação e na promoção de bem-estar no trabalho. Gerenciamento do comportamento seguro para manutenção da vida na Estação Antártica Brasileira analisou aspectos do comportamento seguro nas operações de abastecimento para manutenção da vida (OPAMV) na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), durante o inverno, apontando fatores humanos com potencial para redução riscos de acidentes e adoecimentos no contexto polar antártico. Prevalência de transtornos mentais comuns em servidores técnico-administrativos em educação analisou a relação entre adoecimento psíquico, atividade de trabalho e prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) em servidores da educação, apontando o trabalho como fonte de adoecimento psíquico entre os servidores que participaram da pesquisa. Cargas de trabalho na saúde do controlador de tráfego buscou associar aspectos sociodemográficos e cargas em profissionais de tráfego aéreo, lotados no Aeroporto Marechal Hugo da Cunha Machado, em São Luís (MA) e sua influência na tomada de decisão frente aos procedimentos e operações de trabalho. Inventário de Competência Adaptativa: adaptação e evidências de validade junto a trabalhadores brasileiros buscou identificar evidências de validade da estrutura interna, convergente e de consistência interna do Inventário de Competência Adaptativa (ICA) em trabalhadores brasileiros. (In)civilidade no trabalho: medidas e modelos desenvolveu, adaptou e verificou evidências de validade para os construtos de civilidade e incivilidade no trabalho, no contexto brasileiro. Inventário de Socialização Organizacional: estudo propositivo de nova estrutura fatorial reavaliou as propriedades psicométricas do Inventário de Socialização Organizacional (ISO) e propôs um instrumento reformulado: o ISO-R. Tradução e validação da Escala de Autoliderança para o contexto brasileiro apresenta a adaptação e as evidências de validade do Revised Self-Leadership Questionnaire (RSLQ) para o contexto brasileiro. Evidências de validade para a Escala de Alegria no Trabalho reuniu evidências de validade da Escala de Alegria no Trabalho no contexto brasileiro, identificando correlações positivas com satisfação no trabalho, engajamento no trabalho, comprometimento organizacional afetivo e afetos positivos dirigidos ao trabalho. "Isso já está superado!" A justificação do preconceito no setor bancário buscou analisar como se manifestam as estratégias de justificação e negação do preconceito em organizações bancárias no sul do estado de Minas Gerais, que possuem programas de gestão da diversidade. Voluntariado e formação da identidade: reflexões a partir da Psicodinâmica do Trabalho buscou refletir sobre os alinhamentos conceituais que podem ser observados entre a concepção do papel central do trabalho na formação da identidade e as retribuições subjetivas identificadas no voluntariado.
Aproveitem a leitura e as reflexões!