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Revista de Psicologia da IMED

versão On-line ISSN 2175-5027

Rev. Psicol. IMED vol.11 no.2 Passo Fundo jul./dez. 2019

https://doi.org/10.18256/2175-5027.2019.v11i2.3166 

ARTIGO EMPÍRICO

 

Percepção da Imagem Corporal e Estado Nutricional de Adolescentes

 

Perception of the Body Image and Nutritional Status in Adolescents

 

Percepción de la Imagen Corporal y Estado Nutricional de los Adolescentes

 

 

Larissa Mecca ChagasI; Nathalia Guarezi FerreiraII; Valeria HartmannIII; Daiana Argenta KümpelIV

IUniversidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, Brasil. E-mail: larissa_meccachagas@outlook.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5337-0695
IIUniversidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, Brasil. E-mail: 151337@upf.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7942-3668
IIIUniversidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, Brasil. E-mail: vhartmann@upf.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5558-9877
IVUniversidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, Brasil. E-mail: daianakumpel@upf.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2670-5714

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A adolescência é um período marcado por mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, as quais podem afetar a percepção da imagem corporal, além de estar associada ao aumento da insatisfação com a imagem corporal. O objetivo do estudo foi verificar a associação entre a percepção e a insatisfação da imagem corporal com o estado nutricional de adolescentes de um colégio estadual. Realizou-se um estudo transversal com adolescentes do sexo feminino na faixa etária de 15 a 19 anos. Utilizou-se dois instrumentos: o Body Shape Questionnarie (BSQ) e a Escala de Silhuetas de Stunkard, além de serem submetidas a uma avaliação antropométrica. Foram avaliadas 120 adolescentes com média de idade de 16±1,1 anos, mostrando prevalência de insatisfação com a imagem corporal em 83,3%, já em relação a percepção da imagem corporal 60% das adolescentes apresentavam algum grau de distorção. Diante dos achados conclui-se que a maior parte das adolescentes apresentava Índice de Massa Corporal (IMC) dentro dos parâmetros ideais, entretanto, muitas se consideravam insatisfeitas com a sua imagem corporal, ou seja, elas apresentam uma imagem negativa e distorcida de seu próprio corpo, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares.

Palavras-chave: imagem corporal, estado nutricional, adolescente, distorção da percepção


ABSTRACT

Adolescence is a time marked by physical, psychological and behavioral changes, which may affect the perception of body image, besides being associated to an increased dissatisfaction towards the body image. The objective of this study was to verify the association between the perception and dissatisfaction towards the body image, and the nutritional status of teenagers in the state school. A cross-sectional study has been performed on female adolescents between 15 and 19 years old. Two instruments were used: the Body Shape Questionnaire (BSQ) and Stunkard's Silhouette Scale, aside from an anthropometric evaluation. The study has analyzed 120 adolescents with an average age of 16±1,1 years old, showing a prevalence of dissatisfaction with the body image in 83,3%. Now, towards the perception of body image, 60% of the teenagers presented some degree of distortion. Given the discoveries, it has been concluded that most of the adolescents presented a Body Mass Index (BMI) within the ideal parameters, nevertheless, many of them considered themselves as dissatisfied with their own body image, that is, they presented a negative and distorted image of their own bodies, which may lead to the development of eating disorders.

Keywords: body image, nutritional status, adolescent, distortion of perception


RESUMEN

La adolescencia es un período marcado por cambios físicos, psicológicos y comportamentales, que pueden afectar la percepción de la imagen corporal, además de estar asociada al aumento de la insatisfacción con la imagen corporal. El objetivo del estudio fue verificar la asociación entre la percepción y la insatisfacción de la imagen corporal con el estado nutricional de adolescentes de un colegio estadual. Se realizó un estudio transversal con adolescentes del sexo femenino en el grupo de edad de 15 a 19 años. Se utilizaron dos instrumentos: el Body Shape Questionnarie (BSQ) y la Escala de Siluetas de Stunkard, además de ser sometidas a una evaluación antropométrica. Se evaluaron 120 adolescentes con media de edad de 16 ± 1,1 años, mostrando prevalencia de insatisfacción con la imagen corporal en el 83,3%, ya en relación a la percepción de la imagen corporal el 60% de las adolescentes presentaban algún grado de distorsión. En la mayoría de los adolescentes presentaba índice de masa corporal (IMC) dentro de los parámetros ideales, sin embargo, muchas se consideraban insatisfechas con su imagen corporal, o sea, ellas presentan una imagen negativa y distorsionada de su propio cuerpo, pudiendo llevar al desarrollo de trastornos alimentarios.

Palabras clave: imagen corporal, estado nutricional, adolescente, distorsión de la percepción


 

 

A Organização Mundial da Saúde (1986) define a adolescência como o período de vida de 10 a 19 anos, e das fases do desenvolvimento humano é considerada a mais significativa para a estruturação da imagem corporal, por se tratar de um período marcado por mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. Tais mudanças podem influenciar na avaliação que o adolescente possui a respeito de sua imagem, envolvendo a percepção que se possui quanto ao tamanho e às formas corporais, tendo a preocupação excessiva com o peso, um dos principais fatores associados ao aumento da insatisfação com a imagem corporal (Ferreira, 2014).

O padrão de beleza imposto pela mídia tem se destacado por exercer grande influência na formação da imagem corporal, ao estimular a valorização da magreza e do corpo perfeito. Isso se explica pelo fato de a adolescência ser uma fase onde os indivíduos ficam mais suscetíveis e vulneráveis às influências da sociedade, principalmente quando se trata de adolescentes do sexo feminino (Rocha et al., 2013). Petroski (2010) revela que a influência da mídia e da sociedade são os fatores que levam as adolescentes a desejarem corpos mais magros.

Assim, a insatisfação com a aparência física pode ter como consequência uma imagem negativa e distorcida do próprio corpo. E essa distorção da imagem corporal compreende a percepção do próprio corpo como mais pesado ou maior do que ele realmente é (Fernandes, 2014).

As práticas alimentares inadequadas e o aumento do sedentarismo são prevalentes nessa faixa etária, estando diretamente relacionados com a insatisfação corporal, nível socioeconômico e Índice de Massa Corporal (IMC). Portanto, dependendo do grau, a insatisfação pode interferir em aspectos da vida, como no comportamento alimentar, autoestima, desempenhos físico, cognitivo e psicossocial, e também no estado nutricional (Mota et al., 2012).

Diante disso, o estudo tem como objetivo verificar a associação entre a percepção e a insatisfação da imagem corporal com o estado nutricional de adolescentes do sexo feminino matriculadas no ensino médio de um colégio estadual.

 

Método

Participantes

Foi realizado um estudo transversal com 120 adolescentes do sexo feminino na faixa etária de 15 e 19 anos, matriculadas no 1°, 2 ° e 3° ano do ensino médio de um colégio estadual, localizado no norte do Rio Grande do Sul, no período de junho a julho de 2018. Foram excluídas, as adolescentes com necessidades especiais que impossibilitassem a aferição das medidas antropométricas e aplicação dos questionários, e também, aquelas que não aceitaram participar do estudo.

Instrumentos

As informações da percepção da imagem corporal, ou seja, o grau de distorção da imagem corporal foram obtidas com a utilização do Body Shape Questionnarie (BSQ), constituído por 34 questões, com uma escala de pontos variando de 1 (nunca) a 6 (sempre) para respostas como nunca, raramente, às vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre, refletindo o grau de insatisfação com o corpo. A pontuação final é resultado da soma do escore de cada questão, sendo considerado padrão de normalidade/ausência de distorção da imagem corporal resultados < 70 pontos; entre 70 e 90 pontos são classificados como leve distorção da imagem corporal; entre 91 e 110 pontos como moderada distorção; e acima de 110 pontos em grave distorção da imagem corporal (Cooper, 1987).

Para avaliar a insatisfação com a imagem corporal utilizou-se a escala de nove silhuetas corporais proposta por Stunkard (1983), através das seguintes perguntas: Qual a silhueta que melhor representa a sua aparência corporal atual (real)? Qual é a silhueta corporal que você gostaria de ter (ideal)? Para obter o resultado, calculou-se a soma dos pontos, que considera situação de satisfação (0 pontos), insatisfação pelo excesso de peso (> 0 pontos), insatisfação pela magreza (< 0 pontos).

Já em relação a avaliação antropométrica, foram aferidos peso e estatura em duplicata, utilizando uma balança e um estadiômetro, respectivamente. Posteriormente, foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) e classificado conforme a faixa etária e gênero através das curvas de crescimento e desenvolvimento da Organização Mundial da Saúde (Organização Mundial da Saúde, 2007).

Procedimentos Éticos, de Coleta e Análise de Dados

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Passo Fundo (UPF), sob parecer n° 2.650.653. Todas as participantes da pesquisa foram preservadas através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que é o documento mais importante para a análise ética de um projeto de pesquisa e que garante ao participante o respeito aos seus direitos. Para as participantes menores de idade o TCLE foi autorizado pelo responsável legal, já para as participantes maiores de idade, o mesmo foi assinado por elas.

A coleta de dados foi realizada no colégio em uma sala de aula, onde as adolescentes foram separadas por grupos para a aplicação do Body Shape Questionnarie e da Escala de Silhuetas Corporais, e além disso, foram aferidas as medidas antropométricas de peso e estatura em outra sala, de forma individual.

Os dados foram digitados e analisados em software de estatística. Para as análises de associação foi aplicado o teste qui-quadrado considerando o nível de significância menor que 0,05.

 

Resultados

Foram avaliadas 120 adolescentes do sexo feminino com média de idade de 16±1,1 anos, destas, a maioria 88,3% (106) tinham entre 15 e 17 anos e 11,7% (14) com faixa etária entre 18 e 19 anos.

Em relação a percepção da imagem corporal constatou-se que 60% (72) das adolescentes apresentavam algum grau de distorção de imagem, prevalecendo a grave distorção, seguido de leve e moderada distorção. Já a escala proposta por Stunkard mostrou que a insatisfação prevalece em 83,3% (100) das adolescentes, ou seja, a maioria 58,3% (70) apresentou insatisfação pelo excesso de peso e 25% (30) insatisfação pela magreza. Somente 16,7% (20) estavam satisfeitas com sua imagem corporal, conforme a Tabela 1.

 

Ao associarmos a distorção da imagem corporal através do BSQ com a insatisfação, constatamos associação estatisticamente significativa (p=0,001), sendo verificado que 93,1% (67) das adolescentes com algum grau de distorção estavam insatisfeitas e apenas 6,9% (5) estavam satisfeitas com a imagem corporal. Em relação as adolescentes sem distorção da imagem corporal verificamos que 68,8% (33) estavam insatisfeitas.

Ao relacionarmos as adolescentes que apresentam algum grau de distorção da imagem corporal com a faixa etária, notou-se que das adolescentes com faixa etária entre 15 a 17 anos 60,4% (64) apresentavam algum grau de distorção e em relação as adolescentes com faixa etária entre 18 a 19 anos o percentual foi de 57,1% (8). Não houve associação estatisticamente significativa entre a distorção da imagem corporal e a faixa etária (p = 0,517).

Verificou-se prevalência de eutrofia em 75% (90), seguido de sobrepeso em 17,5 % (21) e 7,5% (9) com obesidade. E quando associada a distorção da imagem corporal com o estado nutricional constatamos que 62,5% (45) das adolescentes em estado de eutrofia apresentavam algum grau de distorção. Também se observou que 93,8% (45) das adolescentes sem distorção da imagem corporal estavam eutróficas.

Na associação entre a insatisfação da imagem corporal com o estado nutricional verificou-se que 71% (71) das adolescentes insatisfeitas se encontravam em estado de eutrofia, e 29% (29) estavam com excesso de peso.

Constatamos que os resultados neste estudo mostraram diferença significativa quando associado a distorção e a insatisfação com a imagem corporal com o estado nutricional, conforme a Tabela 2.

Das adolescentes eutróficas 33,3% (30) estavam insatisfeitas pela magreza e 45,6% (41) insatisfeitas pelo excesso de peso. Já as adolescentes com excesso de peso 96,7% (29) estavam insatisfeitas pelo excesso de peso.

 

Discussão

Os resultados apresentados neste estudo indicam que a maioria das adolescentes se encontravam em estado de eutrofia (75%) corroborando com o estudo de Carneiro et al., (2014) onde 64,2% das adolescentes estavam eutróficas, e em relação ao excesso de peso o presente estudo apresentou percentual inferior quando comparado com o estudo de Carneiro et al., (2014), onde 35,8% estavam acima do peso. Em um estudo realizado por Oliveira et al., (2016) com 230 adolescentes, com idade de 15 a 19 anos, 84,5% das adolescentes pesquisados estavam eutróficas, percentual este superior ao presente estudo.

Segundo Braga (2013) a prevalência de adolescentes em estado de eutrofia está associada às alterações que o corpo sofre nessa faixa etária. Ribeiro et al. (2015) relata que as adolescentes estão sempre em busca do corpo perfeito e que a pressão social é de tal magnitude que as leva a buscarem meios rápidos para atingir o corpo idealizado.

Laus (2015), mostrou que 60,7% das adolescentes avaliadas apresentaram algum grau de distorção da imagem, sendo que a distorção grave foi mais prevalente (25%), se assemelhando com o presente estudo. Branco (2012), realizou um estudo onde 41% das adolescentes apresentavam algum grau de distorção, sendo a distorção leve a mais prevalente (22,7%). Ainda em relação a presença de algum grau de distorção, o estudo realizado por Zordão (2014) com adolescentes do sexo feminino apontou que 23,3% se encontravam suscetíveis ao desenvolvimento de distúrbios alimentares, percentual este, inferior ao presente estudo, pois de acordo com a relação da influência da imagem corporal sobre os transtornos alimentares 28,4% das adolescentes apresentaram algum grau de distorção da imagem corporal.

De acordo com Pérez (2014), os fatores sociais, influências socioculturais, pressões da mídia e a busca incessante por um padrão de corpo ideal associado às realizações e felicidade estão entre as causas das alterações da percepção da imagem corporal, tendo como consequência uma imagem negativa e distorcida do próprio corpo, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares.

A insatisfação com a imagem corporal no presente estudo foi relevante (83,3%), diferente dos estudos realizados por Glaner et al., (2013) e por Marques et al., (2016) onde a insatisfação com a imagem corporal foi de 60% e 64,6%, respectivamente. Possivelmente, essa maior insatisfação com a imagem corporal entre as adolescentes decorre da pressão exercida pela mídia e pela sociedade, que impõe cada vez mais padrões de beleza caracterizados pela magreza. Estudos realizados por Petroski e Scherer (2010) mostraram que em adolescentes, principalmente do sexo feminino, a insatisfação com a imagem corporal está diretamente relacionada ao desenvolvimento de problemas e distúrbios alimentares.

Um estudo realizado por Couseuil (2009), em Três de Maio (RS) envolvendo adolescentes do sexo feminino revelou que 71,7% estavam insatisfeitas pelo excesso de peso, ou seja, desejavam reduzir a silhueta corporal, e 13,3% estavam insatisfeitas pela magreza, ou seja, desejavam aumentar a silhueta corporal. Resultados estes elevados quando comparados com o presente estudo.

Levando em consideração o estado nutricional e a insatisfação corporal, Costa (2010) verificou que as adolescentes com excesso de peso apresentaram maior insatisfação com a imagem corporal quando comparadas com as de peso adequado. Em relação às adolescentes com peso adequado encontrou-se uma prevalência de 91,4% de satisfação com a imagem corporal, o que se difere do presente estudo, onde 71% das adolescentes em estado de eutrofia estavam insatisfeitas com sua imagem corporal. Quanto às adolescentes com excesso de peso a prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 85,7% no estudo de Costa, percentual este, inferior ao presente estudo, onde 96,7% das adolescentes com excesso de peso estavam insatisfeitas com sua imagem corporal.

Ainda em estudo de Coqueiro (2008), ao analisar a associação entre o estado nutricional e a insatisfação com a imagem corporal, verificou-se que o IMC não foi determinante na insatisfação com a imagem corporal. Por outro lado, Pinheiro (2016) observou que o estado nutricional está associado com a insatisfação corporal, o que corrobora com este estudo.

Esses resultados refletem a magnitude da influência da mídia e da sociedade em geral sobre a imagem corporal, vindo ao encontro de Petroski (2010) que revela que as meninas desejam corpos mais magros.

Como fragilidade deste estudo é importante mencionar que as questões do Body Shape Questionnarie (BSQ) não foram avaliadas individualmente, limitando o resultado final do instrumento utilizado, podendo assim ter viés de relato. Mesmo diante destas limitações, os resultados contribuíram para avaliar a percepção da imagem corporal das adolescentes.

 

Considerações Finais

Diante dos achados constatamos prevalência de insatisfação com a imagem corporal e distorção da imagem corporal por parte das adolescentes. Observou-se também, que a maior parte das adolescentes apresenta IMC dentro dos parâmetros ideais, entretanto, muitas se consideram insatisfeitas com a sua imagem corporal.

Dessa forma, é essencial que os profissionais da área da saúde e da educação incentivem os adolescentes a combater o estereótipo do padrão de beleza, prevenindo atitudes e condutas comportamentais inadequadas.

 

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Endereço para correspondência:
Larissa Mecca Chagas
Rua Capitão Araújo, 706 - Centro
Passo Fundo - RS/ Brasil
CEP 99010-200

Recebido: Janeiro 29, 2019
Aceito: Maio 06, 2019

 

 

Editor: Ludgleydson Fernandes de Araújo

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