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Psicologia: teoria e prática
versão impressa ISSN 1516-3687
Psicol. teor. prat. v.7 n.2 São Paulo dez. 2005
RESENHA
Manual de psicologia hospitalar
Fausto Eduardo Menon Pinto
Psicólogo e Mestre em Educação pela FE/Unicamp
Obra resenhada: SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar – o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 201p.
Há séculos, o ser humano tem desejado conhecer os mistérios que envolvem o enigma saúde-doença. Desse modo, nos últimos anos, os saberes biológico e psicológico vêm contribuindo sensivelmente, para o reconhecimento das mais variadas patologias clínicas, e os seus efeitos correspondentes no indivíduo adoentado, o qual se pode observar na literatura específica que discute as neoplasias (câncer). É dentro desse raciocínio que se pode mencionar o pensamento filosófico de Hipócrates - considerado para alguns como o pai da Medicina Antiga - que dizia que para curar o corpo é preciso ter um conhecimento do todo, ou melhor, segundo ele, alma (psique) e corpo (soma) estariam dialogando entre si.
A partir desse comentário inicial, o livro Manual de psicologia hospitalar, cuja autoria é do Doutor Alfredo Simonetti, Médico Psiquiatra e Psicólogo, procura entender que toda doença abarca, ao mesmo tempo, um elemento orgânico e psicológico. Essa obra conta, fundamentalmente, com duas partes predefinidas, sendo que a primeira delas descreve o diagnóstico e a segunda infere sobre a terapêutica, incluindo também um apêndice com os principais remédios que são mais utilizados na área hospitalar.
Alfredo Simonetti, logo na introdução de seu livro, conceitua a Psicologia Hospitalar como o campo de entendimento e tratamento de aspectos psicológicos atrelados ao adoecimento. Ele define um aspecto psicológico como as manifestações subjetivas da doença, que são as crenças, os sonhos, os conflitos, as lembranças e os pensamentos. Ou seja, parafraseando o próprio autor, a doença não fala, o doente sim. Destaca-se que nessa definição parece existir uma intenção, apesar de não declarada explicitamente, em se unificar esses aspectos psicológicos e não fragmentá-los, por exemplo, razão e emoção, frutos de uma mesma vivência subjetiva e psíquica.
Na primeira parte, que versa acerca do diagnóstico do paciente hospitalizado, faz-se uma síntese comparativa com relação a quatro métodos (ou quatro eixos) de investigação: como o reacional, o médico, o situacional e o transferencial. Em alusão a esses métodos de diagnóstico, apresenta-se um material de aplicação prática, ou como se chama, O mapa da doença, com a ilustração de casos clínicos. Nesse capítulo, enfatiza-se que o psicólogo não deve diagnosticar a doença, mas sim o que a doença faz o paciente sentir. Como se diz no livro, é um olhar para além do biológico.
No entanto, isso tudo não quer dizer que o diagnóstico médico não seja importante - ele é. Pois, para o autor, o diagnóstico médico traz informações imprescindíveis sobre a evolução clínica do paciente e o seu prognóstico, fornecendo subsídios para o trabalho futuro do psicólogo hospitalar. Sob a perspectiva do trabalho do psicólogo, deve-se estar atento, principalmente, como o paciente reage frente à doença (diagnostico reacional), como a sua vida psíquica e social podem interferir na dinâmica subjetiva (diagnostico situacional) e ainda como se estabelecem as relações psicológicas entre o paciente, a família e a equipe de sáude (diagnóstico transferencial).
Na segunda parte, que trata da terapêutica hospitalar, propõem-se algumas estratégias e técnicas psicológicas para a discussão de temas polêmicos, como o risco de suicídio, assistência ao paciente terminal, entre outros. Leva-se em consideração aqui, mais uma vez, a pessoa do paciente e não a doença. Conforme se discute no livro, deve-se ter uma escuta que focalize os significados da verbalização do paciente - o que é trazido como sendo sua verdade, sem procurar examinar, nesse discurso, o que é certo e o que é errado. Toda essa questão possibilita pensar que na prática do psicólogo hospitalar não há fórmulas mágicas, receitas prontas. Há certas horas em que a interpretação ajuda na simbolização da angústia; e em outras, o silêncio é o melhor a se fazer.
No Apêndice, intitulado de O mapa dos remédios, o autor apresenta resumida e didaticamente, através de diagramas e tabelas, o nome dos principais remédios e psicotrópicos, com noções preliminares de farmacologia clínica, que são sumamente importantes para o entendimento do funcionamento orgânico e mental do paciente hospitalizado, e usualmente prescritos pelo médico. Para facilitar a leitura desse assunto, mostram-se o nome químico, o nome comercial e o nome clínico dos remédios.
Concluindo a resenha, acredita-se que a referida obra consegue muito bem integrar informações básicas da psicologia hospitalar, a exemplo de como se proceder diante de um paciente que fica em silêncio ou está depressivo, o que é condizente com toda a dinâmica psíquica que circula o adoecimento. Assim sendo, pode-se compreender que o presente livro mostra-se útil para o ensino e a práxis da disciplina Psicologia Hospitalar, seja por oferecer, de modo simples e didático, uma coleção de tópicos que exploram o papel do psicólogo nesse ambiente, bem como a sugestão de um material de avaliação diagnóstica - O mapa da doença. Dessa maneira, os psicólogos - que atuam diretamente na área hospitalar - podem se beneficiar com a leitura do mesmo, pois auxilia tanto na reflexão pessoal de temas que geram dúvida e uma insegurança no manejo terapêutico (como exemplo, os sentimentos de negação e perda), quanto na aplicabilidade de estratégias e técnicas psicológicas.