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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. v.7 n.2 São Paulo dez. 2005

 

Relato sobre o XIV Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental

 

 

Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira; Fábio Leyser Gonçalves

Universidade Presbiteriana Mackenzie

 

 

Um dia, o poeta brasileiro Raimundo Gadelha disse que publicar livros era como estar solto no mundo, sem destino certo, mas seguro daquilo que deve ser feito. Este belíssimo pensamento caracteriza bem os primeiros encontros que a Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (ABPMC) realizou. Apenas os primeiros encontros, já que muitos dos grandes pesquisadores que solidificaram o Behaviorismo em todas as suas abordagens devem ter tido sensações semelhantes quando publicavam seus primeiros escritos sobre a teoria. Mas eram incertezas que se fundiam com uma outra certeza: desenvolver uma teoria que realmente explicasse como as pessoas se comportam. Citam-se nesta longa lista C. Darwin, I. P Pavlov, W. James, E. C. Tolman, B. F. Skinner e, no Brasil, pessoas como Maria Amélia Matos e Carolina M. Bori, entre tantos outros.

Durante anos e anos, uma das críticas que mais predominou em relação ao Behaviorismo Radical foi a de que esta ciência ignorava a consciência, os estados mentais e os sentimentos. Desde 1974, Skinner já se defendia desta crítica. Curiosamente, a música tema do XIV Encontro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, que se realizou em Campinas, de 25 a 28 de agosto de 2005, foi “Emoções”. O próprio presidente da ABPMC, Hélio José Guilhardi, ao efetuar a abertura oficial, destacou que a escolha desse tema não tinha sido por acaso. Nós, behavioristas, sentimos profundas emoções ao participar de encontros como estes, porque são muitos os reforços positivos decorrentes das contingências tão agradáveis, científicas e enriquecedoras que os encontros propiciam. Não é nosso intuito aplicar uma análise experimental do comportamento a estes operantes encobertos, mas devemos explicar porque eles ocorreram e, para isto, far-se-á um breve relato do encontro. Nesse encontro, estão as maravilhosas variáveis das quais nossos comportamentos emocionais foram e serão função. Nossas emoções não foram internas nem podem ser explicadas por causas internas, essa explicação é inútil. A breve explicação que faremos da programação do evento explicará a razão de nossas emoções.

O programa do evento forneceu, uma vez mais, minicursos em que lecionaram vários professores behavioristas das abordagens comportamental e cognitiva do Brasil. Algumas das temáticas oferecidas foram os modelos experimentais em psicopatologia, modelos terapêuticos comportamentais e cognitivos no tratamento de transtornos psiquiátricos, aplicação de modelos experimentais na psicologia escolar, bases filosóficas do behaviorismo, entre outros.

Nesse encontro, o presidente da ABPMC, Prof. Hélio José Guilhardi, fez um prólogo ao livro da programação em que ressaltava o espírito democrático que sempre caracterizou a participação dos expositores no evento. Nessa democracia, chamou nossa atenção a qualidade de trabalhos apresentados tanto por profissionais de renome na área como de recém-formados, e até mesmo de estudantes de graduação dos mais distantes lugares do Brasil. A excelência dos trabalhos expostos deveu-se, em nossa opinião, a dois fatores. Um fator diz respeito à maneira como as múltiplas pesquisas de cunho behaviorista que são desenvolvidas no Brasil têm conseguido virar pelo avesso a explicação do comportamento; aquele comportamento de quem um dia Skinner se referiu como um dos fenômenos mais enigmáticos da psicologia. O outro fator deve ser louvado à Comissão Organizadora do encontro que, com tanta minúcia, trabalhou para efetuar a seleção dos trabalhos que seriam apresentados no encontro. Vale destacar alguns dos temas que caracterizaram a reunião: aspectos metodológicos da pesquisa em Análise Experimental do Comportamento, tanto para pesquisas com animais quanto para pesquisas de caráter básico com seres humanos e suas dificuldades de realização; discussão de propostas terapêuticas para transtornos psiquiátricos; propostas de intervenção em instituições escolares e organizacionais; discussões sobre questões filosóficas como a relação inato-aprendido e o papel da ética dentro do Behaviorismo Radical; além da discussão acerca do ensino da Análise Experimental do Comportamento e da Terapia Comportamental em cursos de Graduação. Vale ressaltar os quase 400 trabalhos apresentados na forma de painel, sobre os mais variados temas. De especial importância foi a realização da reunião dos principais pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, que puderam discutir, ao longo de todo o evento, as propostas da Análise Experimental do Comportamento para o comportamento social e as práticas culturais, resultando na apresentação de três mesas redondas, intituladas Metacontingencies and Cultural Analysis.

Nesse sentido, o XIV Encontro da ABPMC não foi apenas um congresso de divulgação dos trabalhos, mostrando-se como um espaço de efetiva produção de conhecimento. Encontros como estes refletem as inúmeras contribuições dadas pelo Behaviorismo Radical, enquanto filosofia de uma efetiva ciência do comportamento, e explicam todas as emoções que sentimos ao fazer parte desta história.