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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.12 no.3 São Paulo mar. 2010

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Análise da produção científica de dez anos da revista Psicologia: Teoria e Prática

 

Analyses of ten years of scientific production of the journal Psicologia: Teoria e Prática

 

Análisis de la producción científica de diez años de la revista Psicologia: Teoria e Prática

 

 

João Roberto de Souza-Silva; Ivens Hira Pires; Silvana Maria Blascovi-Assis; Cristiane Silvestre de Paula

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Fundada em 1999, a revista Psicologia: Teoria e Prática, do curso de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é um veículo de difusão científica em psicologia e áreas afins. O presente estudo visa a descrever sua produção científica, além de identificar/discutir critérios classificatórios desse periódico. Os resultados da análise dos 213 artigos publicados no período de 1999-2009 apontam que, desde 2002, há predomínio de autores vinculados a outras instituições, diferentes da instituição à qual a revista pertence (81%). Do total de 213 artigos, 19% deles são de autoria interinstitucional. Desde 2003, artigos com pesquisas de campo passam a ser maioria. Os temas ligados às áreas de tratamento/prevenção em psicologia e psicologia social foram os mais frequentes, e o tempo médio de tramitação se revelou inferior a cinco meses. A revista possui Qualis B1, segundo WebQualis da Capes, e está classificada entre as 33% melhores no campo da psicologia.

Palavras-chave: Psicologia; Indicadores de produção científica; Sistemas de avaliação das publicações; Conhecimento; Classificação.


ABSTRACT


Launched in 1999, the journal Psicologia: Teoria e Prática, from the Faculty of Psychology and the Developmental Disorder Post Graduation Program from the Mackenzie Presbyterian University is scientific instrument of dissemination in psychology and related areas. This study aims to describe its production, in addition to identify/discuss classification criteria of this journal. The results of the analysis of 213 papers published between 1999-2009 shows that 2002 there is a predominance of authors associated to other institutions (81%). Of the total 213 articles, 19% are institutional authorship. Articles with empirical data became majority since 2003. Topics related to treatment and prevention in psychology and to social psychology were the most frequent and the average processing time was less than five months. The journal has Qualis B1, according to WebQualis Capes, ranking among the top 33% in psychology.

Keywords: Psychology; Scientific publication indicators; Systems for evaluation of publications; Knowledge; Classification.


RESUMEN

Fundada en 1999, la revista Psicologia: Teoria e Prática, del curso de Psicología y del Programa de Postgraduación en Trastornos del Desarrollode la Universidad Presbiteriana Mackenzie, es un medio de divulgación científica de la psicología y áreas afines. Este estudio tiene como objetivo describir su producción e identificar/discutir los criterios de clasificación de esta revista. Los resultados del análisis de los 213 artículos publicados en el período de 1999-2009 indican que, desde 2002, hay predominio de autores vinculados a otras instituciones, diferentes de la institución a la cual esta revista pertenece (81%). Del total de 213 artículos, 19% de estos son de autoría interinstitucional. Desde 2003, artículos con investigaciones de colecta de datos en campo pasan a ser mayoría. Los temas relacionados con las áreas de tratamiento y prevención en psicología y psicología social fueron los más frecuentes y el tiempo de procesamiento promedio fue de menos de cinco meses. La revista tiene Qualis B1, de acuerdo con WebQualis Capes, y se encuentra entre los mejores 33% en la psicología.

Palabras clave: Psicología; Indicadores de producción científica; Sistemas de evaluación de las publicaciones; Conocimiento; Classificación.


 

 

Introdução

A produção científica pode ser caracterizada por uma atividade que deriva de novas descobertas tecnológicas e de conhecimentos que possibilitam o acúmulo de informações que norteiam os progressos do homem. O processo de fazer ciência divide-se, em suma, em três partes: os produtos materiais, as tecnologias e os textos. Segundo alguns autores, os textos são considerados os mais relevantes, por se tratar do meio de comunicação mais usual entre os que produzem ciência (WITTER, 2005). Assim, a publicação de artigos em periódicos científicos é indispensável para a aquisição e o desenvolvimento do pensar e do fazer ciência (SAMPAIO; SABADINI; LINGUANOTTO, 2002). Por meio desses artigos, o conhecimento científico se acumula e se organiza, viabilizando, assim, sua transferência entre os diferentes nichos de produção científica (WITTER, 1992).

Atualmente, tem sido observada uma crescente necessidade de avaliação e reavaliação da produção científica decorrente principalmente de duas mudanças ocorridas no meio acadêmico: o número crescente de publicações e o aumento das instituições que estão trabalhando com pesquisa (NAKANO, 2005). Consequentemente, é imprescindível a criação de estudos que permitam a análise sistemática dos indicadores dessa produção (WITTER; MARIA, 2005). Segundo Oliveira (1999), o progresso científico está relacionado à avaliação sistemática da produção e/ou depende desse processo, já que essa avaliação possibilita e garante o aperfeiçoamento constante do conhecimento, além de colaborar para uma melhor distribuição das verbas que são destinadas à pesquisa.

A análise das produções científicas proporciona um controle sistemático da qualidade do conteúdo que é publicado, a identificação da ocorrência de pesquisas com a mesma problemática de investigação, o incentivo aos estudos de réplicas para temas importantes, entre outros aspectos, proporcionando conhecimento sobre a evolução e a realidade científica de dado tema (OLIVEIRA, 1999; FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2002, 2005). Tais dados possibilitam que as agências de fomento à pesquisa busquem um equilíbrio na liberação das verbas para a produção científica, além de fornecerem informações sobre a dimensão qualitativa do conhecimento que está sendo produzido, caracterizando, assim, o avanço científico atingido e verificando as lacunas existentes. Do mesmo modo, permitem a identificação do nível e da qualidade das produções de uma nação, da instituição, de departamentos e pesquisadores, bem como da dimensão e qualificação dos produtores de conhecimento, permitindo a unificação de dados relativos à produção do conhecimento. Assim, a análise da produção científica pode permitir avaliar e delinear os limites e avanços atingidos em uma área específica. Também permite visualizar os temas menos focalizados e, portanto, menos aprimorados em termos de pesquisa, contrapondo-se àqueles que, embora exaustivamente pesquisados, carecem de maior aprofundamento em termos metodológicos e de análise estatística (OLIVEIRA, 1999).

Nesse sentido, foi desenvolvido o sistema de classificação das revistas científicas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), denominado Qualis, que foi implantado em 1998 com o objetivo de aprimorar os indicadores de produção científica no processo de avaliação da pós-graduação brasileira. A Capes (2010) define assim o sistema Qualis:

[...] conjunto de procedimentos [...] para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação [...] o Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C – com peso zero.

A Capes é um dos principais órgãos para expansão, consolidação e avaliação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados do Brasil, sendo, portanto, uma referência na área de avaliação da produção científica nacional. Segundo o website da Capes: Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação, tendo como resultado uma lista, segundo áreas de avaliação. O WebQualis apresenta, para cada área de conhecimento, um documento que descreve os critérios de classificação, tanto dos programas de pós-graduação quanto dos periódicos científicos. O documento de área para o campo da psicologia pode ser acessado no link http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/PSICO19jun10.pdf.

Considerando a relevância do papel da publicação científica para a produção do conhecimento de alta qualidade no Brasil, o presente estudo tem como objetivo descrever a produção científica da revista Psicologia: Teoria e Prática, que acaba de completar dez anos, além de identificar e discutir os critérios classificatórios desse veículo no cenário nacional e internacional.

Método

Material

A revista Psicologia: Teoria e Prática pertence ao curso de Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fundada em 1999, é um veículo de difusão científica que tem como objetivo publicar trabalhos inéditos em psicologia e áreas afins. Os diferentes fascículos da revista foram objeto da presente avaliação e descrição.

Procedimentos

Este artigo é resultado de uma pesquisa do tipo documental. O levantamento da produção científica, ou seja, dos artigos publicados na revista Psicologia: Teoria e Prática, foi feito por meio do link http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/ptp, onde todas as edições da revista encontram-se disponíveis gratuitamente.

Foram analisados todos os artigos publicados na citada revista, desde sua fundação, em 1999, até o último volume de 2009, totalizando 213 artigos. Excluíram-se da análise as resenhas e outras produções que não correspondessem a artigos de pesquisa de campo, artigos teóricos e estudos de caso clínico. As variáveis analisadas foram: a) autoria (número de autores e afiliação institucional), b) tipo de estudo (teórico, caso clínico ou pesquisa de campo), c) tema do artigo, d) tempo de tramitação, e) periodicidade e f) critérios classificatórios da revista, segundo o WebQualis, para a área da psicologia.

Para estabelecer a classificação segundo temas (item c), foram analisados os conteúdos dos 213 artigos, procurando encaixá-los na listagem de áreas do conhecimento disponibilizada pela Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Essa análise foi realizada por, pelo menos, dois pesquisadores, e, em caso de discordâncias, houve discussão para obter consenso. Em relação ao tempo de tramitação (item d), considerou-se o tempo médio referido pelo site da revista entre a data de submissão do artigo e a data de sua publicação.

Resultados

O presente estudo analisou 213 artigos que correspondiam aos critérios estabelecidos no procedimento com pesquisa de campo, artigos teóricos e de casos clínicos publicados no período de dez anos.

 

 

A análise da variável autoria mostrou que, entre 1999 e 2001, 72% dos artigos eram de autoria individual, enquanto 28% eram de autoria múltipla. A partir de 2002, ocorreu uma inversão dessa ordem, pois a autoria múltipla passou a ser predominante (80%). Essa inversão de predomínio de autoria individual para múltipla é observada nitidamente na Tabela 1. Apesar dessa inversão, mesmo que a autoria seja múltipla, ainda há predomínio de trabalhos cujos autores são da mesma instituição (81%), diferentemente da autoria interinstitucional, que representou 19%.

O Gráfico 1 mostra que, no ano de criação da revista, os artigos foram predominantemente de autores vinculados à instituição do próprio veículo, porém, em pouco tempo, essa lógica se inverteu, pois, a partir de 2002, o predomínio passou a ser de autores de outras instituições.

 

 

No Gráfico 2, observa-se que os artigos teóricos eram maioria nas primeiras edições da revista Psicologia: Teoria e Prática. A partir de 2003, o predomínio dos artigos de pesquisa de campo é evidente, com exceção do ano de 2005. Já os artigos de estudo de caso clínico sempre foram minoria na revista (Gráfico 2).

 

 

Em relação às áreas de abrangência da revista, nota-se grande amplitude de assuntos, com um evidente predomínio de temas ligados às áreas de tratamento e prevenção em psicologia e psicologia social (61% de toda a produção) (Gráfico 3).

 

 

O cálculo do tempo médio de tramitação dos artigos, desde seu recebimento até a aceitação, foi realizado apenas entre 2005 e 2009. Verificou-se que a média de tempo foi inferior a cinco meses, como mostra a Tabela 2.

 

 

Outro aspecto relevante para averiguar a qualidade de um periódico, segundo os critérios de classificação da Capes para a área da psicologia, é a periodicidade do veículo. A revista permaneceu semestral até 2008. Em 2004, foi publicada uma edição especial temática, e, a partir de 2009, o veículo passou a adotar uma periodicidade quadrimestral.

Verificando os critérios classificatórios de acordo com o WebQualis da Capes, esta recebe atualmente a classificação B1 para as áreas de psicologia, educação e interdisciplinar (http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/PSICO19jun10.pdf). E, ainda de acordo com esse website, existem 83 periódicos distintos com a palavra psicologia no título, assim distribuídos: 2 como A1, 8 como A2, 17 como B1, 23 como B2, 7 como B3, 6 como B4, 14 como B5 e 6 como C. Dessa forma, apenas 12,0% das revistas foram classificadas como A1 ou A2; 20,5%, como B1; 43,4%, entre B2 e B4; e 24,1%, como B5 ou C. Isso possibilita afirmar que, segundo esse sistema de classificação, observa-se que a revista se encontra entre as 33% com melhor classificação Qualis entre seus pares. Além disso, a revista está indexada em diversas bases de dados referidos nos critérios do WebQualis da área da psicologia, a saber: PsycInfo, Lilacs, Psicodoc, Latindex, Clase e Redalyc.

 

Considerações finais

A revista Psicologia: Teoria e Prática está atualmente indexada em diversas bases de dados. Entretanto, para atingir a classificação A1 ou A2, o documento de área da Psicologia (Triênio 2007-2009) exige que a revista obtenha indexação em novas bases de dados, a saber: ISI, SciELO e Scopus (CAPES, 2010).

A periodicidade da revista tem sido majoritariamente semestral. Se, nos próximos anos, ela mantiver a produção anual de três volumes, como ocorreu em 2009, poderá preencher futuramente mais um dos critérios do WebQualis de classificação A2, segundo o mesmo documento de área citado anteriormente (http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/PSICO19jun10.pdf).

A análise do presente artigo demonstra que as áreas temáticas de tratamento e prevenção em psicologia e psicologia social são as mais frequentemente publicadas. Além disso, verificou-se que nos anos 2002 e 2003 foi possível observar uma mudança no padrão autoria, pois ocorreu um aumento expressivo da produção de autoria múltipla e o predomínio de autores externos à Universidade Presbiteriana Mackenzie e de artigos com dados de pesquisa de campo. Essas características que se mantiveram até as edições atuais. Entretanto, chama atenção que apenas 19% dos artigos tenham sido de autoria interinstitucional, aspecto que mereceria investimento nas próximas edições da revista.

Este informe breve espera contribuir para o maior conhecimento dos veículos de produção científica no campo da psicologia. Contudo, algumas limitações devem ser mencionadas, como: ausência da análise dos descritores/palavras-chave utilizados por cada estudo, falta de comparação com outros periódicos de psicologia e o fato de não ter sido analisada a região de afiliação dos autores, como havia sido feito em outros artigos sobre avaliação de periódicos científicos brasileiros da área da psicologia (YAMAMOTO, SOUZA; YAMAMOTO, 1999; YAMAMOTO et al., 2002).

Com o crescimento da produção nacional, é necessária a elaboração de estudos que avaliem a evolução dos periódicos científicos, contribuindo para o aprimoramento dos artigos publicados. Por isso, é recomendável que sejam feitas novas pesquisas nesse campo que poderão ajudar a mapear o cenário da produção científica brasileira atual e consequentemente a direcionar novas iniciativas no campo da psicologia e de áreas afins.

 

Referências

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Endereço para correspondência

Contato
Cristiane Silvestre de Paula
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Programa de Pós Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
Rua da Consolação, 896, Prédio 38, Térreo
Consolação – São Paulo – SP
CEP 01302-907
e-mail: csilvestrep@uol.com.br

Tramitação
Recebido em novembro de 2010
Aceito em janeiro de 2011