Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Psicologia: teoria e prática
versão impressa ISSN 1516-3687
Psicol. teor. prat. vol.18 no.1 São Paulo abr. 2016
Editorial
Prezados leitores,
O volume 18, número 1, da Revista Psicologia: Teoria e Prática apresenta 16 artigos de diferentes áreas dentro da psicologia, representando diferentes abordagens e estados brasileiros. A seção de âPsicologia clÃnicaâ conta com dois artigos originais, o primeiro com o tema âCuidador e cuidado: o sujeito e suas relações no contexto da assistência domiciliarâ e o segundo trata dos âEfeitos da atenção parental e da fuga sobre o comportamento de desobedecer em crianças com dermatite atópicaâ. A seção de âPsicologia socialâ apresenta um artigo original e dois teóricos. Os teóricos tratam dos temas âEspaço urbano, natureza e relações sociais: por uma sustentabilidade afetivaâ e âHomossexualidade masculina: comportamento, orientação e identidadeâ. O artigo original discute a âPráxis polÃtica no MST: uma leitura a partir de Vigotski e Gramsciâ. Na seção âAvaliação psicológicaâ são publicados quatro artigos, sendo três artigos originais e uma revisão da literatura. O primeiro refereÂse à âEstrutura fatorial e propriedades psicométricas do Inventário da TrÃade Cognitivaâ, o segundo discute âEvidências de validade da Escala de Enriquecimento TrabalhoÂFamÃlia em amostras brasileirasâ, o terceiro apresenta uma revisão sobre âAvaliação da leitura no Brasil: revisão da literatura no recorte 2009Â2013â, e o quarto debate a âIlusão da mão de borracha induzida por estÃmulos controlados por equipamento eletrônicoâ. A seção âPsicologia e educaçãoâ apresenta dois artigos. O primeiro discute o âSentido pessoal atribuÃdo à atividade de estudo no Ensino Fundamentalâ e o segundo analisa âLeitura e escrita: um modelo cognitivo e integradoâ.
Além de artigos das diferentes seções temáticas que publica, esta edição apresenta aos leitores uma seção temática especial da área de Desenvolvimento Humano com artigos do grupo de trabalho sobre âTranstornos do espectro do autismo: pesquisa em saúde e educaçãoâ da Associação Nacional de Pesquisa e PósÂGraduação em Psicologia (Anpepp).
O transtorno do espectro autista (TEA) vem impactando significativamente a saúde pública e a educação em razão da sua prevalência. O desconhecimento acerca dos TEA e a sua heterogeneidade, entre outros fatores, contribuem para esse impacto, apontando para a emergência de pesquisas que ampliem o conhecimento cientÃfico nessa área e respaldem as ações necessárias ao contexto brasileiro. Essa demanda requer um intercâmbio de pesquisadores no sentido de otimizar e unificar recursos e conhecimentos. Foi com esse intuito que a Profª. Cleonice Alves Bosa convidou um grupo de pesquisadores, com quem já mantinha algumas parcerias, para se reunirem e criarem um grupo de trabalho totalmente voltado para essas questões. A proposta para o Grupo de Trabalho (GT) âTranstornos do espectro do autismo: pesquisa em saúde e educaçãoâ foi encaminhada e aprovada pela Anpepp, em 2014.
A relevância social e cientÃfica do GT relacionaÂse tanto ao fato de existir grandes barreiras na inclusão das pessoas com esse diagnóstico quanto ao de estarmos vivendo um momento de grande demanda desse tipo de conhecimento em razão dos desdobramentos da Lei n. 12.764/2012. Essa lei institui a PolÃtica Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, atendendo aos princÃpios da PolÃtica Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. SomaÂse a isso o propósito da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Por meio de Nota Técnica, o Ministério da Educação orienta os sistemas de ensino a fim de que efetivem ações para inclusão da pessoa com TEA e incentivem a formação de profissionais da educação nessa direção. Já no campo da saúde, recentemente, foi publicada pelo Ministério da Saúde a âDiretriz de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA)â, que define ações para o atendimento dessas pessoas no SUS, o que exige mudanças que precisam ser acompanhadas e avaliadas, tanto por iniciativas governamentais e de controle social quanto pela comunidade cientÃfica. Ainda que tenha ocorrido uma evolução na quantidade e na qualidade da produção cientÃfica brasileira no campo dos TEA, ela ainda está muito distante dos investimentos em outras áreas da psicologia, assim como da necessidade para nosso paÃs.
A presente seção temática especial da área de Psicologia do Desenvolvimento é o primeiro grupo de publicação conjunta do GT, atendendo a um de seus objetivos, que é a divulgação cientÃfica de suas pesquisas. O primeiro artigo, de autoria de Aline Helen Corrêa Garcia, Milena Martins Viveiros, José Salomão Schwartzman e Decio Brunoni, do Programa de PósÂGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, chama a atenção para um importante dado: o de que tanto a literatura internacional quanto a experiência compartilhada com outros profissionais da área mostram que entre 20% e 30% dos indivÃduos referidos com suspeita diagnóstica de TEA acabam tendo esse diagnóstico descartado. Os autores propuseram um estudo no qual investigaram as causas genéticas e ambientais associadas a TEA em uma amostra de escolares matriculados em uma rede pública do Ensino Fundamental do municÃpio de Barueri, São Paulo.
O artigo dos autores Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Gisele da Silva Baraldi, Deisy Ribas Emerich, Mathias Levy de Wolinsk Miklos, Naiara Adorna da Silva, Regina LuÃza de Freitas Marino, Chong Ae Kim, Rachel Sayuri Honjo, Décio Brunoni e Ana Alexandra Caldas Osório, do Programa de PósÂGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Departamento de Genética do Instituto da Criança do Hospital das ClÃnicas da Universidade de São Paulo, examina indicadores socioemocionais do espectro do autismo em pessoas com sÃndrome de Williams. Mais especificamente, os autores identificaram indicadores de sinais de alteração na comunicação social recÃproca, interação social e presença de padrões comportamentais restritos e repetitivos e de socialização compatÃveis com autismo em crianças, adolescentes e adultos com sÃndrome de Williams.
Ainda, no campo da saúde, Cleonice Alves Bosa, Regina Basso Zanon e Bárbara Backes, do Programa de PósÂGraduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, demonstraram a carência de instrumentos validados para uso na avaliação psicológica de crianças com suspeita de TEA e apresentaram o processo de construção e evidências de validade de um sistema de avaliação do comportamento da criança com suspeita de TEA (ProteaÂNV). Esse sistema identifica tanto os comportamentos caracterÃsticos de TEA quanto as potencialidades no desenvolvimento da criança, e também fornece um perfil descritivo para o plano terapêutico.
Estendendo o tema da formação do psicólogo, Cristiane Silvestre Paula, José Ferreira Belisásio Filho e Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, do Programa de PósÂGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade Federal de Minas Gerais, descreveram o nÃvel de conhecimento sobre TEA de alunos de Psicologia, em cursos de Psicologia de cinco diferentes universidades, em São Paulo.
Finalmente, no campo da educação, Carlo Schmidt, Débora Regina de Paula Nunes, Débora Mara Pereira, Vivian Fátima de Oliveira, Adriano Henrique Nuernberg e Cristiane Kubaski, da Universidade Federal de Santa Catarina, do Departamento de Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, adentram uma das mais urgentes e desafiadoras questões: a de investigar a inclusão escolar de educandos com TEA. O estudo examinou esse processo nos ensinos Infantil, Fundamental e Médio, em escolas públicas e privadas, de três cidades do Brasil, na perspectiva de professores.
Esperamos que a leitura destes estudos seja proveitosa!
Cleonice Alves Bosa
Coordenadora do GT da Anpepp âTranstornos do Espectro do Autismo: pesquisa em saúde e educaçãoâ
Maria Cristina T. V. Teixeira
Editora associada e da seção âDesenvolvimento humanoâ da revista Psicologia: Teoria e Prática