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Psicologia: teoria e prática

versão impressa ISSN 1516-3687

Psicol. teor. prat. vol.19 no.2 São Paulo ago. 2017

 

EDITORIAL

 

Alessandra Gotuzo Seabra

Editora

 

 

Prezados leitores, a revista Psicologia: Teoria e Prática apresenta o segundo número de seu 19º volume. A contínua busca pela qualidade dos artigos publicados foi evidenciada pela recente classificação da revista no extrato A2 na área da Psicologia, na avaliação Qualis realizada pela Capes, referente ao quadriênio 2013-2016, o que reitera a importância da revista para o meio acadêmico. Com a progressiva publicação bilíngue dos artigos, que estará consolidada em 2018, o impacto desses será ainda maior, propiciando amplo intercâmbio científico nacional e internacional.

Dando continuidade ao caráter plural da Revista, neste número são publicados artigos nas cinco seções temáticas, sob diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Na seção "Psicologia Clínica" são apresentados dois trabalhos. O artigo "Uso de substâncias psicoativas em idosos: uma revisão integrativa" foi redigido por Ana Diniz, Sandra Cristina Pillon, Sara Monteiro, Anabela Pereira, Joana Gonçalves e Manoel Antônio dos Santos, autores da Universidade de Aveiro, Portugal, e da Universidade de São Paulo, Brasil. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura para analisar a produção científica sobre o uso de substâncias psicoativas em idosos. Ao examinar os 13 artigos selecionados, observaram-se características desse grupo, tais como predominância de homens com baixos níveis de escolaridade e renda, desocupação laboral, não casados, que moravam sozinhos, com comorbidades orgânicas e psíquicas. O álcool é a droga mais comum. O estudo aponta a necessidade de ampliar o conhecimento sobre esse perfil de usuários de modo a possibilitar sua identificação precoce.

Em "Motivação para mudança em usuários de drogas e justiça: revisão de literatura", os autores Itamar José Félix Júnior e Paulo Renato Vitória Calheiros, da Universidade Federal de Rondônia, fizeram uma revisão sistemática de estudos embasados no Modelo Transteórico e conduzidos com população envolvida judicialmente. Tal modelo tem sido usado na compreensão da motivação para mudança de comportamentos relativos a substâncias psicoativas. Segundo os autores, os resultados são promissores e sugerem possibilidades de ressocialização. Nos estudos brasileiros, o foco tem sido os adolescentes infratores. O trabalho sugere a relevância de se investir tanto no tratamento quanto na sua motivação junto a essas populações.

A seção "Psicologia Social" conta com dois trabalhos. O primeiro, intitulado "Problematizando a produção da vulnerabilidade e da pobreza higienizada na Assistência Social", foi redigido por Keli Lopes Santos, da Prefeitura Municipal de Santa Maria de Jetibá, e Ana Lucia Coelho Heckert, da Universidade Federal do Espírito Santo. No artigo, as autoras discorrem sobre os processos de resistências e de regulamentação da vida nos Centros de Referência da Assistência Social (Cras). São abordados os conceitos de vulnerabilidade e higienização. A partir da análise de materiais, incluindo conversas individuais e grupais com usuárias, profissionais e ex-profissionais dos Cras, são elaboradas discussões e críticas sobre a estigmatização dos indivíduos, as intervenções higienistas e a resistência de algumas pessoas a tais ações.

O segundo artigo da seção, "Maternidade e sofrimento social em mommy blogs brasileiros", foi redigido por Carlos Del Negro Visintin e Tânia Maria José Aiello-Vaisbgerg, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Com base no método psicanalítico, foram analisadas postagens de blogues pessoais brasileiros. Reflexões sobre a maternidade foram feitas pelos autores, sugerindo a prevalência de um imaginário coletivo que impõe grandes exigências à mulher, o que acaba por promover sofrimento emocional.

Na terceira seção desse número, "Avaliação Psicológica", são apresentados três artigos. No artigo "Norma pessoal de reciprocidade: evidências de validade e precisão de uma medida", os autores Valdiney Veloso Gouveia, Anderson Mesquita do Nascimento, Alex Sandro de Moura Grangeiro, Tailson Evangelista Mariano e Layrtthon Carlos de Oliveira Santos, da Universidade Federal da Paraíba, adaptaram o Questionário Norma Pessoal de Reciprocidade (QNPR) para o contexto brasileiro. Foram analisadas evidências de validade e precisão para as duas partes do questionário separadamente, de crenças e de reciprocidade. Os resultados revelaram adequação psicométrica do questionário, o que contribui para a área da avaliação da reciprocidade.

O trabalho "Validação brasileira do Questionário de Ansiedade Social para Adultos (CASO)" foi redigido em uma parceria entre pesquisadores espanhóis e brasileiros, a saber: Vicente E. Caballo, Universidade de Granada, Espanha; Isabel C. Salazar, Funveca, Espanha; Larissa Nobre-Sandoval, Universidade de Brasília, Brasil; Marcia F. Wagner, Faculdade Meridional (IMED), Brasil; Benito Arias, Universidade de Valladolid, Espanha; e Lélio Lourenço, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil. O artigo apresenta as propriedades psicométricas do Questionário de Ansiedade Social para Adultos (CASO), desenvolvido com situações sociais presentes na América Latina, na Espanha e em Portugal. Na amostra brasileira, o questionário manteve a estrutura de cinco dimensões e apresentou altos índices de confiabilidade e consistência interna, revelando ser o CASO um instrumento com propriedades psicométricas adequado para uso no Brasil.

Os autores Talita de Araújo Alves e Jacob Arie Laros, da Universidade de Brasília, em seu artigo "Propriedades psicométricas do SON-R 6-40 em pessoas com deficiência intelectual", refletem sobre os testes de inteligência como uma ferramenta fundamental para o diagnóstico da deficiência intelectual e, especificamente, analisam o teste não verbal de inteligência SON-R 6-40 para esse propósito. O grupo com deficiência intelectual apresentou QI baixo no SON, como esperado, e a análise fatorial exploratória indicou dois fatores, agrupando os subtestes de raciocínio e os de execução. Os resultados sugerem a adequação do teste para a avaliação de pessoas com deficiência intelectual.

Na seção "Desenvolvimento Humano", quatro trabalhos são disponibilizados. No artigo "Câncer infantil: uma análise do impacto do diagnóstico", as autoras Fernanda Rosalem Caprini e Alessandra Brunoro Motta, da Universidade Federal do Espírito Santo, analisaram o impacto psicossocial do diagnóstico de câncer em 12 crianças e seus cuidadores. Conforme os resultados, o risco psicossocial apresentou classificação clínica e, em termos de enfrentamento, foram verificadas estratégias adaptativas, como distração e suporte social, assim como estratégias menos adaptativas, como ruminação, reiterando a importância da intervenção psicológica em tais quadros.

A seção também traz um artigo internacional, de Cuba, intitulado "Resolução temporal visual em pacientes com anemia drepanocítica". No trabalho, redigido por Raúl Martínez Triana, Karen Reytor Alfonso, Ailyn García Hernández, Teresita Machado Almeida, Diunaisy Rodríguez González e Alain Risco Andrade, da Universidad de La Habana, é analisada a resolução temporal visual em indivíduos com anemia drepanocítica. Os resultados revelaram que tal resolução está diminuída em pacientes com anemia, o que sugere a existência de alterações no neurodesenvolvimento e indica a necessidade de mais estudos na área, ampliando análises sobre a relação entre o desempenho neuropsicológico e o funcionamento neurológico.

No artigo "TDAH nas epilepsias: prevalência e fatores de risco", as autoras Luciana Cristina Pimentel e Roberta Monterazzo Cysneiros, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, realizaram uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de investigar os fatores associados à comorbidade entre as duas condições. Os resultados revelaram que sinais de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foram relacionados especialmente a alguns tipos ou síndromes epilépticas, como a epilepsia rolândica e a epilepsia frontal. Esse estudo contribui para aumentar a compreensão sobre a associação entre os dois quadros, o que é relevante visto que o TDAH é uma das comorbidades mais prevalentes da epilepsia.

Bárbara Backes, Regina Basso Zanon e Cleonice Alves Bosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentam o artigo "Regressão de linguagem no transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática". As autoras discorrem sobre a perda de habilidades de linguagem que acomete parte das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por meio de uma revisão sistemática, observou-se maior quantidade de estudos a partir dos anos 2000, mas com lacunas ainda importantes na área. Conforme a revisão, o início da regressão de linguagem tendeu a ocorrer em torno dos 24 meses de vida da criança, geralmente acompanhada por perda de outras habilidades.

A quinta seção, "Psicologia e Educação", apresenta o artigo "Dificuldades e estratégias de enfrentamento de estudantes universitários com sintomas do TDAH". Nele, as autoras Clarissa Tochetto de Oliveira e Ana Cristina Garcia Dias, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, buscaram identificar as principais dificuldades encontradas por estudantes universitários com sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) e verificar quais estratégias de enfrentamento estão associadas a uma boa adaptação acadêmica. Foram mapeadas as dificuldades mais frequentes e as estratégias associadas com melhor adaptação acadêmica. Os resultados podem ajudar a compreender a adaptação acadêmica de estudantes com TDAH e, futuramente, embasar intervenções específicas com tais alunos.

Agradecemos aos autores, aos pareceristas, aos editores de seção e a todos os demais envolvidos no processo editorial. Uma excelente leitura a todos!

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