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Estudos de Psicanálise
versão impressa ISSN 0100-3437
Estud. psicanal. no.47 Belo Horizonte jul. 2017
Em busca do tempo sensível: os ruídos paradoxais da sexualidade na ampliação da escuta da identidade de gênero
In search of sensible time: paradoxical noises of sexuality on the expansion of a psychoanalytic listening from gender identity
Rodrigo Zanon de Melo
I Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro
RESUMO
A ampliação da escuta sobre a diversidade da identidade de gênero enquanto não patológicas. Comentários sobre Jean Laplanche, Jacques André, Paulo Ribeiro e Pierre Fédida abordando a relação entre sexo, gênero e alteridade. O paradoxo da relação inicial da sexualidade traumática, mas estruturante, do encontro assimétrico adulto e infans. A ligação entre feminilidade primária e identificação feminina primária. A necessidade da ampliação da escuta sobre essas questões. Reflexões a partir de um caso em que a transexualidade se apresentava como manifestação estruturante/identitária junto a uma sintomatologia além da psicanálise clássica: Édipo, recalque e representação.
Palavras-chave: Identidade de gênero, Alteridade, Teoria da sedução generalizada, Trauma, Feminilidade primária, Transexualidade, Transferência, Contratransferência, Tempo sensível.
ABSTRACT
The expansion of a psychoanalytic listening from no pathological gender identity diversities. Jean Laplanche, Jacques André, Paulo Ribeiro and Pierre Fédida comments on the relation between sex, gender and alterity. The paradox of the initial connection between traumatic but structuring sexuality, the asymmetrical encounter between adult and infans. The tie between primary femininity and primary feminine identification. The need to augment the listening about these issues. Remarks from a transexual case were structural/identitary manifestations were shown as a sintomatology beyond classical psychoanalysis: Oedipus, repression and representation.
Keywords: Gender identity, Alterity, Theory of general seduction, Trauma, Primary femininity, Primary feminine identification, Transexuality, Transference, Countertransference, Sensible time.
Aí está a rocha, ou antes,
aí está a fechadura cuja chave se perdeu.
Mas antes de ter sido perdida pelo próprio sujeito,
no processo de recalcamento, foi, mais profundamente,
perdida pelo outro, o outro adulto,
o outro da sedução originária.
Perdida para sempre para a criança
JEAN LAPLANCHE
Introdução: tradução, feminilidade primária e o estranho na transferência
Em seu trabalho sobre a teoria da sedução generalizada (1988) Laplanche descreve o encontro inicial traumático entre o adulto e o infans, tendo como principal objetivo atribuir a preeminência do outro na constituição psíquica. Assim, trabalha a possibilidade das origens da pulsão e do inconsciente como produtos da inoculação da sexualidade do outro, a partir do recalcamento originário, implicando o trabalho de representação simbólica da criança ao procurar metabolizar os elementos heterogêneos advindos do campo do mundo adulto – significantes enigmáticos e desconhecidos dos próprios adultos – que projetam sobre a criança um discurso marcado pela sexualidade. Não se trata da sedução perversa de um abusador, e sim da sedução entendida num sentido lato, a sedução generalizada, já que nenhum adulto está imune aos efeitos de seu próprio inconsciente ao lidar com a criança em pleno estado de desamparo.
Essas mensagens são, em um mesmo momento, enigmáticas e traumáticas, não tanto pelo simples fato de que a criança não possui o código delas e teria de adquiri-lo, mas porque o mundo do adulto é infiltrado por significantes inconscientes e sexuais dos quais ele mesmo não possui o código (ANDRÉ, 1996). Isso produziria um difícil trabalho de simbolização, sempre parcial, deixando sempre um resto intraduzível, deformado, que dará lugar à fantasia inconsciente.
Em um primeiro momento, essas mensagens ficariam implantadas no corpo da criança sem a apropriação do eu; em um segundo momento, através do trabalho tradutivo, seria instaurado o recalque originário, cujos restos não traduzidos formariam a pulsão e o inconsciente. É a partir do modelo tradutivo que o autor reformula o conceito de gênero, sem deixar de fora a sexualidade, o inconsciente e a temporalidade do a posteriori, sem cair no discurso das divisões corpo-mente e biológico-sociólogo, alertando para o perigo que representaria pensar em gênero sem sexualidade. O pensamento laplancheano recupera a sexualidade, tão importante na obra freudiana e problematiza o conceito de gênero implicando o efeito traumático da constituição psíquica.
De acordo com o modelo de tradução – destradução – retradução laplancheano, a mensagem do outro é retraduzida, seguindo uma direção temporal alternadamente retrogressiva e progressiva, pois o sujeito tende a interpretar seu passado, que apela para uma tradução, em vista de sua situação presente [...] Ainda, a primeira inscrição não necessita de uma tradução, ela é pura e simples implantação. As mensagens adultas enigmáticas suportam uma espera, um remanejamento, um deslocamento, sendo que alguns de seus aspectos são traduzidos, enquanto que outros elementos são excluídos da tradução e tornam-se inconscientes (LAPLANCHE, 1999 apud NETO; PAULA, 2013, p. 157).
Além de Laplanche, outros dois autores conseguiram resgatar sob outros prismas a relação entre sexo, gênero e primazia da alteridade. Trata-se de Jacques André e Paulo de Carvalho Ribeiro, que têm como característica comum o fato de trabalhar com a ideia de feminilidade nas origens da formação do psiquismo.
Jacques André dá um tratamento à feminilidade ampliando o conceito, levando o pensamento psicanalítico rumo às origens femininas da psicossexualidade em geral. Para o autor, a feminilidade é a principal simbolização da violência e da penetração, que marcam os momentos originários do psiquismo, por isso mesmo, tornando-se recalcado por excelência tanto nos homens quanto nas mulheres, tendo como principal agente recalcante dessa feminilidade originária o discurso falocêntrico.
Ribeiro, seguindo o pensamento de André, desenvolveu seu conceito de ‘identificação feminina primária’ tendo como ideia central a organização da ação traumática e invasiva da sexualidade inconsciente do adulto sobre a criança, através de uma primeira identificação feminina que, segundo ele, funcionaria como uma formação narcísica ainda hesitante entre a unificação e a dispersão.
Em um artigo passado,1 trabalhamos uma faceta clínica, um caso de transexualidade masculina, (sexo biológico masculino identidade de gênero feminina) onde a identidade de gênero, apareceria como tentativa de “solução” (CECCARELLI, 2013) diante de uma sintomatologia limítrofe.
No caso apresentado lançamos luz sobre a identidade de gênero como possibilidade estruturante/identitária. Essa perspectiva estruturante aparecia como um retorno à “identidade de gênero nuclear” (STOLLER, 1982), em uma tentativa de identificação primária (identificação pré-edípica) recalcada no inconsciente originário.
No caso em questão utilizamos os conceitos de Robert Stoller, que também trabalhou a ideia de feminilidade primária em seu importante trabalho A experiência transexual ([1975] 1982). O autor trouxe a ideia de uma identidade de gênero núclear (atraumática) passada da mãe para o bebê em uma relação simbiótica inicial pelo mecanismo de imprinting, importando o conceito da etologia e utilizando-o para caracterizar as impressões e os sinais que a criança recebe da mãe nos primeiros instantes de vida. A completa “identidade genérica” para o autor compreende primeiramente a formação da identidade de gênero nuclear. Esse núcleo de identidade genérica compreende o sentimento de ser menino ou de ser menina. A formação desse núcleo se dá sem conflitos o que faz que este tenha caráter tão fixo. Para Stoller, fatores biológicos, psicológicos e biopsíquicos (condicionamento e imprinting) contribuiriam para a formação da identidade genérica (COSSI, 2011).
Outro fator que nos motivou a ampliar a visão sobre a questão foi partir do contato pessoal em encontros com moradores de uma instituição de acolhimento LGBT(QI)2 composto em sua maioria por transgêneros e nas discussões com colegas em um grupo do qual faço parte, sobre as neossexualidades.3 Essa experiência fundamentou nossa posição despatologizante sobre o caráter das transexualidades e das múltiplas possibilidades de manifestações de identidades de gênero.
Na maioria de nossas observações feitas durante os encontros, os conflitos não estavam atrelados diretamente à manifestação da identidade gênero e muitas vezes passavam ao largo da questão como demanda apresentada pelos moradores da instituição. Esse fato nos leva a desconsiderar cada vez mais o determinismo nosológico dos transtornos ou disforias de gênero.
No DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais / Associação Psiquiátrica Americana) a transexualidade está descrita como disforia de gênero. Já no CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) a transexualidade é definida como: Transexualismo (F-64.0) Transtorno de identidade sexual. Categoria: Transtornos da identidade sexual (F64).
Nosso pensamento despatologizador não exclui a possibilidade da existência de sofrimento ou de conflito no sujeito em vivenciar sua identidade de gênero, independentemente da forma pela qual seja manifestada.
Isso nos remete novamente ao pensamento inicial:
Violência e trauma na clínica dos primórdios podem ter um sentido estruturante ou mortífero: estruturante por se relacionarem à dimensão pulsional dos cuidados maternos e ao confronto entre o mundo adulto e o mundo infantil que impele a atividade de representação; mortíferos se relacionados à desmedida e ao excesso – de presença ou ausência (ZORNIG, 2008, p. 336).
A injunção paradoxal assimétrica da violência e do trauma estruturante/constituinte será reverberada no sinistro da transferência, no trabalho da “inquietante estranheza” retomada por Fédida (1998) em seu trabalho: A angústia na contratransferência ou o sinistro (a inquietante estranheza) da transferência, tendo como modelo outro paradoxo, o estranho/familiar de Freud em seu ensaio O estranho (Das Unheimlich), de 1919.
Segundo Fédida (1985, p. 178 apud FONTES, 2001, p. 18) “[...] é na transferência e pela transferência que se enuncia repetitivamente no presente o impronunciável do infantil”.
Laplanche: uma abordagem pela teoria da sedução generalizada
Ao escrever seu ensaio Da teoria da sedução restrita à teoria da sedução generalizada (1988), Laplanche teve como temas centrais a primazia do outro e a simultaneidade assimétrica adulto criança. O autor se baseou a teoria da sedução restrita freudiana (abandonada em “a neurótica 1897”) tendo como objetivo explicar a gênese do aparelho psíquico sexual do ser humano pelo caráter relacional e não a partir de origens biológicas.
Assim, com o objetivo de ampliar essa noção de sedução freudiana e construir sua teoria da sedução generalizada, Laplanche inicia seu artigo retomando quatro características essenciais da teoria abandonada por Freud em 1897: (a) o adulto enquanto agente obrigatório da sedução; (b) a sedução infantil; (c) a passividade essencial da criança e (d) o encadeamento das cenas.
Sobre a primeira característica, Laplanche apontou que o adulto incriminado por Freud era um adulto ‘perverso’, no duplo sentido que vai ser estabelecido mais tarde, nos Três ensaios: apresenta um desvio quanto ao objeto, pedófilo, até mesmo incestuoso, desvio quanto ao fim. O que Laplanche procurou explorar nas cenas descritas por Freud foi a sedução denotando agressão, irrupção, intrusão e violência.
A segunda característica – a sedução infantil – é retomada pela forma imatura como a criança se encontra na cena, ou seja, ela não compreende o que lhe acontece. O autor ressalta a experiência traumática da sedução na criança que se situa numa etapa anterior à irrupção da sexualidade, numa etapa pré-sexual. Somente em um segundo tempo é possível sua ressignificação.
Segundo Laplanche, a imaturidade, a ‘impotência sexual inerente às crianças’ foram avaliadas por Freud em relação a uma espécie de escala de desenvolvimento, comportando etapas (níveis): nível de reação somática, nível de ressonância afetiva, nível de compreensão psíquica, tudo isto fazendo apenas um: é na sua totalidade psicossomático-afetiva que a criança pode ou não integrar adequadamente o que lhe acontece.
Na terceira característica, a passividade essencial da criança, o autor ressalta que a passividade esconde algumas questões como “quem seduz quem”. Para responder a essa questão, Laplanche sugere que a passividade da sedução não teria relação com uma passividade comportamental ou gestual e sim com a dificuldade da criança em compreender, ou melhor, simbolizar a mensagem que lhe é proposta.
A quarta característica essencial da sedução restrita– o encadeamento de cenas –descreveria as relações entre as várias cenas de sedução através de relações de contiguidade, semelhança e diferença no processo de simbolização em que umas cenas se simbolizam em relação às outras. Laplanche aponta a falha freudiana em buscar uma cena originária, e essa busca acabou contribuindo para o abandono da neurótica freudiana em 1897.
Ainda em sua discussão sobre a teoria da sedução restrita, Laplanche apresenta três aspectos complementares – um aspecto temporal, um aspecto tópico e um aspecto tradutivo –, que se aplicam no que ele denominou três níveis de sedução: sedução infantil, sedução precoce e sedução originária.
É a partir de uma forma precisa dessa hierarquia das seduções que deve ser reconstruída, sob sua forma generalizada, a teoria da sedução, que explica através do mecanismo do recalcamento, da constituição e da permanência de um inconsciente, assim como do efeito da pulsão que lhe é indissociável.
Segundo Laplanche a sedução infantil se refere a um primeiro Freud, em que o agente sedutor é o próprio pai, como em sua neurótica, em que o agente sedutor seria o pai da histérica. A sedução precoce se refere a um período de recalcamento teórico, em que o pai perverso cede lugar à mãe, que passa a ser a sedutora na relação pré-edipiana.
Então, após esse percurso, o autor chega à sedução generalizada em 1964/1967 trabalhando com a ideia de que existem significantes enigmáticos de origem inconsciente, além de uma outra ideia, que inclui na sedução originária situações de sedução “[...] que em nada revelam atentado sexual”.
Esse ponto de seu trabalho é muito importante, pois deixa claro que não se tratava de sedução perversa, (pedofílica) de um abusador, mas de uma sedução no sentido lato, a sedução generalizada, “[...] porque a relação adulto-infans ultrapassa, em sua generalidade, em sua universalidade, a relação pais-criança” (LAPLANCHE, 2015, p. 192).
Nenhum adulto está imune aos efeitos de seu próprio inconsciente ao lidar com a criança em pleno estado de desamparo a partir dos restos não traduzidos das mensagens enigmáticas propostas à criança pelo adulto. O trauma seria o resultado a posteriori das mensagens sexuais vindas do adulto e também do resultado dos restos não traduzidos.
São os restos não traduzidos que constituem os objetos fonte da pulsão e podem ser comparados a uma espécie de ruído sexual, de cartilagem ou osso pulsional não triturável pela máquina tradutiva. Do ponto de vista laplancheano, essa é a garantia “inexpirável” da ineficácia comunicativa da mensagem e de sua realidade própria, que deve ser situada justamente aquém e além da comunicação (RIBEIRO, 2000).
A teoria de Freud anterior a 1897, que Laplanche designa como “teoria da sedução restrita”, apresenta uma grande força e pontos de fraqueza:
Sua força reside: (1) na trama fechada que liga a teoria aos dados tirados da experiência analítica; (2) no fato de pôr em jogo, já de forma rigorosa e doravante intransponível, estes três fatores da racionalidade analítica – temporalidade do après-coup, localização tópica subjetiva, laços tradutores ou interpretativos entre os cenários e as cenas; (3) na capacidade explicativa do modelo, amplamente transponível e extensível no campo da psicopatologia; (4) na capacidade evolutiva do modelo: o que designamos, de passagem, como “esboços” para desenvolvimentos futuros. Os pontos fracos, inversamente, são aqueles onde uma teoria restrita corre o risco de ser bloqueada numa concepção restritiva (LAPLANCHE, 1988, p. 112-113, grifo nosso).
Diante de seu despreparo, a criança assume uma posição passiva frente às insinuações e iniciativas sexuais do adulto. Assim sendo, ela experimenta a sedução de forma traumática. Os sentimentos de angústia e aflição paralisam a criança não permitindo que ela aja de maneira ativa em relação à sedução, a qual adquire contornos de uma agressão traumática, a irromper o eu da criança gerando a ameaça de transbordamento e, sobretudo, de aniquilamento.
Apesar de seguir o modelo da “confusão de linguagens”, de Ferenczi, vemos no seu artigo Confusão de linguagem entre os adultos e a criança um verdadeiro prefácio da teoria da sedução generalizada.
Segundo Ferenczi:
Assim seduções incestuosas produzem-se habitualmente: um adulto e uma criança amam-se; a criança tem fantasias lúdicas, como desempenhar um papel maternal em relação ao adulto. O jogo pode assumir uma forma erótica mas conserva-se, porém, sempre no nível da ternura. Não é o que se passa com os adultos se tiverem tendências psicopatológicas, sobretudo se seu equilíbrio ou seu autodomínio foram perturbados por qualquer infortúnio, pelo uso de estupefacientes ou de substâncias tóxicas. Confundem as brincadeiras infantis com os desejos de uma pessoa que atingiu a maturidade sexual, e deixam-se arrastar para a prática de atos sexuais sem pensar nas consequências (FERENCZI, [1933] 1992, p. 101-102).
Laplanche aponta seu modelo teórico como diferente do modelo ferencziano. Segundo Laplanche em sua teoria da sedução generalizada ocorreria uma inadequação de linguagens: não se trataria de uma vaga “confusão”, mas, muito precisamente, de uma inadequação de linguagens: inadequação da criança ao adulto, inadequação do adulto ao objeto fonte que age nele.
Essas mensagens enigmáticas suscitam um trabalho de domínio e de simbolização difícil ou até impossível deixando para trás restos inconscientes a que o autor denominou de “objetos-fontes”. Diferentemente da confusão de línguas proposta por Ferenczi, o que estaria em jogo nessa situação seria uma inadequação de linguagens, inadequação da criança ao adulto. E um fator primordial seria a inadequação do adulto ao objeto-fonte que age nele mesmo. Mensagens enigmáticas que são excitações implantadas concretamente na periferia do corpo, excitações “somáticas” resultantes desses restos não traduzidos de excitações prévias.
Segundo Laplanche, seria preciso ir mais longe do que Ferenczi, pois a “linguagem da paixão” só é traumatizante na medida em que um sentido “de si mesmo é ignorado”, isto é, que essa manifestação do inconsciente é irredutível somente às potencialidades polissêmicas de uma linguagem em geral.
Laplanche manteve o pensamento do trauma em dois tempos de Freud em sua teoria da sedução. Assim:
[...] nada se inscreve no inconsciente humano senão na relação de ao menos dois acontecimentos separados, no tempo, por um momento de mutação que permite ao sujeito reagir de forma diferente da primeira experiência (LAPLANCHE, 1988, p. 111).
No primeiro tempo que o autor denomina como “o do terror”, o sujeito não preparado se confronta com uma ação sexual altamente significativa, mas que no momento não pode ser assimilada. Assim sendo, deixada em espera, essa lembrança não é em si mesma patogênica nem traumatizante.
A segunda cena é que dará o aspecto traumático ou, segundo Laplanche (1988, p. 112),
Devido às novas possibilidades de reação do sujeito, é a própria lembrança, e não a nova cena que funciona como fonte de energia libidinal interna autotraumatizante.
Laplanche retoma a ideia da sedução abandonada por Freud para afirmar a importância do outro e a possibilidade de conceber a pulsão e o inconsciente como produtos da inoculação da sexualidade pelo outro. E deixa claro que não se trata de sedução perversa de um adulto abusador, por isso a expressão “sedução generalizada”.
O pai, grande personagem da sedução infantil, cederia lugar à mãe, essencialmente na relação dita “pré-edipiana”. A sedução é aí veiculada pelos cuidados corporais destinados à criança, como veremos no trabalho de André As origens femininas da sexualidade (1996) sendo um passo fundamental não somente no que diz respeito à questão temporal (trata-se dos primeiros meses), mas também na categoria da realidade em que é preciso situar os fatos de sedução. Tratava-se mais exatamente não de pura realidade fatual, mas da efetividade, categoria que nos leva além da contingência e da peripécia: trata-se de uma sedução necessária, verbo que marca o caráter obrigatório da ação materna inscrita na própria situação.
Laplanche apresenta o termo “generalização” como forma de questionamento teórico e inicia dando luz à questão passivo-ativo atribuindo a Freud o grande mérito e a audácia de colocá-los na origem tanto das pulsões quanto do desenvolvimento da vida sexual. A confrontação adulto-criança englobaria uma relação essencial de atividade-passividade, ligada ao fato inelutável de que o psiquismo parental é mais “rico” que o da criança. Diferentemente dos cartesianos, não se trata de maior “perfeição” porque essa riqueza do adulto também pode ser considerada imperfeição: a clivagem de seu próprio inconsciente.
Nenhum adulto (desconhecendo sua própria clivagem e sua sexualidade inconsciente) está imune aos efeitos de sua sexualidade inconsciente ao lidar com a criança em desamparo.
Laplanche retoma a cena originária freudiana colocando-a em um lugar principal:
Querer situá-la, como o faz Freud, ao mesmo nível da sedução, no saco sem fundo das fantasias originárias, é esquecer este fato essencial: a cena do coito entre os pais é ela mesma sedução para a criança, no sentido de sedução originária (LAPLANCHE, 1988, p. 119).
Esses significantes enigmáticos podem ser concretos como o próprio seio materno, assim o autor questiona o investimento sexual inconsciente da mulher em seu órgão aparentemente natural de lactação.
Podemos supor que este investimento “perverso” não é percebido, suspeitado, pelo bebê, como fonte deste obscuro questionamento: que quer ele de mim? (LAPLANCHE, 1988, p. 119).
Então, na condição temporal tradutiva, as mensagens enigmáticas do adulto são traduzidas em dois tempos, reproduzindo o traumático. Laplanche postula que as mensagens transmitidas pelos pais para as crianças, muitas delas veiculadas pelos cuidados corporais, seguem o código do apego, e a partir delas pode surgir a pulsão.
No entanto, Laplanche afirma que a comunicação circula não só pela linguagem do corpo mas também pelo código ou a língua social: são as mensagens do socius, entre as quais se destacam as de designação de gênero. Perante elas a criança também terá que exercer a função tradutiva, já que chegam da mesma forma carregando o enigma, aquilo recalcado do adulto que as enuncia (ALONSO, 2016).
O gênero o sexo e o sexual
“Sim, o gênero precede o sexo. Mas ao invés de organizá-lo, é organizado por ele”. (LAPLANCHE, 2015, p. 168). Assim Laplanche (2016), em seu trabalho intitulado Sexual - a sexualidade ampliada no sentido freudiano 2000-2006, lança seu olhar sobre a questão do gênero apresentando a tríade sexo-gênero-sexual.
Para o autor, o gênero seria uma manifestação plural; o sexo seria regido pela lógica fálica dual (presença/ausência, fálico/castrado), e o sexual, múltiplo e polimorfo, se fundamenta no recalque, no inconsciente, na fantasia e seria o objeto da psicanálise. Assim, o sexual seria o resíduo inconsciente do recalque-simbolização do gênero pelo sexo. A preocupação do autor estaria sobre um possível abandono do sexual, descoberta freudiana fundamental.
Sabe-se que em alemão existem dois termos. Há certamente, Geschlecht, que significa o “sexo sexuado”, mas há também o sexual ou o Sexual. Quando fala da sexualidade ampliada, a sexualidade dos Três ensaios, Freud refere-se sempre ao Sexual [em alemão: sexual]. Seria impensável que Freud intitulasse sua obra inaugural: “Três ensaios sobre a teoria do sexuado ou da sexuação”. A Sexualtheorie não é uma Geschlechtstheorie (LAPLANCHE, 2015, p. 156)
O autor desvincula o complexo de castração do complexo de Édipo, estabelecendo uma relação direta da castração com a descoberta da diferença anatômica dos sexos, a fim de enfatizar o efeito organizador e recalcante da lógica binária. Se o gênero é organizado e simbolizado pelo sexo, então o código de tradução deve ser buscado ao lado do sexo. A anatomia perceptível funcionaria como esqueleto de um código, que é o da lógica fálica. Somente no interior do complexo de castração a diferença de gêneros passa a ser diferença de sexos. Assim sendo, o código de tradução se daria pela lógica fálica.
Sob a diferença binária dos sexos, a diversidade dos atributos passa a diferença dos sexos em um discurso baseado na contradição: fálico/não fálico, tornando a realidade da criança marcada por uma contradição ou polaridade. Um sexo marcado e outro não. Estruturando seu desejo no que seria significante do sexo, o falo, que passa a ter um valor simbólico. O que estaria em cheque seria a tradução e os modos de se lidar com a alteridade nas origens. A alteridade é de fundamental importância na instauração da sexualidade.
É interessante esse entendimento do autor ao apontar que a criança tem acesso à diferença dos gêneros desde muito cedo, distinguindo homem e mulher, porém essa distinção não seria feita pela diferença dos genitais e sim pela oposição de comportamentos, função, gestos e lugares sociais. Esse tratamento simbolizante das mensagens associadas à designação do gênero, essa conformação num todo coerente é o que chamamos de assunção de um sexo. O sexo é a forma com a qual a criança consegue traduzir o excesso e a multiplicidade das identificações que lhe foram designadas passivamente como se caracteriza no processo da sedução generalizada.
A alteridade, assim, se conecta à passividade da criança frente ao adulto e à passividade do Eu frente à sedução generalizada e, consequentemente, a “estrangereidade interna” que o ameaça. Essa passividade essencial da criança frente ao adulto é chamada por Laplanche de “situação antropológica fundamental”. É a essa situação que Jacques André e Paulo de Carvalho Ribeiro relacionam a feminilidade e, por isso, essa passagem pela teoria laplancheana é tão importante para que se entenda as teorias desses autores.
Jacques André e a qualidade feminina da alteridade
Tendo como base o trabalho de Laplanche Teoria da sedução generalizada (1988), Jacques André desenvolve em seu livro As origens femininas da sexualidade (1996) uma interessante teoria da feminilidade denunciando o primado fálico e a função recalcante que ele exerce sobre a feminilidade primária na criança. Assim, a feminilidade estaria presente em todos os sujeitos independentemente do gênero e seria recalcada na formação do inconsciente a partir do recalque originário. Esse fato/Isso excluiria a importância da alteridade na constituição do psiquismo.
Na situação de desamparo originária, de passividade originária, “[...] a feminilidade seria a própria qualidade da alteridade ou, mais exatamente, a abertura (amorosa) para esta” (ANDRÉ, 1996, p. 11). Por isso, a feminilidade porta um devir que pode levar as subjetivações a conviverem melhor com esse desamparo, a abrir-se a ele e a sua fundamental alteridade.
Assim, o território da feminilidade corresponde a um registro psíquico que se opõe ao do falo na tradição psicanalítica. Enquanto pelo falo o sujeito busca a totalização, a universalidade e o domínio das coisas e dos outros, pela feminilidade o que está em pauta é uma postura voltada para o particular (singular). A feminilidade implica a singularidade do sujeito e as suas escolhas específicas, bem distantes da homogeneidade abrangente da postura fálica.
Na vida psicossexual, assim como na teoria, a descoberta do primado do falo encobre de sombras uma alteridade para a qual o feminino oferece uma representação eletiva (ANDRÉ, 1996, p. 63, grifo nosso).
No Rascunho M (1897) Freud fez a seguinte afirmação: “Pode-se suspeitar que o elemento essencialmente recalcado é o feminino” (FREUD, [1886] 1889). A feminilidade sempre foi um paradigma para a psicanálise.
E Freud nunca negou sua dificuldade em teorizar sobre a feminilidade:
Os senhores, agora, já estão preparados para saber que também a psicologia é incapaz de solucionar o enigma da feminilidade (FREUD, [1933/1932] 1996, p. 125).
Em seu trabalho Análise terminável e interminável (1937) Freud afirma que a feminilidade seria marcada pelo horror, já que sua emergência colocaria em questão o referencial fálico. Um ponto muito importante foi apontado pelo autor: esse horror atribuído à feminilidade atingia igualmente homens e mulheres. Para ele a oposição entre masculino e feminino, entre homens e mulheres seria construída em torno da figura do falo. Ter ou não ter o falo e seus atributos; seria essa a questão que dividiria o mundo dos sexos e gêneros.
Sobre esse horror seguimos o pensamento de Birman (2002, p.13):
[...] impõe-se uma outra leitura da palavra horror a que Freud se referia, já que o sujeito pode assumir em face do sentimento de horror diferentes posturas e conferir-lhe diversos destinos psíquicos bastante diferenciados.
[...]
É o desamparo humano que está em pauta pela mediação da construção fálica. Trata-se, pois, para o sujeito de se defrontar com o imponderável e o indizível, na medida em que ele não pode dominar inteiramente o curso das coisas, do mundo e do outro pela postura arrogante do eu. É a assunção subjetiva disso tudo que se pretende com a experiência psicanalítica e que se condensa na aventura enigmática em direção à feminilidade.
O autor trabalhou o feminino como a erotização desse desamparo. A feminilidade, assim, se mostra como
[...] a revelação do que existe de erógeno no desamparo, a sua face positiva e criativa, isto é, o que este possibilita ao sujeito nos termos de sua possibilidade de se reinventar permanentemente (BIRMAN, 1999, p. 52).
Assim, a feminilidade estaria em uma íntima relação com a constituição do sujeito psicossexual, como potência identificatória, podendo ser explorada como:
(1) Uma crítica à centralidade da ideia do Édipo e do complexo de castração na psicanálise; (2) uma releitura da ideia de corpo erógeno na teoria freudiana com o objetivo de fundamentar metapsicologicamente a ideia de um excesso pulsional, pressuposto fundamental para que se possa pensar a multiplicidade das experiências subjetivas; (3) uma abordagem dos processos de subjetivação que toma como base referências extraídas da estética, em que a diferença se expressa como singularidade (ÁRAN, 2009, p. 663, grifo nosso).
J. André trabalhou a feminilidade sob duas perspectivas: na constituição do aparelho psíquico e na teorização psicanalítica sobre o psiquismo. Uma questão fundamental levantada por ele seria como especificar a ligação intrínseca entre sedução e feminilidade.
Compreender o que articula necessariamente o seduzido com o feminino pressupõe que abandonemos o registro da psicopatologia, em favor da máxima generalidade: a do ser humano; que deixemos o inventário das práticas perversas da sedução em prol da “sedução originária”, segundo a expressão de Jean Laplanche (ANDRÉ, 1996, p. 97, grifo nosso).
J. André atribui significativa importância ao pai sedutor. A feminilidade precoce tanto dos meninos como das meninas depende das marcas deixadas pelo desejo inconsciente de penetração do pai. Em nosso ponto de vista, desejo (de penetração) de um adulto sexualmente maduro, independentemente do gênero, relacionado à assimetria inicial. Não se trata de uma sedução pedofílica, mas se baseia no conceito de sedução originária e generalizada de Laplanche.
Esse desejo inconsciente do pai despertaria as zonas erógenas “cloacais” nas meninas (vagina, ânus e uretra) e anal nos meninos. Situações prototípicas de uma posição feminina. Jacques André sustenta a hipótese de uma excitação vaginal precoce – que pode ser causada pela estimulação da parede reto-vaginal pelo trânsito fecal – com uma complementaridade das representações pulsionais penetrantes do pai e as representações receptivas que elas induzem na criança. Tal conjunção entre feminilidade e sedução originária se assenta, portanto, sobre outra conjunção, a saber, a da feminilidade com o ‘dentro’, com o interior.
O autor descreve também a importância de Karl Abraham como interlocutor de Freud na questão da feminilidade. Segundo Abraham a menina já teria o conhecimento da vagina antes da puberdade apontando a frigidez das mulheres.
Assim pensava Abraham (1924 apud ANDRÉ, 1996, p. 35):
Dois sintomas neuróticos impuseram-me a hipótese de um estádio primitivo – digamos, vaginal-anal: a frigidez e o vaginismo. Por todas as experiências psicológicas, não posso acreditar que a frigidez repouse simplesmente no fato de faltar a passagem da libido do clitóris para a vagina. Deve haver um interdito aí, diretamente fundamentado em uma localização (grifo do autor).
A inveja do pênis na teoria freudiana desconsidera a vagina como um buraco, fato que encobre e nega a existência de um prazer tipicamente feminino relacionado ao desejo de penetração. O sexo masculino, contrariamente em sua simbolização fálica, é para todo mundo o ‘mesmo’, quer se o tenha ou não. O falo é o primado de um sexo, apenas um, sem outro senão sua própria ausência.
A feminilidade precoce tanto das meninas como dos meninos depende do pai e das marcas de seu desejo inconsciente de penetração. O momento inaugural da vida psicossexual do bebê estaria relacionado a uma dupla alteridade: a do outro e a do inconsciente do adulto.
Assim sendo, devido à passividade inicial dada à prematuridade da criança, a vida psicossexual não começa pelo “eu introjeto”, tampouco por um “eu me alimento e aproveito isso para sugar”, mas por um ele implanta, ele intromete; e sem saber o que faz. Assim, a criança nesse momento é tomada pela tormenta do sexual, muito além do que sua “resposta” autoerótica lhe permite aplacar.
J. André afirma que nesse momento “a criança é penetrada por efração”. O autor determina que a conjunção entre a “criança seduzida é uma criança-cavidade, uma criança orificial” (ANDRÉ, 1996).
No desamparo inicial vivenciado pelo bebê (Hilflosigkeit), a passividade que J. André associa à feminilidade é uma “passividade pulsional” que não tem nenhuma relação com uma simples negação da atividade ou com um suposto “silêncio” psíquico ou fisiológico da vagina. Segundo André (1996, p. 106) “a passividade impõe a ideia de uma espécie de clivagem entre duas pessoas em uma mesma cena psíquica: o agente e o paciente”.
O autor define a passividade pulsional como:
[...] gozar daquilo que (lhe) acontece, participar com gozo daquilo que (em você) penetra, faz intrusão – isso quer dizer a ligação íntima entre a passividade e o dentro (ANDRÉ, 1996, p. 122).
Para o autor a passividade precede a atividade e a atividade é uma “elaboração-distanciação” da primeira como no fort-da freudiano.
Para ele (e para Freud igualmente), a passividade tem precedência sobre a atividade, sendo que esta última surge como uma “elaboração-distanciação” da primeira, como ilustra, por exemplo o “jogo da bobina”. Entre o que ele denomina “ser invadido originário” [être effracté originaire] e o “ser penetrado feminino” [être pénétré féminin], algum grau de elaboração já se encontra presente, mas não o suficiente para evitar que a feminilidade sofra, pela proximidade que continua a manter com esses primeiros elementos nucleares do inconsciente, os mais intensos efeitos do recalcamento (RIBEIRO, 2000, p. 244).
J. André (1996) contemplou em seu trabalho, além da passividade da criança perante o adulto sedutor, a situação de masoquismo originário que lhe é correlativa. Associando o masoquismo com a feminilidade: tendo como hipótese concernente à psicogênese da feminilidade como elaboração da posição de submissão à intromissão naturalmente passiva da criança face à intromissão do sexual adulto, sustenta, por associar gozo e penetração/invasão, o caráter ao mesmo tempo necessário e primitivo do vínculo entre masoquismo e feminilidade. Associou a feminilidade ao masoquismo primário em uma conjunção de dor e excitação sexual, tendo suas raízes na violência originária e invasiva dos primeiros tempos da sedução, evocando como primária a figura de um masoquismo orificial, dado à penetração e à invasão.
Para Ribeiro, como veremos a seguir, J. André concebe a explicação para o caráter de necessidade da tríade feminilidade-passividade-masoquismo, à qual poderíamos acrescentar um quarto termo: o recalcado. No final das contas, tudo decorre do fato de que a feminilidade primitiva é a primeira representação da passividade da criança diante da situação traumática de sedução (RIBEIRO, 2000, p. 246).
Enquanto o psiquismo se constituir a partir da ação do outro sobre um corpo inicialmente fragmentado e indefeso, o sexual sempre será dominado por fantasias de penetração na forma tanto ativa quanto passiva.
A identificação feminina primária
A partir do pensamento de J. André, Paulo Ribeiro (2000) ampliou a sedução originária para além das vivências penetrantes ao corpo e ao psiquismo da criança. Ele incluiu a intensidade e a utilização metafórica da criança como objeto penetrante pela mãe. Em seu conceito de identificação feminina primária, a ação traumática e invasiva da sexualidade inconsciente do adulto sobre a criança é organizada primariamente por uma identificação feminina, que “[...] funciona como uma formação narcísica ainda hesitante entre a unificação e a dispersão” (RIBEIRO, 2000, p. 47).
Essa identificação primária ocorre devido a uma “afinidade intransponível” entre a sedução originária e a feminilidade, bem como devido à identificação primária à mãe. Constitui a primeira representação da passividade da criança diante da efração que caracteriza a situação traumática de sedução.
Segundo o trabalho de J. André, a fantasia feminina de ser penetrado se apresenta como uma tradução sexuada das exigências do objeto-fonte da pulsão. Considere-se que essa explicação da conjunção entre o seduzido e a feminilidade permanece num plano estrutural da antecipação e delineamento do “ser-penetrado” da feminilidade pelo “ser-invadido” da sedução (RIBEIRO, 2000). Aqui ao conceber a sedução originária como uma relação de penetração, podemos pensar no fundo concreto, corporal em que se assenta a constituição psíquica.
O Eu se constitui através da identificação com um outro. Essa identificação participa da delimitação de um corpo recalcado originário e da formação do Eu, é uma identificação passiva, que se dá à revelia do sujeito em formação. O recalque originário estaria relacionado diretamente à formação da tópica do eu e do inconsciente primário. Já o recalque secundário se refere à força de ressignificação que o gênero e a diferença dos sexos têm sobre o eu (incluindo a formação do supereu) além das interdições edípicas relacionadas ao incesto e ao parricídio.
A hipótese de Ribeiro se caracteriza por um primeiro tempo do recalcamento da feminilidade primária correspondendo ao processo pelo qual a criança é moldada de acordo com a feminilidade consciente e inconsciente da mãe. Para a criança essa feminilidade não se opõe à diferença anatômica dos sexos nem se relaciona a ela.
Nesse primeiro tempo, penetrar e ser penetrado, ter e ser o objeto coalescem numa experiência única, na qual passivo e ativo, masoquista e sádico não são pares de opostos, mas vivências homogêneas de um gozo sem oposição.
O segundo tempo coincide com a descoberta da diferença anatômica dos sexos, sua incidência sobre a diferença dos gêneros e o imperativo de se posicionar perante essas diferenças. Esse é o momento em que a feminilidade primária se sexualiza (nos dois sentidos do termo) e passa a ser comparada, avaliada e medida a partir do padrão fálico (RIBEIRO, 2000).
A feminilidade primária se constituiria como uma primeira e necessária representação da passividade da criança diante da situação traumática e da sedução invasiva. O feminino se torna o recalcado por excelência para ambos os sexos articulando, assim, a feminilidade e a alteridade.
O outro sexo, para qualquer um, homem ou mulher, é sempre o sexo feminino, já que está pré-inscrito no psicossoma da criança pela efração sedutora originária do outro (do adulto), e em que, ao ser penetrado, ele repete o gesto e mantém o enigma dessa efração. Faz a diferenciação entre a feminilidade secundária tal como aparece nas identificações dos sujeitos do sexo feminino (que, certamente, por ser uma forma de assunção de identidade, trabalha a favor da estabilização e coesão do Eu) e a feminilidade ligada às origens fragmentadas e invasivas do psiquismo.
Podemos concluir, então, que tanto a masculinidade quanto a feminilidade secundária são constituídos como uma superação defensiva e denegativa desse estado primitivo do eu. O mecanismo de sua formação depende, naturalmente, do estabelecimento de uma oposição entre penetrante e penetrado, mas apóia-se principalmente no recalacamento da posição penetrado por meio de um superinvestimento fálico de todas as representações penetrantes. Por meio desse recalcamento, constitui-se a posteriori à natureza efetivamente pulsional da relação de penetração e do estado do eu penetrante/penetrado que lhe é correlato (RIBEIRO, 2005, p. 254).
A articulação entre feminilidade, recalcado e a alteridade faz com que o conflito psíquico guarde sempre relações com os gêneros. Afinal, entre o que J. André denomina “ser invadido originário” e o “ser penetrado feminino” alguma elaboração certamente existe, mas não o suficiente para impedir que a feminilidade sofra os mais intensos efeitos do recalcamento.
Portanto, o deslocamento da lógica fálico/castrado para o penetrante/penetrado proposta como deslocamento da segunda etapa da formação da identidade de gênero estaria relacionada à qualidade da internalização da alteridade, articulando feminilidade, alteridade e recalcamento.
Do estranho da sexualidade ao estranho na transferência: uma escuta sensível
O paradoxo do duplo aspecto do ambiente inicial, o narcisamento necessário para a constituição do aparelho psíquico e a violência do traumático da sexualidade inconsciente do adulto estavam presentes na fala da paciente atendida por mim, a partir do conflito, “desejo e impossibilidade em se transexualizar”.
Pensando em um inédito porém possível diálogo entre as teorias de Laplanche e Fédida no encontro dessa estranha/familiar assimetria sexual traumática da teoria da sedução generalizada, de Laplanche, ao sinistro da inquietante estranheza da transferência, trabalhado por Fédida, recorremos inicialmente a Freud, que em 1919 publicou seu ensaio O estranho [Das Unheimlich]. O autor aponta que o estranho [Unheimlic] é de alguma forma uma “subespécie” de heimlich, do familiar (que é também o oculto, o secreto).
Freud aponta para a dimensão infantil presente no estranho – o pensamento mágico e a repetição – que, junto com o retorno do recalcado, são elementos sempre presentes na experiência do estranho.
Toda familiarização do representável no pensamento implica em ressimetrizar a situação analítica (e, portanto, em aboli-la) na crença da “relação interpessoal” (FÉDIDA, 1988, p. 81).
Na sedução originária, o enigmático intraduzível fica em estado selvagem, o que nos remeteria à “inquietante estranheza” no trabalho freudiano.
Segundo Fédida (1988) analista e analisando são remetidos à inquietante estranheza da transferência. Pensando na transferência como fenômeno do Unheimlich, a situação analítica corresponderia ao analista sustentar essa posição de estranho íntimo onde ele ocuparia esse lugar de sítio do estrangeiro. Assim, sua posição de estranho íntimo ofereceria ao paciente a revivescência de suas experiências arcaicas.
A dimensão corporal da transferência é fundamental para esse retorno às experiências anteriores à aquisição da palavra. Fédida denomina essa experiência de “regressão alucinatória na transferência”.
O autor trabalha com a ideia do Unheimlich constituído na transferência pela potência psicótica (alucinatória) dos processos ativados do estrangeiro da sexualidade:
O problema da transferência, da autoconservação do eu nela, o da significação da morte na autoconservação, e, poderíamos acrescentar, o problema da intolerância à efração sexual (FÉDIDA, 1988, p. 40).
Segundo o autor a contratransferência, respondendo à assimetria da situação analítica, designa ao analista um lugar de recepção e de produção das transferências.
A transferência, então, alcançaria um estágio anterior à sedução generalizada trabalhada por Laplanche, um estágio fusional em que não é possível nenhum tipo de representação de diferença, ou seja, em que não se fez possível ainda a constituição de um “eu-pele” capaz de proporcionar a transição entre o eu corporal e o eu psíquico, portanto não se pode pensar em ambiente e bebê separados.
Nos primórdios, o bebê está imerso em um “berço de sensações”. São as sensações que ocupam o primeiro plano. A autossensualidade como descrita por Tustin (1990). Uma fase do desenvolvimento que antecede o autoerotismo: “[...] O ego primário é um ego autossensual” (TUSTIN, 1990, p. 42).
Talvez pudéssemos dizer que a existência da criança nos seus primórdios resume-se a isto: o absolutismo de excitações decorrente de uma radical abertura ao mundo (RIBEIRO, 2000, p. 211).
Como descrito na ocasião da apresentação do caso clínico,4 um estranhamento me acometeu em algumas circunstâncias dos atendimentos, desde o primeiro encontro em que a imagem andrógina e a fala paradoxal e confusa da paciente me lançaram em um sentimento de profunda dificuldade e um desejo inicial de não seguir com os atendimentos. Fui acometido por uma sensação “estranha” de violência contratransferencial. Violência que me era projetada ou evacuada em uma comunicação radical da paciente. E também em seu corpo eram as tentativas inglórias de representação, através dos inúmeros cortes na pele. Como um estranho sentido no corpo pela minha paciente.
O trânsito entre corpo e psiquismo, tão inescapável e universal quanto a situação antropológica fundamental adulto-criança proposta por Laplanche persiste por toda a vida, por isso sua compreensão é imprescindível para percebermos a importância das relações entre o psíquico e o sensorial (CAMPOS, p. 126, 2016). Observamos aqui uma aproximação do conceito de Eu-pele e a tradução ao recalque originário proposto por Laplanche.
O Eu-pele é uma realidade tipo fantasmática, fornecedora do espaço imaginário, que compõe a fantasia, o sonho, a reflexão e cada organização psicopatológica, que se apoia sobre um envelope em sua origem sobretudo tátil e sonoro. Uma estrutura intermediária do aparelho psíquico. Intermediária estruturalmente entre a inclusão mútua dos psiquismos na organização fusional primitiva e a diferenciação das instâncias psíquicas, que corresponde à segunda tópica freudiana (ANZIEU, 2000). A primeira integração no bebê normal, a introjeção de uma primeira pele psíquica. Forma o espaço sonoro, primeiro espaço psíquico, a primeira harmonia, antecipando sua própria unidade como self através da diversidade de seus sentidos.
A técnica de escuta que o autor aponta em seu livro consiste em:
[...] restabelecer o envelope sonoro que, ele próprio, duplica o envelope tátil primário; em mostrar ao paciente que ele pode me “tocar” emocionalmente; em realizar equivalentes simbólico dos contatos táteis enfraquecidos, ‘tocando-o’ através de palavras verdadeiras e plenas” (ANZIEU, 2000, p. 180).
Ao analista cabe
[...] encontrar palavras que sejam equivalentes simbólicos do tocar e que exerçam as funções do Eu corporal e do Eu psíquico que não receberam no passado as estimulações suficientes a seu desenvolvimento (ANZIEU, [1985] 2000, p. 129).
Cabe situar nesse espaço de transição entre fusão e a primeira representação de diferença o processo tradutivo, o primeiro interdito, primeiro espaço de separação é onde se dá a primeira significação da identidade de gênero como núcleo. Nesse estágio ocorreria o que Stoller definiu como “identidade de gênero nuclear” e sua vivência aconflitual.
Essa distinção entre eu-corpo e eu-instância permite a Laplanche estabelecer dois tempos do recalque originário e o efeito do a posteriori que se produz entre eles. Segundo o autor no primeiro tempo já teríamos um eu-corpo que coincide com a superfície.
Assim, podemos pensar que entre o eu-corporal e o primeiro tempo do recalque originário seria o da construção de um eu-pele momento de transição entre o eu-corporal e o eu-psíquico. O recalque primário precisa do secundário (efeito do a posteriori) para se consolidar.
O primeiro tempo seria o da inscrição das mensagens segundo o autor:
Sob a camada fina da consciência ou ‘sob a pele’. Num segundo tempo a mensagem é revivificada do interior. Ela age como um corpo estranho interno que é preciso a todo preço integrar, controlar (LAPLANCHE, 2015, p.195).
Há um campo sensorial entre o corpo biológico e o corpo erógeno, e a sensorialidade é uma abertura ao erógeno possibilitando os investimentos libidinais. Cartografia somatopsíquica ressaltando a importância da experiência tátil no que se refere à construção da imagem de um envoltório cutâneo. Envoltório que separa o dentro e o fora com as experiências de sustentação e de contorno do corpo, fundamentais para que se efetive a discriminação entre o eu e o não eu e, consequentemente, a constituição egoica (CAMPOS, 2016).
O modelo de recalcamento originário proposto por Laplanche reserva para a criança o lugar de tradutor. Laplanche descreve o ser humano como autotradutivo, e o recalcamento originário é apenas o momento primeiro e fundador de um processo que dura toda a vida. A criança receberia as mensagens passivamente e ativamente tentaria traduzi-las.
Aqui preferimos seguir o pensamento de Ribeiro (2000) e Bleichmar (1994 apud RIBEIRO, 2000) que, diferentemente de Laplanche, consideram o adulto importante no processo narcisante (tradutor originário).
Silvia Bleichmar (1994) sugere uma saída que nos parece integrar esse duplo aspecto do materno: o caráter de “duplo comutador” que a mãe possui. Ela aponta que nas origens do psiquismo há dois movimentos: aquele que funda a pulsão sob o modo da pulsão de morte, objeto fonte excitante que deve encontrar canais de derivação, de ligação, e aquele que proporciona as ligações mesmo antes da instalação do ego do incipiente sujeito psíquico, mesmo antes, consequentemente, do recalcamento originário, criando os pré-requisitos de sua instalação.
Segundo Fédida (1998), garantir a situação analítica ou reinstaurá-la corresponde para o analista à tarefa de manter essa posição de estranho íntimo que é, de certa forma, a condição temporal da essencial dissimetria. O analista atua como um ambiente capaz de ressonância com o estado da criança, de continência das energias dessa angústia, de metabolização e de ‘meta/forização’ dos afetos confundidos, que tendem a transbordar na criança.
A contratransferência equivale a um dispositivo inerente à situação analítica e adequado ao enquadre do tratamento. Evita que o analista se encontre diretamente confrontado com a irrupção violenta dos afetos do paciente e dos seus próprios, permitindo-lhe reinstaurar a situação analítica caso esteja perturbada ou momentaneamente destruída, formando o lugar de ressonância e de tradução em palavras de tudo o que pode ser experimentado no tratamento.
Segundo Ivanise Fontes:
A partir do fluxo primitivo de sensações não coordenadas passa-se por essa “produção de formas” até chegar a ter um corpo que as contenha – essa é a experiência do tornar-se humano. Observamos então que a percepção analítica durante o tratamento é transferencialmente uma recepção dessas formas, que se tornam figuráveis pela linguagem, e graças a qual podem ser engendradas novas formas. A situação analítica é feita para acolher essas sensações, e é preciso que a sensação seja interpretada. Seu retorno como memória corporal se deve ao fato de que não fora anteriormente representada, tornando-se assim uma inquietante estranheza (FONTES, 2001, p. 25).
O sujeito transexual, tal o caso citado, pode chegar à clínica movido por questões conflituosas e tentativas sintomáticas de solução, que o impossibilitam de traçar seu percurso de transexualização, causado por questões arcaicas referentes à impossibilidade representacional. Então, a confiabilidade proporcionada por uma escuta afetiva, sensível e ativa, em que a assimetria inicial poderá ser revivenciada com uma escuta acolhedora da ternura, favorece/possibilita contenção e desconstrói o desmentido da inadequação de linguagens do originário.
Considerações finais
Retirar as manifestações de gênero do âmbito patológico não significa negar a escuta do sujeito quando ele apresenta um conflito em expressar sua identidade de gênero. A ampliação da escuta apresentada no presente trabalho apreendeu possíveis atravessamentos conflitivos ou ruídos que impossibilitam o sujeito de exercer sua manifestação de gênero sem conflitos. Segundo Laplanche esses conflitos estão inteiramente ligados à designação do gênero pelo outro, ou seja, pelas pessoas que compõem o ambiente social no qual o bebê se encontra. E provém desse pequeno socius familiar a função designativa espontânea que resultará na formação de uma identidade de gênero feminina ou masculina. Formação a partir de um conjunto complexo de atos, linguagens e comportamentos significantes em torno da criança.
Pensando assim, a possível manifestação conflituosa do gênero atrelada à tradução/recalque originário da sexualidade assimétrica e enigmática recalcada e a posteriori, e sua resignificação sendo feita por um discurso binário, reduzindo assim a pluralidade subjetiva a uma lógica excludente: com ou sem o falo.
A assunção de um sexo se torna o fator principal do recalcamento secundário, em que elementos vindos do outro participam da constituição psíquica e instalam no bebê uma dimensão de alteridade, em torno da qual toda a sexualidade inconsciente irá se organizar (RIBEIRO, 2015, p. 172).
A temporalidade do a posteriori, como nos sugere Ribeiro (2011), é fundamental para escaparmos ao paradoxo de ter que levar em consideração as experiências dos bebês ‘antes que eles tenham um ego’ e, ao mesmo tempo, compreender como essas experiências são determinantes na constituição dessa mesma instância. Portanto, a qualidade da alteridade e, consequentemente, sua internalização está diretamente ligada às primeiras relações mãe (ambiente) e bebê.
Em outras palavras, um recalque originário suficientemente bom, isto é, um efetivo desprendimento do objeto primordial, pressupõe que a problemática primária ego/não ego tenha sido suficientemente bem desenvolvida. Então a problemática da sedução pode ser principalmente considerada no registro da fantasmática da sedução (ROUSSILLON [1995] 2005, p. 149).
É difícil tentar encerrar ou resumir uma temática tão ampla no percurso teórico aqui estruturado, já que a singularidade de cada sujeito está acima de qualquer teoria. Assim sendo, nosso objetivo é abrir possibilidades frente ao sujeito que sofre, pensando uma escuta que propicie ao analisando a vivência sensível dos primórdios constituinte e em um momento posterior à vivência da identidade de gênero.
Deixando um campo reflexivo em aberto para novas aventuras pela temática, reafirmamos a necessidade de uma escuta clínica para além da zona de conforto da técnica clássica/interpretativa, um mergulho pela experiência transferencial, do inquietante sinistro. E dele aos buracos negros atualizados nas angústias sensíveis contratransferenciais.
Conhecemos a história do homem que perde suas chaves, à noite, e procura por elas junto a um poste de luz. A um transeunte que se inquieta, querendo saber se foi ali mesmo que elas foram perdidas, ele responde: “Não, mas, pelo menos, aqui está claro”. Para além do círculo de luz que cerca o poste começa o continente negro; e a zona de sombra onde se encontram as chaves (JACQUES ANDRÉ, 1996, p. 61).
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Endereço para correspondência
E-mail: rzmelo@hotmail.com
Recebido em: 10/04/2017
Aprovado em: 18/05/2017
SOBRE O AUTOR
Rodrigo Zanon de Melo
Psicólogo.
Psicanalista.
Membro efetivo do Círculo Brasileiro de Psicanálise - Seção Rio de Janeiro (CBP-RJ).
Integrante do Grupo de Trabalho de Neo e Transexualidades (GTNTrans) do CBP-RJ.
1 MELO, R. Z. Quando o Édipo não é o destino: pensando o fenômeno transexual como possibilidade identificatória e de existência psíquica, artigo publicado na revista Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n. 45, p. 149-165, jul. 2016. Publicação semestral do Círculo Brasileiro de Psicanálise.
2 Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros (Queer e Intersexuados).
3 Grupo orientado por Anchyses Jobim Lopes e composto por Ana Paula Perissé, Fátima Barcellos, Fernanda Ribeiro de Freitas, Roberta de Oliveira Mendes, Rodrigo Zanon de Melo e Tânia Stein Cynamon.
4 Caso apresentado em um artigo anterior já citado.