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Tempo psicanalitico

versão impressa ISSN 0101-4838versão On-line ISSN 2316-6576

Tempo psicanal. vol.46 no.2 Rio de Janeiro dez. 2014

 

EDITORIAL

 

Em sua edição 46.2 a Tempo psicanalítico inaugura sua plataforma on-line, no site revista.spid.com.br. Digitalizando a revista, contribuímos à democratização do acesso ao conhecimento e inauguramos uma nova fase com o objetivo de, ao longo do tempo, tornar disponível on line todas as suas edições.

Os artigos desta edição abrangem temas diversos a partir de suas articulações psicanalíticas, demonstrando a importância da psicanálise para a compreensão de fenômenos tão variados como as toxicomanias, no artigo "A aliança do supereu com a pulsão de morte no uso de drogas", de Alexandra Vianna, e as manifestações de junho de 2013, no artigo "Psicanálise, Estado e grandes manifestações de rua", de Oswald França. A variedade dos temas abrangidos pela psicanálise, longe de constituir aquilo que Freud havia qualificado de Weltanschauung, a "visão de mundo" que seria, para o psicanalista, própria à filosofia, demonstra uma inquietude que caracteriza o campo psicanalítico que, se permanece crítico a respeito dos sonhos de totalização dos saberes, não pode se contentar com o meramente particular. Por isto a relação intrínseca entre pensamento e fracasso da consciência, que tanto marcou as reflexões de Freud, a "potência do negativo" que consiste em transformar aquilo que a consciência experimenta como fracasso em processo da verdade e em um conceito renovado de liberdade.

Desta foram, além das reflexões sobre as toxicomanias e as manifestações de junho, oferecidas pelos autores já citados, encontramos no artigo de Ricardo Salsztrager, "A memória entre intensidade e representação", investigações sobre a impossibilidade da memória em abarcar uma dimensão insubordinável à representação psíquica, aquela da intensidade, que constituiria um limite aos processos de elaboração e memorização elencados por Freud como protocolos de cura.

Nos artigos de Carolina Rodriguez Alves de Souza e Daniel Menezes Coelho ("Ideais e perversidades em jogo nas Políticas Públicas de Assistência Social: uma leitura psicanalítica dos valores e práticas"), Joyce Marly Gonçalves Freire e Mário Eduardo Costa Pereira (A construção metapsicológica do Sinthoma na obra lacaniana a partir da escrita de James Joyce), Pedro Laureano e Wilson Camilo Chaves (Elevar a Coisa à dignidade dos objetos: a ética de Lacan entre a proibição e o impossível) trata-se, respectivamente: da relação entre o conceito metapsicológico de denegação perversa e as políticas públicas de assistência à infância; das transformações na forma como Lacan compreendeu a psicose, propondo em 1973 o conceito de Sinthome; da passagem, também no pensamento de Lacan, da categoria de proibição àquela de impossível.

Os artigos "Freud maçom: a sua loja Wien não seria de fato sua splendid isolation?", de Francisco Martins, "Viena, Áustria: notas sobre o contexto de emergência da psicanálise", de Monah Winnogradd, "Reflexões sobre crise e estabilização em psicopatologia fundamental", de Carmen Sílvia Ávila e Manoel Tosta Berlinck, "Sobre a inserção e o lugar do psicanalista na equipe de saúde", de Maria Lívia Tourinho Moretto e Léia Priszkulnik, trazem contribuições importantes sobre o contexto histórico e as ascendências judaicas do pensamento de Freud, além de reflexões sobre a diferença trazida pelo psicanalista nas equipes de saúde de hospitais e em suas relações com a psiquiatria.

Nesta edição, publicamos duas resenhas, mantendo o objetivo desta seção da revista: divulgar livros relevantes de autores da psicanálise brasileira. É o caso de duas publicações de Glaucia Dunley e Eduardo Rozenthal, "Superações do pós-moderno: clínica e crítica da cultura" e "O ser no gerúndio: corpo e sensibilidade na psicanálise", ambos tratando o desafio que ao qual a psicanálise nunca pode se furtar: problematizar o presente e ler, em seus impasses, as linhas de sua superação.

Boa leitura!