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Psicologia Clínica
versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol. clin. vol.28 no.1 Rio de Janeiro 2016
CLÍNICA, PSICANÁLISE E CORPO
Anorexia: uma conjugação do amor no feminino?
Anorexia: an affinity between love and the female?
Anorexia: ¿una afinidad entre el amor y lo femenino?
Cristina Moreira MarcosI
IPontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC-MG, Minas Gerais, Brasil
RESUMO
Este artigo busca discutir a incidência preponderante da anorexia em jovens mulheres nos dias atuais, buscando extrair uma possível relação entre a anorexia e o feminino. Parte-se do pressuposto de que a anorexia não é do gênero feminino por causa da cultura, mas é antes uma posição do sujeito na qual se evidencia uma afinidade estrutural com o feminino. A incidência da causalidade social sobre o sujeito não é negligenciada, entretanto é preciso interrogá-la na medida em que ela não se constitui como uma causa eficiente. Não podemos deixar de considerar que, nos dias de hoje, o corpo magro é um semblante do feminino. Ser magra indica a adequação do corpo ao ideal feminino transmitido pelo discurso social. Entretanto devemos nos interrogar também a respeito da posição do sujeito enquanto tal. Por que a anorexia encontra expressão privilegiada nas jovens mulheres? tal é nossa questão. Nossa hipótese é que a anorexia pode ser, ao mesmo tempo, uma resposta aos impasses encontrados na sexuação feminina e uma demanda de amor.
Palavras-chave: anorexia; feminino; amor; puberdade; psicanálise.
ABSTRACT
This article discusses the major incidence of anorexia in young women these days, trying to extract a possible relationship between anorexia and female. We start from the premise that anorexia is not female because of the culture, but it is a position of the subject in which evidences a structural affinity with the feminine. The incidence of social causality on the subject is not neglected, however you need to check that it does not constitute as an efficient cause. We can not fail to note that, nowadays, the skinny body is an image of the female. Being thin indicates the adequacy of the ideal female body transmitted by social discourse. However we must also ask ourselves about the position of the subject as such. Why anorexia has privileged expression in young women? This is our issue. Our hypothesis is that anorexia may be at the same time, a response to impairments in female sexualization and a demand for love.
Keywords: anorexia; female; love; puberty; psychoanalysis.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo discutir la incidencia predominante de la anorexia en mujeres jóvenes en estos días, tratando de extraer una posible relación entre la anorexia y lo femenino. Suponemos que la anorexia no es femenino porque de la cultura, sino una posición del sujeto en el que pone de manifiesto una afinidad estructural con lo femenino. La incidencia de la causalidad social sobre el tema no se descuida, sin embargo tenemos que comprobar que no constituye como causa eficiente. No podemos pasar por alto que, hoy en día, el cuerpo delgado es una imagen de lo femenino. Sin embargo, también debemos preguntarnos acerca de la posición del sujeto como tal. Debido a que la anorexia es expresión privilegiada en las mujeres jóvenes? Este es nuestro tema. Nuestra hipótesis es que la anorexia puede ser, al mismo tiempo, una respuesta a las deficiencias en la sexualización femenina y una demanda de amor.
Palabras clave: anorexia; feminino; amor; puberdade; psicanálise.
Introdução
Este artigo busca discutir a incidência preponderante da anorexia em jovens mulheres nos dias atuais, procurando extrair uma possível relação entre a anorexia e o feminino. Parte-se do pressuposto de que a anorexia não é do gênero feminino por causa da cultura, mas é antes uma posição do sujeito na qual se evidencia uma afinidade estrutural com o feminino. A incidência da causalidade social sobre o sujeito não é negligenciada, entretanto é preciso interrogá-la na medida em que ela não se constitui como uma causa eficiente. Porque a anorexia encontra expressão privilegiada nas jovens mulheres? tal é nossa questão. Não podemos deixar de considerar que, nos dias de hoje, o corpo magro é um semblante do feminino. Ser magra indica a adequação do corpo ao ideal feminino transmitido pelo discurso social. Entretanto devemos nos interrogar também a respeito da posição do sujeito enquanto tal. Nossa hipótese é que a anorexia pode ser, ao mesmo tempo, uma resposta aos impasses encontrados na sexuação feminina e uma demanda de amor. A anorexia seria uma estratégia para fazer existir A mulher; dito de outro modo, uma estratégia para fazer a exceção, ser a única? Se a anorexia é um nome da demanda de amor, ela é também seu desvio patológico, no qual se evidencia uma recusa do corpo pulsional feminino, sobretudo em seu desencadeamento na puberdade. Há que se dizer que, na perspectiva psicanalítica que adotamos, anorexia e bulimia não encerram um diagnóstico estrutural, são tomadas como posições subjetivas em sua pluralidade. Sendo assim é necessário identificar o traço diferencial da anorexia para destacar seja sua função de compensação ou suplência, seja sua função de defesa do desejo, que marca sua declinação neurótica.
Recalcati (2001) propõe pensar uma clínica diferencial da anorexia a partir do estatuto diferente que o objeto "nada" adquire em suas manifestações clínicas. Sua proposta de situar a clínica da anorexia a partir de duas concepções distintas do "objeto nada" funda-se nos desdobramentos que a noção de objeto a vai encontrar no ensino de Lacan. Ao propor a pergunta "[...] a criança, ao se recusar a satisfazer a demanda da mãe, não exige que a mãe tenha um desejo fora dela porquanto é essa a via que lhe falta rumo ao desejo?" (Lacan, 1957-1958/1998, p. 634), Lacan faz surgir o nada como objeto separador, como defesa subjetiva do desejo. A partir dos anos 60, o nada adquire um estatuto afirmativo de substância de gozo. Ao contrário de um objeto que alimenta o desejo, o nada revela-se um objeto parasita, que nadifica, desertifica o desejo, sob a forma de um gozo mortífero e totalitário (Marcos, 2014).
O primeiro "comer nada" estaria ligado à histeria, na qual a recusa do alimento funciona como defesa do desejo, resposta à demanda sufocante do Outro. Visa-se fazer surgir o signo do amor no Outro. O segundo nada está ligado a formas mais graves de anorexia, nas quais se verifica uma estrutura psicótica e uma nirvanização do desejo. Há um nada que não entra na dialética do desejo e da demanda. Temos aqui a anorexia como toxicomania do nada, vertente na qual o gozo mortífero ganha o primeiro plano da cena. O que delineamos como afinidade estrutural entre a anorexia e o feminino a partir do amor refere-se a um paradigma histérico da anorexia, desenvolvido principalmente em no seminário de Lacan As relações de objeto (Lacan, 1956-1957/1995), mas também em "A direção da cura e os princípios de seu poder" (Lacan, 1958/1966).
Na primeira declinação do objeto nada, Lacan coloca em relevo a irredutibilidade entre o objeto do desejo objeto simbólico e o objeto da necessidade. O sujeito consegue recusar o corpo próprio naquilo em que ele depende das necessidades biológicas do organismo para evidenciar a irredutibilidade do desejo à necessidade. Esse é o quadro da anorexia histérica desenhado por Lacan, cujo paradigma encontramos na Bela Açougueira (Freud, 1900/1969). Em seu comentário do caso freudiano, Lacan afirma que o desejo de caviar da espirituosa histérica é um desejo de mulher satisfeita que não o quer estar. "Mas, vejam, ela não quer ser satisfeita apenas em suas verdadeiras necessidades. Quer outras, gratuitas, e, para ter toda a certeza de que o são, não quer satisfazê-las" (Lacan, 1958/1966, p. 625). A satisfação da necessidade aparece como engodo no qual a demanda de amor é esmagada. Conseza (2008) afirma que, dentro desse paradigma, a anorexia revela o sintoma histérico como uma mensagem endereçada ao desejo do Outro. Esse é o enquadramento que nos permite afirmar uma afinidade estrutural entre a anorexia e o feminino em sua conjugação no discurso amoroso. Trata-se de uma conjugação da anorexia em sua declinação neurótica.
A anorexia é feminina?
Em sua última conferência sobre o feminino, Freud (1931/1969a) assinala a existência de uma relação primitiva e duradoura com a mãe, enfatizando o caráter indelével desse laço. Se, em um primeiro momento, o Édipo feminino era o avesso especular do Édipo masculino, posteriormente Freud coloca no centro da problemática da sexualidade feminina não mais o amor ao pai, mas essa fixação originária e precoce na mãe. O amor da menina endereçado ao pai é um substituto dessa relação primeira com a mãe. Em outros termos, a metáfora paterna, na qual o Nome do Pai se substitui ao Desejo da Mãe não pode anular totalmente esse laço do sujeito com o Outro materno.
Para Freud (1931/1969a), a mãe será definida como Outro onipotente ao qual a menina está inexoravelmente ligada em sua pré-história; para Lacan (1973/2003), ela pode ser uma devastação para a filha. A mãe e seu amor (ou sua impossibilidade) são elementos essenciais para abordar o feminino. Se é verdade que Freud não deixa de reconhecer uma zona obscura, de difícil acesso à análise, na relação mãe e filha, ele, porém, persiste em pensar o feminino a partir do Édipo e da castração. Lacan, a partir disso que em Freud está apenas delineado, vai propor abordar o feminino a partir de uma divisão entre o simbólico e o seu mais além.
Freud (1931/1969a) havia abordado, no texto "Sexualidade feminina", a importância da relação precoce mãe-filha e afirma a ter subestimado em função do forte recalque que a mantém quase inacessível à análise. Mesmo se Freud aborda o feminino pela via do falo, ele não deixa de apontar a relação primitiva da menina com a mãe como essencial. Nesse texto de 1931, e posteriormente em sua última conferência sobre a sexualidade feminina (1933/1969b), Freud acentua o ódio ressentido em relação à mãe, considerada responsável pela falta da filha, e conclui que a intensa ligação pré-edipiana da menina com a mãe é fortemente ambivalente, marcada pelo amor e pela hostilidade. O termo utilizado para caracterizar esta relação é "catástrofe". "A transição para o objeto paterno é realizada com o auxílio das tendências passivas, na medida em que escaparam à catástrofe" (Freud, 1931/1969a, p. 275), que é a ligação primitiva com a mãe. Ele ainda dirá que, para muitas mulheres, suas vidas amorosas mantêm-se atadas a essa ligação primitiva com a mãe, marcada pela rivalidade.
Todos os elementos do Édipo freudiano são retomados em Lacan (1957-1958/1998) no Seminário As formações do inconsciente. Nele, Lacan reformula a questão da relação primordial à mãe nos seguintes termos: trata-se de se tornar o ser desejado ou não. O sujeito busca saber o que orienta o desejo da mãe para encontrar aí seu lugar. O pai é aquele que abre a possibilidade de um além da captação imaginária. Permanece o fato de que a relação mãe-filha continua a ser centrada na reivindicação fálica.
Lacan, entretanto, distancia-se da posição dos pós-freudianos que atribuem uma importância excessiva à mãe ao caracterizarem a relação mãe-criança como dual. O que é essencial, para Lacan, é o fato de a mãe se situar como Outro primordial para o sujeito. Para o sujeito, trata-se de saber se ele se tornou desejado ou não, ele busca no desejo da mãe um lugar para se situar no Outro.
No "Aturdido", após ter comentado as fórmulas da sexuação do lado do homem, Lacan (1973/2003) afirma que "Até aqui, seguimos Freud, e nada mais, no que se enuncia da função sexual por um paratodo, mas igualmente ficando numa metade, das duas que por sua vez ele discerne, a partir do mesmo côvado, por lhe remeter as mesmas diz-menções" (Lacan, 1973/2003, p. 463).
Lacan (1973/2003) reprova Freud por ter abordado os dois sexos pelo mesmo modelo, por ter utilizado a mesma medida e por ter atribuído as mesmas dimensões aos dois sexos com essa medida. Efetivamente, Freud estabelece entre o menino e a menina uma simetria invertida: do Édipo à castração para o menino e da castração ao Édipo para a menina. Instala-se uma divergência nessa simetria entre os sexos, mesmo se a referência ao falo é mantida. Aliás, é o falo que permite a Lacan escrever as fórmulas da sexuação.
Na década de 70, Lacan (1975/1985) formaliza as fórmulas da sexuação, nas quais ele utiliza a lógica para escrever a relação do sujeito com o desejo e o gozo. Para distinguir os dois sexos, ele se vale da mesma função de gozo, a função fálica, dividindo os seres falantes em dois lados: o lado masculino e o lado feminino. Do lado esquerdo, há a universal afirmativa "Para todo x, x é fálico" e no lugar da particular afirmativa temos "Existe um x que não é fálico". Lacan toma a indicação negativa da leitura "maximal" de "alguns". Para Lacan, elas são ambas verdadeiras ao mesmo tempo mais precisamente, são ambas necessárias.
A particular afirmativa "Existe um x que não é fálico" funda o lugar da exceção como o lugar do pai, evocando o mito de "Totem e tabu". Todos são fálicos, há um todo, um universal, e há uma exceção que confirma a regra. Esse universal sustenta-se de um ponto de exceção. Não há a fórmula "Existe um x que é fálico". Há um universal do lado homem das fórmulas, mas esse universal não assegura nenhuma existência. Um conjunto pode ser vazio e pode funcionar como universal. O fato de haver um universal fálico não garante a existência de um homem. O lugar da existência é o lugar do pai.
Do lado direito do quadro, do lado mulher, não existe o Um que faz a exceção. A fórmula do não-todo é lida como: não é de todo x que posso dizer que se inscreve na função fálica. Não é de toda mulher que se pode dizer que ela se inscreve na função fálica, ou, se ela se inscreve na função fálica, não é inteira, há uma parte na função fálica, mas não tudo. No lugar da universal negativa, encontramos: "Não existe um x que diga não à função fálica". O pai existe, mas a mulher não. O não-todo implica uma dupla indeterminação: primeiro, afirma uma relação da mulher ao falo que é indeterminada, ela é não-toda na função fálica, e segundo, não podemos saber onde ela é nessa função. O não-todo não implica que haveria uma existência que diria não à função fálica e conduz ao "um a um", cada uma inscreve-se na função fálica de modo contingente, conduz ao que não forma um conjunto, ao infinito. Na lógica clássica, a fórmula "Não existe um x que diga não" conduziria à universal afirmativa "Todos dizem sim". Entretanto, não é isso que Lacan escreve com as fórmulas, mas sim que não há um universal.
A psicanálise ensina que o fundamento do idêntico provém do imaginário, da imagem do corpo. O momento do estádio do espelho estrutura o corpo como imaginário e funda as categorias do semelhante, do mesmo e do idêntico. A categoria do diferente é enraizada na experiência da linguagem e do significante, que funciona sempre em um par de opostos. Para diferenciar duas coisas, identificamos cada uma delas a um de seus traços, a uma de suas características, a um atributo, e depois diferenciamos esses traços. Primeiro, há a identificação a um atributo e depois há a diferenciação e a classificação. É assim que a ordem significante e suas oposições binárias, por um lado, e a ordem gramatical da frase (sujeito-cópula-atributo), por outro, fundam a lógica aristotélica das classes (Morel, 2000). Não é disso que se trata na diferença entre os sexos.
A questão da diferença sexual inclui-se na dificuldade de pensar a diferença. Poderia ser natural pensar que a ausência de um traço de um lado seria a resposta à presença de um traço do outro lado e valeria como traço qualificando "Mulher" em oposição a "Homem". Mas a facilidade desaparece quando buscamos estabelecer o próprio que qualifica "Homem" e o próprio que qualifica "Mulher", sem articulá-los. Tanto Freud quanto Lacan postulam a existência de um vazio real no lugar do que seria o núcleo da identidade sexual. Contrariamente à teoria do gênero, que se orienta em direção às identificações e postula a existência de uma identidade sexual, a psicanálise se orienta em direção às pulsões e seus destinos.
Ser homem ou ser mulher não é um dado inato ou adquirido, é uma escolha enraizada em modos de gozo. O conceito de sexuação, em Lacan, diz respeito a uma escolha de um modo de gozo. Ele também a caracteriza como "opção de identificação sexuada". A escrita das fórmulas da sexuação é uma tentativa de definir os dois sexos como dois modos distintos de uso do falo no laço como o outro sexo (ou com o mesmo). Sendo assim, a sexuação diz respeito à inscrição do sujeito em um dos lados da partilha sexual, evidenciando a ausência de um núcleo da identidade sexual para os seres falantes. Encontramos, na prática analítica, a dificuldade para um sujeito de assumir seu sexo. Acreditamos que a anorexia pode ser uma resposta aos impasses encontrados na sexuação feminina.
Após esses breves apontamentos acerca da sexuação feminina, voltamos à questão da relação entre a anorexia e o feminino. Alguns autores (Recalcati, 2001; Cacciali, 2005; Pencack e Bastos, 2009) reconhecem, em alguns casos, uma manobra na anorexia histérica que visa a instauração de um lugar de exceção do lado feminino, no qual não há a exceção. É para ser a única no desejo do Outro que ela recusa o alimento. Gostaríamos de discutir essa proposição a partir do discurso amoroso e a isso voltaremos em breve. Antes, porém, é elucidativo localizar, em Freud, algumas indicações dessa aproximação entre anorexia e feminino.
Freud deixa poucas e esparsas indicações acerca da anorexia ao longo da sua obra. Em "Um caso de cura pela hipnose", Freud (1892-1893/1969c) faz a descrição de um caso clínico no qual uma mulher apresentava episódios de anorexia após o parto do primeiro e do segundo filho. Ele classifica a paciente de "histérica de ocasião" (Freud, 1892-1893/1969c, p. 142) e afirma que temos, nesse caso, uma "perversão da vontade" (Freud, 1892-1893/1969c, p. 142). Também no relato do caso Emmy Von N., Freud (1893-1895/1969d) aborda a anorexia associando-a à neurose histérica e explica sua recusa alimentar como um sintoma de conversão. A anorexia de Emmy é explicada pelas lembranças da infância nas quais comer está associado a cenas repugnantes. A anorexia articula-se, nesse caso, a um trauma infantil que retorna pela brecha do fracasso do recalque.
O "Rascunho G" é uma exceção a essas poucas menções à anorexia. Nele, Freud (1895/1969e) assinala a relação entre a anorexia e as moças jovens cuja sexualidade não se desenvolveu. Freud destaca ainda, nesse trabalho, a relação entre anorexia e melancolia, embora não classifique a anorexia como uma psicose, considerando-a uma espécie de paralelo neurótico da melancolia.
A neurose nutricional paralela à melancolia é a anorexia. A famosa anorexia nervosa das moças jovens, segundo me parece (depois de cuidadosa observação), é uma melancolia em que a sexualidade não se desenvolveu. A paciente afirma que não se alimenta simplesmente porque não tem nenhum apetite; não há qualquer outro motivo. Perda do apetite em termos sexuais, perda da libido (Freud, 1895/1969e, p. 283).
Na "Carta 105", Freud (1899/1969f) se pergunta por que a paciente sofre de vômitos histéricos. Ele afirma que, na fantasia, ela está grávida e é tão insaciável que não consegue tolerar o fato de não ter um bebê também de seu último amante. Ele afirma que o sentido do sintoma é um par contraditório de realizações de desejos. Por um lado, o vômito está associado à gravidez na fantasia e, por outro, ela vomitava para ficar magra e perder a beleza e, desse modo, não ser mais atraente para ninguém. Por fim, em "O homem dos lobos", Freud (1918/1969g) associa a anorexia a uma "neurose feminina", ligada à fase oral da vida sexual.
Tanto em Freud, quanto na psiquiatria, a anorexia é abordada como patologia feminina por excelência, que atinge especialmente as mulheres. A expressão de Freud (1895/1969e) "moças jovens", presente no "Rascunho G", não deixa de destacar a afinidade da anorexia com o feminino. A anorexia nervosa nas jovens mulheres seria a neurose paralela à melancolia, frente a uma sexualidade não desenvolvida. Segundo Freud, o que é perturbador é o sexo. Ou ainda, a anorexia está associada a uma neurose "nas meninas que ocorre numa idade muito posterior, na época da puberdade ou pouco depois, e que exprime a aversão à sexualidade por meio da anorexia" (Freud, 1918/1969g, p. 133). Permanece entretanto a questão: a anorexia seria uma resposta aos impasses encontrados na sexuação feminina? Por quê?
A puberdade e o corpo feminino
Não podemos deixar de mencionar que as dificuldades alimentares surgem frequentemente na puberdade. É na adolescência que o sujeito se vê confrontado, a partir de um aumento da energia pulsional, às transformações corporais. Stevens (2004) fornece uma preciosa definição da adolescência, como uma sintomatização da puberdade. Nesse sentido, a função da adolescência seria a sintomatização do excesso pulsional ao qual o adolescente se vê confrontado. Dito de outro modo, a adolescência seria a construção de um modo singular de fazer frente a essa força pulsional que atinge os sujeitos no momento da puberdade.
Consenza (2011) faz a hipótese de que o adolescente encontra-se diante de duas direções possíveis: a via do sintoma e a via de seu fracasso, naquilo que seria uma recusa radical. A via do sintoma é a via neurótica clássica que encaminha o sujeito à vida sexual. É a aceitação de seu engajamento na vida amorosa e da inscrição da pulsão no campo do Outro pela mediação do parceiro. A via do fracasso do sintoma, ao contrário, revela-se como uma recusa radical. Essa via não passa pela entrada na sexuação. Sendo assim, não conduz o sujeito à parceria amorosa e à assunção do próprio sexo, tomando a forma de uma recusa da castração simbólica e de um não-acesso ao gozo fálico. Isso nos conduz a pensar em uma forclusão ou na "ruptura do casamento com o falo", fórmula encontrada por Lacan (1976) para descrever a posição do toxicômano em relação a seu gozo. A tese de Consenza é a de que a anorexia, na adolescência, se configura como um fracasso do processo de sintomatização da puberdade. A anorexia é assim concebida como o resultado do fracasso da função própria à adolescência, que seria essa passagem na qual o sujeito faz uma construção singular, um sintoma, a partir de seu encontro com a pulsão na puberdade.
O fato de que o desencadeamento da anorexia se verifica nesse momento particular da puberdade indica a estreita relação, para as meninas, entre a pulsionalização do corpo feminino e a resposta anoréxica. Essa resposta termina por revelar uma não aceitação do corpo próprio como corpo pulsional feminino. Consenza (2011) defende a tese de que a anorexia é, antes de tudo, uma recusa do corpo pulsional e, em particular, uma recusa da menina em possuir um corpo feminino, um corpo de mulher. A não aceitação do corpo feminino encontra, na conjuntura do desencadeamento da anorexia, a ocasião propícia para apoiar e desenvolver essa recusa. O desencadeamento da anorexia na adolescência frequentemente se dá a partir de um enunciado ou um olhar que exalta o novo corpo de mulher, colocando em evidência o valor de gozo do corpo, ferindo o pudor e desfazendo os véus. A jovem mulher buscará a partir daí fazer desaparecer as curvas do corpo que provocam essa manifestação de gozo.
Freud considera que até a puberdade não há uma clara diferenciação entre o caráter feminino e o masculino, na medida em que "a menina comporta-se como um menino". Na puberdade, emerge um gozo que desfaz essa antiga identificação. Os desencadeamentos na puberdade testemunham que o estatuto mesmo da infância protege o sujeito dessas eclosões. Amparada no Outro, a criança pode sustentar-se a partir de uma identificação ao ideal parental. A identificação ao falo protege dos fantasmas orais. Na puberdade, o corpo fálico se desfaz, em certa medida, e se revivem os fantasmas de devoração em relação à mãe, diante dos quais a identificação ao falo, na infância, fazia barreira.
Como havíamos dito anteriormente, Freud (1931/1969a) assinala o vínculo profundo que une a menina ao Outro materno e o impacto inevitável desse vínculo sobre o processo de sexuação feminina. Se, em um primeiro momento, Freud concebe o Édipo Feminino como a inversão do que ocorre com o menino o objeto de identificação é a mãe e o objeto de amor é o pai, enquanto para o menino o pai é o objeto de identificação e a mãe o objeto de amor , em sua última conferência enfatiza o caráter indelével da relação primordial da menina com a mãe. A escolha do pai como objeto de amor substitui a ligação originária com o Outro materno, constituindo-se como um ponto fundamental no desenvolvimento sexual da menina. Para Freud, o amor da menina endereçado ao pai tem sua raiz inconsciente no laço primevo com a mãe. Sendo assim, evidencia-se que a função da metáfora paterna não pode anular completamente o vínculo do sujeito com o Outro materno. Permanece um resto indelével dessa ligação.
A anorexia, segundo Recalcati (2007), assinala a incidência, sobre o sujeito, desse vínculo originário com o Outro materno, apontado por Freud como traço próprio à subjetividade feminina. O autor afirma que o sujeito permanece, na anorexia, subjugado ao regime do desejo materno, ao mesmo tempo que busca subverter esse regime. O pai deixaria a filha à mercê do desejo da mãe. Sabemos que o amor dirigido ao pai é um substituto da relação primitiva com a mãe, conforme ensina Freud (1931/1969a). A anorexia seria uma reação a esse vínculo devorador com o Outro materno, introduzindo o nada como objeto separador.
Entretanto, há que se dizer que, embora a relação mãe-filha em sua vertente de devastação seja frequentemente associada à anorexia, não devemos entendê-la como uma relação dual. Lacan distancia-se da posição dos pós-freudianos, que atribuem uma importância excessiva à mãe caracterizando a relação mãe-criança como dual. O que é essencial, para Lacan, é o fato de a mãe se situar como Outro primordial para o sujeito. Para o sujeito, trata-se de saber se ele se tornou desejado ou não, ele busca no desejo da mãe um lugar para se situar no Outro.
Esta subjetivação consiste simplesmente em colocar a mãe como ser primordial que pode estar lá ou não. No desejo da criança, no seu desejo, este ser é essencial. O que o sujeito deseja? Não se trata simplesmente do apetite dos cuidados, do contato, talvez até da presença da mãe, mas do apetite de seu desejo.
Desde esta primeira simbolização onde o desejo da criança se afirma, se começam todas as complicações ulteriores da simbolização, naquilo que seu desejo é desejo do desejo da mãe (Lacan, 1957-1958/1998, p. 182).
Lacan permite abordar a devastação de uma outra perspectiva. O desejo da mãe não é inteiramente recoberto pelo significante, permanece um gozo desconhecido, feminino. Há uma outra face da devastação que não se reduz ao desejo e à demanda, mas aponta para o gozo feminino. Vemos o surgimento de um gozo não redutível ao desejo, opaco, refratário ao limite do simbólico. O desejo da mãe é supostamente recoberto pela significação fálica introduzida pela inscrição do Nome do Pai, entretanto algo escapa ao falo.
Marie-Hélène Brousse (2002) afirma que a devastação parece estar ligada à impossível troca fálica, na medida em que algo da mãe escapa à lei simbólica. Por isso ela tende a permanecer como um Outro real, é interpretada como Outro do gozo, convocando assim à fusão impossível ou à persecução. A devastação provém de um defeito que tocou a palavra.
A devastação situa-se no campo da relação entre o sujeito e a mãe, o campo incluindo o Outro da linguagem e a relação da palavra. Este campo, chamado por Lacan "desejo da mãe", entendido segundo duas modalidades do genitivo em francês, comporta uma zona obscura, não saturada pelo Nome do Pai, e como tal sem limite definido (Brousse, 2002, p. 98).
Brousse (2002) nos adverte de que não se trata de reduzir a devastação à relação dual com a mãe, mas afirma que tanto Freud quanto Lacan esclarecem o fato de que a relação mãe-criança é logo de início situada no campo simbólico. Não se trata, para a autora, de identificar necessariamente psicose e devastação, mas de articulá-las ao modo particular como a linguagem emerge em um sujeito. A devastação toca as origens da inscrição simbólica, o que ocorreu como primordial na infância. O insulto, a rejeição ou o silêncio são alguns dos modos de emergência particular da linguagem para um sujeito. Embora diversos, eles têm um ponto em comum, a saber, a consagração da "crença inabalável na onipotência de um Outro não castrado, de uma mãe que escapa à falta da castração e que apresenta ao sujeito uma alternativa mortal: ou a rejeição, ou a reintegração do seu produto pela genitora" (Brousse, 2002, p. 99). A palavra do Outro materno é associada à descoberta de uma experiência de gozo; trata-se da conexão da experiência da palavra com o sexual.
A anorexia pode ser uma resposta aos impasses encontrados no "tornar-se mulher" nos quais o vínculo primevo com a mãe se faz sentir. Entretanto é preciso dizer que, em sua afinidade com o feminino, ela se conjuga como demanda de amor. Recalcati (2007) afirma que a afinidade estrutural da anorexia e do feminino concerne sobretudo à essência do discurso amoroso. É por amor, para ser a única, que a anoréxica se consome na recusa do alimento.
Frequentemente a ausência do olhar do pai parece ser decisiva na construção da resposta anórexica, sobretudo no período da puberdade, momento de reconstrução dos ideais e da vacilação dos semblantes. Há, na resposta anoréxica, um apelo ao pai em uma tentativa de passar da demanda ao desejo do Outro. A anoréxica reage à devastação da relação com a mãe introduzindo o nada como objeto separador em um apelo ao pai. Ao mesmo tempo que solicita a presença da mãe e vive sob seu regime, como sugere Recalcati em relação às anoréxicas, ela faz um apelo ao pai.
Dafunchio (2006) afirma que a "presença real do alimento nas anorexias é um indicador de que o pai não foi totalmente significantizado; certa dimensão de cadáver permanece, deixando o sujeito, por assim dizer, engasgado" (Dafunchio, 2006, p. 16). A autora observa que na clínica da melancolia, na qual a rejeição do alimento é frequente, revela-se uma impossibilidade de perder o pai como corpo, para incorporá-lo como significante. Sendo assim, o momento posterior à incorporação, no qual o simbólico aspira o corpo negativizando a carne, não se realiza. Essa função do simbólico, tornada possível pelo ao menos-um da função paterna da exceção, não se efetua. Dafunchio fala de uma "eternização do luto pelo pai" (Dafunchio, 2006, p. 16).
Não se afirma com isso um diagnóstico de melancolia. As anorexias se inscrevem também em outras estruturas. Podemos pensar com Dafunchio (2006) que encontramos nas anorexias diferentes modos de tratar o gozo que não se conseguiu extrair completamente do corpo, independente da estrutura. Quando algo da função do pai vacila é a constituição mesma do gozo, sob a forma do mais-de-gozar que está em questão. Dafunchio (2006) faz uma importante indicação acerca da afinidade entre a anorexia e o feminino. Por um lado, essa clínica coloca em discussão a dificuldade de fetichização do próprio corpo. O corpo não se constitui enquanto falo, havendo um fracasso da mascarada. Por outro lado, evidencia o declínio, próprio da nossa época, do Nome-do-Pai.
Anorexia: uma patologia do amor?
Em "Introdução ao narcisismo", Freud (1914/2004) sublinha que para uma mulher há uma relação entre ser amada e o investimento fálico nos caracteres sexuais secundários. A imagem corporal é solidária da falta fálica e depende do Outro. "O investimento dos caracteres sexuais secundários é o encontro com o semblante enodado ao desejo do Outro como véu do nada. O amor é a peça chave na medida em que faz suplência à ausência da relação sexual" (Ons, 2004). Se Freud afirma a importância do amor para as mulheres o temor da perda do amor equivale, para elas, à castração é porque sua falta faz desaparecer os semblantes que velavam a castração.
Para Lacan, amar é dar o que não se tem. Essa definição do amor repete-se ao longo de seu ensino. Amar não supõe dar o que se tem, pois amar é dar um signo, o amor como signo. "Dar o que não se tem" alude ao impossível em jogo na lógica do ter, na lógica fálica. Trata-se de dar a impossibilidade mesma. Por isso o amor é o mais difícil dos dons, pois implica em poder suportar algo da castração. O amor é dar não o alimento, mas aquilo que nos falta. É o signo da nossa falta que abre uma falta no seio do Outro. Há um vazio estruturante no amor. O Outro da anoréxica falha na oferta da própria falta, respondendo às demandas do sujeito com o que tem a comida, os cuidados e não com o que não tem. Na medida em que ele não oferece a sua falta, ele não cria um lugar para o sujeito, um lugar no qual o sujeito contaria para o Outro e faria falta.
Em "A significação do falo", elaborando as articulações entre necessidade, demanda e desejo, Lacan (1958/1988a) afirma:
A demanda se dirige a algo mais do que as satisfações a que ela apela. Ela é a demanda de uma presença ou uma ausência. Aquilo que a relação primordial à mãe manifesta, em estar grávida desse Outro a situar aquém das necessidades que ele pode suprir. Ela o constitui como já tendo o "privilégio" de satisfazer as necessidades, isto é, o poder de privá-las da única coisa pela qual elas estão satisfeitas. Esse privilégio do Outro desenha assim a forma radical do dom do que não tem, ou seja, do que se denomina seu amor (Lacan, 1958/1988a, p. 268).
Mais aquém das necessidades que esse Outro pode preencher desenha-se a forma radical do dom do que não se tem, o amor. A demanda é sempre demanda de amor e tudo que pode ser concedido remete à prova de amor. Lacan prossegue "É por esse meio que a demanda anula a particularidade de tudo o que pode ser dado, transformando-o em prova de amor, e as próprias satisfações que ela obtém para a necessidade se aviltam a não serem mais do que a destruição da demanda de amor" (Lacan, 1958/1988a, p. 268). Quanto mais se satisfaz a necessidade, mais se esmaga a demanda de amor.
A anorexia coloca em evidência a recusa do objeto da necessidade e do Outro da demanda. "É a criança alimentada com mais amor que recusa o alimento e usa sua recusa como um desejo (anorexia mental)" (Lacan, 1958/1966, p. 628). A satisfação da necessidade só pode aparecer como ilusão na qual a demanda de amor é eclipsada. A recusa do alimento faz surgir o que está para além da demanda, o desejo do Outro. A criança em sua recusa em satisfazer a demanda da mãe busca que a mãe deseje fora dela, pois é isso que lhe falta para a constituição do seu desejo. Comer nada faz surgir o nada como objeto separador, como defesa subjetiva do desejo. O corpo se consome em uma tentativa de abrir uma falta no Outro. Se o Outro reduz a falta à falta de alimento, a solução do sujeito para a sustentação do seu desejo é a recusa do objeto oral. É o que Lacan (1958/1966) assinala:
[...] quando o Outro, que também tem suas ideias sobre as necessidades dela (da criança) se intromete nisso e, no lugar daquilo que não tem, empanturra-a com a papinha sufocante daquilo que ele tem, ou seja, confunde seus cuidados com o dom de seu amor. [...] Afinal de contas, a criança, ao se recusar a satisfazer a demanda da mãe, não exige que a mãe tenha um desejo fora dela porquanto é essa a via que lhe falta rumo ao desejo? (Lacan, 1958/1966, p. 634).
Nesse texto, Lacan (1958/1966) nos ensina que a criança pode recusar o alimento para defender a dimensão do desejo. Quando a mãe confunde seus cuidados com o dom de amor, a criança recusa o alimento e afirma sua recusa como um desejo, exigindo que a mãe deseje fora dela. Assim, Lacan une desejo e amor. Lacan (1957-1958/1998) se refere à anorexia como ligada à ameaça da perda de amor que não se confunde com os cuidados maternos. "Desde sua primeira mamada já se pode começar a criar este hiato que fará com que será na recusa de se alimentar que ele encontrará o testemunho exigido por ele do amor de seu parceiro materno" (Lacan, (1957-1958/1998, p. 499).
Através da recusa daquilo que vem do Outro no registro do ter, a anoréxica busca criar uma posição particular no Outro. Está disposta a morrer de fome por amor. Nesse sentido, a anorexia é uma demanda de amor ao Outro. No amor, demanda-se não algo da ordem do ter, mas signos da falta. Amor e anorexia aproximam-se na medida em que não se situam no registro do ter. Se a anorexia é um nome da demanda de amor, ela é também seu desvio patológico.
Lacan (1975/1985) afirma que a mulher ingressa na função fálica de modo contingente. Contingência solidária a um encontro no qual ela se localiza como objeto causa do desejo de um homem. O amor permite consentir em fazer-se semblante do objeto e responder assim à irrupção do gozo. Parece que essa função do amor não opera na anorexia. Na falta de responder como objeto causa de desejo do Outro, irrompe o gozo diante do qual surgirá a negatividade do desejo: desejo de nada, desejo de morte.
A afinidade da anorexia com o feminino concerne ao amor. As mulheres estariam mais propensas à anorexia do que os homens por causa do valor do amor em sua sexualidade. É graças ao amor que podem fazer condescender o gozo ao desejo. É por amor, para ser a única, que a anoréxica se consome na recusa do alimento.
Sabemos que a busca do amor pode se converter em seu contrário, em uma recusa do Outro. É o que encontramos, por exemplo, nos casos de anorexia na melancolia. Entretanto, neste artigo, buscamos esclarecer como a anorexia, em alguns casos, pode ser uma demanda de amor, um apelo ao pai. Evidencia-se que a recusa do alimento não é, portanto, o efeito de um ideal de corpo magro paradigma da beleza feminina, mas uma solução para os impasses encontrados na sexuação feminina.
Referências
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Nota
1 Artigo referido à pesquisa "Anorexia e Sexuação Feminina" realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa/FAPEMIG e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da PUC/Minas (Programa de Incentivo à Pesquisa).
Recebido em 17 de setembro de 2014
Aceito para publicação em 25 de outubro de 2015