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Psicologia Clínica

versão impressa ISSN 0103-5665versão On-line ISSN 1980-5438

Psicol. clin. vol.31 no.2 Rio de Janeiro maio/ago. 2019

https://doi.org/10.33208/PC1980-5438V0031N02EDT 

EDITORIAL

 

 

O número 31.2 da revista Psicologia Clínica apresenta duas seções, uma temática e uma livre. A primeira contempla artigos sobre "O fazer clínico em psicologia" e compreende sete artigos, enquanto a seção livre contém dois artigos.

O primeiro artigo da seção temática, Un modèle d'emboîtement des jeux typiques, de René Roussillon (Université Lumière Lyon 2, France), mostra o início de uma reflexão sobre um modelo de avaliação qualitativa, baseada no jogo e no "jogo potencial", este possivelmente subjacente a algumas formas de sintomas psicopatológicos, por meio do exemplo de associações de "jogos típicos" sobre a simbolização da dialética presença/ausência como o "jogo do esconde-achou", o "jogo da espátula", o "jogo da bobina", o "jogo do vá para a guerra", que são analisados a partir dos processos envolvidos em sua construção, de complexidade crescente e de sua associação.

No artigo que se segue, Les logiques du jeu dans les médiations thérapeutiques, de Anne Brun (Université Lyon 2, France), são apresentadas as mediações terapêuticas com crianças com psicose e autistas, que permitem retomar o processo inacabado dos jogos partilhados com o ambiente primário, criação e recriação, propondo uma identificação das principais lógicas do jogo para viabilizar uma ferramenta de avaliação específica dos processos de transformação ao longo do trabalho terapêutico. São identificados quatro tipos de organizadores de jogo: (1) jogos de exploração sensoriomotora e de "mantelamento" sensorial; (2) jogos com formas sensoriomotoras; (3) dos jogos de espelho sensorial aos jogos sensoriomotores em duplicado; e (4) jogos com as representações e com as palavras.

O terceiro artigo, Considerações sobre a transferência na atualidade a partir de Michael Balint e Piera Aulagnier, de Maicon Cunha (Universidade Estácio de Sá) e Joel Birman (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Estado do Rio de Janeiro), propõe retomar um conceito fundamental para a psicanálise, a transferência, a partir de questões postas da cultura à clínica e vice-versa, na atualidade. Ao discutir sua função apostólica, segundo Balint, será investigado o lugar de poder que o analista assume, cujas características, inerentes à relação transferencial, podem ser entendidas como equivalentes ao uso de uma droga com sua correlata dependência, vindo a constituir uma trama complexa que alude a um importante destino do prazer.

O quarto artigo da seção temática, Intervenções na psicoterapia psicodinâmica de uma criança com transtorno disruptivo da desregulação do humor, de Catiane Pinheiro da Rosa, Caroline de Oliveira, Marina Bento Gastaud, Lúcia Belina Rech Godinho e Vera Regina Röhnelt Ramires (todas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS), analisa o processo de psicoterapia psicodinâmica de um menino de sete anos com transtorno disruptivo da desregulação do humor (TDDH), buscando descrever e analisar as intervenções de sua terapeuta. Os resultados mostraram uma criança resistente e hostil e uma terapeuta lançando mão de amplo espectro de intervenções, evidenciando-se que a psicoterapia com essas crianças pode requerer flexibilidade por parte do terapeuta, além de uma postura empática e afetivamente engajada.

O artigo seguinte, TEAComplex: plataforma digital tátil para sujeitos com transtorno autístico, baseada na perspectiva da complexidade, de Lia Raquel Oliveira (Universidade do Minho, Portugal), Nize Maria Campos Pellanda (Universidade de Santa Cruz do Sul, RS), Rosa Maria Fontes (Universidade de Vigo, España), Jorge Collus (Instituto de Educação da Universidade do Minho, Portugal) e Luiz Ernesto Cabral Pellanda (Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre), aborda o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seu pretendido objetivo de integração social dos sujeitos, ainda bastante distante. Pretende-se criar uma plataforma digital para crianças autistas baseada nas teorias da Complexidade, Biologia da Cognição e Segunda Cibernética, visando a ajudá-las a construir e desenvolver sua autoconsciência, indispensável a seu processo de autoconstrução e consequente envolvimento social. Esta nova abordagem considera as mais recentes descobertas neurocientíficas, habilidades autopoiéticas e de neuroplasticidade, que, acredita-se, ajudarão a ultrapassar a grande barreira social para o autista, a comunicação. Partindo de uma análise do histórico de atendimento aos sujeitos, da pesquisa em vídeos, gravações e diários dos pesquisadores, está em pauta a construção das funcionalidades da plataforma, usando os pressupostos da complexidade, e o desenvolvimento de um protótipo.

O penúltimo artigo desta seção, Suicídio: Peculiaridades do luto das famílias sobreviventes e a atuação do psicólogo, de Priscila Gomes Rocha (Centro Universitário Estácio do Ceará) e Deyseane Maria Araújo Lima (Universidade Federal do Ceará), aborda as repercussões do suicídio que afetam familiares e pessoas próximas ao falecido, no contexto individual e social, destacando-se o processo de luto das famílias sobreviventes ao suicídio. Foram apontadas, a partir de revisão integrativa, as peculiaridades no processo de enlutamento dessas famílias, constatando-se vivências de sentimentos particulares a esta forma de luto, como vergonha e culpa, além da tristeza e saudade. Foram sublinhadas algumas das ações de posvenção, ou seja, atividades importantes que possam ser realizadas por profissionais da psicologia e demais categorias de saúde mental para prestar apoio aos sobreviventes e diminuir o risco de tentativas futuras de suicídio neste grupo, tendo sido ressaltada a necessidade de mais estudos e investimentos em posvenção, para capacitação dos profissionais com essa função de acolhimento da aflição das famílias enlutadas.

O último artigo da seção temática, Impasses da psicanálise em uma instituição militar, de Flávia Brasil Lima e Vinicius Anciães Darriba (ambos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), reflete acerca da inserção institucional da psicanálise e do lugar do analista no âmbito bastante particular da instituição policial militar. Apoiando-se na teoria dos quatro discursos de Lacan, os autores buscam articular algumas coordenadas que norteiam o militarismo, enquadrando seus membros e abordando os impasses à circulação do discurso analítico, o qual incide no sentido inverso à anulação subjetiva decorrente da fixação à identidade policial A partir da transferência na direção do tratamento, algo do sujeito do inconsciente pode ser mobilizado como efeito da fala endereçada ao analista, levando-se em conta a possibilidade de sustentar a posição do analista ocupando um posto de oficial na hierarquia da corporação.

A seção livre se inicia com o artigo The draw-a-person test in the evaluation of child aggression: a pilot study, de Juliane Callegaro Borsa (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), em que a autora elabora e investiga a validade de uma lista de indicadores de agressividade no desenho da figura humana. Partindo de 21 itens avaliados por meio de concordância entre juízes, avaliou-se a capacidade de tais itens de discriminar grupos de crianças com diferentes escores de agressividade segundo uma medida de autorrelato. Então, investigou-se se esses mesmos itens poderiam discriminar crianças com e sem histórico de agressividade. Três itens se mostraram potencialmente capazes de identificar agressividade na amostra, corroborando os achados da literatura. Porém, julgou-se que os dados são inconclusivos e que novos estudos são necessários para determinar a validade dos itens na avaliação da agressividade por meio do desenho da figura humana.

O segundo e último artigo desta seção, Predizendo a infidelidade conjugal, de Patrícia Scheeren e Adriana Wagner (ambas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) aborda a infidelidade conjugal dentro de quatro domínios: características pessoais, características do(a) companheiro(a), casamento e contexto. Foram verificados os preditores da infidelidade nos quatro domínios para homens e mulheres, analisando-se as fichas de 1042 pessoas casadas ou coabitando, com idade média de 37 anos, que responderam a questões sobre dados sociodemográficos e seu relacionamento, uma escala de níveis de bem-estar, uma de ajustamento conjugal e a Escala Triangular do Amor. Os resultados apontaram que 18,7% das mulheres e 35,3% dos homens já foram infiéis e entre os preditores houve variáveis nos quatro domínios, com maior poder explicativo no domínio casamento, pois a intenção de divórcio e experiência de infidelidade no subsistema parental de origem aumentam a chance de infidelidade. Para as mulheres, a idade e trabalhar fora de casa foram preditores da infidelidade, enquanto que para os homens, o nível de bem-estar, prática religiosa e viagens de trabalho suas e da companheira o foram. Tais dados são importantes para que os terapeutas avaliem a qualidade conjugal e auxiliem os casais a reduzirem os riscos de infidelidade.

Isabel Fortes

Esther Arantes

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