EDITORIAL

Editorial

A revista Psicologia Clínica apresenta seu número 34.2, com o tema Revisão, avaliação e desenvolvimento teórico e prático na clínica psicológica. Os artigos ora publicados envolvem tanto estudos empíricos como revisões. Seus alvos são variados, incluindo melhorias para práticas mais inclusivas, necessidades de transformações em função de novos tempos, adaptação de estratégias de novas intervenções em antigos sistemas e teste de intervenções específicas. No total, o número contém nove artigos, oito dentro do tema e um de tema livre.

Para além de apresentar os trabalhos, este número também introduz mudanças na composição do corpo editorial da revista, com ingressos e saídas. Entre as boas-vindas, inclui-se o Professor Doutor Leonardo Martins, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), como um novo editor-chefe da revista. Desejamos ao Leonardo todo sucesso aqui conosco. Além disso, a Professora Doutora Jaqueline de Carvalho Rodrigues, também da PUC-Rio, ingressa como editora associada e com nossos votos de uma parceria proveitosa e produtiva. A revista registra também uma saída do corpo de editores associados: o Doutor Jean Natividade deixa o corpo editorial e, em nome do periódico, expresso nossos agradecimentos pelo tempo dedicado à revista e as atividades desempenhadas.

Abre este número o artigo de título Qualification of psychologists for the care of sexual and gender minorities, de autoria de Samir Vidal Mussi e Fani Eta Korn Malerbi, ambos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O trabalho é uma revisão sobre a terapia afirmativa para o atendimento à população LGBTQIAP+ e as particularidades e características destacadas no uso dessas intervenções. Um trabalho importante e necessário, fruto da evolução e da busca da psicologia para cada vez mais reduzir estigmas e preconceitos.

O segundo trabalho deste número também traz uma visão teórica de adaptações necessárias para a prática clínica em função de transformações sociais ligadas em especial à urbanização, com um foco nas Clínicas de Território. O artigo Clínicas de território: Uma proposta metodológica de pesquisa e de práticas coletivas é de autoria de Roberto Henrique Amorim de Medeiros, Leonardo Veiga Guarnieri e Theo Soares de Lima, todos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Seguindo na linha de temas ligados a práticas de saúde pública, o terceiro artigo deste número tem o título Acompanhamento terapêutico na atenção básica: Estratégia de cuidado para acumuladores compulsivos. É um trabalho interdisciplinar, agregando diferentes departamentos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), como Terapia Ocupacional, Enfermagem e Psicologia. Os autores são Bruna Elisa Maestrelli Mendes, Miriam Aparecida Nimtz, Adriano Furtado Holanda, Milton Carlos Mariotti e Luís Felipe Ferro, todos da UFPR. O artigo é um relato de experiência de um projeto de extensão de acompanhamento terapêutico direcionado para acumuladores compulsivos, usuários de serviços de saúde mental do município de Curitiba. O trabalho é alinhado com as atuais propostas de ações que visam à implementação de práticas em serviços do Sistema Único de Saúde, constituindo uma bem-vinda contribuição para este número.

Social skills training with university students: A group intervention protocol, escrito por Mariana de Oliveira Bortolatto, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marcia Fortes Wagner, da Atitus Educação, e Fernanda Machado Lopes, da UFSC, é o quarto artigo deste número. Em seu trabalho, as autoras apresentam uma proposta de protocolo para o treinamento de habilidades sociais aplicável de forma grupal. Com raízes na terapia cognitivo-comportamental, o protocolo proposto tem como público-alvo psicólogos de diferentes áreas de atuação e almeja multiplicar o alcance das intervenções individuais com resultados similares.

O quinto artigo deste número apresenta uma perspectiva teórica da psicanálise lacaniana sobre o simbolismo e o imaginário impactados por transformações dos tempos atuais, principalmente a internet. De autoria de Jacqueline Danielle Pereira, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e João Luiz Leitão Paravidini, da Universidade de Campinas (Unicamp) e da UFU, o artigo recebe o título Os aspectos caóticos do imaginário no contemporâneo: As redes sociais e a Queda Livre.

O sexto trabalho também considera as mudanças tecnológicas, revisando a literatura sobre comportamentos de pré-adolescentes no acesso simultâneo a tecnologias da informação. Tal comportamento, denominado "media multitasking", foi investigado na população-alvo mediante uma revisão integrativa da literatura, com foco principalmente em como tais possibilidades podem impactar o desenvolvimento dos jovens. O artigo foi produzido por Patricia Liebesny Broilo, do Grupo de Relações Interpessoais e Violência - Contextos Clínicos, Sociais, Educativos e Virtuais (RIVI), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Luciana Tisser, do Instituto de Neuropsicologia do Rio Grande do Sul, e Carolina Saraiva de Macedo Lisboa, da PUCRS, e recebe o título de Comportamento de 'media multitasking' (MMT) na pré-adolescência: Revisão integrativa e recomendações para pesquisas futuras.

Contribuições e especificidades da clínica winnicottiana para a prematuridade: Evidências a partir de dois casos é o sétimo trabalho deste número. O estudo, conduzido por Carolina Marocco Esteves e Cesar Augusto Piccinini, ambos filiados à UFRGS, investiga a saúde mental materna de mulheres que deram à luz a prematuros. Por meio de uma leitura segundo a teoria de Winnicott, os autores observam possíveis reflexos de atendimentos sobre o funcionamento psicológico dessas mães, bem como na experiência da maternidade em si.

O oitavo e último trabalho da seção temática é apresentado em inglês, com o título 'So, let me see if I understood': Narratives of couples about their therapeutic process, por Gabriela Maldonado Farnochi e Carla Guanaes-Lorenzi, ambas da Universidade de São Paulo (USP). O estudo buscou explorar as experiências de pares que fizeram terapia de casal de orientação construcionista social, por meio de entrevistas abertas. Considerando que essa abordagem vem crescendo, a contribuição do estudo é abrir mais perspectivas e visibilidade para terapeutas que trabalham com casais.

Finalmente, o último artigo deste número, situado na seção livre, é também ligado ao tema de casais, mas não diretamente à clínica. Manejo do dinheiro na conjugalidade: Papel discriminante das estratégias de resolução de conflitos, comunicação e ajustamento é um estudo empírico que investigou se o manejo do dinheiro compartilhado ou independente em casais sofria impactos distintos da comunicação conjugal, resolução de conflitos e ajustamento conjugal. Realizado por Lídia Käfer Schünke, Denise Falcke e Clarisse Pereira Mosmann, todas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o estudo apresenta interessantes resultados que indicam diferenças na comunicação, resolução de conflitos e ajustamento entre estilos de manejo do dinheiro em casais.

Breno Sanvicente-Vieira

Leonardo Fernandes Martins