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Jornal de Psicanálise
versão impressa ISSN 0103-5835
J. psicanal. vol.43 no.79 São Paulo dez. 2010
TRIBUTO A ODILON DE MELLO FRANCO FILHO
Homenagem (Envoi) a Odilon de Mello Franco Filho
Homage (Envoi) to Odilon de Mello Franco Filho
Homenaje (Envoi) a Odilon de Mello Franco Filho
Antonio Sapienza1
Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
Docente do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
O termo Envoi, seja em francês ou inglês, significa tributo e saudades a alguém tão fortemente significativo. Desde o início da Faculdade de Medicina da USP, em 1955, portanto há cerca de cinquenta e cinco anos desenvolvi grande amizade pessoal na vida política e universitária, tanto na Juventude Universitária Católica quanto nos Departamentos da Imprensa da Faculdade (Bisturi) e da vida política da União Estadual dos Estudantes (UEE) e União Nacional dos Estudantes (UNE). Mantivemos fortes laços de cooperação mútua entre esposas e filhos, com estreitamento de vivência intensa e fértil junto a nossos familiares, em viagens e vida comum, consolidando também ampla rede de amizades. Odilon sempre destacou-se por suas posições de autenticidade salutar. Tivemos sorte de usufruir de valioso nicho analítico em que fomos forjados, tanto no Instituto, como na SBPSP, em período de fertilização secundados por ilustres visitantes analíticos que nos nutriram com inquietação e expansão cultural e filosófica.
Uma tecla vigorosa de Odilon relacionava-se ao estudo de temas e não tanto de autores; constituía-se qual um refrão com direção para enfatizar o que mais sucintamente relaciona-se ao destino do místico, cuja atividade do vínculo de conhecimento busca incessantemente o Infinito, Deus, Realidade Última, ou seja, K→O. Esta ênfase visa também a desfavorecer a formação de seitas grupais e idolatrias geradoras de guerras de vaidades personalistas nas instituições. Leiam de sua autoria, a este propósito, dois belos escritos: "Meus encontros com Bion e a questão da cesura" (Franco Filho, 1998); "A experiência dos místicos e a do psicanalista sob o vértice de Bion" (Franco Filho, 2006) e publicado, graças ao psicanalista Mario Giampà, na Revista Psicanálise de Roma, em Funzione Gamma, 2005. Este escrito de Odilon começa com a seguinte epígrafe: "As ideias não são de ninguém, andam voando por aí, como os anjos" (Gabriel Garcia Marques). Essa epígrafe é extraída do romance Do amor e outros demônios, em que o escritor colombiano aborda uma paixão que se desenvolve entre um sacerdote exorcista e uma jovem moça acometida de neurose demoníaca, a qual teria sido mordida na infância por um cão raivoso.
Admiremos a fineza de seu mundo de ética bem acompanhada de rigorosa disciplina. Odilon continuamente dá mostras de um espírito livre, humanista e dotado de lógica, por vezes irritantemente invencível, acompanhada de salutar humor e fina ironia. Pesquisador incansável e arguto em sua abordagem teórica e prática clínica de dinâmica de grupo e análise institucional. Profunda experiência da intimidade clínica em sua ampla vida profissional, incansável semeador de ideias e novas visões em Psicanálise através de participações em congressos internos, nacionais e internacionais tanto de Psicanálise quanto de aplicações em Mitologia e Religião.
Tive a honra de participar por duas gestões da Comissão de Ética da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo com um quarteto constituído por Odilon e os colegas Manoel Lauriano Salgado de Castro e Claudio Cohen. Escrevemos uma Carta de Princípios Éticos da SBPSP em 1999 que foi adotada na época pela Associação Brasileira de Psicanálise, e pela atual Febrapsi. Sua participação sempre primou por linguagem precisa, quer em seus escritos, em suas palestras, quanto em aulas e conversas do cotidiano. Excepcionais talentos são seus dotes de visão binocular, modulada por disciplinada paixão pela vida real e por Psicanálise.
Finalizo este breve depoimento com o recorte do poeta iugoslavo Charles Simic (1989) do livro The World Doesn’t End (O mundo não se acaba):
Minha identidade secreta é…
O quarto está vazio,
E a janela está aberta.2
Referências
Franco Filho, O.M. (1998). Meus encontros com Bion e a questão da cesura. International Journal of Psychoanalysis, 79, 113-131. [ Links ]
Franco Filho, O.M. (2006). A experiência dos místicos e a do psicanalista sob o vértice de Bion. Revista Brasileira de Psicanálise, 40 (3), 33-47. [ Links ]
Marques, G.G. (1994). Do amor e outros demônios. Portugal: Publicações Dom Quixote. [ Links ]
Simic, C. (1989). The World Doesn’t End: Prose Poems. Boston: Mariner Books.
Endereço para correspondência
Antonio Sapienza
Rua Helena, 285/53 – Vila Olímpia
04552050 São Paulo, SP
Tel: 11 3045-0804
E-mail: antsap@uol.com.br
1 Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP e docente do Instituto de Psicanálise da SBPSP.
2 My secret identity is: The room is empty, And the window is open.