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Jornal de Psicanálise
versão impressa ISSN 0103-5835
J. psicanal. vol.52 no.96 São Paulo jan./jun. 2019
TEMA LIVRE
Eu matei um leão: algumas reflexões sobre a constituição do eu e sobre o simbolismo no trabalho do sonho
I killed a lion: some reflections on the constitution of the self and on the symbolism in the work of the dream
Yo maté a un león: algunas reflexiones sobre la constitución del yo y sobre el simbolismo en el trabajo del sueño
J'ai tué un lion: quelques réflexions sur la constitution du soi et sur le symbolisme dans l'œuvre du rêve
José Luiz Cordeiro Dias Tavares
Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), São Paulo, SP. Pós-doutor pela Universidade de Londres (UK) e doutor pela Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). Médico pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Tem formação em História da Filosofia pela Faculdade de São Bento, São Paulo, SP. jltavares2016@gmail.com
RESUMO
Tomando como base a narrativa de um sonho, são organizadas reflexões em torno de alguns eixos da psicanálise, como a constituição do eu e sua relação com o narcisismo, possíveis conexões entre cultura e subjetivação, observações sobre repercussões de processos de adoção, ponderações sobre a simbolização no trabalho do sonho articulando representações coletivas, destacando-se o mito de Édipo como um dos pilares da civilização e da subjetividade e, ainda, a observação de que embora novas ordens familiares tenham surgido na contemporaneidade, persiste a referência aos núcleos relacionados aos interditos do incesto e do parricídio como estruturantes da ordem social.
Palavras-chave: sonho, simbolismo, narcisismo, adoção, Édipo
ABSTRACT
Based on the narrative of a dream, some thoughts are organized around psychoanalysis´ concepts such as the constitution of the Ego and its relation to narcissism, possible connections between culture and subjectivation, observations about the consequences of adoption processes, considerations about symbolization in the work of the dream articulating collective representations highlighting the myth of Oedipus as one of the pillars of civilization and subjectivity and, also, the observation that, although new family structures have arisen in the contemporaneity, the reference to the nuclei related to the prohibitions of the incest and parricide do remain in structuring social order.
Keywords: dream, symbolism, narcissism, adoption, Oedipus
RESUMEN
Tomando como base la narrativa de un sueño se organizan reflexiones en torno a algunos ejes del psicoanálisis como la constitución del Yo y su relación con el narcisismo, posibles conexiones entre cultura y subjetivación, observaciones sobre repercusiones de procesos de adopción, las ponderaciones sobre la simbolización en el trabajo del sueño articulando representaciones colectivas destacándose el mito de Edipo como uno de los pilares de la civilización y de la subjetividad y la observación que, aunque nuevas órdenes familiares han surgido en la contemporaneidad, persiste la referencia a los núcleos relacionados a los interdictos del orden, el incesto y el parricidio como estructurantes del orden social.
Palabras clave: sueño, simbolismo, narcisismo, adopción, Edipo
RÉSUMÉ
A partir du récit d'un rêve, des réflexions s'organisent autour de certains axes de la psychanalyse tels que la constitution du Moi et sa relation avec le narcissisme, les liens possibles entre culture et subjectivation, les observations sur les répercussions des processus d'adoption, considérations sur la symbolisation dans le travail du rêve articulant des représentations collectives mettant en évidence le mythe d'Œdipe comme l'un des piliers de la civilisation et de la subjectivité et l'observation que, bien que de nouveaux ordres familiaux aient surgi dans la contemporanéité, la référence aux noyaux l'inceste et le parricide persiste comme structuration de l'ordre social.
Mots-clés: rêve, symbolisme, narcissisme, adoption, Œdipe
Quando se discute sobre os sinais, resulta que se podem mostrar uns
sinais por meio de outros; mas quando se discute sobre
as coisas que não são sinais, não se podem mostrar senão fazendo-o
imediatamente após a pergunta ou dando algum sinal
pelo qual possam ser compreendidas.
(Santo Agostinho, 1980)
Comentários iniciais
A impressão que ele me causou na primeira vez foi a de alguém que estava encolhendo, curvado sob um peso que lhe oprimia, como se faltasse algo que desse alguma conformidade para sua estrutura. Era como alguém esvaziado.
Dizia sentir-se incompleto e insuficiente para definir seu futuro profissional, algo que lhe era angustiante por estar com quase dezoito anos de idade, e atribuía esse desconforto ao fato de não saber a história de sua origem.
Filho adotivo, não conheceu seus pais biológicos. Quanto às suas relações pessoais, dizia ter relacionamentos instáveis, dos quais fugia para não ter de lidar com uma sensação de incapacidade associada ao medo de falhar. Esses temas apareceram frequentemente nas sessões deste analisando, além da queixa sobre a dificuldade em constituir um espaço próprio em sua casa.
O desconforto por não saber seu lugar no mundo, em sua família e em sua vida afetiva dentro e fora de casa era frequentemente verbalizado nas sessões, e, quando se aproximava desses sofrimentos, sempre dizia que assim se sentia por desconhecer sua origem biológica. Em uma determinada sessão ele narrou o seguinte sonho:
Eu estava em um lugar que parecia um mercado quando surgiu um leão que foi passando, atacando e devorando as pessoas. Onde eu estava formou-se uma aglomeração de pessoas e eu me escondi entre elas para me proteger. As pessoas começaram a reclamar, exigindo que eu tomasse alguma atitude, não me escondesse e fosse defendê-las do leão que se aproximava de nós. Eu decidi enfrentá-lo. Neste momento, minha pele começou a mudar e ficou cheia de pelos. Eu estava me transformando em um leão, embora ainda conseguisse reconhecer traços meus, humanos, nesta nova aparência. Nós lutamos e eu o matei. Neste momento se aproximou lentamente uma leoa que já rondava por ali. Ela não me ameaçava. Eu também era um leão. Ela chegou bem perto e me lambeu. Parecia um gesto de afeto, uma recompensa.
Ao final da narrativa, perguntei-lhe que imagens ele destacaria. Sem hesitar e sorrindo, ele falou sobre o momento em que deixou o grupo onde estava, sua transformação no animal meio leão e meio homem, a mudança de pele, sua vitória no embate com o leão e a chegada da leoa que o lambeu como uma recompensa.
Este texto não pretende ser um relato de caso. O objetivo é desenvolver considerações sobre a constituição do sujeito e deste sujeito em especial, nas circunstâncias em que ele se inscreve, principalmente as de ordem familiar. Detalhes que pudessem vir a revelar a identidade do paciente foram omitidos. Quanto ao sonho, este texto irá se debruçar no que referem Freud e Ernest Jones sobre o processo de simbolização, contextualizando-o, quando necessário, na singularidade deste analisando que um dia desejou ser um leão suficientemente constituído para vencer um confronto de vida ou morte com um rival opositor e receber a recompensa do afeto. Vou chamá-lo de Leo, aludindo ao leão que um dia ele sonhou ser.
O eu precisa ser desenvolvido
Há aproximadamente cem anos, em "Conferências introdutórias à psicanálise", Freud (1916/2015b) afirmou que, no decorrer da história, a humanidade teve de tolerar dois grandes insultos ao seu amor-próprio. O primeiro, quando Copérnico anunciou que a Terra não era o centro do universo. O segundo, quando Darwin remeteu nossa descendência ao reino animal, aniquilando a teoria da criação do homem. O terceiro e mais sensível insulto à mania humana de grandeza ocorreu quando a pesquisa psicológica buscou provar ao eu que ele não era o senhor de sua própria casa e tinha de se satisfazer com as escassas notícias do que se passa em seu inconsciente. Freud anunciava o descentramento do eu e da consciência quanto a reinarem de modo absoluto no universo psíquico, gerando a terceira ferida narcísica para a espécie humana.
A existência do inconsciente já havia sido proposta por ele, em "A interpretação dos sonhos" (1900/2016a), como uma instância psíquica com conteúdo e mecanismos próprios onde residem pulsões específicas, cujos representantes estão fixados em fantasias concebidas como manifestações do desejo. O inconsciente e suas pulsões passam, portanto, a interferir no existir psíquico e questionam o homem em seu papel construído com base num modelo cognitivo de controle racional de si mesmo e do seu redor.
Sua proposição soou com um alarde revolucionário ao desacomodar o modus operandi enraizado na perspectiva que estruturava o homem na transição do século xix para o século xx. Ao falar do inconsciente, Freud expunha o sofrimento decorrente do conflito entre os sistemas consciente/pré-consciente e inconsciente, no qual haviam de se considerar as pulsões do inconsciente, até então obscuras para o herdeiro de Descartes, imobilizado em uma armadura que o deixava refém da razão.
Freud introduz o conceito de um inconsciente que, com representações próprias, seria expresso por lapsos, atos falhos, chistes, sintomas, e sonhos. É o momento da primeira tópica, na qual inconsciente e pré-consciente/consciente compõem o arcabouço para entender o funcionamento psíquico no qual o recalque se destaca, orquestrando o balanço entre o princípio do prazer, que rege o inconsciente com suas pulsões da ordem do sexual, e o princípio da realidade, ao qual o pré-consciente/consciente se submete, com foco na autoconservação do indivíduo.
Na primeira tópica, o conflito era decorrente do embate entre pulsões sexuais e de autoconservação, consideradas como pulsões do eu, governadas pelos princípios mencionados. O eu seria o monarca da psique, representaria os valores morais, seria agente do recalque e instrumento da censura, garantindo a autoconservação do indivíduo, protegendo-o dos ataques das pulsões sexuais, emissárias do desejo, oferecendo-lhe alternativas de expressão e satisfação. Em recompensa, o sujeito receberia a inserção no convívio social.
Alguns anos depois, Freud novamente desacomoda o estabelecido e propõe o eu como uma área psíquica em que as pulsões sexuais são tão atuantes quanto as de autoconservação, de tal forma que passam, também, a ser incluídas nas pulsões do eu. É o momento da publicação de "Introdução ao narcisismo" (1914/2015a), que atribui a este o estatuto de fenômeno libidinal essencial no desenvolvimento da psique.
Nesse momento Freud propõe que uma unidade comparável ao eu não existe desde o começo no indivíduo e que o eu precisa ser desenvolvido. Porém, como os instintos autoeróticos são primordiais, uma nova ação psíquica deve ser acrescentada ao autoerotismo para que se forme o narcisismo. Refere-se ele à atitude terna dos pais, que pela revivescência de seu próprio narcisismo há muito abandonado, atribuem à criança todas as perfeições, esquecendo seus defeitos e trazendo-a para o centro da criação, para o papel de "Sua Majestade, o bebê" (1914/2015a).
Freud (1914/2015a) segue comentando que na observação do adulto normal se verifica que os traços de seu narcisismo infantil se apagaram. Qual seria então o destino dessa libido do eu?
Ele mesmo esclarece que os impulsos libidinais sofrem repressão patogênica quando entram em conflito com as ideias morais e culturais do indivíduo e que a repressão vem do próprio eu, ressaltando que as mesmas impressões que uma pessoa tolera podem ser rejeitadas por outra, pois uma teria sido capaz de erigir um ideal dentro de si pelo qual mede seu eu atual, enquanto à outra falta essa formação de ideal.
Para o eu, diz ele (1914/2015a), a formação do ideal seria a condição necessária para a repressão, e é para esse eu ideal que se dirige o amor a si que o eu real experimentou na infância. Assim, o narcisismo ficaria deslocado para esse novo eu ideal que se considera possuidor de toda perfeição.
Como o indivíduo não quer se privar da perfeição narcísica da infância, se não pode mantê-la por algum motivo, tenta readquiri-la na nova forma do ideal do eu, que é o substituto do narcisismo perdido da infância. Assim, o desenvolvimento do eu consiste no distanciamento do narcisismo primário, e é preciso que haja um grande esforço para reconquistá-lo. O distanciamento ocorreria por deslocamento da libido para um ideal do eu imposto de fora, e a satisfação viria pelo cumprimento desse ideal (Freud, 1914/2015a).
Em 1923 Freud revisita esse tema e apresenta uma cartografia que contempla a arquitetura eu, id e supereu na estruturação psíquica, constituindo a segunda tópica, complementar à primeira.
Nesse momento, Freud (1923/2016b) diz que o ideal do eu é o herdeiro do complexo de Édipo e a expressão dos mais poderosos impulsos e vicissitudes libidinais do id, e que ao erigir esse ideal, o eu dominou o complexo de Édipo e, ao mesmo tempo, colocou-se em sujeição ao id.
Com o declínio do complexo de Édipo ocorrem a formação do supereu e a internalização de regras, normas e valores resultantes do processo identificatório com a lei, da qual o pai é o principal mandatário. Para Freud (1923/2016b), o eu representa o mundo externo, a realidade, e o supereu o confronta como advogado do mundo interno, do id.
O discurso psicanalítico se dá na relação com a cultura. As proposições de Freud sobre a constituição do sujeito referem-se a um ambiente sociocultural que já se transformou. Em uma resenha do livro Mal-estar na atualidade, de Joel Birman, sobre as novas formas de subjetivação, Campos (2007) comenta que o autor menciona a interface entre psicanálise e cultura, que, com limites e impasses, deve considerar a possível insuficiência dos instrumentos interpretativos da psicanálise quanto às condições sociais e históricas que organizam as formas de subjetivação na atualidade.
A questão apresentada por Birman relaciona-se ao fato de Freud ter analisado as características do mal-estar referente ao sujeito moderno. Para o autor, a fragmentação da subjetividade seria o aspecto fundamental do mal-estar contemporâneo, com base na cultura do narcisismo, caracterizada por exibicionismo e autocentramento voltado para a exterioridade, em que a dimensão estética dada pelo olhar do outro se destaca e esvazia as trocas intersubjetivas.
Recentemente, Costa (2012) também discorreu sobre o tema, dizendo que as modificações do existir decorrentes de mudanças subjetivas não necessariamente implicam relações causais entre fatores econômico-ideológicos e alterações da subjetividade dos quais são contemporâneos e que a reestruturação no campo dos afetos é complexa e longa, pois é lá que se ancora a estabilidade de identidades pessoais.
Para ele, os conflitos mentais decorrem, na maior parte, de contradições entre formas diferentes de valorar desejos, ideais e impulsos, objetivando alcançar a felicidade. Além disso, ao interferir na vida social, a "economicização" enfraqueceu as instâncias doadoras de identidade, como família, religião, trabalho, espírito de sacrifício etc.
Assim, ao liberar-se da força normativa dessas instituições o indivíduo foi levado a apoiar o sentimento de identidade em dois principais suportes, a saber, o narcisismo e o hedonismo, referindo-se o narcisismo, aqui, ao individualismo contemporâneo indiferente a ideais coletivos, sem alusão ao significado psicanalítico do termo. Desse modo, a contemporaneidade exalta o corpo, ou seja, somos o que aparentamos ser. Costa (2012) sugere imaginarmos novas formas de subjetivação, já que essa cultura nos lança no espaço da visibilidade comum e, talvez, possamos reinventar modalidades do existir mantendo-nos atentos ao que a riqueza da vida subjetiva oferece.
A exaltação do corpo como representante da subjetividade pode ser vista em desconstruções e reconstruções de sua forma. Desde tatuagens ou piercings até intervenções radicais deliberadamente ruidosas, propondo uma gramática organizada em um alfabeto corporal que pode vir a ser mais loquaz do que qualquer outra forma de comunicação, estando mais a serviço de um movimento em mão única do que de alteridade.
Trata-se aqui de alguém que escapa da troca interpessoal, exercita a sedução, foge do intercâmbio afetivo, transgride a estética usual e se oferece à plateia mesclando a imagem do que se faz com aquilo que se é. Nessa "eróptica" do existir, o outro ali está para legitimar o palco no qual se exibe uma subjetividade em que a interioridade como contribuinte da alteridade se perdeu.
Que eu sou eu?
Em um artigo de revisão, Krahl, Moreira e Roldo (2010) comentam que crianças adotadas podem sofrer algum grau de incompletude quanto aos vínculos iniciais afetando seu desenvolvimento, mesmo que a adoção tenha sido precoce em sua existência. Citam Winnicott quanto à importância da mãe ou de quem quer que exerça esse papel no processo de constituição da criança (seja ela biológica ou adotiva), desde que seja capaz de se identificar com a criança para criar, desde seus primeiros momentos de vida, um enquadre favorável para que ela possa construir seu eu.
Esses mesmos autores destacam que as primeiras inscrições geram marcas mnêmicas de cheiro, textura, formas etc., e que mesmo que a permanência com a mãe biológica seja breve, essas primeiras experiências influenciam o desenvolvimento da criança.
No mesmo artigo, referem-se ainda a Bleichmar, ao citarem que essas marcas se encontram no que é mais arcaico da psique e que algumas delas serão retranscritas em sistemas posteriores e outras não.
Assim, numa criança cujo objeto materno se perdeu e que foi levada para uma mãe substituta, as inscrições primordiais podem ser simbolizadas, mas as retranscrições podem ser parciais, pois guardam restos do primeiro objeto, a mãe, e quando este tema não circula no intercâmbio discursivo, a incerteza acentua um esvaziamento psíquico.
A filiação abre-se em referência ao desejo do outro e oscila entre as funções do eu ideal e do ideal do eu. Assim, a dificuldade aqui posta seria no narcisismo primário, no valor libidinal do próprio ser afetado pelo abandono materno.
Já tentei buscar minha família de origem, mas não consegui, e me sinto um pouco perdido, sem saber quem eu sou. Ficar sem saber sobre isso é não saber parte da minha história e me dá a sensação [de] que sou incompleto. Acho que as meninas não vão se interessar por mim por este motivo, tenho vergonha, é como se faltasse alguma coisa em mim, como se eu fosse imperfeito.
Desde o início de seu atendimento, Leo dizia sentir-se incompleto por não saber de sua origem, como indicado no recorte anterior, uma queixa frequente em suas sessões, e reclamava que, além disso, este era um tema evitado por seus pais adotivos, provocando o desconforto de um silêncio, um enigma sem esclarecimento.
Leo expressava seu sofrimento acerca dessa dupla filiação quando falava da impossibilidade de encontrar seus pais biológicos, não obstante suas tentativas, além da dificuldade para achar um espaço próprio em sua casa, denotando um impasse na conquista de uma territorialização afetiva que pudesse ser organizadora de si, comprometendo seu próprio valor libidinal afetado pelo abandono materno e que, de alguma forma, poderia dificultar suas tentativas de estruturação vincular.
Nas sessões, Leo fala mais da experiência de uma fração materna com lacunas no processo de alteridade constitutiva do que da vivência de uma função materna plena. Em muitas ocasiões ele comentou a sensação de fracasso em suas tentativas de estabelecer relações amorosas, principalmente quando a beleza física era um dos componentes da atração, pois deparava-se com a sensação de incompletude e dizia ter medo de ser rejeitado.
A sensação de ser desprezado nos jogos amorosos é uma enorme ameaça à estrutura narcísica. Para Leo, a sensação de abandono materno resultante da adoção é uma situação traumática. O risco de ser desprezado em investidas amorosas talvez o remeta à imago materna quanto ao medo de reviver o abandono, reencenado com as moças que o atraem, principalmente as muito bonitas, como ele diz. É possível pensar num desejo incestuoso recalcado que reaparece quando ele se depara com alguém que o remete ao seu primeiro objeto de amor, numa dolorosa ambiguidade que veicula seu desejo e, também, a dor do abandono, apontando para o sofrimento neurótico regido pelo recalque e de difícil solução.
O sonho de Leo
O inconsciente é a sede das representações antigas, fragmentos de percepções que lá se inscreveram e que, carregadas de energia pulsional, buscam incessantemente se expressar lutando contra os antagonismos da razão e recorrendo a mecanismos que, embora sejam verdadeiras censuras, oferecem algum trânsito na psique. Assim, o que está submerso no inconsciente prossegue na direção do sistema consciente/pré-consciente e se manifesta numa em sua totalidade verdadeira descarga psíquica. Nessa trajetória pulsional há diversos acordos entre desejo e censura, por exemplo, as manifestações oníricas. Em "A interpretação dos sonhos", Freud (1900/2016a) comenta que leigos recorrem a dois métodos para interpretar sonhos. Um é simbólico, visando ao conteúdo onírico em sua totalidade e substituindo-o por outro que seja compreensível e análogo, algo que ele critica, pois o êxito de tal método dependeria de uma intuição súbita, decorrente de um talento especial do intérprete. O outro método é o da decifração, pois considera o sonho como linguagem cifrada em que cada signo é traduzido por outro de significado conhecido, segundo uma chave fixa, algo também criticável para ele caso se constitua uma tradução mecânica sem levar em conta a singularidade do sonhador.
Freud (1900/2016a) postula que os sonhos têm significado, que é possível ter um procedimento científico para interpretá-los e que seu método não é cômodo como o popular, da decifração, embora se aproxime dele, pois considera os fragmentos oníricos, ressalvando que o mesmo conteúdo pode ocultar sentidos variados para pessoas diferentes em contextos diferentes de vida, em vez de considerar uma chave fixa como ferramenta única de tradução para imagens criptografadas.
Nessa mesma obra, Freud aborda a importância dos conteúdos manifesto e latente dos sonhos e as operações que constituem o trabalho do sonho, transformando os pensamentos latentes em um produto manifesto. Aqui se incluem a condensação, o deslocamento, a figurabilidade e a elaboração secundária, que são efeitos da censura e um meio de escapar dela.
A condensação é o processo em que uma representação decorre de várias cadeias associativas, não se limitando ao sonho e podendo ocorrer nos chistes, lapsos e esquecimentos de palavras.
O deslocamento também pode ocorrer em todas as formações do inconsciente além do sonho. Aqui, elementos mais importantes do conteúdo latente são representados por pormenores recentes ou antigos, sobre os quais já havia ocorrido um deslocamento na infância.
A figurabilidade é a exigência a que estão submetidos os pensamentos do sonho que sofrem seleção e transformação, tornando-os aptos a serem representados em imagens, sobretudo, visuais.
O sonho é o substituto da cena infantil modificada para algo recente, e como essa cena não pode se realizar novamente, limita-se a reaparecer sob a forma de um sonho.
Finalmente, elaboração secundária é a remodelação do sonho para apresentá-lo como algo coerente e compreensível, preenchendo lacunas, remanejando elementos, realizando uma escolha entre eles, fazendo acréscimos e incidindo em produtos já elaborados pelos outros mecanismos.
A elaboração ocorre desde o início do sonho, sendo mais bem-vista próximo ao estado de vigília e quando o sonho é narrado. O sonho é o trabalho que nele se realiza. O que se interpreta não é o material sonhado, mas, sim, seu relato.
A interpretação ocorre ao nível da linguagem, e não das imagens narradas. O que se oferece à interpretação são enunciados a substituir por outros mais primitivos, ocultos, que expressam o desejo do sonhador (Garcia-Roza, 2009; Laplanche, 2001).
Como comentado inicialmente, em uma determinada sessão, Leo narrou o sonho aqui transcrito e destacou os fragmentos que mais lhe causaram impacto. Durante suas sessões, ele frequentemente expressou seu sofrimento relacionado tanto à sua dupla filiação como também ao enigma decorrente do desconhecimento de sua origem biológica, ampliado pelo silêncio de seus pais adotivos sobre o assunto, gerando um segredo sobre quem é ele e causando-lhe grande ansiedade, traduzida na sensação de incompletude em sua constituição subjetiva. "Quem sou eu?", perguntava-se ele em quase todas as sessões.
Em seu sonho, Leo se afasta do grupo original que o abrigava. Em um rito de passagem, conquista um novo espaço, troca de pele, assume um novo contorno e resgata a filiação a uma espécie à qual, de alguma forma, ele já pertencia e, de posse dessa nova identidade, entra em confronto com um semelhante, com quem rivaliza. Ao vencer essa figura de poder, recebe como prêmio o afeto da leoa, a fêmea daquele leão.
Em um correlato de imagens, Leo sai de sua morada e vai ao encontro de sua origem, comete o parricídio e segue a caminho do incesto. A semelhança de seu sonho com elementos da história edipiana é surpreendente, porém evito interpretar o que ele me traz, pois procuro não interferir em seu próprio processo associativo, mesmo porque, se assim o fizesse, estaria me limitando ao conteúdo manifesto do sonho que, em essência, representa apenas uma produção de seu inconsciente.
Porém, não posso deixar de refletir sobre o que faz uma imagem percorrer um longo trajeto no tempo e no espaço, atravessar culturas muito diferentes e se expressar de modo tão emblemático em um sonho de alguém inserido em outra realidade tão distante.
Roudinesco (2003) comenta que a invenção da família edipiana teve tal impacto na vida familiar do século xix e nas relações que se instalaram na família contemporânea que vale pensar sobre que caminho seguiu Freud para revalorizar determinados mitos seculares e projetá-los na psique de um sujeito culpado por seus desejos, ou seja: como se introduziu, no cerne da descrição moderna do parentesco, uma mitologia originária do teatro grego com mais de vinte séculos de existência?
O impacto dos símbolos
No texto "A teoria do simbolismo", Jones (1918) comenta que, no sentido amplo, a palavra simbolismo abarca o desenvolvimento da civilização e que o progresso da mente humana não se limita a acréscimos vindos do exterior, mas também se refere à extensão ou à transferência do interesse e da compreensão de ideias mais antigas, mais simples e mais primitivas para outras mais difíceis e mais complexas, que, de certo modo, são tanto a continuação como a simbolização das anteriores.
O simbolismo estaria relacionado aos únicos aspectos ou representações da verdade que fomos capazes de expressar, por razões afetivas ou intelectuais. Jones (1918) diz que o chamado simbolismo verdadeiro tem as seguintes características:
a) representação do material inconsciente: os conceitos simbolizados podem ser conhecidos, mas o afeto investido está sob repressão, e como a simbolização é inconsciente, o indivíduo não tem conhecimento sobre o significado do símbolo utilizado e, assim, a comparação entre ideia simbolizada e símbolo nunca esteve presente na consciência, ou lá esteve por algum tempo e foi esquecida;
b) significado constante: não exclui que um símbolo possa ter mais de um significado, de tal forma que a interpretação de um sonho depende do contexto e das associações feitas; porém, a possibilidade de variação no significado é restrita, e o padrão típico é sua constância em diferentes áreas do simbolismo, mesmo em diferentes pessoas;
c) independência de fatores condicionantes individuais: há muitos fatores nesse processo, e o indivíduo tem possibilidades limitadas de escolha para criar símbolos; embora os principais fatores determinantes sejam comuns à espécie humana, a parte referida ao indivíduo é bem modesta, e cabe a ele, por razões próprias, representar determinada ideia por um símbolo que poucos usaram para tal fim;
d) bases genéticas evolutivas;
e) conexões linguísticas: o inconsciente recorre a comparações entre ideias que não seriam inter-relacionadas pela mente consciente, porém a etimologia e a semântica revelam que, embora a palavra denotando o símbolo possa não conter a conotação da ideia simbolizada, seu histórico sempre traz alguma conexão com esta última;
f) filogênese: um dos aspectos mais fantásticos, que mostra a ubiquidade de um mesmo símbolo não apenas em diferentes formas de pensamento e sonhos, ou numa mesma classe e num dado nível da civilização, mas, também, entre diferentes raças e épocas da história do mundo.
Jones (1918) continua, dizendo que os símbolos representam ideias de si e de parentes próximos, bem como aludem aos fenômenos de nascimento, amor e morte, ou seja, ideias e interesses mais primitivos que podem ser imaginados.
Para esse autor, na gênese do simbolismo, é importante considerar que a comparação de duas ideias é feita inconscientemente pela mente primitiva, não pela mente consciente, e o que hoje é simbolicamente conectado provavelmente estivesse unido, em tempos primitivos, sob uma identidade conceitual e linguística. Assim, a relação simbólica parece ser o sinal remanescente de uma identidade que uma vez existiu.
Jones (1918) lembra que, quando uma inclinação afetiva é reprimida, surge uma formação de compromisso, e que o processo de simbolização é dessa natureza. Símbolos representam ideias simbolizadas e, também, afetos relacionados. Trata-se de uma regressão a um modo mais simples de apreensão que alcançou o nível do inconsciente, resultando na chamada simbolização verdadeira. O sonho seria uma manifestação simbólica, um conjunto de representações indiretas e figuradas do desejo ou de um conflito psíquico.
Segundo Laplanche (2001), para Freud, os sonhos recorrem a símbolos já presentes no inconsciente, pois estes harmonizam melhor com as exigências do processo de construção do sonho, dada sua aptidão para serem figurados, e também porque escapam da censura, alertando para a relevância das comparações inconscientes subjacentes ao simbolismo que, uma vez feitas, ali estarão para sempre.
Isso nos leva à questão já mencionada da filogênese, que por sua vez nos remete às cenas ou fantasias originárias, como as relações sexuais entre os pais, a sedução e a castração, presentes de forma bem generalizada, sem que necessariamente tenham sido vividas na história de cada um. Curiosamente, são temas que compartilham o fato de serem todos, de alguma forma, referentes à origem do homem.
Desde muito cedo, Freud buscou acontecimentos arcaicos reais, cenas originárias capazes de fornecer fundamentos para sintomas neuróticos. Tais cenas seriam acontecimentos reais, traumatizantes, cuja recordação é elaborada e disfarçada por fantasias, como a cena do coito parental a que a criança teria assistido.
Vale ainda refletir sobre o pensamento freudiano no que se refere ao percurso das cenas e fantasias originárias nos quadros neuróticos, algo paralelo à própria noção de fantasia e realidade psíquica (Laplanche, 2001). Para Freud (1916/2015b), fantasias relatadas hoje podem ter sido a realidade de outrora, dos tempos primitivos da família.
Assim, ao criarmos fantasias, falamos da verdade pré-histórica, preenchendo lacunas da verdade de cada um. A fantasia seria o imaginário da vida pulsional, com linhas gerais biologicamente determinadas e organizada numa realidade psíquica comparável à realidade concreta, porém expressando o desejo inconsciente e as fantasias relacionadas (Laplanche, 2001).
Um cartão-postal
Em "A interpretação dos sonhos", ao falar sobre sonhos típicos, Freud (1900/2016a) comenta acerca do destaque que têm os pais na vida psíquica infantil daqueles que irão se tornar psiconeuróticos e diz que apaixonar-se por um deles e odiar o outro compõe uma reserva permanente de moções psíquicas forjadas nessa época, algo que é importante para a sintomatologia da neurose posterior, mas que esse aspecto não difere muito do que é observado em crianças normais, que também apresentam esses desejos em relação a seus pais, ainda que com intensidades diferentes.
Para Freud (1900/2016a), a Antiguidade nos deixou um legado cujo efeito profundo e universal só se torna compreensível mediante uma universalidade semelhante à hipótese da psicologia infantil em discussão. Refere-se ele à lenda do Rei Édipo e ao texto de Sófocles, comentando que o sonho de manter relações sexuais com a mãe também ocorre hoje e que, além de ser a chave da tragédia, trata-se do componente complementar do sonho com a morte do pai.
Sobre a figuração por símbolos, Freud (1900/2016a) deixa claro que, em vários casos, o elemento comum entre o símbolo e o que ele substitui é evidente, ao passo que em outros é oculto, e que a escolha do símbolo pode parecer enigmática, sendo, estes, os casos que iluminam a relação simbólica, pois indicam que o que hoje está ligado de modo simbólico provavelmente estivesse primitivamente unido por identidade conceitual e linguística.
Dessa forma, continua ele, a relação simbólica pode expressar um resto e um sinal de identidade passada e, em alguns casos, símbolos podem ser tão antigos quanto a formação da linguagem, ainda que em outros casos continuem sendo criados no presente.
Ainda a respeito da figuração simbólica no sonho, Freud (1900/2016a) comenta que quanto mais nos ocupamos da análise dos sonhos, mais precisamos reconhecer que a maioria dos sonhos dos adultos trata de material sexual, expressando desejos eróticos, que nenhuma pulsão como a sexual precisou experimentar tanta repressão e que nenhuma outra deixa tantos e tão fortes desejos inconscientes que agora agem produzindo sonhos. Assim, ao interpretá-los, não devemos esquecer a importância dos complexos sexuais, mas também não devemos exagerá-la até a exclusividade.
Vale lembrar que pouco tempo antes dessa publicação, em carta a Fliess, Freud (apud Vidal, 2010) diz ter reconhecido em si o amor pela mãe e um ciúme em relação ao pai, em conflito com a afeição que lhe dedicava, estabelecendo a validade universal do mito grego para a compreensão da psique humana.
Diz ele, ainda, que cada pessoa foi, um dia, em germe ou na fantasia, um Édipo, e que recuou horrorizada diante da realização do sonho transposto para a realidade, com base no recalcamento que separa o estado infantil do atual. Freud propunha o modelo do homem edipiano. Nessa época, ele se movia do trauma para a fantasia, ou seja, a valorização do inconsciente nos quadros neuróticos.
A psicanálise é observadora atenta do tempo em que se insere. Ao mesmo tempo que desafia o que parece estar estabelecido, aponta para determinados elementos sociais estruturantes que resistem às marés de transformação propostas pelo homem que busca soluções de renovação para seu existir. Há poucas décadas a contracultura questionou a política, a filosofia, a arte, a família e os costumes sociais. A revolução sexual, um dos emblemas da época, contribuiu para gerar um espírito libertário, interferindo nas relações interpessoais. A sexualidade se tornou política, e a prática sexual se libertou da função de procriação. As mulheres assumiram a autonomia sobre o próprio corpo, e as relações familiares foram questionadas.
Na sequência, surgiram novas formas reprodutivas, como inseminação artificial, fertilização in vitro, clonagem humana e útero de aluguel, levando à revisão das relações familiares na contemporaneidade, algo que continuou com o desafio das famílias monoparentais, multiparentais, homoparentais, entre outros tipos de arranjos vinculares, além das questões atuais sobre a identidade de gênero.
Esse cenário diversificado requer repensar a ordenação simbólica da genealogia do indivíduo. Porém, mesmo após tantas mudanças, ainda se verifica a expectativa de se construir laços afetivos duradouros que, de alguma forma, se assemelhem a um casamento. O que parecia, em um primeiro momento, que desacomodaria modelos até então absolutos, não se deu de modo tão transformador.
Persistiu a necessidade de se ter alguma organização nuclear que, mesmo sob uma aparência nova, garantisse alguma referência identitária de grupo e de acolhimento, como um traço filogenético condutor imperioso para garantir a proteção e continuação da espécie.
Não foi possível, até hoje, criar um modelo totalmente novo de agrupamento. A família ainda é uma organização que comunica a lei simbólica em um contexto civilizatório. O incesto permanece proibido, e laços se estabelecem pela exogamia, mesmo em novos arranjos familiares. Garante-se a estruturação da cultura, que ainda se refere aos pontos críticos do totemismo, ou seja, matar o totem e envolver-se com alguma mulher do próprio clã, remetendo aos pontos principais do Édipo, a saber, o interdito do parricídio e do incesto.
Na sessão seguinte à narrativa do sonho Leo chegou sorridente. Dizia trazer algo para me presentear e entregou-me um cartão-postal. Surpreendi-me ao ver que o cartão mostrava a fotografia da estátua de Rômulo e Remo com a Lupa Capitolina. Lupa, Loba, Leoa, Leão e Leo foram associações que imediatamente me ocorreram enquanto ele ainda segurava o cartão.
Lembrei-me de Freud em "O mal-estar na civilização"(1930/2016c), quando recorre à imagem de Roma para perguntar o que hoje ainda lá se encontraria da antiga Roma Quadrata. Certamente nada, mas muito da Antiguidade lá ainda está enterrado, diz ele.
Nesse texto, Freud (1930/2016c) propõe que tomemos Roma como uma entidade psíquica com um passado longo e rico no qual nada do que existiu chegou a perecer e lá está, continuando a existir. Acrescenta que, em oposição a destruições e substituições que podem ocorrer na história de uma cidade, o que se passou na vida psíquica não tem necessariamente de ser destruído. Para ele, a conservação do passado na psique é antes a regra do que a exceção. Naquele momento, diante de Leo, deparei-me com a força do simbolismo que atravessa longas distâncias no tempo e no espaço e pode se manifestar de modo tão eloquente em um simples cartão-postal. A imagem que Leo me oferecia talvez falasse de suas duas vertentes, Rômulo e Remo, ali apresentadas no contexto de adoção que a lenda e sua lenda pessoal contam.
Uma de suas vertentes desejando o encontro incestuoso que, recalcado, transborda em um sonho com essa mãe sedutoramente bonita como uma leoa. Em paralelo, a outra vertente, que sofre pelo abandono na infância por essa mesma mãe, provocando-lhe mais a sensação de uma fração da satisfação do que a plenitude amorosa referente às primeiras marcas de afeto que por toda a vida nos acompanham.
Tudo isso me ocorre num instante fugaz e denso. Aceito o cartão. Percebo que está em branco e volto a Freud, em "Construções na análise" (1937/2017), quando ele comenta que o analisando deverá ser levado a recordar algo que vivenciou e recalcou, e que o trabalho do analista é de construção, ou, se preferirmos, de reconstrução, como um arqueólogo, e que tanto o analista como o analisando permanecem com o direito de reconstrução pela complementação e junção dos restos conservados. Eu recebo o cartão-postal, agradeço e lhe digo: "Está em branco, você gostaria de preenchê-lo?".
Referências
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Recebido em: 29/5/2018
Aceito em: 11/11/2018