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Jornal de Psicanálise
versão impressa ISSN 0103-5835
Resumo
CASTELO FILHO, Claudio. O estranho, o duplo, e a possibilidade de uma relação amorosa genuína. J. psicanal. [online]. 2019, vol.52, n.97, pp.51-66. ISSN 0103-5835.
O autor vale-se inicialmente de experiências pessoais de sua vida e de análise para desenvolver o tema do estranho/duplo, tal como referido no texto "The uncanny", de Freud. Discorre sobre a dificuldade de tolerarmos o encontro com o estranho-inquietante que somos nós mesmos, com quem vamos deparando na experiência analítica, e a perplexidade trazida por ele - ou melhor, eles, pois não somos apenas um outro, mas muitos outros no grupo que nos constitui. Tal como destaca Bion em seu livro A memoir of the future, somos um grupo de estranhos, como tiranossauro, ameba, somitos, aristocratas, homem primitivo assassino e brutal, astrofísico, prostituta, diabo, sacerdote, vilão de ficção, fanáticos religiosos etc. O trabalho do analista seria única e exclusivamente apresentar e intermediar o encontro de um indivíduo com ele mesmo, ou seja, com estranhos que vão surgindo a cada sessão ou a cada momento da análise. A possibilidade de acolher e assimilar esses estranhos, desde os mais brutais e violentos aos mais amorosos e sofisticados permitiria ao indivíduo equipar-se para manejar de forma realista seus aspectos virulentos e instrumentar-se com eles, pois, na falta deles, torna-se incapaz de lidar com as situações internas e externas de modo favorável, arriscando até mesmo sua própria sobrevivência. Uma relação genuinamente amorosa de uma pessoa com ela mesma só seria possível com o reconhecimento e aceitação de tudo o que seria ela mesma, por mais que possa lhe parecer assustador. Sua condição para estabelecer vínculos igualmente genuínos e amorosos com terceiros estaria intimamente ligada a essa possibilidade de casar-se consigo própria, seja lá o que isso venha a ser.
Palavras-chave : estranho; duplo; primordial; desejo de ser importante; amor genuíno.