SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.30 número91Deficiência intelectual: doze anos de publicações na base SciELOAtuação em psicopedagogia institucional: brincar, criar e aprender em diferentes idades índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.30 no.91 São Paulo  2013

 

PONTO DE VISTA

 

Ensino superior e psicopedagogia: a busca por uma graduação alinhada com a contemporaneidade

 

 

Beatriz Judith Lima ScozI; Maristela Corralero Rosa ItoII

IGraduação em Pedagogia; Mestrado e Doutorado em Psicologia da Educação pela PUC-SP; Pós-doutorado e Educação pela Universidade de Brasília. Professora titular dos cursos de pós-graduação stricto sensu do Programa de Psicologia Educacional e do curso de Graduação em Psicopedagogia no Centro Universitário Fieo (UNIFIEO/SP); Coordenadora de pesquisa e pesquisadora do CNPq; Coordenadora do Grupo de Trabalho Subjetividade, Ensino e Aprendizagem na Associação de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP); Representante Nacional no Brasil da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP); Membro do grupo de pesquisa Psicologia Educativa da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), São Paulo, SP, Brasil
IIGraduação em Pedagogia, Mestrado em Psicologia da Educação, Pesquisadora no Centro Universitário FIEO (UNIFIEO/SP), Coordenadora de Polo de Educação à Distância na UNAR - Centro Universitário Dr. Edmundo Ulson, São Paulo, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


 

 

INTRODUÇÃO

Nas sociedades contemporâneas, o Ensino Superior tem papel importante na inserção social dos sujeitos, uma vez que a aprendizagem, além de ampliar a compreensão do mundo, também forma para o universo do trabalho. No Brasil, a desigualdade de acesso ao Ensino Superior é histórica, associada não apenas às questões financeiras, mas também às culturais, estreitamente relacionadas com a qualidade do Ensino Básico público. As políticas públicas que objetivam a superação desse problema são razoavelmente recentes e demonstram resultados ainda tímidos. Entretanto, alguns avanços podem ser pontuados, entre eles o surgimento de novas carreiras profissionais.

O presente artigo se propõe a discutir como o curso de graduação em Psicopedagogia se relaciona ao perfil das profissões contemporâneas. Para tanto, serão apresentadas algumas considerações acerca do Ensino Superior e serão pontuadas algumas questões quanto ao perfil do profissional da Psicopedagogia.

 

ENSINO SUPERIOR

Segundo Bernheim & Chauí1, o Ensino Superior na América Latina e Caribe possui papel importante, uma vez que esse segmento de ensino tornou-se estratégia fundamental para o desenvolvimento e a modernização das sociedades como um todo.

Entre os vários aspectos da modernização do Ensino Superior que podem ser apontados como promotores de avanços para o sistema educacional estão o desenvolvimento dos sistemas nacionais de avaliação, o aumento do número de instituições de Ensino Superior e diversificação das suas modalidades, o uso de novas tecnologias de informação e comunicação para o aprimoramento do ensino e da pesquisa, assim como os projetos para a cooperação entre o Ensino Superior e o setor produtivo.

Além de buscar a modernização, o referido segmento tem a seu favor algumas políticas públicas que objetivam o acesso de novos alunos, por meio de bolsas de estudo patrocinadas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) - Programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na Educação Superior de estudantes matriculados em instituições não-gratuitas.

É bem verdade que esses avanços ainda são muito tímidos, porém já apontam para a efetivação, no Brasil, da tendência mundial de deixar o Ensino Superior a cargo do poder privado, ficando o poder público responsável, quase que exclusivamente, pela Educação Básica.

O Ensino Superior merece atenção especial por estar diretamente ligado ao mundo do trabalho e aos setores produtivos da sociedade: constitui uma ferramenta concreta de inclusão dos sujeitos no mundo produtivo e gerador de renda. As universidades têm buscado criar novos cursos e atrair novos alunos, oferecendo-lhes diversidade de opções, e recursos tecnológicos para a concretização de uma boa formação.

É possível observar o surgimento de muitas carreiras profissionais nos últimos anos. É o caso, por exemplo, dos cursos de gastronomia, de hotelaria, de turismo, e de vários outros não listados entre os cursos de Ensino Superior tradicionalmente conhecidos.

A Conferência Mundial sobre Educação Superior, realizada em Paris em 1998, aponta que todas as regiões do mundo estão passando por um processo de transformação universitária, sendo necessário desenvolver a capacidade de responder a todos os setores da sociedade, dentre eles, o mundo do trabalho e do emprego.

As instituições de Ensino Superior necessitariam preparar o aluno para a empregabilidade e não mais apenas para a execução de tarefas específicas. A ênfase está nas capacidades e na flexibilidade da formação.

Segundo relatórios produzidos por pesquisadores da UNESCO,

"a universidade contemporânea precisa reconhecer a nova racionalidade, que começa a se evidenciar na diversidade das sociedades no mundo, sua composição cada vez mais multicultural, as características da massificação, as estruturas da comunicação informativa, a incorporação da tecnologia à vida diária, a redução da distância entre o público e o privado, o acesso dos cidadãos a modalidades de busca de conhecimento diferentes das usuais, as novas dimensões do trabalho baseado na capacidade de iniciativa pessoal e coletiva e a responsabilidade conjunta pelas decisões, o caráter interdisciplinar do emprego e a permanente mobilidade dos perfis profissionais, geográficos e de mobilidade cultural, e a redução do estado nacional mediante superestruturas regionais, econômicas e sociais e agir com tudo isso". (UNESCO, 1998).

Com as considerações feitas acerca do Ensino Superior, pretende-se pontuar que o surgimento do curso de Psicopedagogia como graduação não é uma iniciativa isolada e circunscrita a determinados grupos, mas sim parte de um processo muito mais amplo de implementação de novas áreas de conhecimento para o Ensino Superior e para do mundo do trabalho.

 

PROFISSÃO ALINHADA COM A CONTEMPORANEIDADE

Entre as críticas dirigidas à Psicopedagogia, a mais frequente aponta para a inexistência de um corpo teórico próprio, que a justifique como área do saber.

Segundo os críticos2,3, a Psicopedagogia surge com a intenção de associar a Psicologia à Pedagogia, com propostas de resolução de problemas que outras áreas não deram conta de resolver.

Em resposta a essa crítica, Andrade4 oferece um argumento, não para refutá-la, mas sim para analisá-la:

"O sujeito-objeto da Psicopedagogia é o ser humano em situação de aprendizagem. Não existe uma teoria referencial hegemônica da práxis psicopedagógica, precisamente porque nenhuma das teorias contemporâneas pode ao mesmo tempo compreender as múltiplas dimensões que intervêm no objeto psicopedagógico, senão que recorrem a marcos conceituais e instrumentos teóricos".

Ao tomar como objeto de estudo o sujeito em situação de aprendizagem, a Psicopedagogia precisa lidar com o fato de que aquele que ensina e aquele que aprende são acima de tudo humanos, e essa condição complexa e peculiar adiciona a esse objeto de estudo elementos de muitas ordens. É preciso considerar que, no sujeito em processo de aprendizagem, os aspectos cognitivos, afetivos/emocionais, simbólicos, histórico-culturais estarão presentes, e implicados em relações simultâneas e dinâmicas.

De fato, uma abordagem interdisciplinar pode contribuir para a compreensão dos processos de aprendizagem:

Corroborando essa ideia os autores Bernheim & Chauí1 afirmam:

"Se o século XX foi o da procura de certezas científicas e do desenvolvimento acelerado das várias disciplinas do conhecimento humano, o presente século está marcado para ser o da incerteza e da abordagem interdisciplinar".

Seria necessário um diálogo entre educadores, psicólogos - e outros profissionais - que não estivesse sob bases unilaterais; seria necessária uma visão mais ampla do processo de ensino e aprendizagem para que a compreensão e possíveis avanços fossem produzidos.

As questões ligadas ao ensinar e ao aprender, em qualquer nível de ensino, podem ser modificadas não só pelo debate e pela análise objetiva dos problemas, mas também pela ação pontual dos protagonistas do processo, no caso aqui discutido, os psicopedagogos, que também possuem seu papel no debate. Essa discussão tem o potencial de desencadear mudanças significativas.

 

REFERÊNCIAS

1. Bernheim CT, Chauí MS. Desafios da universidade na sociedade do conhecimento: cinco anos depois da conferência mundial sobre educação. Brasília: UNESCO; 2008.         [ Links ]

2. Fontes MA. Psicopedagogia e Sociedade: história, concepções e contribuições. São Paulo: Vetor; 2006.         [ Links ]

3. Scalcon S. À procura da unidade psicopedagógica: articulando a psicologia histórico-cultural com a pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores Associados; 2002.         [ Links ]

4. Andrade MS. Rumos e diretrizes dos cursos de Psicopedagogia: análise crítica do surgimento da psicopedagogia na América-Latina. Cad Psicopedag. 2004;3(6):70-1.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Beatriz Judith Lima Scoz
Centro Universitário FIEO - UNIFIEO
Rua Franz Voegeli, 300 - Vila Yara
Osasco, SP, Brasil - CEP: 06020-190
E-mail: beatrizscoz@uol.com.br

Artigo recebido: 21/2/2013
Aprovado: 11/3/2013

 

 

Trabalho realizado no Centro Universitário FIEO - UNIFIEO, Osasco, SP, Brasil.