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Revista Brasileira de Psicodrama

versão On-line ISSN 2318-0498

Rev. bras. psicodrama vol.21 no.1 São Paulo  2013

 

COMUNICAÇÕES BREVES

Brief Communications

 

 

 

Papel de Diretor de Sociodrama: competências e limitações

 

The role of the sociodrama director: potentials and limitations of the role

 

 

Iára Pereira Matos de MenezesI; Suely Emilia de Barros SantosII

IAssistente social pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), cursando Psicologia na Faculdade Castro Alves (FCA), psicodramatista socioeducacional pela Associação Bahiana de Psicoterapia de Grupo e Psicodrama (Asbap)
IIPsicóloga pela Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire), doutoranda em Psicologia Clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), psicodramatista docente-supervisora pelo Centro de Psicodrama e Sociodrama (Ceps), docente da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Faculdade do Vale do Ipojuca (Favip)

Endereço para correspondência

 

 

 


RESUMO

Neste trabalho buscou-se conceituar e caracterizar, teórica e vivencialmente, o papel de diretor de sociodrama, sua formação, suas competências e suas limitações. Ressaltou-se a importância: da ética no desempenho desse papel; da atitude de cuidador das relações entre humanos e dos fenômenos característicos de grupos sociais. A parte prática do trabalho, desenvolvida por meio do método sociodramático, ocorreu na Clínica Socializada da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo (Asbap), em Salvador (BA).

Palavras-chave: Psicodrama. Sociodrama. Ética. Diretor de sociodrama. Socionomia.


ABSTRACT

Through reflection on theory and practice, this paper aims to conceptualize and explore the development, potentials and limitations of the role of the sociodrama director. The importance of the following aspects is emphasized: performing this role in an ethical manner; a caring attitude toward human relationships and toward the phenomena characteristic of social groups. Using the sociodramatic method, this work was carried out at the Social Clinic of the Psychodrama and Group Psychotherapy Association of Bahia (Asbap), in Salvador (BA).

Keywords: Psychodrama. Sociodrama. Ethics. Sociodrama director. Socionomy.


 

 

INTRODUÇÃO

Nos cursos de formação em Psicodrama, durante as aulas teóricas que abordam as diferenças entre Psicodrama e Sociodrama, é comum surgirem dúvidas e questionamentos, sobre as diferenças entre uma sessão de Psicodrama e uma sessão de Sociodrama, para os estudantes que estão se iniciando no projeto socionômico e ainda não puderam participar vivencialmente de Psicodramas e de Sociodramas.

Essas dúvidas e esses questionamentos também nos ocorreram, durante a formação em Psicodrama – no foco socioeducacional. Com a participação ativa nas sessões de Psicodrama e de Sociodrama, a dúvida sobre as diferenças se deslocou para os limites no desempenho do papel de diretor de sociodrama.

Já como profissionais na área de serviço social, com especialização em Psicodrama, vimos desenvolvendo ações sociodramáticas em vários espaços, e fazemos aqui o relato de uma dessas práticas, por meio do método sociodramático, ocorrida na Clínica Socializada da Associação Bahiana de Psicodrama e Psicoterapia de Grupo (Asbap), em Salvador (BA).

Nossa busca pela compreensão dos limites a que nos referimos continua, e procuramos, nesta ocasião, compartilhar nosso percurso.

Conceituamos e caracterizamos, breve e sinteticamente, teórica e vivencialmente, o papel de diretor de sociodrama, sua formação, suas competências, suas possibilidades e suas limitações. Ressaltamos a importância: da ética no desempenho desse papel; da atitude de cuidador das relações entre humanos, e dos fenômenos característicos de grupos sociais.

Para a parte prática de nossos estudos, fizemos o acompanhamento, durante o período de agosto de 2000 a maio de 2001, de um grupo cujos participantes faziam parte de uma longa lista de espera por uma vaga para fazer Psicoterapia grupal na Asbap. Nosso objetivo era dar continência à espera solitária dessas pessoas. Demos o nome de Sala de Espera a esse grupo.

 

REVENDO OS CONCEITOS DE PSICODRAMA E SOCIODRAMA

O Psicodrama é uma ciência que busca a verdade a partir de métodos de ação, trabalhando com as relações interpessoais e os mundos privados (MORENO, 2008). De acordo com Moreno (1959), o Psicodrama faz parte de uma ciência maior chamada Socionomia, composta por três ramificações: Sociodinâmica, Sociometria e Sociatria.

"O Psicodrama é o tratamento do indivíduo e do grupo através da ação dramática. No Psicodrama de Grupo, o protagonista poderá ser um indivíduo ou o próprio grupo" (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988).

Moreno (1997) afirmou que o homem, por sua condição gregária, estabelece uma rede emaranhada de relações que possibilitam sua sustentação como sujeito portador essencialmente de emoções, para viver e se estabelecer em sociedade. Ele percebeu que as pessoas adoecem em sua espontaneidade e criatividade, comprometendo suas funções de emitir respostas criativas. Ao viver nessa dinâmica interativa, isolá-lo o subtrairia de sua condição humana.

O Sociodrama para Moreno (1992) consiste em um método de ação que trabalha as relações intergrupais, tem como sujeito o grupo, e no qual não há limite de participantes. A vivência dos papéis psicodramáticos poderá propiciar, em diversos níveis, a catarse de integração que é o objetivo do Sociodrama. Reñones (1996) afirmou que o fundamento da catarse de integração é dizer adeus a uma forma de estar no mundo, para integralmente adquirir um novo modus vivendi.

"O Sociodrama é um tipo especial de terapia na qual o protagonista é sempre o grupo e as pessoas estão reunidas enquanto mantêm alguma tarefa ou objetivo comum, por exemplo: estudar juntos, trabalhar juntos, viver juntos etc" (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1988). Segundo o site da Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap) - <http://www.febrap.org.br/portal/Default.aspx> "Enquanto técnicas, a diferença entre o Psicodrama e o Sociodrama consiste em que no primeiro o trabalho dramático focaliza o indivíduo – embora sempre visto como um ser em relação – e no segundo focaliza o próprio grupo".

 

O PAPEL DE DIRETOR DE SOCIODRAMA

Segundo Moreno (1992) e BERMÚDEZ (1984), a estrutura do papel de diretor é diferenciada através do foco de trabalho – Psicodrama ou Sociodrama –, e em ambos ele possui três funções:

a) Produtor – coordena a montagem da produção, de forma que as necessidades pessoais e coletivas dos personagens sejam atendidas.

b) Terapeuta principal – deverá ter todo o cuidado ao dirigir a cena, dando consignas para que, dentro da sua hipótese terapêutica, não haja manipulação do resultado.

c) Analista Social – desempenha essa função durante os comentários.

Os diversos sentimentos aflorados nos indivíduos e compartilhados são agregados ao comentário dos egos auxiliares e darão ao diretor subsídios para estender sua atuação à ação dramática.

 

ÉTICA NO PSICODRAMA

Vários autores se reportam à ética de Moreno como sempre presente, quando este busca desbloquear comportamentos do indivíduo, em seu contexto social, que estejam cristalizados nas conservas culturais, propiciando com isso que ele não perca sua espontaneidade e sua criatividade. Sempre coerente, Moreno procura desmistificar o papel de terapeuta como único portador de um saber "do outro", e coloca-o como parte de um todo (FOX, 2002; MORENO, 1992; ALMEIDA, 2002). Bustos (1999) salientou que o grupo pode construir o próprio código de ética e o diretor deve respeitar esse processo, "dentro do mais sagrado preceito da arte de curar que nos indica: 'primo non noscere' (antes de tudo não causar dano)" (BUSTOS, 1999, p. 55). Moreno era médico, com especialização em Psiquiatria, e utilizou o juramento de Hipócrates – 460 a 377 a.C. – para lembrar a ética do segredo profissional. Ele estendeu, então, o juramento ao grupo, para que dessa forma seus membros pudessem confiar seus segredos. Em nossa atuação, dirigindo sociodramas e sendo também, por profissão, assistentes sociais, temos constatado que a formação ética do assistente social vai ao encontro da ética do psicodramatista, e ambas se complementam na medida em que veem o homem em seu contexto sociocultural, respeitando seus direitos e seus desejos quanto à sua

Em uma visita ao Mercado de Artesanato do Recife, em 2002, reencontrei as bonecas de pano que tanto me divertiram na infância, em Crato, no Ceará.

Ao segurá-las, eu me perguntei: Se aos meus olhos de adulta as bonecas resgataram sentimentos ocultos, poderia ocorrer o mesmo com outras pessoas? O que elas fariam a partir do contato com estas simples, mas carismáticas bonecas? Será que as manteriam como eram ou modificariam seu aspecto em uma transformação que fosse a expressão de seus desejos e suas aspirações? Imediatamente pensei em integrá-las ao meu trabalho em São Paulo e, a partir dessas questões, iniciei um projeto com um método próprio, o Método Tatadrama, em que essas bonecas, frutos da rica cultura popular brasileira, têm papel central.

No início do processo, há o despertar dos cinco sentidos e da imaginação, sensibilizando o participante para o ato de brincar com espontaneidade e criatividade. A próxima etapa, a transformação da boneca de pano, é um dos pronunciamentos mais originais do método Tatadrama e consiste em que o indivíduo, através de grande variedade de contas, linhas, novelos, tecidos, brilhos e quinquilharias, modifique a estética, o visual e a forma da boneca segundo seus critérios íntimos e criativos. Isso lhe propicia uma nova linguagem, rica em metáforas emocionais, reveladora de fatos de seu inconsciente. Ao brincar com a boneca, ocorre uma pesquisa interior que mistura o personagem e o ser real, em que há o ver e o refletir, gerando diversos sentimentos que podem ser trabalhados nos jogos dramáticos. O diretor do Tatadrama sensibiliza, desconstrói, conduz, constrói e finaliza o processo.

O Tatadrama tem por base a frase atribuída a Platão (428-347 a.C.): "Você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa". Além disso, o brincar está envolvido com o crescimento, o desenvolvimento e o valor educacional em nossa cultura (CULKIER, 2002, p. 161). A simplicidade desse objeto familiar o capacita a atender a este e a outros trabalhos dessa natureza (BENJAMIM, 1984).

 

METODOLOGIA

O Tatadrama segue as três etapas do Psicodrama: aquecimento, dramatização e compartilhamento. Tatadrama remete ao tupi, em que tatá significa transformação.

A essência desse método é agrupar as diversidades e os sentimentos, conduzindo a uma sistematização dos procedimentos e das dinâmicas, a saber:

 

AQUECIMENTO

a. Descondicionamento do olhar através do uso de imagens.

b. Dinâmicas corporais autoperceptivas.

c. Trabalho sensorial, concentrando-se no despertar dos cinco sentidos

 

DRAMATIZAÇÃO

a. De uma coleção variada de bonecas(os), cada participante escolherá um (uma) que tenha a ver consigo mesma(o), iniciando o trabalho de observações sobre a(o) boneca(o) (percepções, sentimentos, emoções e associação livre).

b. Ponte entre o personagem e o ser, introspecção, descobertas, reflexões e insights.

c. Transformação, produção das vestimentas e ornamentações da(o) boneca(o).

d. Cenas dramáticas, que dão voz ao personagem.

 

COMPARTILHAMENTO

Reflexão em grupo, contextualização e perspectivas refletidas na boneca de pano. É no momento da contextualização e da customização que emergem os segredos guardados, muitas vezes desde a infância, escondidos no inconsciente, vêm à luz da percepção para que sejam transformados.

 

BREVE CONSIDERAÇÕES SOBRE A VIOLÊNCIA FAMILIAR

A violência familiar, ou violência doméstica, é uma das formas contemporâneas que integram o conceito de violência social. Fazem parte desse conceito: a prostituição de adolescentes induzidas pela condição socioeconômica, o abandono familiar, que condena crianças a fazer das ruas sua casa e seu território, a desnutrição infantil, as diferentes formas de abuso e a adição às drogas. Em muitos casos, a vítima sofre várias formas de violência social, todas produzidas por hábitos de sometimento (aceitar, resignar-se com o sofrimento) que a própria estrutura de dominação impõe (IPEA, 2009).

É uma característica específica da violência familiar o fato de esta acontecer no âmbito doméstico, longe de pessoas alheias à família. Ocorre como parte de relações intrafamiliares, ou seja, na vida privada. As práticas violentas tornam-se rotinas para resolver problemas e são acompanhadas de expressões de intolerância, desrespeito e sadismo. Formam circuitos de terror de difícil solução. Acometem tanto pessoas de idades semelhantes, quanto ascendentes e descendentes da vítima. Na maior parte dos casos, além do sometimento com relação à força física, ao fator econômico ou às regras morais, há nas vítimas fatores psicológicos que as impedem de defender-se ou denunciar os maus-tratos sofridos (IPEA,2009).

 

RELATO DE CASO

A seguir, relataremos um caso do uso da boneca de pano como Objeto Intermediário e a contemplação das oito qualificações sugeridas por Rojas-Bermúdez: mulher, 26 anos, casada há 8 anos, tem um filho de 4 anos, depende emocionalmente do marido agressivo, com profundo sentimento de rejeição, abandonada pelo pai na infância e com mãe ausente. No início da terapia foi resistente por temer se ausentar de casa e o marido notar. Sua família também a acusava de passar muito tempo fora de casa, usando o filho como refém desse argumento. Seu desespero era tão grande que a fez vencer seus medos e iniciar a oficina.

A oficina teve como proposta trabalhar o autoconhecimento e o pensamento autônomo, através de atividades lúdicas com um grupo de 30 mulheres por 40 horas.

A participante percebeu quanto sua relação estava desgastada, que as muitas idas e vindas não a nutriam mais; tomou consciência de que seu homem não a valorizava como mulher, nem no aspecto físico, nem em seu potencial criativo. Teve coragem e oficializou a separação do casal. Não foram dias fáceis, mas ela tinha a sensação de que algo novo e bom estava nascendo:

"De repente, durante essa vivência, senti como se estivesse expelindo minhas entranhas e a presença daquele homem de minha vida. Senti como se estivesse tirando todo esse mal com minhas próprias mãos. Eu me senti capaz de mandar toda aquela relação falida para fora do meu mundo".

A participante percebeu que poderia tomar suas decisões, que não queria mais ser dependente emocionalmente e adquiriu sensação de autocontrole e de empoderamento para superar as dificuldades e iniciar sua nova vida.

Anos depois, ela reapareceu para outra atividade do Tatadrama e trouxe sua boneca antiga. As roupas e acessórios escolhidos transformaram a simples boneca de pano na Mulher-Maravilha, heroína com superpoderes que aparece em filmes, dotada de grande força física e equilíbrio para vencer as lutas contra o mal. A participante também precisou de muita coragem, força e determinação para vencer a batalha de transformar e reconstruir sua vida: terminou a casa própria, comprou um carro e voltou aos estudos. Agora segue mais confiante, reconhece seu potencial e abriu seu coração para o novo amor de um homem que a respeita. Ela consegue perceber e blindar-se quando querem invadir seu espaço, desvalorizar seus talentos, agredi-la com palavras ou atitudes. Transformou-se na pessoa que sempre quis e buscou na vida: ELA MESMA.

Essa oficina, realizada só com mulheres, favoreceu o sentimento do cuidar, do acolher, da empatia e a essência da cumplicidade do feminino. Vieram à luz diversas formas de violência doméstica: ter um marido déspota; ser malvista pela família por ser separada; não ter liberdade para sair com as amigas; ter um marido muito ciumento/controlador/ alcoólatra; saber da existência da "outra", mas suportar a dor por ser dependente financeiramente do marido; sofrer um aborto e não ter o acolhimento da família por ser mãe solteira, mesmo sem ter sido mãe; ser expulsa de casa por causa de uma gravidez precoce; ter um marido que culpa a esposa por um filho ser homossexual ou deficiente; ter um marido que dá "tudo" para a esposa, mas em troca ela perde a autonomia; ter tripla jornada de trabalho para sustentar os filhos e o marido que vive desempregado; ter abandonado seus filhos pelos descaminhos da vida; fingir o orgasmo por desinteresse sexual ou por falta de carinho nesse momento íntimo. Eram mulheres que tinham em comum um sentimento de incapacidade de realizar seus sonhos e seus desejos.

 

O TATADRAMA E AS OITO QUALIDADES DO OBJETO INTERMEDIÁRIO

O termo "Objeto Intermediário" foi introduzido pelo psicodramatista Jaime Rojas-Bermúdez na década de 1960, como um facilitador de expressões emocionais de pacientes psicóticos crônicos (Rojas- Bermúdez, 1970, p. 130).

A boneca de pano é mediadora de reflexões no ato de brincar, como se pode ver ao associar o caso relatado e as oito qualidades de Rojas- Bermúdez:

Existencial Real e Concreto: A Mulher-Maravilha como centro e alicerce da renovação de uma vida.

Inocuidade: O ato de transformar de modo inofensivo e a reflexão profunda de processos destrutivos e construtivos nas relações sociais, nos quais a Mulher-Maravilha representou fonte interna da mulher corajosa e forte.

Maleabilidade: A flexibilidade de transformar uma boneca em uma heroína como representação de um papel coberto de caráter e valores.

Transmissor: O Objeto Intermediário foi utilizado como fio condutor para transmitir mensagens subjetivas transpostas através da criatividade e da expressão como interlocutor, transformando-se em um veículo de comunicação, substituindo o vínculo e mantendo a necessária distância para a transmissão do saber.

Adaptabilidade: De modo sutil, possibilitou à participante dar asas à imaginação, com espontaneidade em sua totalidade ao se transformar em Mulher-Maravilha.

Assimilabilidade: Conseguiu, na qualidade de transmissor, passar ao grupo o conteúdo do aprendizado de forma fácil e assimilável por todos, com a criação de uma relação de intimidade como identificação de si mesmo, estabelecida entre a teoria e os valores subjetivos, na projeção das pulsões mobilizadas na contextualização.

Instrumentabilidade: A boneca transformou a mulher sofrida em heroína.

Identificabilidade: A identificação com a Mulher-Maravilha, forte, segura, corajosa, linda e capaz de sustentar a carga moral, social, emocional e com valores como foco de equilíbrio e estrutura familiar no processo construtivo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método Tatadrama não é só uma técnica que conjuga subjetividade e informalismo, mas mantém uma preocupação singular com a herança cultural e a memória coletiva. Ao criar esse espaço de reflexão em um ambiente acolhedor com adultos em vários contextos sociais, busca-se propiciar, com o ato de brincar com a boneca de pano, a liberação, a transformação e o autoconhecimento do sujeito.

No Tatadrama, a boneca de pano é o instrumento que se torna um meio de detecção dos estados de alarme, favorece a formação de vínculo, é um estímulo em situações de conflito dos participantes em relação ao contexto do trabalho, e contribui para a emergência das manifestações personagem/ser.

O Psicodrama aqui executado surge dos próprios sentimentos e do relacionamento com os membros de um grupo, constituindo profunda troca com membros estilizados em bonecas de pano como membros de uma sociedade estereotipada ou de uma solidão abstraída da sociedade.

Através do ato de tecer a boneca e transformá-la, o Tatadrama desperta o poder de modificar histórias, tanto do sujeito que participa das oficinas, quanto daqueles que com ele vivem, pois é impossível ficar séssil com as mudanças que ocorrem nas pessoas que amamos ou com quem convivemos. Essa afirmação pode ser observada nas pessoas de diferentes grupos sociais, de idades variadas, de gêneros diferentes, de muitas profissões e modo de vida que já se submeteram a essa terapia.

O método Tatadrama se sustenta em quatro pilares teóricos: o Psicodrama, o Sociodrama, a teoria do brincar e a psicologia reichiana, através do recorte da curva orgástica.

É através da boneca, seu Objeto Intermediário, que o indivíduo desenvolve a capacidade de se colocar no lugar do outro e de compreender o pensamento do outro, mesmo que esse outro seja sua projeção incorporada na boneca de pano. Este é um teatro em que se resgatam as potencialidades inatas e latentes da criança interior, que por motivos culturais, sociais e políticos, entre outros, encontram-se adormecidas na rotina e nos conflitos da própria existência. Nas oficinas Tatadrama,mulheres de várias idades refletem sobre as formas de violências a que estão submetidas, reconhecem seus pares e passam a se enxergar como pessoas dignas de direitos.

 

Referências

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MORENO, J. L. Psicodrama. 12 ed. São Paulo: Cultrix, 1997.         [ Links ]

ROJAS-BERMÚDEZ, J. G. Títeres y psicodrama: el objeto intermediário. Buenos Aires, Genitor, 1970.         [ Links ]

 

 

 

Endereço para correspondência
Elisete Leite Garcia
Rua Arão Adler, 160 Parque Continental
São Paulo, SP CEP 05328-010
e-mail: elisete@espacoevents.com.br
URL: www.tatadrama.com.br

Recebido: 01/09/2012
Aceito: 19/03/2013