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Revista Brasileira de Psicanálise
versão impressa ISSN 0486-641X
Rev. bras. psicanál vol.47 no.1 São Paulo jan./mar. 2013
LANÇAMENTOS
A pintura encarnada
Seguido de A obra-prima desconhecida, de Honoré de Balzac
Georges Didi-Huberman
São Paulo: Escuta, 2012, 192p.
Em seu Volume 46, n. 3, de 2012, a Revista Brasileira de Psicanálise teve a satisfação de publicar, em sua seção "Interface", o artigo "A prova pela imagem", de Didi-Huberman, que procurava responder à pergunta sobre a eficácia das imagens pela noção de "prova" pela imagem, isto é, a forma concreta como a imagem faz pensar e agir. O autor é filósofo e historiador da arte, lecionando na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), além de ter sido professor de diversas universidades estrangeiras, vencedor de vários prêmios, curador de exposições e autor de mais de quarenta obras sobre história e teoria das imagens. Agora, temos nova satisfação ao colaborar na divulgação deste livro de Didi-Huberman, recentemente editado no Brasil pela editora Escuta. Esta obra apresenta narrativa extremamente complexa ao destacar os paradigmas do olhar, seus jogos de sedução e suas obsessões. Por meio de um percurso que atravessa a história da sensibilidade ocidental, vemos aqui confrontadas a arte e suas teorias com uma psicanálise do desejo e com uma psicologia do olhar especialmente sedutora, bem como são chamados à trama narrativa a fenomenologia, a semiótica, a literatura (que o autor chama de "teatro escrito dos pintores" e suas ficções), integradas em um texto que, indo além de "pensamentos avulsos", fragmentários, configura uma brilhante eficácia analítica. A partir do conto filosófico A obra-prima desconhecida, de Balzac, que serve de narrativa primeira, da "origem e da perdição do olhar desejante do artista" -como escreve Osvaldo Fontes Filho no Prefácio do livro -, o autor evoca, frente à questão estética da encarnação na pintura, os eternos impasses entre o visível e o invisível, a presença e a ausência. Trata-se de obra que se coloca como projeto e questionamento: como falar hoje da pintura entre a teoria semiótica, a psicanálise e a exigência de uma fenomenologia?
Balint em sete lições
Luis Cláudio Figueiredo
Gina Tamburrino
Marina Ribeiro
São Paulo: Escuta, 2012, 176p.
Este novo livro de Luis Cláudio Figueiredo - realizado a partir de aulas ministradas na puc--sp e organizadas por Gina Tamburrino e Marina Ribeiro -, lançando luz sobre grandes desafios da clínica psicanalítica contemporânea, resgata um dos mais significativos psicanalistas da Escola de Budapeste, grande semeador de ideias e práticas para a Psicanálise. Michael Balint, húngaro de nascimento, radicado na Inglaterra e discípulo brilhante de Ferenczi, dono de consistente formação baseada na tradição psicanalítica, desenvolveu amplas inovações sobre a importância do amor primário na constituição da subjetividade humana. Ampliando o conhecimento da técnica necessária para atendimento a pacientes comprometidos por experiências traumatizantes, destacou o importante lugar do luto e da chance de um recomeço a partir da experiência clínica. Estudioso do que forma ou deforma um psicanalista, Balint foi responsável pela ampliação da atuação psicanalítica por meio da criação dos "Grupos Balint" nas instituições de saúde. Seus trabalhos nos auxiliam a compreender o lugar de importância que a obra de Ferenczi tem no pensamento de Winnicott. Este livro de Luis Cláudio Figueiredo faz justiça a um autor por vezes esquecido, mas presente por meio de suas ideias na prática diária dos psicanalistas atuais. Nas sete lições que compõem o livro, nada é poupado ao pensamento crítico que caracteriza os trabalhos de Figueiredo. Evidencia-se que os esforços de Balint em manter sua originalidade de pensamento acabaram - por conta das conhecidas controvérsias entre kleinianos e annafreudianos - por fazê-lo enveredar-se nas investigações que dariam preponderância à posição do objeto na questão das atitudes de excessivo agarramento ou desapego de seus pacientes, em detrimento de suas teorias iniciais. Estas buscavam associar de modo integrado a importância das relações objetais com a teoria pulsional na constituição da subjetividade.
Envelhescência
Um fenômeno da modernidade à luz da psicanálise
Sylvia Salles Godoy de Souza Soares
São Paulo: Escuta, 2012, 216p.
Instigante estudo que se aprofunda na questão do significado da passagem do tempo, especialmente para a alma feminina, este livro ilumina temas que se apresentam como centrais na modernidade. Envelhescência, título curioso que remete a fenômeno histórico recente, como também é o caso da adolescência, dirige-se a inquietações que o envelhecimento produz em nossa vida cotidiana. Tomando como referência o conceito de A. Ferrari sobre "eclipse do corpo", o qual postula estarem mente e corpo buscando equilíbrio constantemente, destaca-se o fato de que a mulher sofre de modo inelutável as modificações que sua dimensão biológica lhe impõe. O fim da fase procriativa, pelo advento da menopausa, associado às mudanças no âmbito da família e da vida social, obriga a mulher a se deparar com o que se poderia chamar de crise da identidade feminina. Agora, na envelhescência, assim como ocorrera na adolescência, a vida psíquica terá que se ocupar desse corpo, que lhe é estranho, de modo tal que consiga refazer uma nova aceitação e integração entre corpo e mente. Fazendo-se acompanhar de ilustres autores como Cícero, Sêneca, Guimarães Rosa e tantos outros, a autora problematiza as experiências da passagem do tempo, fazendo com que nos confrontemos com nosso próprio processo de amadurecimento. O livro aborda interessante história que se compõe de aspectos da vida cotidiana de três mulheres, o que se faz pela narrativa da experiência clínica de análise. Ao apontar para possíveis trajetos na vivência do envelhecer, percebemos como a experiência clínica da autora pôde adentrar agudamente esse universo feminino, tornando possível a transformação do sofrimento angustiante, próprio a esse fenômeno, em algo mais preenchido de expectativas esperançosas.
O ideal
Um estudo psicanalítico
Helenice Oliveira Rocha
São Paulo: Vetor, 2012, 129p.
Este livro, que é fruto do desdobramento da dissertação de mestrado da autora, reporta-nos à dificuldade que o ser humano contemporâneo enfrenta ao ter que lidar com a constante perturbação de seu equilíbrio psíquico, duramente conquistado por conta das demandas provenientes das diferentes áreas da vida psíquica. Isto porque a vida civilizada atual está sempre a promover, em alta velocidade, a excitação dos regimes da pulsão, a intensificação desmedida do afluxo de percepções e a amplificação dos efeitos do ideal, empurrando o homem a seus limites e fazendo-o correr riscos antes desconhecidos. Helenice Oliveira Rocha nos apresenta estudo muito bem construído, claro e eficiente na explicação da questão do Ideal na vida psíquica, tomando a obra de Freud como sua bússola orientadora. Traçando a relação do ideal com a formação original da vida psíquica, marcada pelo desamparo e pela capacidade alucinatória, associada às fontes culturais e filogenéticas, bem como marcando a relação do ideal com o narcisismo e o Eu, vemos como a autora consegue conduzir o leitor à compreensão das consequências, benéficas ou maléficas, para o sujeito, que esse complexo processo promove na esfera clínica e na dimensão da cultura. Aproximando o aporte freudiano sobre o tema a outros conceitos psicanalíticos, faz com que se estabeleça produtivo diálogo com as principais contribuições pós-freudianas, como as trazidas por Klein, Lacan, Winnicott, Bion, Green e Pontalis. Felicitamos a publicação deste livro, que alimenta profícua interlocução entre a Psicanálise e os cada vez mais intensos alertas do mundo de nossos dias, obrigando a que pensemos seriamente sobre a contemporaneidade.
Psicanálise em trabalho
Flavio Carvalho Ferraz
Lucia Barbero Fuks
Silvia Leonor Alonso (Orgs.)
São Paulo: Escuta, 2012, 276p.
Este livro é resultado de um Ciclo de Debates realizado no Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, em 2011, com o objetivo de mostrar o movimento do pensamento desenvolvido no percurso de formação proposto no Curso de Psicanálise do referido departamento. Esta obra apresenta uma perspectiva metapsicológica que faz trabalhar a psicanálise, ou seja, que impede torná-la rígida quanto a seus conceitos, apresentando um saber em movimento convidativo a que o leitor percorra territórios diversificados da clínica psicanalítica. Trata-se de um conjunto de trabalhos, dezoito no total, divididos em seis grandes temas - "Para além da interpretação dos sonhos"; "A incidência da teoria das pulsões na clínica psicanalítica"; "Destinos da sexualidade infantil"; "O trabalho do analista"; "Versões do sintoma na neurose, na depressão e na instituição"; "Psicanálise, cultura e imaginários" -, cabendo cada trabalho a um autor específico, que produzem um alargamento de nossa escuta analítica e nos fazem pensar sobre nosso trabalho. Todos os artigos aqui incluídos estão engajados em apresentar conflitos de nossa época presentes na clínica psicanalítica atual. Diversidade e diferença caracterizam esta obra, que busca aproximações com novos pensamentos filosóficos, sempre tendo a teoria freudiana como eixo, o que produz um aprofundamento do conhecimento iniciado por Freud. Tomando o conhecimento psicanalítico como um sistema aberto, como um percurso não terminado, o que se encontra neste livro promove a discussão das teorias com que o analista trabalha e destaca as dificuldades cotidianas em sua clínica, levando os leitores a se questionarem sobre suas próprias práticas.
Transferência e contratransferência
Marion Minerbo
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012, 298p.
Novo livro da coleção "Clínica Psicanalítica" - dirigida por Flavio Carvalho Ferraz e que se volta às mais diversas manifestações do sofrimento psíquico, bem como às expansões da clínica psicanalítica para além do setting clássico -, esta obra de Marion Minerbo tem por objetivo colaborar para que analistas em formação possam desenvolver, no que diz respeito ao tema tratado, uma visão crítica que os remeta diretamente à própria clínica. Não se trata propriamente de uma revisão bibliográfica sobre o assunto, mas do entendimento de que o trabalho do analista exige reconhecer e interpretar os modos de ser e sofrer que se atualizam na situação analítica viva, protagonizada por paciente e analista, levando este último a se esvaziar de sua "pessoa real" para tornar disponível a "matéria viva de seu psiquismo" (contratransferência), por meio da qual dá forma e vida ao objeto primário convocado pelo paciente na/pela transferência. Este modo de ver vai além da simples compreensão das categorias amplas e universais da psicopatologia: neurose e não neurose, vistas como formas de ser e sofrer, na medida em que insere o próprio analista como instrumento fundamental de seu trabalho. A autora propõe que contratransferência e transferência são posições identificatórias e complementares, de modo tal que uma desenha e dá sentido à outra (ideia que norteará todos os capítulos do livro). Tenta-se reconhecer "quem" está na origem das identificações determinantes da forma de ser e sofrer para a qual o paciente busca alívio, tornando possível interpretar e/ou mudar a posição subjetiva, interrompendo a repetição sintomática. Quatro grandes capítulos constituem o livro: "Breve história comentada dos conceitos de transferência e contratransferência", "Seis situações clínicas comentadas", "Trabalhando transferência e contratransferência em supervisão" e "Transferências cruzadas e complementares no cotidiano: corrupção, poder e loucura". Dona de vasta e rica experiência clínica, além de grande conhecimento e erudição teóricos, Marion Minerbo nos brinda com precioso trabalho, fundamental na atualização desses conceitos psicanalíticos.