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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.55 no.1 São Paulo jan./mar. 2021

 

PLENÁRIAS DE VANCOUVER

 

O infantil1: qual é o significado?2

 

The infantile: which meaning?

 

Lo infantil: ¿cuál es el significado?

 

L'infantile: que signifie-t-il?

 

 

Jorge CanestriI; Tradução Sonia Augusto

IPsiquiatra. Psicanalista. Membro da Associação Psicanalítica Italiana (AIPsí). Recebeu o prêmio Mary S. Sigourney em 2004. Presidente do XLII Congresso Internacional de Psicanálise, realizado em Nice, França, em 2001. Editor associado do International Journal of Psychoanalysis. Presidente da Federação Psicanalítica Europeia. Roma / canestrijorge@gmail.com

 

 


RESUMO

O in-fans, aquele que não pode falar, precisa de alguém que fale por ele, principalmente um psicanalista, para que possa ouvir novamente a linguagem "silenciosa" que se expressa no tempo do Jetztzeit. Através de uma reflexão acerca do trabalho de Freud sobre a afasia e de sua troca de cartas com Fliess, é possível identificar uma prévia importante, que consiste em uma espécie de pré-semiótica, assim como uma hipótese sobre a memória. Além disso, história, sociologia, semiótica e neurociência são interlocutores necessários para o desenvolvimento do tema "o infantil" na psicanálise.

Palavras-chave: infans, infantil, afasia, tradução, semiótica


ABSTRACT

The "in-fans", who cannot speak, needs a narrator, especially a psychoanalyst in the transference, in order to be able to hear again the "silent" language that is expressed in the time of the Jetztzeit. Through a reflection on Freud's work on aphasias and his exchange of letters with Fliess, it is possible to identify important previews which constitute a sort of pre-semiotics, as well as a theory on memory. In addition, history, sociology, semiotics and the neurosciences are all necessary interlocutors for developing the issue of "the infantile" in psychoanalysis.

Keywords: infans, infantile, aphasia, translation, semiotics


RESUMEN

El in-fans, aquel que no puede hablar, necesita de alguien que hable por él, principalmente un psicoanalista, para que pueda oír nuevamente el lenguaje "silencioso" que se expresa en el tiempo del Jetztzeit. Por medio de una reflexión acerca del trabajo de Freud sobre la afasia y su intercambio de cartas con Fliess, es posible identificar una previa importante, que consiste en una especie de semiótica previa, así como una hipótesis sobre la memoria. Además de ello, historia, sociología, semiótica y neurociencia son interlocutores necesarios para el desarrollo del tema "lo infantil" en psicoanálisis.

Palabras clave: infans, infantil, afasia, traducción, semiótica


RÉSUMÉ

L'« in-fans », celui que ne peut pas parler, a besoin d'un narrateur dans le transfert, en spécial un psychanalyste, pour pouvoir entendre à nouveau le langage « silencieux » qui était employée au temps du Jetztzeit. Par le moyen d'une réflexion sur l'Œuvre de Freud concernant les aphasies et son échange de lettres avec Fliess, il est possible d'identifier des prévisions importantes constituant une espèce de pré-sémiotique, aussi bien qu'une théorie de la mémoire. En plus, l'histoire, la sociologie, la sémiotique et les neurosciences sont toutes des interlocutrices nécessaires au développement de ce sujet : « l'infantile » en psychanalyse.

Mots-clés: infans, infantile, aphasie, traduction, sémiotique


 

 

Algumas lembranças pessoais da minha infância - lembranças que dizem respeito a uma pessoa muito especial que conheci na época, Jorge Luis Borges - vão introduzir estas reflexões sobre o infantil.

Encontrei Borges pela primeira vez quando eu tinha apenas poucos anos, porque meu pai pensou que ouvir as "falas" de poetas era uma experiência necessária para a alma juvenil. E assim as reuniões da Academia Argentina de Letras com frequência tinham a presença de um menininho que ficava surpreso algumas vezes, maravilhado outras vezes e entediado de vez em quando. À luz do que sei hoje, acho que na época eu não entendia o significado de todos os discursos que ouvia. Sei agora, e já sabia então, que havia magia nas palavras de Borges, e muito antes de poder escolhê-lo como um dos escritores que adorava ler e reler, ele era um dos mitos da minha infância. Em 1984, ele estava em Roma para receber um diploma honorário da Universidade La Sapienza e me deu a honra de me conceder uma entrevista - uma conversa para falar sobre a infância - em memória de seu velho amigo, meu pai.

Sem perder tempo, perguntei:

- Borges, o que é a infância?

- Eu diria que é a idade mais importante porque você descobre tudo: você descobre cores, formas, pessoas, palavras ... é uma idade em que você descobre o universo ... e isso não é pouco, não acha? Eu tenho lembranças muito felizes. Nasci em Buenos Aires, no bairro de Palermo . Não me lembro do bairro, mas me lembro da biblioteca de meu pai. Quase todos os livros eram ingleses. Eu aprendi sozinho naquela biblioteca mais do que em escolas. Essas são minhas lembranças mais vividas e mais gratificantes.

- Borges, em seu ensaio "La poesia gauchesca" você diz que Martin Fierro conta a própria história começando na "idade viril completa . em que o homem é, não [n]o tempo dócil em que a vida está em busca dele". Essa é a sua definição de infância?

- Bom, sim, mas agora eu não me lembro exatamente do que eu disse naquele livro ... Sabe, acho que podemos dizer que Dickens foi o inventor literário da infância. Veja, antes de Dickens não havia crianças na literatura. Eu diria que, na literatura, Dickens foi o primeiro a revelar a infância para nós, a ver as superstições da infância, a solidão da infância. Tudo isso aparece no trabalho de Dickens, não antes. Escolha qualquer personagem literária significativa, todos eles já são homens maduros. Uma das virtudes da psicanálise é ter descoberto a infância - na ciência, porque a descoberta de Dickens é literária. (Canestri, 1985)

A primeira pergunta que podemos fazer com legitimidade é: Borges está correto ao identificar em Oliver Twist e nos trabalhos subsequentes de Dickens a descoberta literária da infância?

No que me diz respeito, a resposta poderia ser parcialmente positiva. Sem dúvida, Dickens introduziu o romance social que descreve a sociedade inglesa do século xix em plena transformação à custa da estrutura social existente. Foi uma transformação devida ao primeiro estágio da Revolução Industrial, que exacerbou a pobreza, a exploração do trabalho infantil, a degradação dos bairros da classe trabalhadora (favelas) e a hipocrisia da cultura vitoriana. O romance dele foi também o primeiro em inglês com um menino como protagonista.

De um ponto de vista estritamente literário - mas também sócio-histórico -, seria injusto não levar em consideração o antecedente espanhol de Lazarillo de Tormes, de um autor anônimo, provavelmente escrito entre 1525 e 1554, durante o reinado de Carlos v, em um período de crise econômica: um romance picaresco relacionado ao fabliau, proibido pela Inquisição e precursor do livro muito mais rico e mais famoso La vida del Buscón (1626), de Francisco de Quevedo.

Mas a história da infância e o contexto social a que ela pertence certamente não terminam com o período de mudança social entre os séculos xvi e xviii nem com a Revolução Industrial. Precisamos nos voltar para os vastos trabalhos de Philippe Ariès, de Lenfant et la vie familiale sous l'Ancien Régime (1960/1973) aos vários volumes da Histoire de la vie privée (1985-1987), que começam no Império Romano, passam pelo ano 1000 d.C. e continuam até o século xx. O volume dedicado à República e ao Império Romano é especialmente importante na literatura científica sobre a chamada innocentissima aetas.

No prefácio ao volume sobre o Ancien Régime, Ariès enfatiza que a antiga sociedade tradicional representava mal a criança (enfant) e pior o adolescente, que a duração da infância era reduzida ao período mais frágil e que, assim que a criança crescia um pouco, ela se transformava de criança em jovem, sem passar pelos estágios da adolescência, essenciais mesmo antes da Idade Média, bem como no presente.

Levemos em conta, porém, que no livro 7 d'A república Platão nos dá um vislumbre de como o passado da infância é muito parcialmente documentado - os achados são muito perecíveis - e parcialmente imaginado; portanto, entre paideia e mythos. A infância sofre de uma incerteza discursiva, da incompletude de fatos de conhecimento e de uma difícil identificação do objeto.

Por que eu penso que é essencial considerar os diferentes períodos de sociologia e história a fim de falar sobre a infância? Em primeiro lugar, para destacar a impossibilidade metodológica de dissociar a infância da sociedade, de suas instituições e do momento na história com que estamos lidando. Não faz sentido falar da infância como uma entidade abstrata, atemporal, desconectada da cultura, da economia, da classe social. O próprio Freud, em Esboço de psicanálise, enfatiza:

Os detalhes do relacionamento entre o ego e o superego tornam-se completamente inteligíveis quando são rastreados até a atitude da criança para com seus pais. Essa influência parental, é claro, inclui em sua operação não somente a personalidade dos pais verdadeiros, mas também as tradições familiares, raciais e nacionais passadas por meio deles, bem como as demandas do meio social imediato que eles representam. (1940/1964b, p. 146)

Desse ponto de vista, Gilbert Diatkine oferece uma contribuição significativa em "Le surmoi culturel" (2000).

Em segundo lugar, porque as crianças (e a infância) "poderiam iluminar", como Julio Moreno (2002) sugere, "algo que desvalorizamos daquilo que é humano no ser humano". Mas a poesia de Peter Handke diz que "Als das Kind Kind war, wusste es nicht, dass es Kind war" (Quando a criança era uma criança, ela não sabia que era uma criança) (citado por Wenders, 1987). Segue-se que a criança - Walter Benjamin está certo - precisa de um narrador. O olhar da criança sobre o mundo no quadro de Klee Angelus Novus, bem como o olhar na história do anjo de Benjamin, ou o anjo sobre Berlim de Wenders, precisa de um narrador. Qual é a razão dessa necessidade?

Existem pelo menos duas. A primeira é imediatamente evidente: a palavra com que nos referimos à criança, infans - in (negativa), fari (dizer), dire (falar) -, nos diz que a criança é quem não pode falar, "qui fari non potest" em latim. A cultura e a sociedade romanas consideravam que, por volta dos 7 anos, a criança estava começando a ser capaz de raciocinar e, até a Idade Média, a criança continuou a ser comparada ao louco. O grande jurista bizantino Teófilo diz que não é possível para uma criança ou um louco escrever um testamento, pois "a primeira ainda não atingiu o raciocínio, e no caso do segundo o raciocínio foi abandonado". Além disso, se a morte não acontecesse prematuramente, como ocorria com frequência na época, a duração da infância era variável. Quando a criança começava a pronunciar um discurso raciocinado, ela se tornava um garoto - puer -, mas isso poderia incluir crianças até 16 ou 17 anos.

O olhar para o mundo da criança de Benjamin, do anjo que deseja redimir o passado, mas que é arrastado para a catástrofe do futuro, do nazismo e do seu próprio suicídio, o olhar de Dickens, de Quevedo, do quadro de Klee, do filme de Wenders, além de colocados em um contexto cultural e temporal, devem todos ser "vistos", "experimentados" por sua vez por aqueles que já passaram pela pueritia, mas ainda são habitados, conscientemente ou não, pelo que chamamos de o infantil. Benjamin atribui ao narrador a tarefa de tornar essa "linguagem", que é muda, ouvida novamente.

A segunda e mais decisiva razão é que o infantil não é infância. Até agora falei da infância a fim de ser capaz de falar do infantil, que é algo que, como Freud disse, fala predominantemente em sonhos, mas não só isso. Quando o infantil fala, o orador não sabe disso e, também nesse caso, ele precisa de um "narrador", isto é, um psicanalista na situação de transferência.

Jacques André (2018) está certo quando, seguindo as indicações de Freud mencionadas antes sobre o infantil e os sonhos, aponta que "na psicanálise, o infantil precede a criança" e que, embora não negando o valor de observar a criança, não podemos nos basear nisso quando, como diz Winnicott, criamos hipóteses sobre o que a criança vê espelhado na face de sua mãe; "a criança em psicanálise é construída a partir da regressão transferencial, independentemente de qual seja a idade do paciente". Todos nós, em todas as idades, somos "assombrados" (insiste André) pelo infantil. Assombrados, possuídos, habitados, como as casas assombradas são habitadas, possuídas por fantasmas. Desse ponto de vista, o infantil compartilha certa essência com o Unheimliche, o estranho.

Se a criança em psicanálise é construída sobre a base da regressão transferencial, então, a partir do ponto de vista de Michel Gribinski (2018), isso implica dizer que a criança em psicanálise pode ser identificada com o método associativo, considerando o "distúrbio" que esse método induz na memória -compreendida como uma entidade "conservadora". Ele deixa a palavra para alguém que não fala. Essa é uma situação paradoxal: recorrer ao infans, isto é, ao que não fala, qui fari non potest, a fim de reviver a palavra da não repetição, a qual, diz Pontalis, pode corrigir a "afasia secreta" da linguagem.

Mas a regressão transferencial naturalmente envolve o narrador, o analista, que nesse caso interpreta, dá voz à afasia secreta, usando o fato de que, como diz Pontalis (2008), "o poder da linguagem é o da busca daquilo que não está nela, o que não está limitado a si mesmo, o que chamo de afasia secreta".

"O jogo antagônico dos impulsos que nos comandam, o princípio desregulador que nos comanda", ecoa Laurence Kahn (2004), que descreve o que agora chamamos de o infantil como "a parte da vida psíquica que na criança já está separada pela cisão, a parte das ideias sexuais mais sujeitas à repressão, a parte 'não usável' porque é 'não educável' (Freud)".3

Além da importância do narrador, Benjamin também destaca o paradoxo de um tempo que passou, que é até mesmo pré-histórico, um tempo ao qual, diz Freud, o trabalho com o sonho nos dirige, mas que é simultaneamente o tempo do agora, Jetztzeit, usando o termo que Benjamin emprega em várias oportunidades. O conhecimento disso, desse tempo, precisa ser "despertado", precisa romper com sua potencialidade e reconfigurar a ordem aparente da história. "O despertar é o exemplar caso de memória - o caso poderoso e significativo pelo qual somos capazes de lembrar o que está próximo de nós". Isso que está próximo de nós é o agora, Jetztzeit - mesmo que esteja muito distante na ordem convencional do tempo -, é afásico e precisa ser trazido à luz e "despertado" para falar.

Escrevendo sobre seu "jovem paciente russo", em "Análise terminável e interminável", Freud descreve a emergência desses elementos do infantil:

O material patogênico consistia de partes da história da infância do paciente, que não tinham vindo à luz enquanto eu o estava analisando e que agora surgiram - a comparação é inevitável - como suturas depois de uma operação ou pequenos fragmentos de osso necrosado. (1937/1964a, p. 218)

Não há dúvida de que as reflexões de Benjamin sobre a infância e que a teoria de Freud sobre a experiência psicanalítica levam a uma conceitualização muito particular do tempo - um conceito ao qual pertencem o Nachtraglichkeit, a heterocronia da sessão, o Jetztzeit do infantil etc. Nesta ocasião, só posso mencionar muito brevemente essa questão.

É evidente que, ao falar dos aspectos primitivos e arcaicos da vida psíquica, uma "afasia" da linguagem é invocada quando se trata de preservar a memória desses aspectos. Foi uma coincidência que, em meio à criação de seu método teórico de "intersecções" disciplinares, Freud tenha escrito um livro sobre a afasia? Vamos fazer uma breve comparação entre duas datas e o conteúdo dos textos Sobre a concepção das afasias, de 1891, e a Carta 52, de 6 de dezembro de 1896.

Conhecemos bem a dificuldade que Freud teve em incluir e reconhecer seu trabalho "pré-psicanalítico", e como essa pesquisa foi banida apesar de sua importância e de seu reconhecimento em círculos neurológicos. Freud menciona como foi estimulado pelos trabalhos de Exner e Paneth a respeito dos feixes intracorticais de associação e dos efeitos causados por uma incisão neles, conforme Roland Kuhn (1983) aponta corretamente em seu prefácio à edição francesa. A figura 9, "Diagrama anatômico da área associativa da linguagem", apresenta algumas elaborações psicanalíticas relativas ao material psíquico arcaico. Tanto o prefácio de Kuhn quanto o de Erwin Stengel (1953) à versão inglesa do texto sobre afasias rastreiam nele muitos termos e conceitos posteriormente usados na construção da teoria psicanalítica.

A influência do trabalho de Hughlings Jackson sobre Freud, bem apreciada por Binswanger, merece menção especial. Freud escreve:

Ao avaliar as funções do aparelho fonador sob condições patológicas, estamos adotando como princípio orientador a doutrina de Hughlings Jackson de que todos esses modos de reação representam instâncias de retrogressão funcional (des-involução) [funktionelle Rückbildung (dis-involution)] de um aparelho altamente organizado e, portanto, correspondem a estados anteriores de seu desenvolvimento funcional. Isso significa que, sob todas as circunstâncias, um arranjo de associações que, tendo sido adquirido depois, pertence a um nível mais elevado de funcionamento será perdido, enquanto um anterior e mais simples será preservado. Desse ponto de vista, numerosos fenômenos de afasia podem ser explicados. (1891/1953, p. 87)

Stengel diz que

foi quase inevitável que um neurologista com o profundo interesse de Freud nos processos mentais fosse atraído para o estudo das afasias. ... Aqui encontramos pela primeira vez nos escritos de Freud o princípio de regressão que sustenta todas as proposições genéticas da psicanálise. ... A ideia de que distúrbios de função similares aos causados por lesões cerebrais ocorrem em pessoas saudáveis sob condições de fadiga e de falta de atenção estava implícita na teoria da evolução e dissolução.

Isso se comprovou de importância duradoura na psicopatologia. (1953, pp. X-XIII)

Além disso, é especialmente importante que Freud tenha citado o alerta de Jackson contra a confusão do físico com o psíquico e se declarado partidário da lei da concomitância adotada por Jackson. "O psíquico é, portanto, um processo paralelo ao fisiológico, um 'concomitante dependente" (Freud, 1891/1953, p. 55).

De muitos pontos de vista, o texto sobre afasias antecipa aspectos fundamentais da epistemologia freudiana, começando pela defesa e a aplicação das intersecções disciplinares, e continuando com a distinção da especificidade de cada disciplina em relação a seu conteúdo, métodos e linguagem. Com a lei da concomitância, Hughlings Jackson ofereceu-lhe um ponto de apoio convincente.

Como afirma Stengel,

o "aparelho fonador" é o irmão mais velho do "aparelho psíquico" para o trabalho ao qual a maioria das pesquisas posteriores de Freud foi dedicada. Os dois termos obviamente têm origem nos escritos de Meynert. Eles demonstram o apego duradouro de Freud a conceitos fisiológicos. (1953, p. XIII)

O conceito de representação de objeto e de palavra sugere que estamos lidando com representações complexas. A palavra representação corresponde a um processo associativo complexo, em que os elementos componentes são de origem visual, acústica e cinestésica (enfatizo esse último elemento e seu papel no processo de aprendizado), e estão todos ligados uns aos outros.

No entanto, a representação de palavra é mais fechada do que a representação de objeto, pois é um complexo associativo formado por representações heterogêneas. No que diz respeito ao aparelho fonador, Freud está claramente em dívida com John Stuart Mill e sua lógica, com as lições de Brentano, com Meynert e seus conceitos e terminologia e, finalmente, como já mencionei, com Hughlings Jackson.

Permitam que eu faça uma última citação do texto sobre afasias porque ela diz respeito à lembrança e à amnésia da infância, assunto que vou discutir brevemente depois. Freud reflete sobre a memória e sobre a possível existência de "imagens latentes de memória". Aqui está o parágrafo em questão:

Qual é então o correlato fisiológico da ideia simples de emergir ou reemergir?

Obviamente nada estático, mas algo da natureza de um processo. Esse processo não é incompatível com localização. Ele começa em um ponto específico no córtex e dali se espalha para todo o córtex e ao longo de certas vias. Quando esse evento aconteceu, ele deixou atrás uma modificação, com a possibilidade de uma lembrança, na parte do córtex afetada. O fato de esse evento fisiológico estar de alguma forma associado a algo psíquico ainda suscita muitas dúvidas. Nossa consciência não contém nada que, do ponto de vista psicológico, justifique o termo "imagem latente de memória". No entanto, sempre que o mesmo estado cortical é elicitado novamente, o evento psíquico prévio reemerge como uma memória. (1891/1953, p. 56)

Quem está familiarizado com a teoria e a prática psicanalítica e com a pesquisa sobre a memória durante o período considerado de amnésia da infância pode estar corretamente surpreso com o valor antecipatório das reflexões de Freud se elas forem comparadas com a pesquisa do ponto de vista da memória molecular.

Vamos agora discutir o outro texto em questão, a Carta 52 a Fliess, que trata do início da vida psíquica. Essa carta tem sido objeto de inúmeras citações, análises e comentários. Portanto, vou supor que ela seja conhecida de todos e mencionarei apenas alguns aspectos necessários para o desenvolvimento posterior de minha argumentação.

Freud escreve:

Eu gostaria de ressaltar o fato de que os sucessivos registros representam o alcance psíquico de sucessivas épocas da vida. Na fronteira entre duas dessas épocas é preciso acontecer uma tradução do material psíquico ... uma tendência em relação ao ajuste quantitativo [quantitativen]. [No manuscrito, a palavra era qualitativen. Uma leitura do texto permite as duas alternativas e, do meu ponto de vista, ambas são necessárias.] Cada transcrição posterior inibe sua predecessora e drena o processo excitatório dela. Se falta uma transcrição posterior, a excitação é tratada de acordo com as leis psicológicas em ação no período psíquico anterior e ao longo das vias abertas nesse tempo. Assim, persiste um anacronismo; em uma província particular, fueros ainda estão em ação, estamos em presença de "sobreviventes". (Masson, 1985, p. 208)

Qual é o significado de fueros, palavra que Freud emprestou do idioma espanhol, que aprendeu em conversas com seu amigo Silberstein? "Na Espanha medieval, as imunidades locais concedidas pelos soberanos a cidades, feudos e entidades eclesiásticas, e os artigos pelos quais, servindo-se dessas imunidades e com o consentimento do soberano, essas entidades davam força de lei a seus costumes" ("Fueros", s.d.). O conceito de lei de costumes deriva disso. A palavra também serve para indicar uma "região" do próprio ser - em espanhol, "en mi fuero interno" (no meu cerne mais profundo) - não acessível aos outros. Esse significado pode ser facilmente conectado com o significado freudiano de áreas em que significados e leis ad hoc reinam, áreas que contêm "sobrevivências" e indicam a persistência do Jetztzeit, de anacronismos em temporalidade convencional. Nancy Kobrin (1987) pergunta corretamente: "Por que ... Freud escolheu usar esse lexema arcaico espanhol - fueros? Por que ele não recorreu ao uso da alemã Gesetz em vez dessas leis patronímicas?".

É evidente que Freud privilegiou a "genética" dos processos psíquicos -já objeto de comentários precisos em seu texto sobre afasias. "Nosso mecanismo psíquico veio a existir por um processo de estratificação: o material [traços de memória] está sujeito de tempos em tempos a um rearranjo de acordo com as novas circunstâncias - a uma retranscrição" (Masson, 1985, p. 207), isto é, a uma concepção dinâmica dos processos mentais e da memória. O último fato é de grande importância também do ponto de vista da "interpenetração" disciplinar entre a psicanálise e as neurociências, especificamente quanto à memória. Não é coincidência que, como já mencionado, as mesmas premissas estejam no livro sobre as afasias, em que um rearranjo similar das vias que levam do corpo ao córtex está em andamento.

A questão de se aquilo que desapareceu por causa de amnésia pode retornar em sonhos, ser identificado e elaborado, também encontra uma resposta possível nas cartas a Fliess, em especial na carta que estamos comentando. Se aceitarmos a tese freudiana de que "a memória está presente não uma vez, mas várias vezes, que ela se baseia em diversas espécies de indicação" (Masson, 1985, p. 207), talvez possamos lançar a hipótese de que, na série de inscrições que Freud atribui ao "mecanismo psíquico" - material que está presente sob a forma de traços de memória e que passa por rearranjos e retranscrições subsequentes -, é possível identificar registros que poderiam ser ainda anteriores a Wz (Wahrnehmungszeichen, indicação de percepção). Isso é essencial ao trabalhar com as construções na análise - um campo de grande importância aberto pelos últimos textos de Freud. Essa questão também está ligada ao trabalho de Marianne Leuzinger-Bohleber (2015) sobre memórias personificadas. Há uma observação importante de M. Klein que segue na mesma direção. Referindo-se ao objeto bom originário e às emoções e fantasias do bebê em relação a ele, Klein escreve em "Inveja e gratidão":

Quando essas emoções e fantasias pré-verbais são revividas na situação de transferência, elas aparecem como "memórias em sentimento", como eu as chamaria, e são reconstruídas e colocadas em palavras com a ajuda do analista. Do mesmo modo, as palavras têm de ser usadas quando estamos reconstruindo e descrevendo outros fenômenos que pertencem aos primeiros estágios do desenvolvimento. (1957/1975, p. 180, nota 1)

Como veremos a seguir, esses argumentos estão intimamente ligados à contribuição que poderia ser fornecida por conceitos derivados da semiótica, especificamente as ideias de Charles Sanders Peirce.

Para apresentar meu argumento, permitam que eu cite primeiro Freud em "O interesse científico da psicanálise":

Não duvido que esteja excedendo o uso linguístico comum ao postular um interesse na psicanálise por parte dos filólogos, isto é, de especialistas na fala. Pois, no que se segue, a "fala" deve ser entendida não meramente como a expressão do pensamento em palavras, mas incluindo a fala do gesto e de todos os outros métodos ... pelos quais a atividade mental pode ser expressa. Assim, pode ser apontado que as interpretações feitas pela psicanálise são, antes de tudo, traduções de um método alienígena de expressão para um que nos é familiar. . A linguagem dos sonhos pode ser considerada o método pelo qual a atividade mental inconsciente se expressa. Mas o inconsciente fala mais de um dialeto. (1913/1955, pp. 175-176)

Essa última citação, se combinada com a descrição dos registros subsequentes nas épocas posteriores da vida, com as "memórias em sentimento" de M. Klein, com a hipótese de registros diferentes e sucessivos de memória, com traços de memória elementares sem representação, com a definição da fala não ligada exclusivamente à expressão do pensamento em palavras etc., delineia claramente uma hipótese semiótica.

Dois aspectos dessas afirmações freudianas precisam ser ressaltados: o fato de que a fala deveria ser entendida não apenas como a expressão do pensamento em palavras, e o fato de que o inconsciente fala mais de um dialeto. Essas duas declarações, afirmando que a comunicação de pensamento e de emoções tem o caráter de um sistema semiótico complexo, abrem o caminho para a semiótica quando se consideram os processos de semiose contínua da vida mental. O filósofo e lógico C. S. Peirce define-se como um pioneiro da semiótica, e define a semiótica como "a ciência da natureza essencial e das variedades fundamentais da semiose possível" (cp 5.488). Semiose é

uma ação ou influência que é, ou implica, uma cooperação entre três sujeitos, o signo, seu objeto e seu interpretador (não o intérprete), de tal forma que essa influência trirrelativa não pode de maneira alguma ser resolvida em ação entre duplas. (cp 5.484)

O que é necessário ter sempre em mente é que a semiose é concebida por Peirce como um processo permanente de transformações.

J.-B. Pontalis (2008) diz que nós muitas vezes esquecemos que o infans é alguém que tem acesso a todo um registro de sensações, imagens e percepções, que são certamente confusas, mas muito valiosas. "O infans é aquele que não é ainda tiranizado pela linguagem". A tirania da linguagem - invocada pelo psicanalista francês, que, portanto, presumível e pelo menos parcialmente se distancia das concepções de Lacan - com certeza não exclui o papel de organizador, que de qualquer modo pertence à linguagem. Se fôssemos ignorar todo o registro que Freud aborda na Carta 52 e a afirmação de que o inconsciente fala muitos dialetos, ou as indicações de Pontalis sobre a riqueza semiótica em que o infans se desenvolve, então promoveríamos uma visão mutilada ou incompleta do infans. Por outro lado, o infans por sua vez se arrisca a ser igualmente incompleto se não houver escuta ao corpo e a linguagem for exclusiva ou excessivamente privilegiada.

Como Umberto Eco diz em sua introdução a uma coleção de ensaios de Roman Jakobson, este é provavelmente o principal proponente da ascensão da semiótica na cultura científica do último século. Por meio de um estudo dos "sistemas primitivos de interação significativa e dos mecanismos de funcionamento dos processos animais e naturais", Jakobson propôs, em 1974, uma fórmula significante e precisa para definir semiótica:

Todo signo é uma referência (segundo a famosa fórmula aliquid stat pro aliquo -algo que representa alguma outra coisa). A semiótica é, portanto, a disciplina que estuda todos os fenômenos (inclusive aqueles cobertos por outras disciplinas) com base em um relacionamento de referência a alguma outra coisa. (Eco, 1978)

Consequentemente, a significação é um fenômeno que abarca todo o universo cultural. A posição de Jakobson em relação à multiplicidade de signos e códigos na unitas varietatis é, portanto, de distinguir cuidadosamente o modo de ser dos diferentes signos, "as diversidades presentes em seu modo de produção, em suas modalidades de referência, na maneira como elas são percebidas e memorizadas".

Em minha opinião, essa posição é essencial com relação a minha concepção proposta do infantil. Por um lado, isso indica que a linguagem predomina sobre outros sistemas de signos; por outro, ressalta a particularidade de cada sistema de signos e o fato de ser impossível reduzir o mecanismo e a compreensão de outros sistemas semióticos aos da linguagem.

Acho que uma leitura cuidadosa da Carta 52 e de "O interesse científico da psicanálise" endossará essa interpretação e essa direção para a pesquisa, bem como algumas outras pesquisas sobre memória.

Jakobson (1959) diz que "interpretar um elemento semiótico significa 'traduzi-lo' em outro elemento; com essa tradução, o elemento a ser interpretado se torna criativamente enriquecido". Isso nos confronta com o problema da interpretação na psicanálise.

Freud usou a palavra tradução (Übersetzung) na Carta 52 para atribuir a repressão à falta de tradução entre duas épocas e, em 1913, afirmou que "as interpretações feitas pela psicanálise são, antes de tudo, traduções de um método alienígena de expressão para um que nos é familiar". Obviamente, esse termo é usado em muitas outras ocasiões.

Mas quando empregado em sentido genérico, sem distinguir a diversidade de signos e seus mecanismos específicos, ele provavelmente não faz justiça a uma concepção mais próxima da realidade da constituição do aparelho psíquico nos termos antes definidos.

Jakobson (1959) distingue entre "traduções" que correspondem aos diferentes elementos semióticos a serem interpretados em diferentes tipos de tradução: a tradução endolinguística ou reformulação, a tradução interlinguística e a transmutação intersemiótica (por exemplo, transposição verbal-visual). Devemos também considerar que as trocas de signos nunca são uma troca de signos ou termos em isolamento, mas implicam uma teoria do contexto. É evidente que o "método alienígena de expressão", de "O interesse científico da psicanálise", ou os rearranjos dos traços de memória, na Carta 52, precisam de uma transmutação intersemiótica, um tipo muito específico de "tradução". Outro exemplo interessante é oferecido pela transposição no material clínico entre as linguagens musical e verbal da interpretação psicanalítica. Igualmente importante é a ideia de "referência" interna mútua dos elementos de uma sequência semiótica, que deveria favorecer o enriquecimento dos elementos "traduzidos". Eu chamei de ressonância o procedimento que permite o enriquecimento do signo na transformação, ao analisar os quadros de Wassily Kandinsky e a criação de uma possível Gesamtkunstwerke.

Uma "tradução" que leva as necessidades da semiótica em conta deveria ter uma "escuta" igualmente rica e diferenciada. No final da vida, Roland Barthes (1976/1992), junto com Roland Havas, escreveu um breve ensaio intitulado "Écoute", em que distinguiu três tipos de escuta: no primeiro, o homem, que ainda não é diferente de um animal, "volta a própria audição (o exercício da faculdade fisiológica de ouvir) para pistas"; no segundo, em que o trabalho de "decifrar" entra em jogo, o que tentamos "captar com nossos ouvidos são signos"; no terceiro, a escuta "não se baseia em signos classificados e específicos; isso não diz respeito ao que é dito, ou emitido, mas a quem fala, a quem emite". Isso ocorre em um espaço intersubjetivo, em que "eu ouço" também significa "me ouça". É fácil reconhecer, em sua tipologia, como os três tipos podem ser lidos e vinculados ao processo de acesso à linguagem e/ou, alternativamente, de um ponto de visto linguístico, à importância da pragmática no uso da linguagem.

Por fim, existe o conceito de "transformação". Todos estamos familiarizados com o livro que W. R. Bion dedicou a esse assunto como continuidade a Learning from experience e Elements of psychoanalysis. Nesse caso, ao propor o exemplo do pintor transformando o que viu em um quadro, ele cria a base para construir uma analogia com o psicanalista e sua técnica e para estender o conceito de transformação a um critério epistemológico. Por meio da ideia de Barthes de escuta e da ideia de Freud de tradução, e com a ajuda da semiótica de Peirce e Jakobson, acredito que temos elementos que nos aproximarão da interpretação daquilo que é silencioso, pré-histórico, mas ao mesmo tempo Jetztzeit no infantil.

Para concluir, eu gostaria de fazer uma breve referência ao problema da amnésia infantil, um tópico privilegiado de pesquisa nas neurociências por mais de 40 anos. Existe literatura abundante sobre o assunto, e assim vou mencionar apenas alguns dos problemas que impõem uma revisão da aceitação acrítica clássica da amnésia infantil, mesmo na psicanálise. Há boas razões para pensar que na psicanálise essa aceitação é paradoxal. Seria suficiente -como eu tentei fazer antes - usar os textos citados do período chamado pré-psicanalítico para provar que Freud, embora apoiando a amnésia infantil, a nega em muitas ocasiões; por exemplo, a questão de se aquilo que desapareceu devido à amnésia pode retornar em sonhos.

As neurociências também questionam o paradoxo de reconhecer, por um lado, a influência duradoura das experiências infantis episódicas e as consequências patológicas derivadas e, por outro lado, a amnésia infantil, experiências que alguns ensaios invocaram como "esquecidas, mas não desaparecidas".

As memórias dependentes do hipocampo são gravemente comprometidas pelos desafios que ocorrem no início da vida. ... Os dados sugerem que diversas funções cognitivas e de aprendizagem, a maioria das quais é processada pelo lobo temporal medial, são extremamente sensíveis aos tipos de experiência encontrados durante o período do desenvolvimento inicial. (Alberini & Travaglia, 2017, pp. 5783-5784)

Se o sistema de aprendizagem que é dependente do hipocampo parece se desenvolver mais tarde na infância humana e animal, e se as memórias episódicas/declarativas são rapidamente esquecidas como parte da amnésia infantil, como é possível que essas memórias ainda possam ter um efeito duradouro na vida humana e condicioná-la? A sugestão antes mencionada do caráter de Jetztzeit do infantil atesta uma clara posição psicanalítica que contradiz a amnésia infantil.

Os neurocientistas admitem que precisam de uma explicação neuro-biológica sobre a amnésia infantil e o rápido esquecimento envolvido. Os estudos comparam duas hipóteses: a hipótese de desenvolvimento e a hipótese das dificuldades de recuperação. Essa última sugere que as memórias não

Jorge Canestri desaparecem, mas em vez disso são armazenadas em alguma forma que não pode ser expressa devido a falhas de recuperação. Existem dados consistentes em suporte dessa hipótese.

Um estado interno de excitação pode ser necessário para a lembrança de uma memória inacessível. Segundo essa visão, a expressão da experiência infantil depende do estado. ... Esses dados mostraram que o hipocampo é crucial para codificar uma memória que está armazenada no longo prazo embora não expressa. Como essa memória permanece dormente até que as circunstâncias sejam viáveis para sua manifestação, nós nos referimos a ela como uma memória latente. ... Por meio desses mecanismos imaturos, mas muito ativos, o hipocampo armazena informações latentes que podem ser recuperadas sob certas circunstâncias mais tarde na vida. ... O modelo do armazenamento de memórias de longa duração no início da vida explica a influência da experiência inicial no comportamento de toda a vida. . Essa visão da ontogenia do sistema de aprendizagem dependente do hipocampo tem implicações importantes para o ambiente de desenvolvimento (por exemplo, família, educação), bem como intervenções possíveis voltadas para a prevenção de psicopatologias. Os estudos futuros devem continuar a identificar os mecanismos subjacentes aos períodos críticos do hipocampo, assim como sua regulação temporal, e determinar sua interação com outras áreas cerebrais. (Alberini & Travaglia, 2017, pp. 5788 e 5791-5792)

Essas hipóteses me parecem compatíveis com a experiência psicanalítica relativa ao Jetztzeit do infantil e consistentes com nossa experiência e necessidades no trabalho clínico. Elas também são congruentes com a já mencionada lei da concomitância.

Minha conclusão é que, por meio da interação entre psicanálise, semiótica, história e neurociências, podemos entender melhor o que queremos dizer sobre o infantil.

 

Referências

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1 O autor detém os direitos autorais deste artigo, que é de sua responsabilidade como palestrante do LII Congresso Internacional de Psicanálise, da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), sob o título O infantil: suas múltiplas dimensões, a ser realizado em Vancouver, Canadá, de 21 a 24 de julho de 2021, com registro disponível no site www.ipa.world/vancouver.
2 A RBP não teve acesso a todas as referências mencionadas neste artigo.
3 Para referência, veja os livros de Jean-Claude Rolland Avant d'être celui qui parle (2006) e de Laurence Kahn Cures d'enfant (2004).

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