SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.26 número4Impactos à saúde mental e intervenções possíveis frente à COVID-19: uma revisão sistemática da literaturaNormalidade no trabalho sob o olhar da psicodinâmica do trabalho: uma revisão integrativa índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

artigo

Indicadores

Compartilhar


Estudos de Psicologia (Natal)

versão impressa ISSN 1413-294Xversão On-line ISSN 1678-4669

Estud. psicol. (Natal) vol.26 no.4 Natal out./dez. 2021

https://doi.org/10.22491/1678-4669.20210034 

10.22491/1678-4669.20210034

PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO

 

 

Impacto do isolamento social no cotidiano de mães em homeoffice durante a pandemia de COVID-19

 

Impact of social isolation on the daily lives of homeoffice mothers during the COVID-19 pandemic

 

Impacto del aislamiento social en la vida cotidiana de las madres que trabajan en modo homeoffice durante la pandemia de COVID-19

 

 

Thassia Souza EmidioI; Mary Yoko OkamotoI; Manoel Antônio dos SantosII

IUniversidade Estadual Paulista
IIUniversidade de São Paulo

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo teve por objetivo compreender como mães vivenciaram o isolamento social nos primeiros meses de pandemia da COVID-19 e o impacto em seu cotidiano e perspectivas de futuro. Participaram da pesquisa 20 mulheres de diferentes estratos sociais, com idades entre 29 e 45 anos, que realizavam atividades laborais em homeoffice. Foram realizadas entrevistas individuais semiestruturadas por meio remoto. O corpus de pesquisa foi constituído pela transcrição na íntegra das entrevistas. Os resultados mostraram que a pandemia impôs mudanças significativas na dinâmica familiar e acarretou sobrecarga nos papéis desempenhados como mães, esposas e profissionais. As participantes se mostraram exaustas com o acúmulo de novas tarefas domésticas e intensificação das demandas de cuidados com filhos. As conclusões sugerem a urgência de dar visibilidade e escuta ao sofrimento psicológico das mulheres, atentando para as questões da sobrecarga de funções, que reverberam na qualidade de vida e do cuidado com os filhos.

Palavras-chave: maternidade; relações mãe-criança; isolamento social; COVID-19; pandemias.


ABSTRACT

This study aimed to understand how mothers experienced social isolation in the first months of the COVID-19 pandemic and its impacts on everyday life and future perspectives. Twenty women from different social status, aged between 29 and 45 years, who perfomed homeoffice work activities, participated in the research. Individual semi-structured interviews were conducted remotely. The corpus-based research consisted of the full transcription of the interviews. The results showed that the pandemic imposed significant changes in family dynamics and caused an overload in the roles played as mothers, wives and professionals. The participants were exhausted with the accumulation of new domestic chores and intensified demands for childcare. The conclusions suggested the urgency of giving visibility and listening to the psychological suffering of women, addressing the issues of the overload of functions that reverberated in the quality of life and children care.

Keywords: motherhood; mother-child relationship; social isolation; COVID-19; pandemics.


RESUMEN

El objetivo de este estudio es comprender cómo las madres experimentaron el aislamiento social en los primeros meses de la pandemia de COVID-19, sus repercusiones en la vida cotidiana y perspectivas futuras. Participaron 20 mujeres de diferentes estratos sociales, con edades entre 29 y 45 años, que realizaban actividades laborales con la modalidade homeoffice. Las entrevistas individuales semiestructuradas se realizaron por medios remotos. El corpus de la investigación consistió en la transcripción de las entrevistas. Los resultados mostraron que la pandemia impuso cambios significativos en la dinámica familiar y provocó una sobrecarga en los papeles desempeñados como madres, esposas y profesionales. Las participantes estaban agotadas por la acumulación de nuevas tareas domésticas y la intensificación de las demandas de cuidado de los niños. Las conclusiones sugieren la urgencia de dar visibilidad y escuchar el sufrimiento psicológico de las mujeres, abordando las cuestiones de sobrecarga de funciones que repercuten en la calidad de vida y del cuidado de los hijos.

Palabras-clave: maternidad; relaciones madre-hijo; aislamiento social; COVID-19; pandemias.


 

 

A pandemia de COVID-19 exigiu a adoção de medidas de distanciamento social, com ênfase no isolamento social. Com a omissão do governo federal e ausência de coordenação central, os governos estaduais assumiram o papel de articuladores das políticas públicas e as orientações difundidas à população foram desencontradas e nem sempre seguiram as diretrizes implementadas por autoridades de saúde pública de outros países afetados, resultando em baixa eficácia na contenção da epidemia, que seguiu descontrolada (Santos, Oliveira, & Oliveira-Cardoso, 2020). O surto pandêmico de rápida propagação deflagrou grandes preocupações, agravadas pelas consequências do período prolongado de confinamento que produziu mudanças significativas e duradouras na vida cotidiana. Nesse contexto emergencial e face a uma doença infecciosa com alta taxa de letalidade, as famílias tiveram que se recolher, passando a viver uma experiência inédita de convívio prolongado e imersão intensiva sob o mesmo teto, enfrentando os desafios da convivência (W. A. Oliveira, Oliveira-Cardoso, Silva, & Santos, 2020; Silva, Santos, & Oliveira, 2020).

O cenário familiar foi reconfigurado e passou por intensas transformações. O espaço doméstico teve que se adaptar às atividades educacionais e laborais. Os pais tiveram que aderir, simultaneamente, ao homeoffice e ao ensino remoto dos filhos, termos utilizados para referir ao momento no qual o trabalho e a escola adentraram a casa, impondo a necessidade de ajustamentos. Novas rotinas domésticas tiveram de ser organizadas em tempo recorde em torno das demandas escolares dos filhos, além dos cuidados redobrados com limpeza da casa, proteção à saúde e segurança dos familiares (W. A. Oliveira et al., 2021). Face às questões emergentes, pode-se indagar como se reconfigurou o papel da mulher enquanto mãe nesse contexto de reorganização da vida familiar? Como ela vivenciou e reorganizou a experiência da maternidade nesse momento?

A figura materna passou a ocupar, notadamente a partir dos séculos XVIII e XIX, um papel central no grupo familiar. Badinter (1985) argumenta que a representação da maternidade é calcada em uma visão naturalista e biológica que se tornou um valor cultural dominante, mantendo as mulheres aprisionadas à ideia de maternidade como destino. Mirando especificamente o cenário brasileiro, a história da maternidade, da condição feminina e das mentalidades sobre a mulher, constituída desde a colonização, foi alicerçada na função procriativa do corpo feminino (Del Priore, 2009). A subjugação de gênero foi historicamente alimentada sob o argumento de uma suposta inferioridade física e moral das mulheres, endossado pela Igreja católica a partir da disseminação de um discurso satânico sobre as mulheres, legitimando a preponderância do poder masculino sobre o universo feminino (Del Priore, 2009). Para a autora, a hegemonia do modelo de mulher, esposa e mãe inscreveu o gênero feminino em uma posição subalterna nas relações de poder durante a época colonial, definindo a maternidade como o elemento central do universo feminino desde aquele período histórico. Assim, a identidade feminina foi circunscrita aos limites estritos da maternidade, independentemente da condição social ou racial.

Gonzaga e Mayorga (2019) apontam o caráter fictício da "identidade materna" por meio da qual se forjou a naturalização das mulheres em torno dos valores do cuidado e da abnegação. Segundo M. A. C. Oliveira e Marques (2020), após ser invisibilizada por séculos, a criança paulatinamente passou a ocupar um lugar sagrado e o amor materno tornou-se um sentimento prestigiado, que conferia às mulheres uma posição nunca antes ocupada no cenário social. A origem dessa pauta identificatória remete à imagem da "santa-mãezinha" (Del Priore, 2009, p. 285), expressão cunhada como peça-chave de um sistema subjetivo articulado ao universo social, que se tornaria o fio condutor que garantiu a continuidade do ideal cristão de família pela via da transmissão dos valores dominantes aos filhos. Esse processo de autonormatização permanece operante até os dias atuais. A manutenção do status quo também assegurava à mulher benefícios e compensações por meio do reconhecimento e valoração social deste lugar.

As mulheres são inseridas nesse lugar de profundo significado simbólico por suas próprias mães, sendo socializadas em um universo discursivo de exaltação da maternidade como um dos lugares mais confiáveis para a mulher ocupar. A ausência de um olhar crítico para esse contexto no qual o materno é entronizado apoia-se no não-reconhecimento da exploração, das iniquidades de gênero e da violência física e mental a que as mulheres são submetidas. Com o advento da visão eugenista, o lugar idealizado da maternidade e as demandas sociais relativas à formação dos cidadãos para a vida em sociedade, preocupando-se com a educação e formação das crianças, construíram historicamente a figura de uma mãe idealizada (Emidio, 2011; Visitin & Aiello-Vaisberg, 2017), com base na noção de que, sob a proteção materna, as crianças teriam condições mais robustas para desenvolverem plenamente suas potencialidades e se tornarem adultos ajustados, saudáveis e "pessoas de bem".

Espera-se que as mães se apeguem emocionalmente aos seus filhos e atendam suas necessidades de forma devotada e "natural", correspondendo ao ideal projetado (Donath, 2017). A idealização em torno da maternidade é um valor que perdura através dos tempos. Por certo o controle da natalidade, a partir da descoberta da pílula anticoncepcional, o direito ao divórcio e, sobretudo, a inserção maciça no mercado de trabalho, produziram avanços significativos no discurso emancipatório das mulheres. A maternidade reconfigurou-se, então, ao longo do tempo como um ideal social. Segundo Badinter (2011), as mulheres passaram, principalmente a partir da virada do século XXI, a encarnar uma trilogia de papéis: maternal, conjugal e profissional. Assim, a despeito das transformações históricas vivenciadas nas concepções sobre o papel da mulher, a maternidade parece persistir como fator de desenvolvimento considerado não apenas esperado, como necessário à sua identidade social. Por outro lado, os projetos femininos foram também atravessados pelo desejo de obter satisfação sexual, conjugal e profissional, o que coloca as mulheres em uma incessante busca pela conciliação entre a vida familiar e a realização profissional. Isso alimenta o dilema entre exercer com devoção a função materna e responder às demandas específicas de cada setor de suas vidas, em especial as exigências cada vez mais intensas do mercado de trabalho.

O apoio das instituições educacionais colabora para que as mulheres possam exercer de forma satisfatória outras funções para além da maternidade, que nas últimas décadas passaram a ser valorizadas em seus percursos desenvolvimentais. Nesse sentido, as escolas e creches, assim como profissionais, cuidadores e familiares, passaram a assumir parte do processo de formação e de cuidado das crianças, possibilitando um período no qual as mães podem desenvolver outras atividades, com certa segurança de que seus filhos estejam sendo bem cuidados e educados. Contudo, Badinter (2011) ressalta que, embora esses suportes tenham se constituído, as mulheres permanecem submetidas à idealização da maternidade, o que contribui para expandir o discurso da culpa e da cobrança (isto é, da auto-culpabilização), com mães que se penitenciam constantemente, dilaceradas por dúvidas em relação à sua capacidade maternal face ao investimento que precisam direcionar para outros papéis, como o trabalho produtivo e não apenas o trabalho reprodutivo (A. V. T. L. Meyer, Coelho, Oliveira, & Aquino, 2019).

A situação crítica na saúde global instaurada a partir de março de 2020 trouxe novos desafios, sobretudo para as mães trabalhadoras. O fechamento das escolas, com a suspensão das aulas presenciais, no Brasil foi o mais prolongado entre todos os países fustigados pela pandemia da COVID-19. O Brasil enfrentou o movimento negacionista do governo central, que levou ao fracasso das políticas de contenção eficiente da transmissão do vírus. Graças a isso o que se viu foi a perpetuação de uma situação de crise e devastação da economia, da saúde e da educação, alimentada por um cenário de politização da saúde pública, com o posicionamento equivocado das autoridades federais em relação às medidas de contenção da pandemia (Santos et al., 2020). Isso acentuou a sobrecarga de trabalho a que as mães em confinamento estiveram submetidas, contribuindo para fragilizar sua saúde mental e física.

Nesse cenário de incertezas, e considerando as enormes desigualdades e disparidades regionais que se refletem na forma heterogênea como a pandemia se disseminou pelo país, o presente estudo busca conhecer os recursos que as mulheres mobilizaram para enfrentar os desafios do exercício da maternidade na situação da pandemia, face às preocupações com o cuidado dos filhos (Oliveira-Cardoso et al., 2020). Estudos apontam que o trabalho a distância, a transição da escola dos filhos para o ensino remoto digital e a falta de perspectivas em relação à duração da crise e ao futuro tendem a perpetuar situações de estresse crônico, que podem infligir sofrimento psicológico em níveis intoleráveis (Silva et al., 2020). Por essa razão é urgente olhar para os efeitos psicológicos da experiência de isolamento social, muitas vezes as mães se sentem compelidas a renunciarem a atividades prazerosas e de autocuidado, que são condições relevantes para a manutenção de sua saúde física e mental.

Este estudo teve por objetivo compreender como mães trabalhadoras vivenciaram o isolamento social nos primeiros meses de pandemia e o impacto em seu cotidiano e em suas perspectivas de futuro. Assim, a pesquisa buscou dar voz ao materno para compreender como se configuraram as vivências maternas em tempos de pandemia.

 

Método

Trata-se de um estudo transversal, descritivo-exploratório, com abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa foi escolhida por possibilitar uma compreensão do objeto de estudo a partir dos significados atribuídos pelas participantes às suas experiências de cuidados maternos, enquanto estiveram expostas a uma situação de confinamento doméstico.

Participantes

Participaram desta pesquisa 20 mulheres, mães de crianças de 0 a 10 anos, residentes em diversos municípios do interior do estado de São Paulo, que exerciam atividade profissional remunerada e que estavam trabalhando em homeoffice no período de isolamento social. Os critérios de inclusão na amostra foram: ser mãe de crianças de 0 a 10 anos, residir em municípios de diferentes regiões do estado de São Paulo, estar em confinamento social em decorrência da pandemia de COVID-19 e estar trabalhando remotamente. A escolha da faixa-etária dos filhos das participantes se deu considerando que até os 10 anos, as crianças estão no Ensino Fundamental I, de acordo com a Lei nº 11.274 que regulamenta o ensino fundamental de 9 anos. Consideramos que, até essa idade, a maioria das crianças apresenta maior dependência do apoio parental na execução das atividades cotidianas (domésticas e escolares) e que no contexto da pandemia essas atividades passaram a ser realizadas em casa, assim como as atividades laborais de suas mães.

Os critérios de elegibilidade foram estabelecidos considerando a realidade brasileira e o fenômeno da interiorização da pandemia, especificamente no estado de São Paulo, um dos mais atingidos pela doença devido à sua alta densidade populacional e que estabeleceu decretos com critérios de isolamento social para a população. Para atender ao escopo da pesquisa, foi recrutada uma faixa da população que de fato pôde aderir à campanha do "Fique em Casa" e à prática do trabalho em tela.

As mulheres entrevistadas tinham idades entre 29 e 45 anos, exerciam atividade profissional fora do lar e atuavam, no momento da entrevista, em homeoffice, sendo que 13 participantes eram casadas e viviam com o companheiro, duas eram solteiras e viviam na casa dos pais e cinco eram divorciadas e responsáveis pelo cuidado das crianças em tempo integral. A média de renda familiar variou entre 3 e 25 mil reais. O número de filhos variou de um a três. A maioria dos filhos estudava em escola privada (16) e todos estavam tendo aulas online no período do isolamento social. Considerando o perfil delineado, pode-se afirmar que se trata de mães trabalhadoras, ativas profissionalmente e pertencentes a diferentes estratos sociais. As entrevistas foram realizadas no período de abril a julho de 2020, portanto, entre o segundo e o quarto mês de pandemia. O interesse se concentrou nas experiências maternas durante os primeiros meses da pandemia, portanto, relacionadas ao período mais restritivo do contato social. Considera-se que se trata de um período de adaptação a uma experiência totalmente nova e que acarretou sofrimento intenso devido às mudanças drásticas e a necessidade de promover rearranjos urgentes na dinâmica familiar.

Instrumento

Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, contendo informações sociodemográficas, com o propósito de caracterizar as participantes da pesquisa, e 10 questões abertas ou fechadas. As questões do roteiro de entrevista foram elaboradas com base no referencial teórico e versavam sobre percepções, escolhas, motivações, possibilidades e perspectivas, explorando também possíveis dificuldades e limitações das participantes no exercício de papeis, trabalho e gestão dos relacionamentos.

Procedimento

O contato com as entrevistadas se deu por meio de amostragem tipo "bola de neve", a partir de uma primeira indicação de terceiros. Em respeito às regras do distanciamento social, as entrevistas foram realizadas por chamada de vídeo ou áudio (a critério da entrevistada) por meio do aplicativo WhatsApp. Os encontros virtuais duraram uma hora e meia em média. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, transcritas na íntegra.

Análise dos Dados

A exploração dos dados e a construção das categorias basearam-se na proposta da análise de conteúdo temática (Braun & Clarke, 2006). A análise temática busca identificar e analisar padrões que se repetem ao longo da exploração do material, como um eixo temático ou alguma história relatada. Inicialmente, buscou-se sistematizar as ideias encontradas a partir da fala das entrevistadas, tornando possível o levantamento de algumas hipóteses que fundamentam o percurso interpretativo. Realizou-se uma análise das conversas encontradas no percurso das entrevistas e elaborou-se uma análise interpretativa dos dados a fim de encontrar padrões de repetição dos conteúdos. Feito isso, realizou-se a exploração do material a partir de uma leitura flutuante, o que permitiu fazer novas inferências e construir as categorias de análise.

As categorias temáticas foram analisadas a partir da articulação com a literatura científica sobre o tema da maternidade na contemporaneidade, elegendo-se para tanto, estudos realizados na confluência de perspectivas psicológicas, sociológicas e antropológicas, que servem à discussão dos resultados. O referencial teórico que fundamentou o percurso analítico é a Psicanálise das Configurações Vinculares, com seus estudos situados no campo da intersubjetividade e da transmissão psíquica intergeracional (Benghozi, 2010; Correa, 2003; Kaës, 2011, 2014). Com base nessa abordagem foram tecidas reflexões sobre a experiência do isolamento social e seus potenciais impactos na vida familiar, na perspectiva das mães cujos filhos encontram-se nas etapas iniciais de desenvolvimento.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo CAEE nº 30248920.8.0000.5401. Foram seguidos todos os cuidados éticos necessários, garantindo-se o anonimato das entrevistadas, que receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por e-maile o devolveram assinado.

 

Resultados e discussão

Sobre o Materno e a Questão da Herança: Eu Quero Mudar, mas é como se Eu Repetisse os Modelos

As mulheres relataram fadiga crônica, mesclada com sentimentos negativos difusos, como angústia e impotência, sentindo que não conseguiam corresponder plenamente às suas expectativas de desempenho do papel materno. Questionavam se estavam realmente "cuidando direito" de seus filhos, se estavam lhes dando a atenção na medida certa e fornecendo a dose necessária de segurança e conforto em um cenário de profundas e repentinas mudanças. As mães sentiam-se desestabilizadas com a ruptura da rotina familiar. As falas apresentavam indicadores de sofrimento, especialmente quando reportavam a sobrecarga a qual estavam submetidas, decorrentes das desigualdades na divisão das tarefas domésticas, das demandas do mundo do trabalho no qual estavam engajadas e dos imperativos relacionados à maternidade. Todas se questionaram sobre a qualidade da maternagem que estavam proporcionando aos seus filhos desde que começou a pandemia.

No percurso das entrevistas realizadas, as mães evocaram suas mães, em uma comparação crítica na qual mediam seu desempenho e o avaliavam como estando aquém do modelo materno recebido. Interrogavam de onde viria esse sentimento de insatisfação com o modo como vinham exercendo o papel materno, tornando evidente o alto nível de exigência que faziam em relação ao próprio desempenho. As falas de Bruna e Virgínia ilustram esses questionamentos:

Sabe, tem uma coisa que fico sempre pensando. De onde vem essa angústia, essa culpa e essa cobrança, se as mulheres já trabalham há tanto tempo? Queria essa resposta. Eu fico pensando na minha mãe, ela dava conta de tudo, eu era tão feliz, a amo tanto, mas será que ela não sofreu isso tudo que eu sofro? Fico pensando que mãe é essa que eu quero ser, de onde surgiu essa referência? (Bruna)

Olha, eu venho de uma família de mulheres muito cuidadoras, então acho que me cobro muito de ser assim, o filho em primeiro lugar, mas isso tem um preço alto, eu quase não tenho tempo para mim. Dou satisfação de tudo para minha mãe, quero que ela me diga que eu sou tão boa quanto ela, quanto minha avó, quanto minha bisavó. Parece que quero ser cuidadora como elas, mas nessa vida que tenho hoje... Parece uma corrente que me amarra, mas, conversando com amigas, vejo que isso está presente nelas também. Fico pensando: por que algo tão divino, como ser mãe, nos traz tanto sofrimento? É a ideia de padecer no paraíso, será? (Virginia)

As reflexões sobre a referência subjetiva em relação ao materno e sua articulação com a angústia e a culpa, que sentem ainda mais afloradas na situação de confinamento, compareceram nos relatos de todas as entrevistadas. A ideia de que a própria mãe, a seu tempo, deu conta de suas tarefas e a leitura sobre a eficiência exemplar das mulheres das gerações anteriores, que funcionam como referências porque conseguiram superar desafios e conciliar inúmeras demandas, permitem pensar na questão da herança transmitida através das gerações em relação à maternagem e a bagagem simbólica que acompanha o legado recebido.

Ao analisar as falas das entrevistadas na perspectiva da intersubjetividade, é preciso considerar que elas estão inscritas em uma cadeia genealógica social e familiar (Käes, 2011), sendo, portanto, herdeiras de uma construção histórica, social e familiar do "ser mulher".

Olha, eu pensava, antes de ter filhos, que eu seria visionária, uma vanguardista, digamos, mas desde quando ele nasceu me vejo puramente uma repetidora. Repito os padrões, as cobranças, as culpas, me sinto antiquada, sem possibilidades de encontrar mudanças. Eu quero mudar, mas é como se eu repetisse os modelos. É como se eu quisesse ser moderna, mas fosse antiga. É um conflito, e dói... Como é duro pensar nisso. Ai! Angustiei. (Beatriz)

A fala de Beatriz permite pensar no percurso histórico no qual o amor materno, desde o século XVIII, se constituiu e se enraizou como um valor pessoal e social, traçando parâmetros sobre o exercício da maternidade, com suas transformações e redescrições que acompanham a luta das mulheres para ocupar um lugar menos injusto e mais igualitário em relação aos homens. Também se pode constatar que os legados transmitidos de mãe para filha, por meio da cadeia geracional, ainda se mantêm nos dias de hoje ("repito os padrões"). Compreende-se, assim, que as queixas nascem de questionamentos acerca da origem desse movimento inercial, que se traduz em forma de "cobrança" e "culpa", que alimentam sentimentos de impotência e imobilismo ("me vejo uma repetidora", "me sinto antiquada").

Como mães, sentem-se capturadas por uma concepção de maternidade como uma função que devem exercer com excelência. Percebem que há algo da ordem de uma herança, uma "dívida simbólica" (Freud, 1914/2010) recebida pelo sujeito como um legado que compõe a cadeia de inscrição simbólica sobre o feminino. De tal sorte que a reflexão sobre a própria condição de mulheres-mães desencadeia angústia quando elas chegam muito próximo de compreenderem que permanecer nesse lugar é uma forma de dar continuidade e se manterem leais às suas mães, em vez de reinventarem aquilo que herdaram.

Ao retomarem a tradição simbólica transmitida por suas mães e tomarem seus exemplos como modelo a ser repetido, tentam recuperar o modo como se sentiram amadas por suas figuras maternas no passado (Freud, 1914/2010). Porém, ao mesmo tempo em que reforçam o pacto de lealdade com suas mães internalizadas, por meio de um processo de identificação com uma imagem idealizada, entabulam um discurso de que, por essa razão, devem suportar com estoicismo todas as dores e sofrimentos que se apresentam por amor e devoção aos seus filhos. Conjecturam que devem ser mães "como suas mães foram um dia " e que resgatar essas histórias, apesar de deixá -las angustiadas por nunca se sentirem suficientemente boas e à altura de suas figuras inspiradoras, por outro lado pode fortalecê-las para simplesmente darem continuidade ou, então, ensaiarem suas próprias experiências. Nesse sentido, a pandemia ofereceria um momento privilegiado para provarem seu valor e sua força, ao protegerem seus rebentos de uma ameaça concreta e invisível.

Eu penso na minha mãe, na minha avó, nas mães maravilhosas que elas foram, me sinto culpada, cobrada, me sinto inferior, mas aí olho e vejo que faço tanto, que sou uma mulher com desejos que vão muito além do que elas desejaram. Olho e me sinto em dúvida se realmente queria ser como elas, penso que precisava olhar para o que é possível para mim hoje, rever isso tudo, mas não sei se consigo, quando percebo já estou me cobrando de novo. (Lívia)

Evidencia-se que a maternidade é significada como uma experiência transmitida nos percursos e percalços de constituição da feminilidade como um território de "cobranças e culpas" e que essa transmissão do materno se dá tanto no encadeamento social no qual a mulher encontra-se inscrita, quanto no vínculo intergeracional primordial estabelecido com sua figura materna, considerado por Freud (1938/1996) como o mais decisivo no processo de constituição subjetiva e que deverá produzir ressonâncias por toda a vida do sujeito.

Para Kaës (2011), a transmissão psíquica entre gerações é um processo que promove a sustentação de valores, crenças e saberes compartilhados que dão uma ideia de coesão e pertencimento a um grupo, o que permite ao sujeito se perceber como um elo a mais de uma cadeia que remonta à sua ancestralidade. Assim, o sujeito pode se inscrever em uma linha de continuidade psíquica entre as gerações. Nesse sentido, quando se analisam as narrativas das mulheres mães, observa-se que sua subjetividade é composta por uma pluralidade de vozes, polifonia que remete a uma cadeia de transmissão psíquica intergeracional familiar e social na qual elas se percebem inseridas e a partir da qual se subjetivaram.

Assim, é possível postular que as mães se constituem subjetivamente na bagagem que receberam de herança, respondendo a imperativos que se constituíram ao longo das histórias traçadas por suas antepassadas. Isso faz com que tenham que administrar um legado que muitas vezes emerge como uma carga recebida, porém ainda não simbolizada – o que vai constituir a matéria bruta transgeracional. É o confronto com essa herança rústica e sem transformação que produz o mal-estar, vivido como angústia, impotência e auto-recriminação. Como sair desse impasse nos processos de subjetivação, senão buscando produzir novos sentidos a partir da elaboração e transformação do que é herdado?

Correa (2003, p. 38) aponta que "o processo de transmissão psíquica geracional solicita um trabalho psíquico inconsciente constante, de elaboração e transformação. Este processo é definido como obrigatório na sucessão das gerações; porém , a urgência não é sempre a de realizar a transmissão , mas também a de interrompê -la ". A interrupção dessa cadeia é a operação psíquica que pode levar a produção de novos sentidos e significados para a herança que se recebeu. Assim, as mães poderão não estar mais alienadas e fadadas a reproduzir os imperativos da maternidade porque estarão inscritas nessa cadeia de uma forma diferente, ao se apropriarem desse lugar no qual se inscrevem incessantemente como transmissoras e não apenas herdeiras. O sujeito herdeiro não é passivo na cadeia de transmissão na qual se faz elo ("repetidora"); ele pode ser criativo e potente.

Assim, é possível fecundar os caminhos psíquicos percorridos para que essa metabolização se torne possível. É importante pensar no quanto se pode endereçar uma escuta ativa às mulheres, às mães que se descobrem sendo novas mães durante as agruras da pandemia, uma escuta pautada na sensibilidade e dirigida ao lugar do qual elas falam. A questão é: será que existe um amparo social, institucional e vincular para que esse lugar seja preenchido de forma criativa, uma vez que a metabolização dessa herança depende da constituição de um andaime, uma rede vincular que suporte a experiência de transformação que ressoa em todo o tecido vincular? A transformação desse lugar não é uma tarefa individual, protagonizada somente pelos esforços solitários e conscientes de cada mãe, mas uma empreitada plural e coletiva, pois depende de uma disposição dos enlaces inconscientes e da disponibilidade de uma malha vincular que promova a mudança.

Minha filha falou que eu não a escuto, vivo mergulhada no trabalho, você consegue sentir o tamanho da minha culpa? Eu, que como te disse, sou filha de uma mãe mineira tradicional. Eu sofro porque, ao mesmo tempo que queria ser como ela, eu não queria sentir essa culpa, porque eu gosto do que eu faço. Você vai rir, mas sabe o que eu queria? Que nós, mulheres, tivéssemos força de nos unir, não ficar julgando uma a outra, dando padrão de qualidade para a mãe do que a gente é, mas uma união mesmo, de olhar para o que cada uma vive, e dizer: "olha, eu te entendo, eu sinto assim, mas fazemos o que podemos, vai ficar tudo bem", mas isso está longe de acontecer. Mas, quer saber? Eu acho que já melhorou. Eu acredito na revolução! (Laura)

Pode-se considerar que o sofrimento manifestado pelas mães quando se comparam às suas próprias mães e a outras mulheres idealizadas por elas, como encarnando aquelas que podem ser reconhecidas como "boas mães", junto às dores trazidas nos seus relatos em tempos de pandemia, reiteram a necessidade urgente de refletir sobre o ser mulher, como também sobre ser mãe e trabalhadora na sociedade contemporânea.

Além disso, o isolamento social, o ensino remoto e as mudanças decorrentes da pandemia explicitaram um conflito, que há tempos vem sendo discutido, que concerne à relação da mulher com a maternidade e com seu trabalho, apontando para a urgência deste debate à luz do momento de crise. Diversos estudos apontam a persistência das vivências de culpabilidade e dos sentimentos ambivalentes na relação da mulher com a maternidade e o mundo do trabalho (Emidio & Castro, 2021; Emidio & Gigek, 2019; Hirata, 2015; D. E. E. Meyer, 2006), o que frequentemente leva as mulheres a fazerem escolhas excludentes. Tais questões apontam para a necessidade de se rediscutir o lugar do trabalho reprodutivo e a divisão sexual do trabalho, pois estes se configuraram socialmente, e não naturalmente como é comumente presumido por concepções essencialistas, colocando as mulheres em uma posição de quem deve se adaptar docilmente aos papéis sociais a elas "destinados".

As participantes deste estudo têm consciência de estarem imersas em um movimento de transição. Tempos extraordinários também têm o poder de acelerar transformações que já estavam em marcha com as tendências recentes de precarização social e do trabalho (Hirata, 2015). As emoções negativas tendem a se exacerbar em uma situação de crise sem precedentes, ainda mais quando ela é compartilhada coletivamente, suscitando lutos e desafios cotidianos à sobrevivência. Porém, apesar das reflexões despertarem um sentimento de urgência de buscar alguns caminhos que permitam o redimensionamento dos lugares familiares e sociais, sabe-se que ainda há um longo caminho pela frente. Uma jornada a ser partilhada e que talvez tenha que ressoar ainda por algumas gerações de mulheres no futuro.

Amparos Vinculares e as Instituições: Eu Preciso Mostrar para Eles que isso Vai Passar e que Juntos Sairemos Dessa

Quando questionadas sobre aquilo de que mais sentiam falta no período de pandemia, além do desejo de "passar um tempo sozinhas", as mães trouxeram, entre risadas e choros, a saudade que sentiam da escola das crianças, de seus familiares e das pessoas com quem podiam contar anteriormente para apoiá-las nos cuidados com os filhos. Bruna foi uma das que entremearam choro e riso ao tecer um relato pungente sobre seu momento familiar:

Registra uma coisa, você está falando com uma mãe muito sincera: eu estou com muitas saudades da escola. Eu amo a professora, pois só assim eu poderia ficar sozinha. Sinto falta também da minha sogra, ela me ajudava muito com eles, agora não pode mais. Ela às vezes faz um bolo e deixa aqui na porta, eu choro, queria poder ter essas pessoas por perto, é um conforto com que não podemos mais contar, e meu marido, ele está perdido, temos comércio, a preocupação dele tem sido manter o negócio vivo. (Bruna)

Laura também comentou sobre o quanto considera a escola uma fonte de apoio importante para a manutenção da saúde mental de toda a família.

Vejo que nossa vida é envolta na questão da escola e do nosso trabalho. Agora é tudo em casa: escola, trabalho, vida familiar e social. Social entre aspas, né? Porque de social não tem nada. Então, isso é muito desgastante, é ter que ser firme sem apoio, é ter que ser forte porque ali você é o adulto. Então, eu preciso mostrar para eles que isso vai passar e que juntos sairemos dessa. (Laura)

As falas de Bruna e Laura apontam para a percepção do lugar da escola como uma dimensão subjetivada, em sua conexão com a família e sua função que se estende muito além da relação de ensino-aprendizagem, sendo também lugar de aquisição de habilidades de civilidade e sociabilidade para as crianças e suas famílias. As crianças da classe média brasileira passam boa parte do dia envolvidas com atividades escolares ou realizando tarefas extracurriculares; também participam de projetos esportivos e culturais, espaços significativos na complementação da formação e desenvolvimento da cidadania. A escola configura um espaço de articulação de uma rede vincular que ampara e dá sustentação à função materna.

O fato de não poderem mais contar com a instituição escolar nos moldes tradicionais e os apoios anteriores é claramente significado como perda no projeto idealizado da maternidade, o que precipita a experiência do enlutamento. É simultaneamente fonte de privação de uma garantia presumida e deparar-se com novas dificuldades, na medida em que aumenta a sobrecarga das mães, que além de não mais poderem contar com o apoio das instituições, tiveram que assumir, em várias situações, papéis que há anos eram delegados aos professores e cuidadores.

Assim, além dos temores e angústias inerentes à experiência de lidarem com uma ameaça invisível, que permanece suspensa no ar que se respira e que circula insidiosamente pelo contato entre as pessoas, as mães são chamadas a assumirem – ou reassumirem – o lugar antes ocupado pelas redes que as apoiavam. Perdem suas referências e o amparo das instituições e ainda necessitam servir de esteio para seus filhos. É uma exigência a mais em sua longa lista de responsabilidades. O esforço de buscar preservar a saúde mental de seus dependentes aumenta a sobrecarga a qual elas já estão submetidas em um contexto de exceção, no qual o espaço doméstico foi "invadido" sem a menor cerimônia pelas demandas do trabalho dos pais e da escola dos filhos. A fala de Giovana retrata as inseguranças sentidas pelas mães diante da falta dos apoios institucionais, como também da rede de vínculos afetivos que participavam do cuidado das crianças:

Com a pandemia, além de não ter a escola para poder contar, eu e meu marido não podemos ver nossas famílias. Ficamos preocupados com nossos pais, e aí só temos uns aos outros. Isso, ao mesmo tempo que nos fortalece, pesa. É como se não pudéssemos desmontar, como se tivéssemos que nos manter inteiros para segurar nossa família, e me ver nesse lugar de sustentação me assusta, me incomoda, fico preocupada de não conseguir sustentar esse lugar sem o apoio de que estava acostumada. Sinto saudades do apoio da minha mãe, da escola, da nossa rotina. Difícil viver sem esse amparo. (Giovana)

Isso mostra o quanto as mães exigem de si mesmas uma postura parecida com o estoicismo. Haja o que houver, elas não podem esmorecer, não se sentem confortáveis para demonstrar suas fragilidades aos familiares ("como se tivéssemos que nos manter inteiros para segurar nossa família"). A cobrança é no sentido de se manterem fortes, sempre serenas e imperturbáveis. O problema é que essa rigidez moral muitas vezes as impede de elaborarem suas próprias inquietações. Manter as aparências, a fachada de fortaleza, também consome um considerável montante de energia, especialmente em um cenário de tamanha instabilidade e sujeito a mudanças diárias, de sorte que a atitude estoica acaba por ter um efeito inverso ao desejado, no sentido de fragilizá-las.

Os relatos das mães também apontam para a importância das funções de apoio e sustentação desempenhadas, além das escolas, por seus familiares, no caso, os avós. Käes (2011, p. 20) aponta para a relevância das organizações metapsíquicas, as quais servem de "pano de fundo da psique individual e entre esta e os enquadres mais amplos – culturais, sociais, políticos, religiosos – nos quais elas se apoiam", apontando que o grupo e os pertencimentos comunitários e partilhados antecedem o espaço psíquico individual. As queixas das mães apontam para as falhas percebidas nessas funções de sustentação, tornando evidente o potencial desorganizador de tais falhas quando não existe uma rede de proteção social e comunitária.

Assim, a mãe confinada em casa pelo isolamento social é aquela que, no cenário da família contemporânea, sempre fora assoberbada por inúmeras demandas, acumulando funções tradicionais (como a do cuidado com os filhos e a casa) com funções relativas ao seu trabalho e aos seus interesses pessoais e aspirações de carreira profissional (W. A. Oliveira et al., 2021). Segundo Macêdo (2020), o contexto da pandemia tem sido particularmente desafiador para as mulheres, que se viram colocadas diante de uma sobrecarga ainda maior de trabalho e, simultaneamente, perderam muitos de seus apoios institucionais e vinculares. Moraes (2020) também observa que as mulheres estão sujeitas a níveis de estresse elevados decorrentes da privação do contato social e do acúmulo de atividades, o que se soma a uma sobrecarga emocional que elas já vinham administrando em suas relações muito antes da irrupção da pandemia. A história contada pelas mães sobre suas agruras e desafios enfrentados desde que suas vidas passaram a ser regidas no "modo emergencial" não pode ser dissociada de uma outra história, bem mais antiga, mas correlata: a da feminização do cuidado como potencializador de vulnerabilização das mulheres (Braga, Oliveira, & Santos, 2020).

Dar Voz ao Materno para Criar Possibilidades de Pensar o Futuro: Tenho Menos Certezas, mas Muita Vontade de Viver Bons Amanhãs

Quando questionadas sobre como conciliavam a necessidade de olhar para o futuro a partir das experiências que estavam vivendo com as exigências do distanciamento social, todas as mães se emocionaram e trouxeram preocupações com relação às suas famílias e à sua própria vida nessas circunstâncias adversas. Vivenciavam com pesar o adiamento de sonhos e a interrupção de projetos, tentando encarar esses desafios como um aprendizado necessário para se lidar com a frustração tecendo novos desejos e investindo no planejamento de outras atividades, o que exigia delas uma atitude flexível para se adaptarem às mudanças.

Todas as participantes, sem exceção, choraram ao serem instadas a pensarem no futuro e ao compartilharem suas reflexões sobre as vivências da pandemia e do isolamento social. A maioria, por meio do choro e da comoção emocional, dividiu com a entrevistadora, em tom de desabafo, um momento de catarse e extravasamento de emoções represadas (um "desaguar", na feliz expressão de Talita). Refletiram sobre como o viver nesses tempos estranhos estava sendo transformador em suas vidas, o que foi observado tanto nas mães entrevistadas nos primeiros meses (abril e maio de 2020), quanto nas participantes do quarto e quinto meses da pandemia (junho e julho de 2020). A percepção da adversidade como oportunidade de transformação emergiu nas falas, juntamente com os diversos olhares para as fragilidades que recrudesceram nesse momento. As falas de Ana, Angélica e Talita ilustram como elas estavam perspectivando o futuro. A despeito das dores potencializadas pela pandemia e dos lutos arrastados, elas depositavam um olhar esperançoso para o futuro e para seus relacionamentos, confiantes de que o amanhã seria "quando fosse possível seguir adiante".

Não tenho a perspectiva de que essa pandemia será mais boa do que ruim. Dito isso, acho que seremos mais fortes. Talvez mais empáticos, até porque agora partilhamos quase integralmente o cotidiano do outro. Mantenho meus objetivos e sonhos. Quero manter a serenidade, entendo que o futuro agora vai se dando aos poucos. Tenho menos certezas, mas muita vontade de viver bons amanhãs. Espero que essa fase possa fazer com que pessoas e governos passem a olhar o mundo de forma menos individual, com maior interesse no ser humano e nas desigualdades gritantes em que vivemos. (Angélica)

Um momento difícil como esse nos fez perceber a importância do outro, da vida do outro. Nos ensinou a economizar, a cuidar do futuro, a pensar nas consequências de nossos atos. Fica também a mensagem de que nenhum ser humano é sozinho ou consegue viver sozinho. Dependemos totalmente do outro, ninguém é diferente do outro, nem merece viver mais do que o outro, e precisamos cuidar da humanidade. Sobre o futuro, como disse, sou otimista. Mas acredito que passaremos um ano difícil em 2020. Mais e mais pessoas passarão dificuldade, milhares morrerão. Quando penso nisso, confesso que meu coração dispara e tenho medo de morrer e deixar minha filha. (Talita)

A fala das entrevistadas é acompanhada de incertezas e angústias em relação às projeções de futuro; porém, a reflexão sobre as transformações é capaz de ponderar perdas e ganhos, incluindo a possibilidade enriquecedora de haver preciosas ressignificações individuais e coletivas, que dependendo de como forem manejadas, poderão contribuir para melhorar a humanidade. É interessante observar que as falas articulam novos sentidos que permitem vislumbrar novas maneiras de preservar a proximidade com os demais.

A fala de Talita, quando aponta que ninguém vive sozinho e que essa crise coloca a necessidade de se pensar a humanidade, dialoga com o que Lima, Buss, e Paes-Sousa (2020) discutem sobre a pandemia ter precipitado uma crise humanitária na qual se faz necessário olhar para essa interdependência que nos constitui e o quanto o laço com o outro é que permite a sustentação da vida. Essas reflexões tecidas pelas mães entrevistadas se articulam ao clima de maior proximidade e intimidade familiar constituído em suas casas, que apesar de imerso em angústia e ansiedade, também abriu possibilidades de reflexão sobre crenças e valores compartilhados. A necessidade de "desacelerar", apontada por Ana em vários momentos de sua entrevista, chama a atenção para a velocidade e efemeridade na qual se dão as relações na atualidade, erráticas e fugazes como discutido por Birman (2019). São significativas as reflexões construídas que apontam para um cenário esperançoso que renasceria a partir das cinzas da crise que se vivencia, reafirmando o que Benghozi (2010) menciona quando considera que as crises embutem potenciais de transformação.

O espaço de fala se configurou nesta pesquisa como um dispositivo organizador, como se o pensar sobre essa inusitada experiência, compartilhado com alguém que oferece uma escuta ativa, possibilitasse organizar aquilo que estavam sentindo, ao dar vazão a emoções que estavam guardadas. Assim, admitir-se fragilizada diante de alguém que não é de sua rede familiar parece ter promovido o resgate de uma experiência de sentir-se fortalecida para enfrentar as situações críticas e elaborar conflitos e experiências vividas. Considera-se que a escuta, a fala e a conexão com o outro se apresentam como pontos importantes de suporte aos quais se deve atentar. Em tempos de aceleração maníaca, de esvaziamento da reflexão e falta de reconhecimento da alteridade, é preciso olhar as experiências cotidianas e valorizar os gestos mais simples que produzem humanidade. Só assim será possível construir novos continentes nos quais as malhas tecidas por meio dos vínculos intersubjetivos possam ser costuradas.

Quanto ao materno e à percepção do futuro, as mães entrevistadas se sentem sobrecarregadas, culpadas, angustiadas, mas também se mostram dispostas a reconhecer seus limites, suas dores e sua solidão, quando mencionam o quanto têm refletido sobre o lugar que ocupam na família e na sociedade, e sobre a importância de se conversar sobre isso. A pandemia parece funcionar como um fator desestabilizador do aparente equilíbrio que as mães presumiam ter construído anteriormente, acostumadas a viver nesse cenário onde cuidavam para que as demandas cotidianas fossem constantemente supridas.

Acredita-se que ouvir as mães em tempos de pandemia forneceu uma oportunidade profícua para compreender as diversas nuances que envolvem a maternidade na era contemporânea, mas também evidenciou que o sofrimento veiculado pelas reflexões sobre essa experiência torna evidente aquilo que essas mulheres já vêm carregando silenciosamente há tempos, seus modos de vida com suas fortalezas e fragilidades, em malabarismos conciliatórios que as levaram a situações-limite que a pandemia acabou escancarando.

Diante dessa nudez reveladora, ficam as reflexões sobre um corpo simbólico marcado pelos acontecimentos e que clama por mudanças que acolham pluralidades e relações mais horizontais e igualitárias, que permitam que as mulheres possam se despir das velhas indumentárias para construírem novos alinhamentos, nos quais uma ressignificação do passado e do presente, mais conectada às suas experiências, possa compor uma nova perspectiva de futuro. Em tempos de "novo normal" – expressão controversa que por vezes tem sido utilizada para designar o "novo" cotidiano instaurado pela pandemia, seria possível anunciar o nascimento de "novas mães"?

 

Considerações finais

A crise sanitária e humanitária precipitada pela pandemia parece ter acelerado e desnudado certas facetas da maternidade que já vinham se configurando ao longo do tempo. A nova era inaugurada pela ameaça da COVID-19 alterou drasticamente as rotinas e as dinâmicas do trabalho feminino. As mulheres trabalhadoras, que desde sempre sofreram com a invisibilidade de suas atribuições domésticas, nesse cenário viram-se sobrecarregadas com novas tarefas, com dias cada vez mais corridos e atarefados, evidenciando a centralidade da maternidade e sua idealização. Restou evidente que a transmissão psíquica entre mãe e filha é um dos elementos-chave que definem, constituem e perpetuam o lugar sacralizado e historicamente ocupado pelo materno no mundo ocidental.

Os resultados desta pesquisa, que entrevistou as mães na primeira fase da pandemia (abril a julho de 2020), mostraram que as participantes se esforçavam para manter o ritmo de produtividade pré-pandemia, enquanto lidavam com os novos desafios de acesso e operacionalização do trabalho remoto, acumulando tarefas domésticas e de cuidados intensivos com os filhos. A novidade é que já não contavam com os tradicionais amparos da escola, da rede de apoio social e de trabalhadoras domésticas. Como resultado do isolamento físico e do longo tempo de fechamento das escolas, vivenciavam uma sobrecarga de trabalho, o que acentuou o sofrimento psíquico e seus sentimentos de desamparo e solidão, incrementando vivências de culpabilização no tocante à responsabilidade pelo desenvolvimento dos filhos. Os impactos da pandemia na vida familiar recaíram de forma desproporcional sobre as mães, com cobranças com relação ao seu papel social em resposta a uma normatização construída sobre a maternidade.

Vale ressaltar que as participantes apresentavam, já nos meses iniciais da pandemia, intenso sofrimento e se sentiam sobrecarregadas e sozinhas diante dos desafios que a pandemia apresentava. Certamente o tempo de pandemia se prolongou e mudanças ocorreram ao longo desse processo, como o retorno parcial ao trabalho, o retorno parcial das redes de apoio e das escolas, o que impactou diretamente as vivências maternas. A despeito do sofrimento e dos sentimentos de culpa que permeiam os discursos maternos, as participantes se desdobram e dão continuidade às normatizações maternas em suas vidas, o que sugere que o processo de crítica perante a imposição e legitimação desse modelo de maternidade ainda exige um processo de reconhecimento de si e do lugar ocupado pela mulher na organização social.

Este estudo apresenta algumas limitações importantes que devem ser apontadas. Como a renda familiar não foi considerada um critério de inclusão nesta pesquisa, as entrevistadas apresentaram uma variação de renda bastante expressiva, configurando condições de vida bem diferentes. A leitura sobre as experiências maternas no contexto da pandemia deve incluir, em estudos futuros, a questão da renda familiar e sua possível influência moderadora sobre os impactos das situações vividas. É necessário, assim, considerar outras dimensões que possam desvelar novas perspectivas sobre o tema investigado.

 

Referências

Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno (W. Dutra, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira.         [ Links ]

Badinter, E. (2011). O conflito: a mulher e a mãe (V. L. Reis, Trad.). Rio de Janeiro: Record.         [ Links ]

Benghozi, P. (2010). Malhagem, filiação e afiliação – psicanálise dos vínculos: casal, família, grupo, instituição e campo social. São Paulo, SP: Vetor.         [ Links ]

Birman, J. (2019). Genealogias do narcisismo. São Paulo, SP: Instituto Langage.         [ Links ]

Braga, I. F., Oliveira, W. A., & Santos, M. A. (2020). "História do presente" de mulheres durante a pandemia da COVID-19: feminização do cuidado e vulnerabilidade. Revista Feminismos, 8(3), 190-198. Recuperado de https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/42459/23919         [ Links ]

Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101. doi: 10.1191/1478088706qp063oa        [ Links ]

Correa, O. B. R. (2003). Transmissão psíquica entre as gerações. Psicologia USP, 14(3), 35-45. doi: 10.1590/S0103-65642003000300004        [ Links ]

Del Priore, M. (2009). Ao sul do corpo: condição feminina, maternidade e mentalidades no Brasil Colônia. São Paulo, SP: UNESP.         [ Links ]

Donath, O. (2017). Mães arrependidas: uma outra visão da maternidade (M. Vargas, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.         [ Links ]

Emidio, T. S. (2011). Diálogos entre feminilidade e maternidade: um estudo sob o olhar da mitologia e da psicanálise. São Paulo, SP: EDUNESP.         [ Links ]

Emidio, T. S., & Castro, M. F. (2021). Entre voltas e (re)voltas: um estudo sobre mães que abandonam a carreira profissional. Psicologia: Ciência e Profissão, 41, e221744. doi: 10.1590/1982-3703003221744        [ Links ]

Emidio, T. S., & Gigek, T. (2019). "Elas não querem ser mães": algumas reflexões sobre a escolha pela não maternidade na atualidade. Trivium: Estudos Interdisciplinares, 11(2), 186-197. doi: 10.18379/2176-4891.2019v2p.186        [ Links ]

Freud, S. (1996). Esboço de psicanálise. In S. Freud (Org.), Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 23, pp. 153-224). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Obra original publicada em 1938)        [ Links ]

Freud, S. (2010). Introdução ao narcisismo, ensaios de metapsicologia e outros textos (P. C. de Souza, Trad., pp. 13-51). São Paulo, SP: Cia das Letras. (Obra original publicada em 1914)        [ Links ]

Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidades. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(n. spe 2), e225712, 59-73. doi: 10.1590/1982-3703003225712        [ Links ]

Hirata, H. (2015). Mudanças e permanências nas desigualdades de gênero: divisão sexual do trabalho numa perspectiva comparada. Análise, 7/2015. São Paulo, SP: Fundação Friedrich Ebert Stiftung Brasil. Recuperado de https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/12133.pdf        [ Links ]

Kaës, R. (2011). Um singular plural: a psicanálise à prova do grupo (L. Rouanet, Trad.). São Paulo, SP: Loyola.         [ Links ]

Käes, R. (2014). As alianças inconscientes (L. Cazarotto, Trad.). São Paulo, SP: Ideias & Letras.         [ Links ]

Lima, N. T., Buss, P. M., & Paes-Sousa, R. (2020). A pandemia de COVID-19: uma crise sanitária e humanitária. Cadernos de Saúde Pública, 36(7), e00177020. doi: 10.1590/0102-311x00177020        [ Links ]

Macêdo, S. (2020). Ser mulher trabalhadora e mãe no contexto da pandemia COVID-19: tecendo sentidos. Revista do NUFEN, 12(2), 187-204. doi: 10.26823/RevistadoNUFEN.vol12.nº02rex.33        [ Links ]

Meyer, A. V. T. L., Oliveira, E. N. P., Coelho, R. N., & Aquino, C. A. B. (2019). Trabalho doméstico e empreendedorismo: a intensificação laboral das donas-de-casa. Revista Laborativa, 8(2), 36-56. Recuperado de https://ojs.unesp.br/index.php/rlaborativa/article/view/2882        [ Links ]

Meyer, D. E. E. (2006). Uma politização contemporânea da maternidade: construindo um argumento. Gênero, 6(1), 81-104. Recuperado de https://periodicos.uff.br/revistagenero/article/view/31010        [ Links ]

Moraes, R. F. (2020). Prevenindo conflitos sociais violentos em tempos de pandemia: Garantia da renda, manutenção da saúde mental e comunicação efetiva (Nota Técnica 27). Ipea, Brasília: Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia. Recuperado de http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9836        [ Links ]

Oliveira-Cardoso, E. A., Silva, B. C. A., Santos, J. H., Lotério, L. S., Accoroni, A. G., & Santos, M. A. (2020). The effect of suppressing funeral rituals during the COVID-19 pandemic on bereaved families. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 28, e3361. doi: 10.1590/1518-8345.4519.3361        [ Links ]

Oliveira, M. A. C., & Marques, S. S. (2020). Contribuições para uma reconstrução crítica da gramática moderna da maternidade. Revista Estudos Feministas, 28(1), e68037. doi: 10.1590/1806-9584-2020v28n168037        [ Links ]

Oliveira, W. A., Andrade, A. L. M., Souza, V. L. T., De Micheli, D., Fonseca, L. M. M., Andrade, L. S., ... Santos, M. A. (2021). COVID-19 pandemic implications for education and reflections for school psychology. Psicologia: Teoria e Prática, 23(1), 1-26. doi: 10.5935/1980-6906/ePTPC1913926        [ Links ]

Oliveira, W. A., Oliveira-Cardoso, E. A., Silva, J. L., & Santos, M. A. (2020a). Impactos psicológicos e ocupacionais das sucessivas ondas recentes de pandemias em profissionais da saúde: revisão integrativa e lições aprendidas. Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e200066. doi: 10.1590/1982-0275202037e200066        [ Links ]

Santos, M. A., Oliveira, W. A., & Oliveira-Cardoso, E. A. (2020). Inconfidências de abril: impacto do isolamento social na comunidade trans em tempos de pandemia de COVID-19. Psicologia & Sociedade, 32, e020018. doi: 10.1590/1807-0310/2020v32240339        [ Links ]

Silva, H. G. N., Santos L. E. S., & Oliveira, A. K. S. (2020). Efeitos da pandemia do novo coronavírus na saúde mental de indivíduos e coletividades. Journal of Nursing and Health, 10(n.esp.), e20104007. doi: 10.15210/jonah.v10i4.18677        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências e Letras de Assis
Departamento de Psicologia Clínica
Avenida Dom Antônio, 2100
Parque Universitário, Assis-SP
Telefone: (18) 3302-5884
Email: thassia.emidio@unesp.br

Recebido em 24.ago.20
Revisado em 02.jan.22
Aceito em 31.jan.22

 

 

Thassia Souza Emidio, Doutora em Psicologia e Sociedade pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), é Professora Assistente Doutora do Departamento de Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista (UNESP). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-4353-0912
Mary Yoko Okamoto, Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é Professora do Departamento de Psicologia Clínica da Faculdade de Ciências e Letras de Assis da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Email: mary.okamoto@unesp.br ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8844-7138
Manoel Antônio dos Santos, Professor Titular de Psicologia da Saúde da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP-SP) e Professor Titular do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP-SP). Email: masantos@ffclrp.usp.br ORCID: http://orcid.org/0000-0001-8214-7767

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons