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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.5 no.3 Ribeirão Preto dez. 1997

 

PROCESSOS SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO

 

Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros

 

 

Maria Alice D'Amorim

Universidade Gama Filho

 

 

Ao estudar estereótipos de gênero é necessário definir o que vem a ser o papel de gênero. O primeiro passo neste sentido é o de tornar claros conceitos de sexo e gênero. O termo sexo está ligado à composição cromossômica do indivíduo e ao tipo de aparelho reprodutor dela resultante. O seu significado foi porém alargado de modo a abranger características intrapsíquicas e comportamentais, consideradas típicas de homens e mulheres. O que se verifica é que, embora se fale de diferenças de sexo ao nos referirmos a determinados traços de personalidade, estamos, na verdade, utilizando um construto simbólico de caráter social, cuja base são os valores do grupo. Esta confusão levou os autores mais recentes a preferirem o termo gênero, ao falarem de aspectos psicológicos e comportamentais; a distinção torna menos provável a atribuição sistemática das diferenças encontradas entre mulheres e homens a fatores biológicos.

Chegamos assim à definição do gênero como a soma das características psicossociais consideradas apropriadas a cada grupo sexual, sendo a identidade de gênero o conjunto destas expectativas, internalizado pelo indivíduo em resposta aos estímulos biológicos e sociais (Unger, 1979).

O construto de identidade de gênero é visto atualmente como o conjunto das crenças, atitudes e estereótipos do indivíduo; Katz (1986) o explica a partir de seus antecedentes biopsicos-sociais e de sua influência sobre o comportamento. Steines e Libby, (1986) afirmam que o papel de gênero pode sofrer duas interpretações; na perspectiva tradicional o gênero é um tipo de papel com apenas duas categorias - masculino ou feminino. Ao determinar essas duas alternativas o enfoque tradicional procura responder a seguinte pergunta: como o gênero do indivíduo define a série de papéis sociais que deverá exercer para merecer a aprovação do grupo? Para responder a essa pergunta a pesquisa de cunho tradicionalista procura delimitar três aspectos do papel de gênero, através das respostas a perguntas específicas:

• Como as pessoas acham que os homens e as mulheres devem comportar-se?

• Como as pessoas acham que se comportarão mulheres e homens?

• Como, na realidade, se comportam os homens e as mulheres?

Estas três dimensões do papel de gênero a prescritiva, a preditiva e a observável, têm sido muito estudadas, constituindo a primeira a base dos estereótipos de gênero.

O segundo enfoque no estudo dos papéis de gênero focaliza os inúmeros papéis sociais que podem ser exercidos por pessoas de ambos os sexos tais como o de trabalhador, cônjuge e genitor, procurando verificar até que ponto o gênero do indivíduo introduz diferenças no exercício destes papéis. Alguns papéis são particularmente sensíveis à influência do gênero, dadas as expectativas do grupo e da própria pessoa, para a maneira "correta" de exercer o papel em questão. Este enfoque busca situações específicas, já que é através delas que melhor se pode constatar as diferenças na expectativa social. Esta última pode influenciar o auto-estereótipo definido por Abate e Berrien (1967) como a aceitação pelo grupo das características que lhe são atribuídas. Esses autores verificaram a existência de uma concordância entre os auto-estereótipos e aqueles apresentados pelo outro grupo, numa pesquisa com estudantes japoneses e americanos. Esta concordância foi também encontrada em D'Amorim (1985).

O estereótipo de gênero é, pois, o conjunto de crenças acerca dos atributos pessoais adequados a homens e mulheres, sejam estas crenças individuais ou partilhadas. Adotando um enfoque cognitivo e social Ashmore e Del Boca, (1986), consideram os estereótipos de gênero como parte da teoria implícita da personalidade construída pelo indivíduo e conservada na memória, como parte do seu sistema geral de valores.

Em 1972 alguns autores avaliaram os trabalhos anteriores sobre o assunto, chegando à conclusão de que as características atribuídas a homens e mulheres são constantes, através das variações de sexo, idade, nível educacional e estado civil dos avaliadores (Broverman, Vogel, Broverman, Clarkson & Rosenkrantz, 1972). Esses autores fornecem uma lista das características que compõem o ideal de competência masculina (atividade, competitividade, independência, decisão e autoconfiança, entre outras). Para as mulheres, predomina a dimensão expressividade-afeição, que inclui a emocionalidade, a gentileza, a compreensão e a dedicação.

No caso da atitude, inicialmente, a preocupação dos pesquisadores esteve ligada à definição deste construto e à investigação das dimensões que o integravam. Assim, a atitude foi definida, ora como uma disposição comportamental capaz de prever e explicar as ações humanas, (Doob, 1947), ora como uma avaliação favorável ou desfavorável de um objeto social (Thurstone, 1931). Esta última posição não implica, necessariamente, uma ligação entre a atitude e comportamento já que uma pessoa pode agir ou não de acordo com os seus sentimentos. Na década de 1960 tentou-se uma definição tridimensional da atitude, na qual ela era vista como abrangendo as crenças, elemento cognitivo, os sentimentos, elemento afetivo, e as tendências para a ação, elemento conativo (Rosemberg, Hovland, Mc Guire, Abelson e Brehm, 1960). Esta ambigüidade conceituai resultou em uma variedade de medidas, construídas com base em pressupostos teóricos diversos, o que dificultou a comparação dos resultados das várias pesquisas. As revisões de literatura, realizadas por Wicker em 1969 e Schuman e Johnson em 1976, apresentaram um conjunto de correlações muito baixas entre as medidas de atitude e de comportamento.

No início dos anos 1970, este quadro começa a se alterar com uma mudança de enfoque nas pesquisas sobre a relação geral entre atitude e comportamento. Pergunta-se quando e em que circunstâncias a relação se verifica. Este novo enfoque constitui o que Zanna e Fázio chamam de segunda geração de pesquisas (Zanna e Fázio, 1982). Nesta fase pode-se incluir o trabalho de Fishbein e Ajzen, (1975), que buscam estabelecer os limites metodológicos da medida de atitude, de modo a que seu conhecimento leve à previsão do comportamento. Em seus estudos, os autores afirmam a necessidade de uma correspondência entre os diversos elementos medidos, crenças, atitudes e intenção, mantendo o mesmo grau de generalidade para os diversos aspectos: o alvo a ser alcançado, a ação prevista, o contexto onde ela irá realizar-se e o momento em que será executada. Quando são respeitadas estas normas metodológicas, que especificam as condições empíricas de correspondência entre atitude e comportamento, as correlações obtidas entre as variáveis são elevadas.

Finalmente, na terceira geração de pesquisas surge a pergunta, como a atitude se relaciona com o comportamento? O enfoque está agora dirigido ao processo psicológico que serve de suporte a esta relação; entramos na fase dos modelos explicativos. A Teoria da Ação Racional de Ajzen e Fishbein (1980) afirma que a ação humana pode ser prevista através de seu principal componente, a intenção, a partir de duas variáveis básicas, a atitude e a norma subjetiva. Uma descrição resumida desta teoria pode ser vista em D'Amorim (1995). Mais recentemente, esta teoria foi ampliada com a introdução de uma terceira variável que afeta a intenção comportamental; o controle percebido. Uma ação humana, em circunstâncias específicas, seria o resultado da intenção comportamental; esta, por sua vez, sofreria a influência da atitude da pessoa em relação ao ato, de sua consciência das normas sociais a ele ligadas e de sua percepção do próprio controle sobre o comportamento em questão (Ajzen, 1988).

Os estudos sobre atitude, no Brasil ou no exterior, representam exemplos das três gerações de pesquisa, desde simples levantamentos até o teste de modelos teóricos complexos.

Segundo Thorton e Freeman, (1979), os estereótipos de gênero não parecem ter-se modificado durante os anos setenta, embora as atitudes em relação ao comportamento sexual tenham, em geral, manifestado alguma evolução.

Ruble (1987) procura verificar a afirmação acima com 128 universitários de ambos os sexos. Ele define a atitude como a desejabilidade da característica para cada sexo e o estereótipo a percepção da tipicabilidade do traço segundo o sexo. O instrumento utilizado foi o Questionário de Atributos Pessoais de Spence Helmreich e Stapp (1975). Os 128 alunos foram divididos em 4 grupos de 32; cada grupo avaliava uma descrição que podia ser de homem ou mulher devendo dizer até onde os traços fornecidos pelo QAP eram desejáveis (atitude), ou típicos (estereótipo) da pessoa descrita. Os resultados comprovaram a permanência dos estereótipos de gênero embora as atitudes acerca da desejabilidade dos vários traços tenha-se tornado menos polarizada.

No Brasil, Rodrigues (1984) estudou atitudes e crenças acerca da mulher, em universitários, não encontramos nos sujeitos evidências de estereótipo de gênero, embora exista uma crença na existência, em nossa sociedade, de discriminação contra a mulher.

 

ESTUDOS BRASILEIROS

A percepção do papel feminino foi investigada através da pergunta "Em sua opinião, o que é a mulher?" As respostas foram classificadas num contínuo, que ia do tradicional ao moderno (Goldberg, Batista, Arruda, Barreto e Menezes, 1975). Entre as respostas tradicionais apareceram "doçura, meiguice, destinada a agradar, consolar, educar, rainha do lar", e outras, acentuando o seu papel doméstico. Entre as modernas, surgiram respostas afirmando a igualdade de direitos entre homem e mulher, e indicando uma maior consciência da histórica do papel feminino. Embora os sujeitos fossem jovens, de cursinhos pré-vestibulares, 64% deles mantiveram a orientação tradicional.

Salem (1980) encontra similaridade na definição do papel feminino pelas mulheres de classe alta, média e baixa. Segundo a autora, este acordo tem como base a importância do papel doméstico da mulher, seja qual for sua classe social, "de tal forma que, mesmo quando desempenhando atividades extradomésticas, a mulher tende a persistir, localizando neste núcleo sua identidade principal" (Salem, 1980).

Em pesquisa posterior, com mulheres faveladas cariocas, Salem, (1981), indagou como seriam as suas imagens, do homem e da mulher. Ao sexo masculino foram atribuídas características de liberdade, irresponsabilidade para com a família e maior possibilidade de ganhar dinheiro. As mulheres foram vistas como mais fracas, necessitando de proteção, tendo maior responsabilidade para com os filhos, e sofrendo mais. Parece à autora que a mulher espera do homem a administração dos bens e o sustento da família, enquanto a ela caberiam a procriação, a socialização dos filhos e as tarefas domésticas.

Em 1985 foi realizada em Brasília uma pesquisa acerca dos estereótipos sexuais dos favelados, com 400 sujeitos de ambos os sexos, pertencentes a dois grupos de idade (Raiser, 1985). Em sua revisão da literatura a autora constatou que o estereótipo masculino favorável apresenta, em geral, características de competência, destreza e vigor e o desfavorável, de teimosia, imprudência, egoísmo e ganância. O estereótipo feminino favorável inclui a graça, a habilidade social e o apoio emocional fornecido, e o desfavorável salienta e vaidade, a futilidade e o descontrole emocional. No estudo de Raiser, (1985), os estereótipos foram medidos com o Questionário de Estereótipos Sexuais, construído especialmente, e que, em sua forma final, constou de 30 itens podendo 26 avaliarem homens ou mulheres e sendo quatro deles específicos, dois masculinos e dois femininos.

Os resultados destacam a grande concordância entre os sexos, e entre as duas faixas etárias, quanto aos estereótipos, o que confirma os achados de Brovermam e colaboradores, (1972). A mulher foi definida segundo quatro dimensões; a casa, o marido, os filhos e o corpo; a execução das tarefas domésticas é a característica mais atribuída, independente do sexo e da idade. Mesmo o trabalho fora de casa é visto como uma extensão das tarefas diárias, já que, este trabalho é o de doméstica. As dimensões de marido e filhos revelam a submissão, devida ao cônjuge, e a responsabilidade pela procriação e cuidado com os filhos. A dimensão corpo, na qual predominam as respostas dos homens jovens, envolve os aspectos eróticos da nudez feminina. Aos homens foram atribuídos estereótipos ligados a três dimensões: trabalho, poder e liberdade, compreendendo a obrigação de sustentar a família, sua autoridade no lar, e a possibilidade de fazer o que quiser, inclusive abandonar a mulher e os filhos. A autora conclui que "a mulher é definida em função do homem e das dimensões que se originam no seu relacionamento com ele, ou seja, a casa, filhos e corpo"(Raiser, 1985, p. 71).

No Nordeste brasileiro, a existência de estereótipos de gênero foi estudada por Radice, (1987). Três grupos de estudantes universitários receberam uma lista de 136 descrições curtas para escolher aquelas que melhor se adaptassem ao homem, à mulher e a um adulto, segundo o grupo. Para cada conceito, homem, mulher ou adulto as 20 descrições mais escolhidas (75% dos sujeitos) foram combinadas em um instrumento com 60 itens. Outro grupo de 21 rapazes e 29 moças classificou as 60 descrições de acordo com a sua desejabilidade para uma pessoa cujo sexo não foi definido. Antes de serem passadas aos sujeitos as 60 descrições sofreram uma análise fatorial sendo as masculinas consideradas como parte de uma dimensão instrumental e sexual; as femininas foram vistas como pertencendo à dimensão emocional-expressiva e submissa. Os resultados foram analisados segundo sexo do sujeito; em ambos os grupos, o maior nível de desejabilidade foi encontrado nas descrições masculinas que foram consideradas ideais, tanto para homens quanto para mulheres. E uma expressão de maturidade. As descrições menos desejáveis foram aquelas contendo estereótipos de gênero. As moças rejeitaram um total de 11 descrições, três masculinas, dominador, individualista e competitivo e oito femininas, tais como submissas, obedientes e religiosas. Os rapazes consideram indesejáveis as mesmas descrições femininas acrescentando "não gostam de matemática". Eles também consideram indesejável serem moralistas, dominadores e bons-políticos. Esses resultados indicam que embora existam no Brasil os estereótipos de gênero, estes começam a ser rejeitados.

Um estudo amplo dos estereótipos e auto-estereótipos masculinos e femininos, bem como da metapercepção foi realizado pelo casal Tamayo, com estudantes universitários de Brasília. Para a avaliação do estereótipo foi usado o diferencial semântico (Osgood, Suei e Tannenbaum, 1957), com 79 estímulos bipolares, combinados em seis fatores: autoconfiança, atitude social, autocontrole, abertura social, dimensão ética e aparência física. Esses estímulos deveriam ser utilizados pelos sujeitos para avaliarem três conceitos, o homem, a mulher, e o modo como o sujeito se julga percebido pelo sexo oposto. Esses três tipos de respostas fornecem o estereótipo, o auto-estereótipo e a metapercepção (Tamayo e Tamayo, 1989).

Os estereótipos feminino e masculino obtidos foram bastante diversos. A mulher foi vista pelo homem como tendo um alto nível de autocontrole, atitude social, dimensão ética e aparência física. A mulher percebeu que o homem como tipicamente autoconfiante. Pode-se notar que o estereótipo masculino caracteriza-se pela instrumentalidade, o que confirma dados obtidos em várias pesquisas anteriores; entretanto, o estereótipo feminino abrangeu características, tanto expressivas quanto instrumentais, o que difere dos resultados de Brovermann e colaboradores (1972).

Os auto-estereótipos assemelham-se aos estereótipos, com as mulheres atribuindo-se um nível mais alto em atitude social, aparência física, autocontrole e dimensão ética, e os homens, em autoconfiança. A complementaridade dos papéis, masculino e feminino, pode explicar, em parte, a concordância entre estereótipo e auto-estereótipo.

Quanto à metapercepção, isto é, como os sujeitos se julgam percebidos pelo sexo oposto, os homens esperam ser vistos pelas mulheres como possuidores de maior abertura social e melhor aparência física do que eles próprios se atribuem. As mulheres estimam que os homens as percebem mais bonitas do que se consideram, porém acham que são percebidas como menos éticas, autoconfiantes e autocontroladas do que se auto-avaliam. As metapercepções feminina e masculina são bastante realistas correspondendo à maneira como homens e mulheres são percebidos pelo sexo oposto.

Segundo os autores, os resultados das pesquisas não correspondem à tendência geral de outros estudos.

"Los resultados revelaron una dirección nitidamentediferente, puesto que los hombres percibieron a la mujermás positivamente que a sí mismos. Cabe recordar tambíenque el estereotipo y el auto-estereotipo de la mujer nofueron definidos exclusivamente a partir de rasgos expressivos sino que ellos integraron también la dimensióninstrumental" (Tamayo e Tamayo, 1989, p. 13).

Podemos verificar que os estereótipos de gênero incluem características físicas e psicológicas, comportamentais e ocupacionais. Esses diversos aspectos do estereótipo de gênero sofrem uma influência determinante da informação recebida, sendo entretanto independentes entre si. (Deaux e Lewis, 1984), D'Amorim (1988) testaram essas duas informações com universitários de ambos os sexos que receberam três descrições comportamentais (masculina, feminina e mista), a fim de avaliarem a probabilidade de a pessoa descrita possuir cada um de doze traços de personalidade e ocupar uma de dez profissões. A descrição masculina dizia "A pessoa em questão é o suporte financeiro da família, lidera as suas atividades, chefia a casa e é responsável pelos consertos necessários". A descrição feminina afirmava "A pessoa em questão é o suporte emocional da família, cuida das crianças, dirige a casa e é responsável pela sua decoração". Finalmente, uma descrição mista foi elaborada com a combinação de elementos de duas anteriores. "A pessoa em questão é o suporte financeiro e emocional da família, lidera as atividades e cuida das crianças". Essas descrições foram utilizadas por Deaux e Lewis (1984). Os traços de personalidade foram apresentados no feminino, em ordem alfabética, precedidos da frase "a pessoa é: autoconfiante, ativa, boa, competitiva, compreensiva, decidida, dedicada, disponível, emocional, gentil, independente e persistente. As profissões utilizadas foram: arquiteto, corretor, dentista, enfermeiro, professor, psicólogo, químico, secretário, telefonista e vendedor. Os resultados mostraram que os sujeitos que leram a descrição feminina consideraram a pessoa descrita gentil, emocional e compreensiva, com alta probabilidade de ser uma enfermeira, professora ou psicóloga. A descrição masculina evocou os traços de autoconfiança competitividade, independência e persistência, trabalhando provavelmente como dentista, corretor, químico ou vendedor. A descrição mista combinava com uma pessoa decidida tendo mais traços masculinos do que femininos, podendo trabalhar em profissões tanto masculinas quanto femininas. O resultado mostrou a manutenção do estereótipo, aliada a uma atitude mais permissiva quanto ao comportamento, considerado masculino, mas já permitido às mulheres.

Um novo conceito, ligado ao estereótipo, foi recentemente sugerido por Glilk e Fiske (1995), o de sexismo ambivalente, composto de dois elementos: sexismo hostil e benevolente, que devem ter entre si uma correlação positiva. Como um estereótipo o sexismo tende a ver todas as características femininas como inatas e portanto estáveis, porém sujeitas a avaliações diferentes. O sexismo hostil percebe de modo negativo os traços e comportamentos femininos porém o benevolente apresenta uma atitude positiva, conservando porém a impressão da mulher como alguém que deve ser protegido (paternalismo), embora seja diferente do homem (diferenças de gênero) ainda e, para a maioria, a parceiro sexual ideal (intimidade heterossexual). Baseada no inventário de Sexismo Ambivalente, elaborado pelos autores, D'Amorim (1996) combinou esta variável com a noção de discriminação pessoal e generalizada de Ruggiero e Taylor (1995). Os autores propõem dois tipos de sentimentos de discriminação, uma avaliação pessoal e outra como membro do seu gênero. Os sujeitos, (n = 417), estudantes universitários responderam aos dois instrumentos. Inventário de sexismo ambivalente continha 22 itens, 11 de sexismo hostil e 11 de benevolente. Os homens manifestaram maior sexismo hostil em 8 dos 11 itens; dois deles que aprovavam as atividades das feministas foram mais apoiados pelas mulheres e um não apresentou diferenças significativas. No caso do sexismo benevolente apenas 5 dos 11 itens apresentaram diferenças de sexo sendo que dois dos itens alcançaram maiores valores entre os homens, "a mulher deve ser protegida pelos homens" "estes não se completam sem o amor de uma mulher" e 3 foram preferidos pelas mulheres ao afirmarem que elas têm uma maior pureza, moral e cultura que os homens. Quanto à discriminação, o sentimento geral de discriminação é maior que o pessoal, para ambos os sexos. As mulheres apresentam maior sentimento de discriminação que os homens nos 2 tipos de discriminação pessoal e geral, envolvendo a opinião dos homens.

As atitudes diante da sexualidade foram investigadas por Souza, (1982), com estudantes universitários e de segundo grau, de ambos os sexos, utilizando a Escala de Atitude diante da Sexualidade (Pasquali, Souza e Tanizaki, 1985). Esta escala consta de 69 itens, sobre seis aspectos da sexualidade:

1. O sexo como algo vergonhoso, perigoso e inútil;

2. A legitimidade das relações pré e extramatrimoniais;

3. O sexo como um envolvimento consciente e livre;

4. A legitimidade da homossexualidade;

5. A legitimidade da masturbação;

6. A gravidez como um transtorno.

Os resultados obtidos mostram a influência do sexo nas atitudes, com as mulheres sendo, em geral, mais favoráveis.

A escolaridade teve também influência sobre as atitudes, com os universitários sendo mais positivos que os estudantes de segundo grau, diante dos vários aspectos medidos, o que confirma os resultados de Singh (1980). A idade não apresentou diferenças significativas. A permissividade sexual parece não ser unidimensional; a atitude pode variar segundo o aspecto em questão. Esta variabilidade pode ser facilmente explicada pela complexibilidade do comportamento sexual, cuja diversidade de manifestações não permite posicionamentos e atitudinais generalizados.

Um aspecto específico do comportamento sexual, o das relações sexuais pré-maritais, foi estudado por Tanizaki (1984) e por D'Amorim e Gomide, (1986), usando o modelo conceituai da Teoria da Ação Racional (Ajzen e Fishbein, 1980).

Na primeira pesquisa, estudantes secundários responderam a um questionário, que apresentava dois tipos de instruções, descrevendo as relações prémaritais como vividas com ou sem envolvimento afetivo. Os resultados dessa pesquisa mostraram um quadro bem diverso do que seria esperado, diante dos debates atuais acerca da posição social da mulher e da sua liberação sexual, apresentados, quase diariamente, pelos vários meios de comunicação. Poderse-ia esperar que, nestas circunstâncias, as atitudes de rapazes e moças acerca das relações sexuais pré-maritais fossem semelhantes, senão iguais. Entretanto, diferenças significantes de sexo foram encontradas pela autora, sendo as moças ainda bastante conservadoras em suas atitudes. A preocupação com a opinião de parentes e amigos apareceu de modo claro, afetando as previsões feitas pelo modelo teórico. Uma correlação positiva, não prevista, entre as variáveis atitude e norma subjetiva mostra que, para as moças, uma das conseqüências importantes deste tipo de comportamento, é a de "ficar falada", e ser reprovada, não só pelos pais, mas pelas amigas. Estes resultados foram confirmados com outros grupos de adolescentes. Tem-se, portanto, de reconhecer que, adolescentes de Brasília, pelo menos aqueles dos grupos estudados, são mais conservadores do que se poderia pensar, especialmente no caso das moças (D' Amorim e Gomide, 1986).

Uma pesquisa utilizando a Escala de Atitude diante da Sexualidade, acima descrita, relacionou esta medida com o Inventário de Papéis Sexuais de Bem, (1974), buscando verificar a influência da tipificação das atitudes de estudantes universitários de quatro cidades brasileiras, diante da sexualidade (D'Amorim, 1989).

Os estudos anteriores permitem prever uma atitude de maior aceitação, diante de vários temas controvertidos da sexualidade humana, por parte daqueles sujeitos cuja tipificação sexual é menos estrita. Essa hipótese foi testada, especificamente em relação à liberdade de escolha do parceiro sexual, manifesta através da homossexualidade e das relações pré e extraconjugais. Os sujeitos de baixa tipificação de gênero, andróginos e indiferenciados, deveriam mostrar maior aceitação destes comportamentos do que aqueles cuja tipificação é alta (masculinos e femininos).

O inventário de papéis sexuais de Bem (1974), na Adaptação de Oliveira (1983), foi utilizado para obter os escores de tipificação de gênero dos participantes. Este instrumento apresenta aos sujeitos 60 características comportamentais, sendo 20 delas consideradas masculinas, 20 femininas e 20 neutras; destas últimas, dez são vistas como positivas e dez como negativas. O participante responde numa escala de 7 pontos o quanto a característica é verdadeira, quando a ele aplicada, sendo o valor 1 igual a "nunca verdadeira" e o valor 7 significando que é "sempre verdadeira". A mediana dos escores obtidos pelos sujeitos nas escalas masculina e feminina permite a classificação de cada participante, segundo o seu escore individual, em um dos quatro tipos de papel sexual; masculino (escore acima da mediana na escala masculina e abaixo na feminina), feminino, (situação inversa), andrógino, (acima da mediana em ambos e indiferenciados, (abaixo de ambas as medianas).

A comparação entre as atitudes dos sujeitos de alto e baixo nível de tipificação sexual quanto às relações sexuais pré e extraconjugais forneceu resultados cuja interpretação não apresenta dificuldades. Os itens referentes ao comportamento sexual pré-marital tiveram um alto grau de aceitação por parte dos sujeitos, sem que fossem observadas diferenças entre os grupos.

Foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre as atitudes quanto às relações extraconjugais exibidas pelos sujeitos com alto grau de tipificação de gênero e as exibidas pelos andrógenos e indiferenciados.

A aceitação da legitimidade da homossexualidade apresenta um problema, bem mais sério, de interpretação. Dos 15 itens que compõem o fator, seis apresentaram diferenças na direção prevista, isto é, foram mais aceitos pelos indivíduos cujo nível de tipificação sexual era mais baixo, sobretudo aqueles que tinham um caráter bastante extremo, na sua reprovação da homossexualidade. Os outros itens, que apresentam diferenças, sempre na direção prevista, afirmam o direito dos homossexuais de serem como são e a homossexualidade como preferível à castidade. Nos demais, que abrangem a aceitabilidade da homossexualidade em homens e mulheres, das mudanças de sexo, do comportamento homossexual nos adolescentes e da atração por pessoas do mesmo sexo, as atitudes dos dois grupos não apresentaram diferenças significativas.

 

CONCLUSÃO

O tema dos estereótipos de gênero e das atitudes relacionadas à sexualidade está basicamente ligado à atribuição de papéis sexuais. A situação criada no início do século pelas duas guerras européias forçando as mulheres a enfrentarem novos papéis, substituindo os homens em diversos trabalhos, muitos dos quais nunca antes por elas realizados, poderia levar a mudanças nos estereótipos dos papéis femininos. Entretanto pesquisas realizadas na segunda parte do século e até bem recentes mostram a permanência do estereótipo feminino ligado à expressividade e o dos homens à instrumentalidade [Broverman,Vogel, Clarkson & Broverman, 1972; Tanizaki,1984 ;Raiser,1985 ; Glick & Fiske, 1995].

Entretanto, para os comportamentos que deveriam servir de base às crenças que formam os estereótipos, tem havido uma mudança em nível de atitude. O modo de vestir-se de homens e mulheres, a maneira de falar usando palavras de gíria e as escolhas profissionais outrora consideradas inadequadas são atualmente aceitas e até aprovadas. A independência no agir, sem considerar as opiniões familiares têm sido mais toleradas e até valorizadas, principalmente no caso das mulheres. O componente cognitivo dos estereótipos parece ser mais resistente à mudança que o componente afetivo que serve de base às atitudes. Mesmo os esforços das feministas embora tenham produzido efeitos legais nas oportunidades escolares e de trabalho nos casos de assédio sexual (D'Amorim, 1997) e de agressão contra as mulheres não conseguem eliminar o estereótipo de gênero que apresenta a mulher como um ser fraco necessitando de proteção. Este tipo de estereótipo está claramente presente na Escala de Sexismo Ambivalente de Glick & Fiske [1995] e os autores preparam um instrumento semelhante referente aos homens. Esta permanência do estereótipo de gênero, em suas características físicas, deve-se, em parte, à mídia, que valoriza a juventude e a beleza como características desejáveis nos homens porém essenciais nas mulheres. Do mesmo modo a inteligência, a persistência e a capacidade são indispensáveis ao homem e desejáveis na mulher que deve, de preferência, ser educada, culta e possuir aptidões artísticas. O comportamento sexual, embora aparentemente liberado, continua diferenciado. (D'Amorim & Gomide, 1986). Essas condições, presentes atualmente nos países ocidentais e rapidamente invadindo os orientais, levam a uma contradição entre os papéis de gênero desejados por homens e mulheres e aqueles que lhes são atribuídos, como bem mostra a pesquisa de Tamayo & Tamayo [1992].

 

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