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Temas em Psicologia
versão impressa ISSN 1413-389X
Temas psicol. v.15 n.1 Ribeirão Preto jun. 2007
ARTIGOS
O Projeto Pedagógico do curso de formação de professores de Psicologia do Instituto de Psicologia da USP
The Graduation Pedagogic Project for Psychology Professors of IPUSP
Marie Claire Sekkel; Adriana Marcondes Machado
Universidade de São Paulo
RESUMO
Esse texto relata o projeto político pedagógico para o curso de formação de professores de psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Neste projeto afirma-se a relação entre o Instituto e a necessidade de políticas de democratização do acesso à universidade pública por meio da melhoria da Educação Básica. Problematiza-se a seguinte questão: qual função social do professor e da disciplina de psicologia para estudantes no mundo contemporâneo? Para responder a esta pergunta torna-se importante a reflexão sobre os processos de individualização e culpabilização dos sujeitos por questões cuja origem é social. Acreditando na potência de ações educativas que abram brechas nos mecanismos de controle sociais, discute-se os temas considerados como importantes ferramentas no ensino de psicologia para estudantes da Educação Básica. O projeto apresenta os princípios gerais do curso de formação de professores de psicologia e aspectos gerais da estruturação curricular. O comprometimento do curso de formação de professores com a melhoria da escola pública é ressaltado nos princípios gerais, entendendo que os estágios e a produção de conhecimento devem servir para elaboração de projetos de intervenção efetivos tanto para a formação docente como para a melhoria da escola. Para isso é necessário instrumentalizar o futuro professor na reflexão e ação frente ao âmbito institucional e público da educação.
Palavras-chave: Projeto pedagógico, Formação, Professores, Psicologia, Escola pública.
ABSTRACT
This study presents the pedagogical and political project of the preparation course for psychology professors of the Psychology Institute of University of São Paulo. The project relates the Institute with the need for more democratic policies, which would enable the access to public universities through the improvement of Basic Education. It raises the following issue: what is the social role nowadays of the professor and of the psychology subject for the students? To answer this question it's important to think about the individualization and blaming processes originated in social problems. [Believing in the strengh of educational actions to improve burocratic issues, we discuss here some topics considered] important tools for preparing psychology students on Basic Education. This study presents general principles to prepare psychology professors and some general aspects of the school curriculum organization. The compromising of the preparation course to improve public education is emphasized on its general principles, considering that trainings and building knowledge process must lead to elaborate effective actions both for preparing faculty members and for improving the school itself. Toward that, it is necessary to provide tools to the future professors, so they can adequate reflections and actions when facing the institutional and public scope of education.
Keywords: Pedagogical Project, Academic Preparation, Professors, Pychology, Public School.
Este trabalho tem como objetivo apresentar o Projeto Político Pedagógico do Curso de Formação de Professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como uma contribuição para a reflexão atual em torno do tema. O Projeto foi concebido à luz do Programa de Formação de Professores da USP (PFPUSP), o qual foi elaborado por uma comissão integrada por representantes de todas as unidades que oferecem cursos de licenciatura na Universidade, levando em consideração as determinações das Resoluções CNE/CP 1/2002 e 2/2002. A partir do momento em que o PFPUSP foi finalizado, montou-se a Comissão Interunidades das Licenciaturas (CIL), visando a sua implementação. Esta articulação tem se mostrado muito importante, principalmente no fortalecimento e valorização das licenciaturas, expressão do compromisso da Universidade para a melhoria da Educação Básica.
No Instituto de Psicologia foi constituída uma Comissão Coordenadora de Curso (CoC), com representantes (titular e suplente) dos docentes de cada departamento, dos técnicos psicólogos, dos alunos de graduação e a secretária da comissão. O Projeto Pedagógico inicia apresentando todos que participaram de sua concepção. O entendimento sobre o respeito e explicitação das autorias é importante e coerente com concepção do Projeto. A introdução discute a função social da escola e do professor de psicologia frente às questões sociais de nossos dias, e propõe temas essenciais a serem oferecidos para os alunos da Educação Básica. A seguir apresentamos o texto da introdução:
O projeto de reformulação do curso de licenciatura decorre da necessidade de políticas de democratização do acesso à universidade pública por meio da melhoria da Educação Básica. Nessa nova proposta cada unidade da Universidade de São Paulo é responsável pela formação dos futuros professores da Educação Básica. O que cada unidade pode propor para todos e o que deve propor especificamente para a formação de professores de sua área? Quais os objetivos que professores, funcionários e alunos do Instituto de Psicologia estabelecem para a Formação de Professores de Psicologia?
Refletir sobre essas questões implica problematizarmos a função social do professor de psicologia para estudantes no mundo contemporâneo. Para quê deve servir essa disciplina?
A Educação Escolar tem a função de desenvolver e emancipar o cidadão. Ao defender essa função estamos afirmando que a apropriação do conhecimento se dá ao se fazer uma análise crítica do conhecido, isto é, ao entender o processo de produção das idéias e concepções estudadas. A análise crítica é, portanto, condição de emancipação, o que pressupõe a possibilidade de desconstrução dos saberes instituídos.
Como o Ensino de Psicologia pode contribuir para essas funções da Educação? A Psicologia se estabeleceu como área do conhecimento sobre o funcionamento do sujeito, que é produzido em uma realidade social na qual as subjetividades se engendram. As várias maneiras de viver, de ser e de pensar se constituem, se singularizam, em um plano de relações que deve estar em nosso foco. A dinâmica de produção, sempre histórica, dessas maneiras de ser e de pensar deve ser evidenciada para que possamos exercer uma postura crítica sobre a constituição de subjetividades. Portanto, defender a necessidade de se considerar o contexto, ou o plano de relações no qual os sujeitos são produzidos, implica investigarmos esse contexto, isto é, esse plano de práticas e de saberes.
Temos visto a crescente intensificação das patologias e dos funcionamentos subjetivos individualistas mantidos e reforçados pela mídia, pelo mercado e por diversas estruturas institucionais. Em um processo no qual se nega a construção social da realidade atribui-se ao indivíduo a responsabilização pela produção dos problemas sociais - o aluno passa a ser o culpado pelo seu fracasso escolar. Em se tratando do Brasil, falamos de uma sociedade em que a desigualdade na distribuição da renda produz muitas vidas cujos danos, para serem entendidos, pedem que nos debrucemos sobre os efeitos subjetivos da experiência da humilhação, do assistencialismo e do disciplinamento violento, revelando a estreita relação entre a produção do capital e a produção de subjetividade.
Mas, essa forma de controle sobre o social não é absoluto e, ao pensar na política de um projeto pedagógico, defendemos as ações educativas que abram brechas e possibilidades potencializadoras da diversidade humana e dos espaços coletivos e públicos. Se mecanismos psicológicos de controle foram desenvolvidos em um funcionamento social e se a convivência é mediada por nossa experiência subjetiva, defendemos a reflexão teórica desses mecanismos psicológicos de controle, do funcionamento social e das experiências subjetivas com vistas à crítica dessas produções.
Para isso consideramos que alguns temas são ferramentas de discussão importantes no Ensino de Psicologia para estudantes da Educação Básica, tais como, refletir sobre: a constituição do sujeito, os sistemas de produção e reprodução das violências, a função da mídia, o processo de trabalho, os processos inconscientes presentes nas relações de submissão e obediência, o uso indiscriminado e irrestrito de drogas e o envolvimento com os sistemas do tráfico e da violência.
Muitos professores de psicologia do Ensino Médio desenvolvem atividades que se confundem com a função de um orientador profissional, ou de alguém que reflete sobre a dinâmica de uma sala de aula. Por isso a necessidade de estabelecer as diferenças entre diversas funções, tais como, do psicólogo escolar, do psicólogo clínico e do professor de psicologia (Comissão Coordenadora de Curso de Licenciatura do IPUSP, 2008).
Ao psicólogo escolar cabe o trabalho de intervir no processo de produção das problemáticas do dia-a-dia escolar, relacionadas às questões do processo de subjetivação. Esta função necessita que o profissional possa estabelecer uma relação que permita que ele aja na dinâmica institucional.
Ao psicólogo clínico cabe a função de realizar as ações pertinentes à saúde, isto é, relacionadas a demandas que se estabelecem na fronteira entre educação e saúde. Este profissional não é um professor de psicologia.
Ao afirmar estas diferenças, estamos enfatizando a função de ser professor como aquele que irá mediar a aprendizagem de conteúdos conceituais importantes para a formação de um sujeito fazendo parte da equipe de professores de uma escola.
Em relação à formação do Professor de Psicologia, quais contribuições teóricas, técnicas e práticas a Psicologia pode oferecer? Consideramos que muitas dessas contribuições podem ser dispostas tanto para a formação de professores de psicologia como de outras áreas do conhecimento. Alguns conteúdos apresentam-se como fundamentais:
- a história da relação entre Psicologia e Educação - enfatizando as diferentes políticas e concepções sobre o funcionamento político, institucional e subjetivo que foram se estabelecendo entre estas dimensões do trabalho na e com a escola.
- o universo institucional propriamente dito - com vistas a discutir as dinâmicas grupais e institucionais na gênese dos processos de subjetivação, que são exercidos no cotidiano, buscando teorias que considerem as produções da cultura.
- os aspectos técnicos e teóricos da Psicologia do ponto de vista de seus fundamentos.
- as questões técnicas e teóricas inerentes ao universo escolar e à prática educativa.
- a constituição do sujeito em sua relação com o aprender
Com o objetivo de conceber o presente projeto, e em obediência às orientações da Pró-Reitoria de Graduação da USP, foi criada em 10/10/2005 a Comissão Coordenadora do Curso de Formação de Professores do IPUSP - CoC IP - com representantes de todos os departamentos, de técnicos e de alunos de graduação.
A estrutura curricular do Curso de Formação de Professores de Psicologia encontra-se em processo de elaboração e está sendo concebida à luz das orientações do Programa de Formação de Professores da Universidade de São Paulo, aprovado em 25.05.2004 pelo Conselho Universitário, em obediência à Resolução CNE/CP 1/2002, que instituiu as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores na Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura de graduação plena.
Fundamentos do Projeto Político Pedagógico O Profissional a Ser Formado:
O Curso de Formação de Professores de Psicologia deve dar condições para a formação de um profissional que:
- Atue com competência, responsabilidade e ética, de acordo com as características sociais da comunidade.
- Reflita criticamente sobre as várias formas de pensar e ensinar Psicologia.
- Compreenda sua atividade como campo permanente de pesquisa e produção de conhecimento, tomando iniciativas para a atualização constante, sempre com a flexibilidade e a eficácia requeridas pela natureza dos saberes psicológicos e pedagógicos, como também requeridas pelas características do contexto sócio-cultural e do mercado de trabalho.
- Tenha condições de orientar sua prática de acordo com referenciais teóricos consistentes e de repensá-los a partir de sua experiência.
- Estabeleça e mantenha o diálogo interdisciplinar.
- Seja capaz de identificar os diversos pressupostos epistemológicos das diversas orientações teóricas e das técnicas daí decorrentes em psicologia.
- Compreenda os processos de ensino e aprendizagem e reelabore os saberes e as atividades de ensino considerando a realidade social, os objetivos da Educação Básica, o cotidiano escolar e as experiências dos alunos.
- Investigue o contexto educativo em sua complexidade e tome sua prática profissional, bem como as práticas escolares, como objeto de reflexão, buscando soluções para os desafios específicos que enfrenta e dando continuidade ao seu processo de formação.
Áreas de atuação:
- O curso pretende formar profissionais preparados para atuar em diferentes atividades que envolvam a interface entre a Psicologia e a Educação:
- professor de Psicologia na Educação Básica e cursos profissionalizantes;
- educador em projetos sociais, em universidades e em outras instituições (Comissão Coordenadora de Curso de Licenciatura do IPUSP, 2008).
O lugar do professor de Psicologia no Ensino Médio encontra-se no centro de debates atuais. Cabe retomar brevemente a trajetória desta disciplina nos últimos anos, de modo a contextualizar a discussão. Desde a década de 80, com a abertura política após 20 anos de ditadura militar as disciplinas da área de humanas - Filosofia, Psicologia e Sociologia - foram introduzidas nos currículos, substituindo a disciplina Organização Social e Política Brasileira, que havia sido obrigatória nas escolas do então segundo grau durante o período da ditadura (Souza, 2007). A inclusão destas disciplinas teve objetivos políticos relacionados à formação crítica dos jovens. Porém, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei n. 9.394, 1996), estas disciplinas foram retiradas do Núcleo Comum das Disciplinas, sob a alegação de que não havia docentes em número suficiente para ministrá-las. Além disso, a LDB (Lei n. 9.394, 1996) extingue os cursos de magistério e propõe a criação do curso normal superior para a formação dos professores da educação infantil e ensino fundamental. Como um agravante diante deste quadro: em 21 de dezembro de 2007 é publicada, no Diário Oficial do Estado de São Paulo, a Resolução SE - 92 que estabelece diretrizes para a organização curricular do Ensino Fundamental e Médio nas escolas estaduais, que retira a disciplina de psicologia (assim como sociologia) do Ensino Médio no Estado de São Paulo.
A área da Filosofia e da Sociologia se organizaram nas suas reivindicações logo após a promulgação da LDB (Lei n. 9.394, 1996), mas a Psicologia só recentemente tem fortalecido a sua mobilização. Diante deste quadro, o lugar da Psicologia no Ensino Médio está em questão e o momento convida à reflexão e participação nesse debate.
Princípios gerais da estruturação do Curso de Formação de Professores de Psicologia:
a. O curso de licenciatura deve estar comprometido prioritariamente com a melhoria da escola pública e, para isso, é fundamental conhecer as funções dessa instituição na história do Brasil e os desafios atuais para a melhoria do ensino.
b. A formação de professores da Educação Básica deve considerar a complexidade do contexto social e institucional no qual ela se realiza. A Psicologia contribuiu, historicamente, para uma visão a-histórica e individualizada das relações de ensino e de aprendizagem. Nesse sentido, deverá ser enfatizada a função crítica do trabalho docente.
c. Pesquisar, propor e fortalecer a presença dos conteúdos desenvolvidos pela Psicologia, como disciplina obrigatória na Educação Básica, tendo em vista a importância que esses conteúdos têm para o desenvolvimento do indivíduo em uma sociedade humana.
d. Considerar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão que deve estar presente no processo de formação e a imprescindível articulação entre teoria e prática, tornando necessária a integração entre as disciplinas. Deve ser dada uma especial atenção aos estágios como oportunidade de conhecer os espaços escolares e de elaboração de projetos de intervenção efetivos tanto para a formação docente como para a melhoria da escola.
e. Compreender a escola como um ambiente de relações que deve se constituir em um coletivo que funcione de forma articulada, participativa e democrática. O professor deverá ter instrumentos para exercer função interventiva no âmbito institucional e público.
f. Considerar com prioridade os princípios da educação inclusiva e garantir que estes estejam representados nos conteúdos das disciplinas e estágios supervisionados, bem como em todas as ações educativas.
g. Considerar a centralidade da discussão e a valorização do Curso de Formação de Professores de Psicologia no âmbito do Instituto de Psicologia, bem como em outros espaços institucionais.
h. A estrutura curricular deve ser flexível, de modo a possibilitar aos alunos do Curso e Formação de Professores a escolha de diferentes caminhos. O Instituto de Psicologia divulgará a esses alunos as disciplinas oferecidas por outras unidades e disponibilizará vagas em disciplinas para alunos de outras unidades. Tendo em vista a experiência do Instituto de Psicologia com estágios supervisionados, algumas disciplinas com vagas para alunos de outras unidades contemplarão também oportunidades de estágio supervisionado.
i. Reconhecer, criticamente, a diversidade teórico-prática da Psicologia, a fim de compreender os alcances e limites das diferentes abordagens e sua inserção no campo educacional.
j. O Curso de Formação de Professores de Psicologia deve constituir-se em objeto de pesquisa permanente. O acompanhamento e avaliação dos projetos de intervenção, do projeto pedagógico e dos profissionais formados darão elementos para que o curso efetivamente cumpra seu projeto político pedagógico. Serão realizadas avaliações que darão subsídios para a continuidade de sua implementação e desenvolvimento em direção aos objetivos propostos.
k. Os conteúdos abordados nas disciplinas do Curso de Formação de Professores de Psicologia deverão refletir os objetivos e prioridades destacadas neste projeto.
Estruturação Curricular
Aspectos gerais
A opção pelo Curso de Formação de Professores de Psicologia do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo poderá ser feita por todos os alunos que ingressarem no Curso de Graduação de Psicologia pelo vestibular, a partir de 2006. A partir do primeiro semestre do Curso de Graduação de Psicologia o aluno poderá fazer a opção pelo Curso de Formação de Professores de Psicologia, podendo cursá-los concomitantemente. Caso o aluno não queira optar pelo Curso de Formação de Professores de Psicologia ao ingressar no Curso de Graduação de Psicologia poderá fazê-lo nos semestres subseqüentes, até o tempo máximo permitido para a conclusão do Curso de Graduação.
A Resolução CNE/CP 2/2002 estabelece que os cursos de licenciatura, de graduação plena, devem constar de pelo menos 2800 horas a serem cursadas ao longo de, no mínimo, três anos. Devem também garantir em seus projetos pedagógicos quatro componentes comuns:
1. prática como componente curricular, com duração mínima de 400 horas;
2. estágio curricular supervisionado, com duração mínima de 400 horas;
3. conteúdos curriculares de natureza científico cultural, com duração mínima de 1800 horas;
4. atividades acadêmico- científico-culturais, com duração mínima de 200 horas.
O Programa de Formação de Professores da USP propõe uma estrutura curricular mínima organizada em quatro blocos de disciplinas e atividades (Tabela 1), que devem se articular com os componentes comuns previstos na legislação.
As disciplinas da estrutura curricular do Curso de Formação de Professores serão obrigatórias e optativas eletivas, organizadas em diferentes programas. O aluno poderá cursar disciplinas relacionadas aos Blocos II, III e IV oferecidas em outras unidades (Comissão Coordenadora de Curso de Licenciatura do IPUSP, 2008).
A estrutura curricular prevê a articulação entre o Instituto de Psicologia e a Faculdade de Educação. Como o início do Curso está previsto para 2008, a forma como estas articulações vão se dar ainda está em aberto. O mais importante, neste momento, é a abertura para o diálogo. Várias disciplinas da grade de formação do psicólogo integram o curso de formação de professores, ao lado de outras, concebidas especialmente para o Curso de Formação de Professores. O processo de discussão entre os professores do Instituto de Psicologia possibilitou que se afirmasse a necessidade de disciplinas que discutissem o projeto pedagógico e político do ensino de psicologia, produzissem reflexões sobre o dia-a-dia da instituição escolar e da função do professor de psicologia, aprofundassem temas relacionados ao processo de ensino-aprendizagem (a relação professor-aluno e estudos sobre a motivação) e, pensando na construção de um curso que visa afetar a formação de professores em geral, foram propostas disciplinas cujos temas já atravessam o currículo de Psicologia, mas que serão oferecidas ressaltando as especificidades do ser professor (educação inclusiva e a questão da produção do fracasso escolar).
Cabe ressaltar que um dos pontos de maior ênfase no Programa de Formação de Professores da USP é a qualidade dos estágios, que deverão ser acompanhados e supervisionados por educadores vinculados aos docentes das disciplinas. Está previsto que os educadores-supervisores mantenham diálogo também com as escolas em que os licenciandos irão estagiar, e que seja assumido compromisso entre a escola e a Universidade. Estes educadores deverão ter a formação de licenciados em psicologia, com experiência na área de educação. A função deles será a de criar um sentido de ação para os estágios. Como realizar estágios que possibilitem que os alunos aprendam e interfiram naquilo que aprendem? O licenciando entrará em contato com um funcionamento institucional, com concepções de educação, com mitos sobre as doenças atuais (transtornos, dislexias, hiperatividades), com diferentes maneiras de dar aula, etc., e terá que refletir sobre aquilo que apreendeu nesta relação com os profissionais da escola. Para que isto ocorra, é necessário que as reuniões de supervisão sejam realizadas com grupos pequenos (até dez alunos) e que se estabeleça uma relação de discussão dos objetivos do estágio com os profissionais da escola.
O processo de implementação provavelmente trará muitas mudanças ao projeto. Um ponto essencial, no entanto, é que o curso seja objeto de pesquisa permanente, com acompanhamento dos alunos egressos, avaliação dos estágios (considerando os benefícios para os alunos e para a escola), e a reflexão e documentação dos processos vividos. Desta forma, acreditamos na possibilidade de contribuir para a melhoria do ensino na educação básica e superior.
Referências
Comissão Coordenadora de Curso de Licenciatura do IPUSP (2008). Projeto Político Pedagógico do Curso de Formação de Professores de Psicologia. Documento não publicado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. [ Links ]
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, seção 1. [ Links ]
Resolução CNE/CP 1/2001 (2001, 27 de fevereiro). Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. [ Links ]
Resolução CNE/CP 2/2002 (2002, 19 de fevereiro). Lei de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. [ Links ]
Resolução SE - 92 (2007, 21 de dezembro). Diário Oficial do Estado de São Paulo. [ Links ]
Souza, M. P. R. (2007). A psicologia escolar e o ensino de psicologia: dilemas e perspectivas. ETD - Educação Temática Digital, 8(2), 258-265. [ Links ]
Enviado em Dezembro/2007
Revisado em Junho/2008
Aceite final em Agosto/2008
Publicado em Junho/2009