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Temas em Psicologia
versão impressa ISSN 1413-389X
Temas psicol. vol.22 no.4 Ribeirão Preto dez. 2014
https://doi.org/10.9788/TP2014.4-10
ARTIGOS
Contribuições de pesquisas brasileiras sobre o Amor e Relacionamentos Amorosos
Contributions of research on brazilian about Love and Loving Relationships
Contribuciones de las investigaciones brasileñas sobre el Amor y las Relaciones Amorosas
Adriano SchlösserI; Brigido Vizeu CamargoII
IPrograma de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
IIDepartamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
RESUMO
Desde as obras de Freud intituladas "Contribuições à psicologia do amor", a psicologia vem construindo um vasto campo de conhecimento acerca do amor e sobre relacionamentos amorosos. O presente estudo objetivou identificar, por meio de uma revisão sistemática de literatura, os estudos realizados entre os anos de 2002 a 2012 no Brasil, cuja temática se voltasse a relacionamentos amorosos e/ou amor, utilizando-se como palavras-chave os descritores "relacionamentos amorosos" e "amor". Foram consultados os artigos indexados nas bases de dados SciELO, LILACS e PePSIC. Encontraram-se 114 artigos, excluindo-se repetições, publicações estrangeiras ou que não tivessem relação direta com o fenômeno em questão. Os trabalhos nacionais foram classificados de acordo com a temática de estudo e o método utilizado nas suas respectivas publicações. Na categoria temática, os principais temas abordados são: saúde, sexualidade, adolescência, violência, tecnologia, ciúme e psicometria. Na categoria metodológica, foram divididos em: estudos empíricos, estudos teóricos, estudos psicométricos e estudos de caso. Os resultados apontaram um crescimento incipiente de publicações a partir de 2005, bem como uma riqueza de perspectivas teóricas, epistemológicas e metodológicas, o que permite a constatação da fertilidade da temática e sua aplicação em diferentes naturezas, o que não exclui as divergências teóricas que elas mobilizam. Contudo, também se constatou a carência de estudos nacionais, principalmente estudos empíricos de cunho quantitativo e experimental, com predominância em estudos teóricos e da abordagem psicanalítica, e discussões voltadas sobre as relações amorosas na contemporaneidade, em diferentes etapas do ciclo vital.
Palavras-chave: Amor, atração interpessoal, revisão.
ABSTRACT
Since the works of Freud entitled "Contributions to the psychology of love", initiated in 1910, psychology has built a vast field of knowledge about love and love relationships. This study aimed to identify, through a systematic literature review, studies conducted between the years 2002 to 2012 in Brazil, whose theme is back to loving relationships and/or love, using as keywords "loving relationships" and "love". Articles have been consulted in SciELO databases, LILACS and PePSIC. About 114 articles were found, excluding repetitions, or foreign publications that do not have direct relationship with the phenomenon in question. The Brazilian studies were classified according to the subject of study and the method used in their respective publications. In thematic category, the main themes are: health, sexuality, adolescence, violence, technology, jealousy and psychometrics. In methodological category, were divided into empirical, theoretical, psychometric studies and case studies. The results showed incipient growth of publications since 2005, as well as a wealth of theoretical perspectives, epistemological and methodological, which allows the realization of the theme of fertility and its application in different natures, which does not exclude the theoretical divergences they mobilize. However it also noted the lack of Brazilian studies, especially empirical studies of a quantitative and experimental, and the predominance of theoretical studies of psychoanalytic approach, with discussions focused on love relationships in contemporary times, in different stages of the life cycle.
Keywords: Love, interpersonal attraction, review.
RESUMEN
Desde las obras de Freud titulado "Contribuciones a la psicología del amor", la psicología ha construido un vasto campo de conocimiento sobre el amor y las relaciones amorosas. Este estudio tuvo como objetivo identificar, a través de una revisión sistemática de la literatura, los estudios llevados a cabo entre los años 2002 y 2012, a Brasil, cuyo tema sea las relaciones amorosas y el amor. Se consultó a los artículos indexados en las bases de datos SciELO, LILAS y PePSIC. Hemos encontrado 114 artículos, con exclusión de repeticiones o publicaciones extranjeras que no tengan relación directa con el fenómeno en cuestión. Los estudios nacionales se clasificaron de acuerdo con el tema de estudio y el método utilizado en sus respectivas publicaciones. En la categoría temática, los temas principales son: salud; sexualidad; adolescencia; violencia; tecnología; celos y psicometría. En la categoría metodológica, se dividieron en empíricos, estudios psicométricos, teóricos y casos clínicos. Los resultados mostraron un crecimiento incipiente de publicaciones desde el año 2005, así como una gran variedad de perspectivas teóricas, epistemológicas y metodológicas, que permite la verificación de la fertilidad del tema y su aplicación en diferentes naturalezas, que no excluye las divergencias teóricas que movilizan. Sin embargo, también señaló la falta de estudios empíricos nacionales, sobre todo de un enfoque cuantitativo y experimental. Hay predominancia en los estudios teóricos y psicoanalíticos, con las discusiones que se centraron en las relaciones de amor en los tiempos contemporáneos, en las diferentes etapas del ciclo de vida.
Palabras clave: Amor, atracción interpersonal, revisión.
Desde a Idade Antiga, o fenômeno do amor tem sido alvo de interesse e debate dos mais diversos campos de saber, desde o campo filosófico (May, 2012), até a contemporaneidade, mantendo sua vitalidade e importância na vida das pessoas. Neste trajeto, o tema também passou a fazer parte do campo da ciência, após um período de debates e amadurecimento do seu saber.
No campo do conhecimento psicológico, Sigmund Freud foi pioneiro na introdução do amor para a psicologia. Para o criador da psicanálise, o amor se revela quando um indivíduo deseja - ou procura - dar e receber prazer e/ou satisfações a uma outra pessoa, tais como: proteção, admiração, etc. (Doron & Parot, 1991). Em seus textos intitulados "Contribuições à Psicologia do Amor" (1910/1970, 1912/1970, 1918/1970), Freud atribui ao amor a fonte de importantes vínculos interpessoais, mesmo permeado por dificuldades, sendo que a eleição do objeto de apaixonamento ocorre de forma repetitiva, o que traz à tona a uma perspectiva de determinação inconsciente (Ferrari, 2009).
Nesta perspectiva, o contexto da psicologia enquanto campo científico fez florescer inúmeros estudos e teorias que abarcam a temática do amor, bem como pesquisas em um dos relacionamentos interpessoais no qual o amor mais se enfoca: os relacionamentos amorosos. Os estudos sobre o amor e relacionamentos amorosos passaram a fazer parte do âmbito do campo teórico denominado atração interpessoal (Alferes, 2004), a partir da década de 60, sendo visto atualmente como fundamental para um relacionamento amoroso de sucesso (Matos, Féres-Carneiro, & Jablonski, 2005; Sternberg & Barnes, 1985).
O conceito relativo ao amor, dentro da perspectiva psicológica, é compreendido como um sentimento multidimensional, estrutural e dinâmico (Cassepp-Borges & Teodoro, 2009; Engel, Olson, & Patrick, 2002), e não apenas um conceito filosófico ou metafísico, gerando assim um tema de constante interesse para pesquisadores tanto da ciência psicológica quanto de outras ciências sociais (de Almeida, 2012; Cassepp-Borges & Teodoro, 2007; Hendrick & Hendrick, 2006; Mosmann, Wagner, & Féres-Carneiro, 2006; Sternberg & Weis, 2006; Wachelke, de Andrade, Souza, & Cruz, 2007). A psicologia do amor é uma ciência que abarca diversas explicações e constructos teóricos - tais como literatura, filosofia, antropologia e a psicologia, tratando de temáticas que envolvem a gênese, manutenção e término das relações amorosas. As diversas teorias que compõem o universo da psicologia propõem olhares diferenciados sobre o amor.
Do ponto de vista da psicologia clínica, o amor pode estar associado a noções de sexualidade sublimada (Freud, 1973), cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento (Fromm, 1956; Schlösser, Dalfovo, & Delvan, 2012) bem como gratificação de necessidades (Maslow, 1974). Pela perspectiva evolucionista, o amor é concebido como uma consequência de necessidades instintivas sexuais, receber e oferecer proteção e instrumento cognitivo de reprodução (Buss, 2006; Wilson, 1981), enquanto que o behaviorismo compreende o amor como um reforçamento mútuo de comportamentos (Skinner, 1991), posicionamento confirmado atualmente pelos estudos de neuroimagem, que observam que, quando se mostrava a foto da pessoa amada, o sistema de recompensas era o que possuía maior ativação cerebral (Aron et al., 2005). Já a psicometria busca enfocar o caráter estrutural do amor, analisando-o enquanto um conjunto de cognições, afetos, e motivações que necessitam de mensuração, atestanto assim uma objetividade ao fenômeno (de Andrade & Garcia, 2012; Rubin, 1970; Sternberg, 1986, 1989; Sternberg & Grajek, 1984).
Para explicar as demandas e variáveis deste complexo fenômeno, a partir da década de 70 desenvolveram-se diversos modelos teóricos sobre o amor no campo científico, bem como instrumentos psicométricos com a finalidade de dar suporte empírico. Ressalta-se aqui a produção de Zick Rubin (1970), precursor da construção de teorias sobre o amor e primeiro teórico ao abordar o amor romântico no campo da psicologia social.
Os principais modelos teóricos sobre o amor na contemporaneidade são: teoria triangular do amor, proposto por Sternberg (1986, 1989, 2000), teoria tipológica do Amor, de Alan John Lee (1977), teoria do apego e o amor romântico (Hazan & Shaver, 1987), teoria dualista do amor (Berscheid, 2006; Berscheid & Hatfield, 1969), bem como as teorias de abordagem biológico-evolutivas (Buss, 2006; Kenrick, 2006).
A teoria tipológica do amor, também conhecida por "As Cores do Amor", foi desenvolvida por Lee (1973, 1977), propondo uma taxonomia para o amor romântico (de Andrade & Garcia, 2009). Vale ressaltar o que propõe de Andrade, Sánchez-Aragón e Wachelke (2007, p. 91) em que os estilos de amor são compreendidos fundamentalmente como "... o componente cognitivo individual do fenômeno amoroso". Segundo o autor, assim como existem cores primárias que originam cores secundárias, o amor também possui estilos primários que, quando combinados, podem originar outros estilos de amor (Lee, 1973).
Posteriormente, Hendrick e Hendrick (2006; Hendrick, Hendrick, & Dicke, 1988), baseados na teoria de Lee, desenvolvem a Escala de Estilos de Amor (Love Styles Scale). Alguns estudos foram realizados em diferentes contextos, obtendo resultados parecidos aos de Hendrick e Hendrick (2006; Kanemasa, Taniguchi, & Daibo, 2004; Sánchez-Aragón, 2005), podendo-se inferir na universalidade dos aspectos pontuados na escala.
Outra teoria bastante citada no corpo científico sobre a temática é a Teoria Triangular do Amor, proposta por Sternberg (1986, 1989). Segundo Sternberg e Grajek (1984), o amor é uma das mais intensas e desejáveis emoções humanas, e implica numa combinação de três componentes fundamentais, também chamados de "triângulo do amor", interdependentes entre si: intimidade, paixão e compromisso (Sternberg, 1986), sendo que podem alterar, de acordo com o momento histórico, espaço geográfico e espaço cultural (Cooper & Pinto, 2008).
No Brasil, um dos estudos pioneiros sobre relacionamentos amorosos foi o de B. F. Reis (1992), no qual realizou uma revisão de literatura acerca de diversas teorias sobre o amor, bem como a dissertação de mestrado de Bystronski (1992) sobre as consequências da liberação dos costumes sobre os relacionamentos amorosos. Ambos autores fazem uso da definição de Rubin (1970 a.
Os estudos sobre relacionamentos amorosos em pesquisas brasileiras têm sido diversificados. No campo da psicometria, instrumentos de medidas de satisfação ou qualidade de relacionamentos românticos foram desenvolvidos, tais como: Escala de Satisfação Conjugal (ESC; M. F. Dela Coleta, 1989), objetivando avaliar a satisfação em áreas da vida conjugal; Escala Fatorial de Satisfação com Relacionamento de Casal (EFS-RC; Wachelke, de Andrade, Cruz, Faggiani, & Natividade, 2004; Wachelke et al., 2007), visando medir a satisfação do indivíduo com seu relacionamento romântico; e Escala de Avaliação de Qualidade em Relacionamentos Românticos (Aquarela-R; de Andrade & Garcia, 2012), também com o objetivo de avaliar a qualidade em relacionamentos românticos.
Além disso, estudos sobre propriedades psicométricas e de validação de escalas internacionais também são constatados no cenário nacional, como: estudos sobre a Escala Triangular do Amor de Sternberg - ETAS, inicialmente adaptada por Hernandez (1999) e posteriormente abreviada em uma versão reduzida - ETAS-R, por Gouveia, Fonseca, Cavalcanti, Diniz e Dória (2009; Cassepp-Borges & Pasquali, 2012; Cassepp-Borges & Teodoro, 2007, 2009; de Andrade, Garcia, & Cassepp-Borges, 2013; Mônego & Teodoro, 2011); validação da versão brasileira da Escala de Estilos de Amor - LAS (de Andrade & Garcia, 2009); adaptação da Escala Tetrangular do Amor (Gouveia, de Carvalho, Santos, & de Almeida, 2013; Gouveia et al., 2009); características psicométricas da Relationship Assessment Scale (ReLAS; Cassepp-Borges & Pasquali, 2011), dentre outros.
Outros estudos empíricos sobre algumas facetas do amor e relacionamentos amorosos foram evidenciados nacionalmente, destacando-se estudos de pesquisadores pioneiros no assunto, como Bystronski (1992, 1995), M. F. Dela Coleta (1989, 1990, 1991), e Hernandez (1999; Hernandez & Biasetto, 2003; Hernandez & Roveda, 1998). Atualmente, as pesquisas no Brasil também têm centrado suas atividades nos fatores de satisfação e insatisfação do relacionamento conjugal e fatores de ajustamento e desajustamento das relações (de Andrade, Garcia, & Cano, 2009; Wachelke et al., 2004), relações amorosas e dimensões tecnológicas (A. S. M. Dela Coleta, Dela Coleta, & Guimarães, 2008), relações amorosas e habilidades sociais (Villa, Del Prette, & Del Prette, 2007), a relação do amor com as teorias da psicologia social (de Andrade & Wachelke, 2011; Martins-Silva, Trindade, & Silva, 2013), dentre outras.
Objetiva-se aqui realizar uma revisão sistemática da produção científica nacional relacionada ao amor e relacionamentos amorosos. Tal esforço vem a contribuir com uma visualização de publicações do Brasil sobre esta temática, elencando temas e métodos utilizados, bem como indicar direcionamentos para pesquisas futuras neste campo teórico.
Método
A presente pesquisa documental, de cunho exploratório, realizou uma revisão sistemática da literatura sobre relacionamentos amorosos e amor, mediante a busca em bases de dados, utilizando como fontes de consultas as bases de dados nacionais ScELO, LILACS e PePSIC . Para tanto, foi utilizada uma busca com os descritores "relacionamentos amorosos" e "amor", restringindo os trabalhos voltados ao campo psicológico destes fenômenos. Em todas as bases de dados, foram registrados os artigos publicados entre 2002 a 2012.
Selecionaram-se estudos que adentravam na temática de amor e relacionamentos amorosos, com ligação direta ao campo da psicologia. Inicialmente, buscou-se visualizar os resumos das publicações, para um posterior acesso aos trabalhos completos, sendo os mesmos lidos e analisados de acordo com os critérios de inclusão/exclusão. Os artigos que apenas possuíam resumo como única forma de acesso também foram contabilizados, nos casos em que tivessem relação direta com o fenômeno de relacionamento amoroso.
Por critérios de inclusão, se incluiu apenas artigos indexados, publicados no país no idioma português, dentro do período já citado; e ainda pesquisas quantitativas, qualitativas, revisões de literatura e estudos clínicos. Os critérios de exclusão foram: artigos não indexados, teses, dissertações, resenhas, livros e capítulos de livros. A partir disto, a análise do material foi dividida em quatro fases, conforme ponderam Lakatos e Marconi (2003): (a) apreciação crítica do material; (b) decomposição dos elementos essenciais; (c) agrupamento e classificação; (d) análise final.
As Tabelas 1 e 2 apresentam, sequencialmente, as características das categorias temáticas e metodológicas utilizadas para a classificação dos estudos. As temáticas em relação ao amor e/ou relacionamento amoroso foram agrupadas e classificadas na Tabela 1, gerando 10 categorias, onde cada uma delas agrupa os estudos relacionados ao fenômeno em questão. Mediante este fato, uma produção poderia ser classificada em mais de um tema de investigação, de acordo com os temas abordados.
Já a Tabela 2 apresenta as definições das categorias metodológicas, evidenciadas no corpo dos artigos. A partir destas definições, a produção foi classificada em um único tema de investigação, a partir dos critérios estipulados.
Resultados
A partir da busca feita nas bases de dados utilizadas, foram encontrados 114 artigos, entre os anos 2002 a 2012. Pode ser visualizada, na Figura 1, a frequência na evolução de publicações científicas acerca de relacionamentos amorosos e/ou amor.
Em 2005, observou-se um aumento significativo de produções, distribuindo-se de forma equilibrada ao longo dos anos, chegando a 21 trabalhos no ano de 2010. A linha de crescimento nestas publicações indica uma maior preocupação e interesse de pesquisadores brasileiros sobre a temática, fortalecendo este campo do conhecimento psicológico através de novas contribuições científicas.
Este dado apresenta-se como altamente significativo, do ponto de vista do crescimento científico da psicologia do amor do país, considerando que a temática tem sido fundamentada predominantemente pelo conhecimento leigo, sem rigor teórico-metodológico. Este aumento de publicações pode estar associado a uma maior preocupação dos pesquisadores brasileiros com a temática das relações interpessoais - enfatizando aqui os relacionamentos amorosos - haja vista que são nelas que o ser humano experiência suas emoções e sentimentos mais fortes, tais como o amor.
No panorama nacional, o conhecimento científico sobre amor e relacionamentos românticos proporciona maior solidez empírica frente a fenômenos tão complexos que se relacionam a esta temática, como: satisfação e insatisfação conjugal; escolha de parceiros(as); estabelecimento, manutenção de término de relações românticas; componentes do amor; dentre outros. Ademais, na atual conjuntura de mudanças nas relações amorosas, com novas formas de disposições nos relacionamentos e em papeis sexuais, verifica-se a necessidade de compreender como isso repercute nas relações sociais, influenciando nas ligações afetivas entre pares.
O aumento nas produções também problematiza a necessidade de analisar os relacionamentos amorosos na contemporaneidade, considerando sua importância na felicidade, bem estar e na qualidade de vida da população. Sabe-se que ocorreram modificações nos conceitos relativos ao amor ao longo do tempo (Alferes, 2004; Engel et al., 2002), e o aprimoramento teórico e pesquisa contínua deste fenômeno e construtos relacionados tende a ganhar cada vez mais enfoque, frente às modificações que ocorrem no cenário social. A Tabela 3 apresenta os resultados da quantidade de produções, divididas nas categorias metodológicas e temas de investigação.
Conforme se observa na Tabela 3, houve maior predominância de palavras ligadas ao tema "Relacionamento conjugal" (26,3% de palavras-chave), sendo que se acoplou nesta categoria produções científicas que retratassem diferentes formas de relacionamentos amorosos. Exemplos desta categoria seriam os estudos de Mosmann, Lomando e Wagner (2010) sobre coesão e adaptabilidade conjugal em homens e mulheres hetero e homossexuais; e o de Duarte e Rocha-Coutinho (2011) sobre o "namorido" como uma nova forma de relacionamento conjugal. Scorsolini-Comin e Santos (2010) fizeram uma importante revisão integrativa da literatura científica nacional acerca da satisfação conjugal, verificando a associação deste construto com a saúde e qualidade de vida. Também se incluiu estudos de diferentes etapas dos relacionamentos, desde a seleção de parceiros (Gianfaldoni et al., 2009) até o término de relacionamentos (Marcondes, Trierweiler, & Cruz, 2006). Ressalta-se que, nesta categoria, a maior parte dos trabalhos foram de natureza empírica.
Em sequência, a temática "Psicanálise" foi a segunda categoria com maior frequência (20,1% das palavras), incluindo nela os artigos que fizeram uso das teorias psicanalíticas para explicar temas pertinentes ao amor e/ou relacionamentos amorosos, sob diferentes perspectivas. De modo geral, a predominância de artigos desta categoria foram estudos teóricos não sistemáticos (Bressaneli & Teixeira, 2012; Ferrari, 2009; Schlösser et al., 2012).
A "Adolescência" e "Saúde" ocupam simultaneamente a terceira posição, com 15% cada um. Enquanto os estudos foram classificados na temática adolescência trouxeram temáticas sobre relacionamentos amorosos e/ou amor na perspectiva do adolescente ou jovem, enfocando suas formas de se relacionarem amorosamente ou seus modos de compreensão frente a este fenômeno (de Araújo, 2012; Camargo, Giacomozzi, Wachelke, & de Aguiar, 2010; Chaves, 2010; Costa & Fernandes, 2012), os estudos que adentraram na temática saúde enfocaram sobre a influência ou relação dos relacionamentos amorosos na saúde, trazendo entre seus estudos temas sobre AIDS (Manuel, 2009; R. K. Reis & Gir, 2010), amor patológico (Sophia, Tavares, & Ziberman, 2007; Vendrame et al., 2012) ou depressão (Guede, Monteiro-Leitner, & Machado, 2008).
Estudos nos quais a temática "Violência" se fez presente ocupou 7,9% do total das publicações, com temática acerca da relação entre amor e violência, violência física e psicológica praticadas no contexto de relacionamentos amorosos, bem como violência de gênero em relacionamentos íntimos (Dias & Machado, 2011; Levy & Gomes, 2008; Moura, Lefevre, & Moura, 2012). Por sua vez, estudos cujas palavras-chave adentraram na categoria "Ciúme" computaram 5,2%, das publicações, com estudos sobre a relação entre o amor e o ciúme (Baroncelli, 2011), ciúme e infidelidade (de Almeida, 2012), ciúme romântico e violência (Centeville & de Almeida, 2007), dentre outros.
Ainda, 5,2% dos artigos foram classificados na categoria "Tecnologia", sendo esta composta em sua maioria por estudos empíricos que trazem correlações entre os relacionamentos amorosos contemporâneos na realidade tecnológica. Como exemplos, apresentam-se os estudos de Donnamaria e Terzis (2009) sobre a busca de parceiro e a evolução de vínculos amorosos na Internet; Bezerra e Justo (2010) que realizaram uma análise de consultas apresentadas em sites de agenciamento amoroso; e A. S. M. Dela Coleta et al. (2008), sobre a possibilidade do relacionamento amoroso via internet.
Também se formou uma categoria com publicações voltadas ao campo psicométrico em território nacional, com validação de escalas e construção de instrumentos de mensuração de relacionamentos amorosos, tais como um estudo nacional dos atributos psicométricos da Escala Triangular do Amor de Sternberg (Cassepp-Borges & Pasquali, 2012); o desenvolvimento de uma medida multidimensional para avaliação de qualidade em relacionamentos românticos - Aquarela-R (de Andrade & Garcia, 2012) e validação de escalas para avaliação do amor patológico (Berti et al., 2011). Por fim, outras temáticas foram categorizadas, contudo, pela baixa pela baixa frequência e impossibilidade de categorizar em quadros temáticos, criouse a categoria "Outros", computando 9,6% de artigos. Exemplos dessa temática são: relação entre amor e dinheiro (Russo, 2011); concepções sobre relações amorosas através de provérbios (Menandro, Rolke, & Bertollo, 2005); ou estudo com crianças sobre a importância do amor no contexto da moralidade (Alves, Alencar, & Ortega, 2012).
Discussão
Conforme se observou nos resultados, estudos na área da psicanálise e sexualidade abarcaram grande parte das produções científicas do país. Este dado não apresenta surpresas, uma vez que a psicanálise, com seu viés clínico, apresentou as primeiras teorias psicológicas sobre o amor, com os trabalhos de Freud (1910/1970, 1912/1970, 1918/1970), que analisa a gênese do sentimento de amor em sua relação com um objeto externo, no qual o amor forma-se pelo desejo libidinal; Reik (1944), que compreende o amor como algo diferente do desejo, expressando-se como um interesse apaixonado por uma outra personalidade, enquanto o desejo manifesta-se pelo interesse por um corpo enquanto objeto; e Erich Fromm (1956), que fundamenta o amor como uma arte, como uma atitude perante a vida.
As temáticas envolvendo o relacionamento conjugal também apresentaram grande incidência, uma vez que tal relacionamento perpassa diretamente o fenômeno do amor. De diferentes metodologias e perspectivas epistemológicas, os estudos nesta ênfase tentaram trazer respostas - e abrindo novos questionamentos - sobre o estabelecimento, manutenção, qualidade, satisfação e término de relacionamentos, sendo este um dos pontos cruciais nos estudos deste campo.
Os estudos cujo público alvo foi a adolescência e juventude também se destacam, bem como sua relação com estudos sobre saúde e violência. As formas de relacionamentos amorosos atualmente têm cada vez mais se vinculado ao campo da sexualidade, o que pode, quando não devidamente trabalhado, pode causar sérias consequências, tais como DST's e gravidez indesejada. Buscar estratégicas efetivas de acesso à juventude é tarefa singular para o cuidado em saúde, bem como uma forma de conhecer as mudanças de valores e crenças, adaptar-se a elas, sem perder de vista a valorização do indivíduo e do cuidado consigo e com seu bem estar - tanto físico quanto psíquico.
A tecnologia também merece destaque enquanto nova forma de agenciamento amoroso na contemporaneidade. Tendo em vista que a internet tem revolucionado os meios de comunicação clássicos, influenciando diretamente nas relações interpessoais, os relacionamentos amorosos também têm sido alvo.
Sites de relacionamentos, chats de namoro e encontros virtuais são algumas das estratégias atuais no estabelecimento de novas relações amorosas, e a difusão da auto-imagem (nem sempre condizente com a realidade), permite, em muitos casos, maior interação dos indivíduos no ambiente virtual do que no não-virtual. Num estudo realizado por Markey e Welles (2002) estes chegaram a conclusão de que, num contexto experimental, indivíduos considerados introvertidos tendiam a ser moderadamente extrovertidos no espaço virtual, e indivíduos moderadamente extrovertidos tendiam aumentar seu nível de extroversão. Estes dados apontam também para a necessidade de maiores investigações, uma vez que tal ênfase tem despontado como um dos cenários de maior vinculação afetivo-sexual entre os jovens.
Além disso, no campo de produções acadêmicas, entre 2000 e 2010, além das publicações científicas em formato de artigos, livros de natureza científica que abordavam esta temática também se destacaram no território nacional, com ênfases em diversas correntes teóricas do campo psicológico, tais como as obras internacionais de David Buss (2000) em seu livro "Os Perigos da Paixão: Por que o Ciúme é tão Necessário quanto o Amor e o Sexo", e os de Helen Fisher, dentre eles: "Por que Amamos? A Natureza e a Química do Amor Romântico" (2006) e "Por Que Ele? Por Que Ela?" (2010). Em 2001, o pesquisador brasileiro Ailton Amélio Silva também publicou sua obra apresentando diversos dados científicos sobre o amor, em seu livro "O Mapa do Amor". Em 2009, ocorreu em Vitória o I Congresso Brasileiro de Pesquisa do Relacionamento Interpessoal, tendo sua segunda edição ocorrida em 2011 e a terceira em 2013, proporcionando maior contato de estudantes ou pesquisadores com este tema.
Os resultados apresentaram também uma riqueza de perspectivas teóricas, metodologias utilizadas e fenômenos específicos dentro do campo de relacionamentos amorosos. Este dado corrobora com os apontamentos de Sternberg e Weiss (2006) ao afirmarem que uma única perspectiva teórica sobre o amor não seria capaz de abarcar todo o entendimento deste complexo fenômeno, sendo necessário portanto construir modelos que envolvem variáveis múltiplas (psicológicas, sociais, culturais e ambientais), justificando assim o grande número de pesquisas e teorias sobre o assunto.
Considerações Finais
Tendo em vista que o fenômeno do amor - abarcando consigo os relacionamentos amorosos-desponta como um dos elementos centrais da cultura humana, inclusive do ciclo vital de nossa espécie, a compreensão deste complexo e multifacetado fenômeno desponta como de suma importância nos estudos e produções científicas, trazendo novas análises e perspectivas sobre o sucesso e fracasso nos relacionamentos.
Campo teórico já bastante expressivo nos Estados Unidos (Graham & Christiansen, 2009), observou-se que ainda se encontra em consolidação no cenário nacional, com relativa expressividade a partir da primeira década do século XXI (de Andrade & Wachelke, 2011), mas ainda mantendo um padrão relativamente pouco produtivo nesta temática. Mesmo que em crescente expansão, notou-se a carência de estudos no Brasil, principalmente estudos empíricos de cunho quantitativo e experimental - bastante presentes na literatura internacional. Contudo, apresenta diferentes modelos teóricos, epistemológicos e metodológicos, o que permite a constatação da fertilidade da temática e sua aplicação em diferentes naturezas, o que não exclui as divergências teóricas que elas mobilizam.
Nesta perspectiva, uma das sustentações que podem ser verificadas neste estudo é que, atualmente, não é possível um modelo comum de estudo sobre o fenômeno do amor. Ora complementares, ora divergentes, o grande número de teorias e pesquisas oferecem diferentes horizontes e explicações sobre o tema, o que também permite avaliá-la como um campo do conhecimento recente e em contínua construção. Esta construção faz-se de suma importância, uma vez que, mesmo bastante pesquisada internacionalmente e com desenvolvimento ainda incipiente no Brasil, ainda traz lacunas que necessitam de maiores sustentações e fundamentos teórico-metodológicos.
As principais teorias psicológicas sobre o amor não foram evidenciadas como substratos teóricos para fundamentar a temática do amor e relacionamentos amorosos em grande parte dos artigos nacionais, mas utiliza-se com maior frequência textos teóricos e/ou de cunho psicanalítico. Estas temáticas, mesmo possibilitando aportes teóricos importantes - e muitas vezes clássicos - nas discussões, trazem em muitos casos discussões mais sociológicas e/ou antropológicas frente ao fenômeno das relações amorosas, o que fragiliza a dimensão cognitiva, influenciando negativamente o fortalecimento de uma ciência psicologica do amor. Contudo, os resultados obtidos até o presente momento trazem contribuições importantes para uma compreensão cada vez mais aprimorada deste campo do conhecimento, através de pesquisas, sistematizações e rigor metodológico.
Referências
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Endereço para correspondência:
Rua José Antônio Salles, 305, Jardim Iririú
Joinville, SC, Brasil 89224-300
E-mail: adriano.psicologia@yahoo.com.br e brigido.camargo@yahoo.com.br
Recebido: 07/11/2013
1ª revisão: 20/03/2014
2ª revisão: 09/04/2014
Aceite final: 26/04/2014