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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

versão On-line ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.39 no.37 Rio de Jeneiro jul../dez. 2017

 

ARTIGOS

 

O campo dos afetos: fontes de sofrimento, fontes de econhecimento. Dimensões pessoais e coletivas

 

The affections field: sources of suffering, sources of recognition. Personal and collective dimensions

 

 

Carla Penna*

Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ - Brasil
Group Analytic Society London/International

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo introduz uma reflexão sobre como os afetos, emoções e sentimentos encontram-se atrelados a fenômenos intersubjetivos e trans-subjetivos apontando para o fato de que eles podem, não apenas influenciar, mas dar forma à estrutura social em diferentes dimensões. Desta forma, explora, na interface da psicanálise, da sociologia e da filosofia, a influência dos afetos na determinação de formas e fontes de sofrimento pessoal e social no mundo contemporâneo. Além disso, aponta para as possíveis formas e fontes de reconhecimento disponíveis na atualidade, buscando envolver o psicanalista em um compromisso ético, como 'agente de cuidado', onde o reconhecimento da alteridade seja fomentado.

Palavras-chave: Campo dos afetos, Sofrimento pessoal e social, Contemporaneidade, Reconhecimento.


ABSTRACT

This article introduces a reflection on how affections, emotions and feelings are linked to intersubjective and trans-subjective phenomena, pointing to the fact that they can not only influence, but also shape the social structures in different dimensions. It explores, in the interface of psychoanalysis, sociology and philosophy the influence of affections in the determination of forms and sources of personal and social suffering in contemporaneity. In addition, it highlights the possible forms and sources of recognition available today, seeking to involve the psychoanalyst in an ethical commitment as a caretaker, through which the recognition of otherness can be promoted.

Keywords: Affections field, Personal and social suffering, Contemporaneity, Recognition.


 

 

O campo dos afetos

Desde os primórdios da psicanálise, questões referentes aos afetos e suas representações vêm sendo discutidas, fato que aponta para o papel central da afetividade, na obra freudiana. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e de suas variações. Proveniente da terminologia alemã, o termo exprime estados afetivos penosos ou desagradáveis, vagos ou qualificados que se apresentam sob forma de descarga maciça (LAPLANCHE, 1983, p. 34).

Nos Estudos sobre histeria (1895/1974) Freud chamou atenção para a centralidade dos fatores emocionais da vida psíquica, revelando a influência dos afetos traumáticos e da ab-reação que foram fundamentais para a compreensão da etiologia da histeria e para o desenvolvimento do método catártico-hipnótico. A partir da histeria, Freud evidenciou que "o afeto não se encontrava necessariamente ligado à representação; e a sua separação (afeto sem representação e representação sem afeto) garantia a cada um, diferentes destinos" (LAPLANCHE, 1983, p. 35). As transformações do afeto ocorriam através de mecanismos de conversão (na histeria de conversão), deslocamento do afeto (nas obsessões) e a transformação do afeto (neurose de angústia e na melancolia) (FREUD, 1894/1974, 1896/1974). Nesse sentido, a primeira teoria freudiana sobre a neurose buscava dar conta do afeto e de suas transformações, podendo já ser considerada como uma teoria dos afetos (JACOBSON, 1981).

Durante a primeira fase da teoria psicanalítica, Freud comparou os afetos às forças energéticas e termos como afeto, quota de afeto, soma de excitação, emoção, quantidade, intensidade, energia de investimento foram utilizados, mesmo que de forma imprecisa, para descrever o aspecto quantitativo envolvido na questão da transferência de afetos e suas manifestações (FREUD, 1894/1974, 1896/1974; STRACHEY, 1974). No entanto, a ideia de afeto ainda iria passar por diferentes momentos na primeira e na segunda tópica, acompanhando as mudanças psicanalíticas, na teoria da angústia e na teoria pulsional.

Tanto nos artigos metapsicológicos (FREUD, 1915a/1974, 1915b/1974, 1915c/1974) quanto na Conferência introdutória XXV, A ansiedade (FREUD, 1916-1917/1974), Freud dedicou-se a explorar os aspectos descritivos, subjetivos e econômicos dos afetos (LAPLANCHE, 1983). A partir de Os instintos e suas vicissitudes (FREUD, 1915a/1974), o afeto passou a ser associado à dimensão pulsional, sendo compreendido como um representante psíquico da pulsão. Por sua vez, o artigo metapsicológico sobre Repressão (1915b/1974), permitiu que o afeto fosse definido como uma experiência subjetiva, consciente e não idêntica à pulsão. Contudo, o aspecto subjetivo do afeto, foi distinguido dos processos energéticos que o condicionavam. Aqui, o ponto de vista econômico, responsável pelo deslocamento da energia no aparelho psíquico pode ser cotejado. Já em O inconsciente (1915c/1974), Freud interrogou-se se os afetos, as emoções e os sentimentos1 poderiam ser inconscientes? Para ele, essa associação não era possível, pois o afeto só se apresentaria se estivesse ligado a uma representação na consciência. Ou seja, mesmo no inconsciente um afeto não poderia ser representado de outra forma a não ser por uma ideia. Assim, "se a pulsão não se prendeu a uma ideia ou não se manifestou como um estado afetivo, nada podemos conhecer sobre ela" (FREUD, 1915c/1974, p. 203).

Na formulação da segunda tópica, Freud, novamente, reiterou o primado da afetividade em psicanálise, valorizando desta vez a questão da qualidade na pulsão (FREUD, 1923/1976), o que permitiu que os afetos pudessem ser apreciados em seu aspecto qualitativo. Além disso, a emergência da hipótese do critério qualitativo, na descrição dos afetos em psicanálise, possibilitou novos desdobramentos teóricos. Isto é, a partir de 1920, através da formulação do conceito de pulsão de morte, a distinção entre um quantum de afeto indeterminado e afetos e sentimentos diferenciados adquiriu complexidade e novos significados. A intensidade pulsional, indiferenciada e não representada, passou a ser associada à Thanatos, enquanto que as tonalidades afetivas e sentimentos foram relacionadas à Eros. Assim, a partir da segunda tópica os afetos puderam ser concebidos como inconscientes e as sensações de prazer/desprazer deixaram de ser diferenciadas quantitativamente (LEJARRAGA, 1996, p. 39-40).

Em Inibição, sintoma e ansiedade (1926[1925]/1976), Freud retomou o problema dos afetos, especialmente o da angústia de forma mais abrangente, revelando o quanto a preocupação com a temática dos afetos esteve presente durante quase toda sua obra (FREUD, 1894/1974, 1985/1974, 1896/1974, 1915a/1974, 1915b/1974, 1915c/1974, 1916-1917/1974, 1923/1976, 1926[1925]/1976, 1933[1932]/1976, 1940[1938]/1976). A segunda teoria da angústia, proposta por Freud em 1926, desenvolveu-se a partir de observações clínicas que permitiram consideráveis reformulações sobre a teoria dos afetos. A angústia assumiu papel decisivo no processo de divisão do aparelho psíquico, tornando-se causa do recalque e não consequência do mesmo. Assim, a angústia passou a ser considerada em suas dimensões realísticas ou neuróticas e dois tipos de angústia foram definidos. O primeiro tipo é o da angústia auto mática, involuntária, caracterizado por uma reação de angústia do indivíduo sempre que submetido a um afluxo de excitações, internas ou externas, os quais não consegue dominar. É o produto do estado de desamparo original do lactente, sendo uma resposta espontânea do organismo à situação traumática ou à sua reprodução. O segundo tipo é o da angústia sinal, desencadeada no sujeito diante de um perigo exterior, que se constituí como uma ameaça real (FREUD, 1926[1925]/1976; LAPLANCHE, 1983).

Não há dúvida de que a questão dos afetos é fundamental para a psicanálise freudiana e novas considerações sobre o tema fizeram-se presentes na psicanálise pós-freudiana, através de autores de diversas orientações. Neste sentido, a afirmação de Imbasciati (1998) é precisa e abrangente. Para o autor, a psicanálise desenvolveu-se como método de investigação dos afetos e suas formas conscientes e inconscientes de expressão e representação tornaram-se primordiais, tanto para a teoria psicanalítica quanto para a clínica. Estendendo-se do corpo à linguagem, do dizível ao indizível, da ligação ao desligamento, passando pelo trauma, pelas relações de objeto, os afetos encontram-se associados às diferentes manifestações da vida afetiva, seja sob a forma de sentimentos, emoções, paixões e humores (GREEN, 2002). Entretanto, tais possiblidades de categorização da vida afetiva parecem se complexificar, diante das intrincadas relações estabelecidas entre mundo interno e mundo externo nos sujeitos contemporâneos, ampliando e renovando o interesse na pesquisa sobre o tema.

Green (2002) recordou o papel dos afetos nas trocas entre a mãe e a criança e, indiretamente, apontando para o papel da relação da criança com o pai, tendo o pensamento da mãe como intermediário. O autor ressaltou a importância das contribuições de Winnicott, revelando a importância do afeto na gênese, diferenciação e consolidação dos processos do brincar (GREEN, 2002, p. 170). Tal afirmação permite dirigir a investigação da problemática dos afetos para a dimensão intersubjetiva, onde, a partir do espaço potencial criado no brincar, o estabelecimento de uma área intermediária torna-se possível, permitindo que subjetividades interajam, interpenetrando-se. Tendo em vista o conceito de campo em psicanálise (BARANGER; BARANGER, 1962/2010) e em estudos de grupo (LEWIN, 1965; BION, 1970; PICHON-RIVIÈRE, 1980), as inter-relações afetivas entre a criança, mãe/pai/cultura, mencionadas por Green (2002), adquirem uma dimensão espacial e relacional característica de um campo relacional.

Dentro de uma perspectiva transdisciplinar, esta investigação pretende abordar, tanto perspectivas intrapsíquicas e intersubjetivas quanto as dimensões trans-subjetivas, fundamentais para a compreensão do papel dos afetos, emoções e sentimentos na determinação, de formas e fontes de sofrimento pessoal e social, na contemporaneidade.

 

Fontes de sofrimento

As transformações da sociedade atual, o individualismo exacerbado, os processos de exclusão, de desenraizamento pessoal e coletivo, bem como, a crescente radicalização e polarização no mundo social, inunda os sujeitos contemporâneos de afetos intraduzíveis ou mesmo de sentimentos e emoções, que parecem caminhar para além do modelo tradicional da teoria de angústia freudiana.

De fato, as mudanças observadas, no início do século XXI, apresentam desafios importantes para a psicanálise, que vem buscando formular novas estratégias teórico-clínicas para fazer face às diferentes formas de sofrimento psíquico. Embora, o sofrimento seja inerente às várias etapas da vida, existem formas e fontes de sofrimento, que seriam evitáveis e desnecessárias (AKHTAR, 2014). Contudo, estamos em contato, na clínica atual, com angústias difusas, complexidades afetivas e formas extremas de sofrimento, onde o medo, o desamparo, o ressentimento, o ódio, a vergonha, o tédio, dentre outros afetos, expressam-se de forma contundente. Nesse sentido, tais sofrimentos, além de apontarem para o mal-estar da vida em cultura (FREUD, 1930/1976), apresentam-se como manifestações de agonia, dor e desesperança, diante da deterioração das formas atuais de inserção no mundo social. Essas diferentes manifestações de dor psíquica revelam o quanto esse sofrimento é cocriado na conjunção de dimensões pessoais, interpessoais e coletivas.

Há algumas décadas, filósofos, sociólogos e cientistas políticos vêm investigando as modificações econômico-sociais provocadas pela globalização e pelo recrudescimento do modelo neoliberal, que conduziram as populações a diferentes fontes de sofrimento. Pierre Bourdieu, em A miséria do mundo (1993/2003), buscou, através de depoimentos de homens e mulheres, descrever o sofrimento social, visando compreender, genética e genericamente, como este se instala em zonas sociais de fragilidade, cuja ação implica na perda ou na ameaça de perda de objetos sociais, tais como: saúde, trabalho, desejo, sonhos e vínculos. O sofrimento, de origem social, estaria relacionado a uma realidade marcada por processos de exclusão, relações de poder e estruturas sociais violentas, que envolveriam a precariedade em todas as suas dimensões (BOURDIEU, 1993/2003).

Na mesma direção, Robert Castel em As metamorfoses da questão social (1995/2015) chamou atenção para a fragilidade dos vínculos sociais, para o risco social, para a vulnerabilidade de massa, onde a instabilidade das situações de trabalho, a inadequação dos sistemas clássicos de proteção social, conduziu à proliferação de indivíduos que ocupam, na sociedade, a posição de "supranumerários" (CASTEL, 1995/2015, p. 513). São pessoas submetidas à precariedade e à vulnerabilidade social e tendem a formar uma legião de excluídos ou, como ele prefere chamar, "desfiliados, desqualificados, invalidados socialmente" (CASTEL, 1995/2015, p. 26). É interessante marcar que, historicamente, zonas de vulnerabilidade e fenômenos de desfiliação fazem parte da estrutura das formações sociais, garantindo, através de fenômenos psicológicos, o equilíbrio necessário à manutenção psicodinâmica dos grandes grupos (FREUD, 1921/1976; HOPPER, 2003). Contudo, como Castel apontou, existem transformações históricas nesse modelo clássico, ou seja, há sempre algo que permanece e algo que se modifica dialeticamente. Assim, mesmo sendo possível encontrar, por exemplo, "homologia de posições entre os 'inúteis para o mundo', representados pelos vagabundos antes da Revolução Industrial, e diferentes categorias para os 'inempregáveis' de hoje" (CASTEL, 1995/2015, p. 27), algo parece sempre metamorfosear-se nas dinâmicas psicossociais. Esta afirmação, parece assim apontar, não apenas para a importância do contexto sócio-histórico, na determinação destas diferentes categorizações sociais, mas também para a influência de fatores inconscientes, do inconsciente social (PENNA, 2014), na coconstrução e no desenrolar desses processos.

Na atualidade, vinte anos após as publicações de Bourdieu e Castel, o inglês Guy Standing (2015) discute o conceito de "precariado" - neologismo criado nos anos 80 que combina o adjetivo precário, como o substantivo proletariado (STANDING, 2015, p. 23). Standing (2015) aponta, no início do século XXI, para o surgimento de uma "classe-em-formação", uma "classe-para-si", no sentido marxista do termo, constituída por pessoas ao redor do mundo, que levam uma vida sem uma âncora de estabilidade. Este novo grupo socioeconômico, distancia-se das antigas classes trabalhadoras, do proletariado, sendo fruto de conjunções sócio-políticas do neoliberalismo e da globalização. Marcado por uma estrutura fragmentada, por relações mínimas de confiança, em relação ao capital e ao Estado e, por vínculos temporários, o precariado parece deixar para trás o que "a democracia grega inventou como o cerne humanizante do trabalho: o vínculo interno criado entre praxis e philia, constitutivo do auto-reconhecimento dos cidadãos como homens livremente associados nas construções da amizade cívica" (CALDERONI, 2015, p. 7). O precariado não pode ser confundido com o trabalhador pobre ou com pessoas com emprego incerto. Contudo, a falta de identidade profissional e de benefícios provenientes do vínculo com o trabalho, bem como, a falta de apoio e reconhecimento pessoal e social da comunidade lhe sejam característicos. O precariado é carente de futuro, memória social, códigos de ética, formas de pertencimento e associação solidária (STANDING, 2015, p. 29-31). Glamurizados ou vitimizados, libertários ou desvalidos ou, ainda, meramente "nômades urbanos", o precariado revela mudanças significativas no vínculo homem-trabalho, apontando para a alienação, a anomia e o acirramento das tensões intersociais/grupais, sendo visto como uma classe emergente e potencialmente perigosa.

Assim, na falta de consistentes suportes sociais, os sujeitos contemporâneos encontram-se cada vez mais isolados, sendo remetidos às "políticas de desencaixe" (GIDDENS, 1991), à vida líquida (BAUMAN, 2000). Na falta de vínculos pessoais e sociais significativos, atemorizados pela rapidez e violência das mudanças contemporâneas, são remetidos a uma explosão de afetos, emoções e sentimentos, que caracterizam as formas de expressão de afetividade em nosso tempo. Provenientes das difíceis relações transpessoais contemporâneas, de processos enraizados no inconsciente social (PENNA, 2014), estando ainda assombrados por transmissões psíquicas transgeracionais e pelo olhar do "anjo da história"2 (BENJAMIN, 1987, p. 226), somos atravessados, hoje, por uma miríade de afetos, onde o desamparo se associa ao medo, o ressentimento ao ódio e a vergonha e o tédio garantem o retraimento narcísico. O medo da perda do objeto de amor e o medo da castração (FREUD, 1926[1925]/1976), associam-se ao medo do aniquilamento (HOPPER, 2003), às angústias primitivas e ao medo da morte (FREUD, 1926[1925]/1976). Esses afetos desencadeiam, não apenas inibições, sintomas e angústias, mas também defesas de cunho psicossocial, ações e reações contra o medo e o desamparo, diante da vida em sociedade.

As consequências são visíveis e grande parte de fenômenos psicopatológicos e psicossomáticos, bem como, diferentes formas de adoecimento atual têm origem em dificuldades biopsicossociais, no "in between" dos processos intersubjetivos e trans-subjetivos. Assim, tem sido possível, por exemplo, observar - na psicoterapia de orientação psicanalítica em prisões ou na "clínica forense", com pacientes antissociais da Inglaterra (GILLIGAN, 1996; WELLDON, 2011; SCANLON; ADLAM, 2013) - que patologias do vínculo (PICHON-RIVIÈRE, 1980), aliadas a processos de exclusão e vulnerabilidade pessoal e social podem ter um efeito poderoso sobre as emoções e suas expressões violentas. Nesses contextos desfavoráveis, que envolvem fortes emoções, transgressões e atos extremos de violência e terror, vergonha transforma-se, facilmente, em despudor, medo em destemor, sentimento de injustiça em ressentimento, tristeza em comportamento ofensivo. A compreensão psicodinâmica dessas complexidades, muitas vezes em relação dialética, reflexiva, permite considerar a influência de fatores socioculturais em atos extremos cometidos, relativizando a criminalização e a psicopatologização de perpetradores e pacientes com comportamento antissocial (GILLIGAN, 1996; SCANLON; ADLAM, 2013).

O estudo da psicodinâmica dos grandes grupos, através de Volkan (2013) e Hopper (2003) tem permitido compreender como a vida em sociedade, especialmente em situações de conflito e trauma, é afetada por processos inconscientes, angústias primitivas, regressão e fenômenos de transmissão psíquica. Dessa forma, no cenário contemporâneo, marcado pela inconstância e pela insegurança global, poderosos processos psicológicos entram em cena. Hopper (2003) afirma que, em contextos traumáticos, situações de falha na dependência básica, na confiança no ambiente são ubíquos, conduzindo à ameaça, ao medo do aniquilamento. Assim, diante da incoesão presente no meio social e ameaçados por angústias de aniquilamento os sujeitos contemporâneos regridem e seu comportamento pessoal, grupal e social passa a oscilar entre fenômenos de agregação e massificação (HOPPER, 2003). No polo da massificação é possível observar como diante do medo do aniquilamento pessoas e grupos passam a apresentar comportamentos marcados por polarizações, demonização do grupo rival, mecanismos projetivos, agressividade aumentada e eleição de bodes expiatórios (HOPPER, 2003). De acordo com Hopper (2003), nesses estados polarizados padrões de comunicação e linguagem adquirem conformações específicas, bem como apresentam estilos de pensamento e sentimento característicos. Dentro dessa perspectiva, é importante notar como a história e o contexto social influenciam, não apenas a formação de ideologias e discursos, mas também, de forma imperceptível e inconsciente, afetam o conteúdo e as formas de expressão de afetos, emoções e sentimentos. Basta observar o noticiário local e internacional ou mesmo as redes sociais para constatar essas dinâmicas em curso.

Procurando ampliar as inter-relações entre psíquico e social, as Ciências Sociais e a Ciência Política vêm se dedicando ao estudo dos afetos, das emoções e dos sentimentos na determinação de processos político-sociais através do que tem sido denominado de "vertente afetiva" (HOGGETT, 2009; HOGGETT; THOMPSON, 2012). A influência dos afetos e, especialmente, dos processos inconscientes foram negligenciados, por décadas, nesses campos do conhecimento, contudo, a partir da influência dos estudos sobre linguagem, da filosofia e da psicanálise tem sido possível compreender, nas ciências sociais e políticas, a força dos determinantes psicológicos (HOGGETT; THOMPSON, 2012). No mundo globalizado fica difícil negar a presença, em grandes grupos do ódio, do terror, do pânico, da suspeita paranoide. Entretanto, é também notória a influência da alegria, da compaixão e da esperança observados nos movimentos comunitário-solidários.

A influência dos afetos e das paixões, do medo, da ferida narcísica, do desamparo, do ressentimento, do ódio tem sido vista na psicodinâmica de grandes grupos como combustível para a eclosão de conflitos sócio-políticos, que envolvem, desde questões comunitárias (HOGGETT; WILKINSON; BEEDELL, 2013) à tomada de decisões políticas com as que criaram a moeda única na União Europeia ou às que conduziram o Reino Unido ao Brexit. Além disso, a influência de manifestações afetivas individuais e coletivas, no desencadear de guerras, conflitos étnicos ou mesmo diante da rejeição à imigração na Europa, são uma realidade, embora não sejam novidade. Desde o final do século XIX, Le Bon já anunciava a influência das emoções no comportamento das multidões (PENNA, 2014).

Atualmente, é possível afirmar que afetos, emoções e sentimentos encontram-se atrelados a fenômenos intersubjetivos e trans-subjetivos e que eles podem, não apenas influenciar, mas dar forma à estrutura social, em diferentes dimensões (HOGGETT; THOMPSON, 2012). Nessa perspectiva, os estudos sobre habitus (ELIAS, 1997) e inconsciente social (PENNA, 2014; HOPPER; WEINBERG, 2011, 2016, 2017) permitem explorar como padrões afetivos e formas específicas de expressão afetiva - padrões de comunicação, estilos de pensamento e linguagem (HOPPER, 2003) - estão atrelados a comportamentos sociais inconscientes em determinados contextos sócio-político culturais.

No campo da filosofia, o tema dos afetos, emoções e sentimentos é princeps. Desde Aristóteles e dos Gregos, as relações entre emoção e discurso, narrativa e retórica são fundamentais. As pesquisas da Teoria Crítica, invariavelmente, chamaram atenção para a importância dos afetos, das emoções e da manipulação das mesmas na psicologia das massas, contribuindo para a formação da personalidade autoritária (ADORNO et al., 1950). Na contemporaneidade, a questão dos afetos na política continua a desafiar os filósofos, decerto porque parece não existir atividade que mobilize afetos tão intensos quanto a política.

Recentemente no Brasil, Vladimir Safatle (2015) vem empreendendo uma discussão sobre a importância dos afetos na organização do corpo social, chamando atenção para uma gramática afetiva específica, que parece determinar formas de vida e adesão ao social construídas através dessas afecções (SAFATLE, 2015, p. 16). Safatle (2015) compreende as sociedades como circuito de afetos ressaltando, na atualidade, a preponderância do medo e do desamparo na produção de significantes sociais. Nesse sentido, suas observações aproximam-se das investigações de Hopper (2003) que ressaltam a ubiquidade da falha na dependência básica, do medo do aniquilamento na vida inconsciente dos grandes grupos. Tais considerações, embora sob uma perspectiva teórica diferente - a da grupanálise - apontam para o desamparo e o medo discutidos por Safatle (2015).

Partindo de uma perspectiva hobbesiana da filosofia política moderna, Safatle (2015) discorre sobre a ideia do medo como afeto político central, indissolúvel da compreensão do indivíduo, de seus sistemas de interesses e suas fronteiras, refletindo como o medo é produzido e mobilizado como motor de coesão social (SAFATLE, 2015, p. 17). Aponta, também, para a conexão entre sistemas políticos, baseados na institucionalização das liberdades individuais (individualismo) e a gestão e produção social do medo. Contudo, o que Safatle (2015) propõe é uma nova forma de compreender a vida social, que não tenha a luta pela autoconservação e medo com fundamento, uma vida onde possam ser colocadas em pauta novos princípios comunitários éticos (HONNETH, 2003) e novas formas de reconhecimento. Nesse sentido, propõe-se a tarefa de pensar a sociedade a partir de um circuito dos afetos que tenha o desamparo, positivado, afirmado, como afeto político central. Longe de favorecer apenas o medo e a angústia social, o desamparo pode vir a constituir-se como força motora libertadora. Sua contingência e errância podem ser transformadas em dispositivos para a transformação política, para a emancipação e para a criação de renovados laços sociais (SAFATLE, 2015, p. 20).

 

Fontes de reconhecimento

Nesta apresentação, foi possível observar que diferentes campos das ciências humanas e sociais parecem convergir quando se trata de discutir o papel dos afetos, emoções e sentimentos na determinação de formas e fontes de sofrimento pessoal e social. A impressão é a de que observamos, através de um caleidoscópio, diferentes figurações de um mesmo fenômeno. Mais do que observá-los através de uma "visão binocular" (BION, 1991) ou em "espiral dialética" (PICHON-RIVIÈRE, 1980), os sentidos parecem aguçar-se diante das agonias e dos problemas psicossociais da atualidade, que revelam o esgotamento dos modelos legados pela Filosofia Social Moderna (HONNETH, 2003). Afetos extremados transbordam por todos os lados dando vazão a perigosas polarizações, radicalismos e fundamentalismos no mundo social. Alimentadas por angústias primitivas, pelo desamparo freudiano, pela luta social (Maquiavel, Hobbes), pelo medo do aniquilamento e pelo inconsciente social, tais problemáticas parecem conduzir o mundo atual à destruição e à anomia. Caberia ao psicanalista indagar qual seria a influência dos aspectos inconscientes individuais e coletivos, na determinação do mal-estar contemporâneo? Estaríamos apenas diante dos efeitos destrutivos da pulsão de morte ou estaríamos, também, diante de novos contextos intersubjetivos e trans-subjetivos, marcados pela desvalorização do humano? Estaríamos deixando para trás as amarras da sociedade disciplinar e da política de docilização de corpos, promulgados por Foucault (1979) para ingressarmos no século XXI, em uma era onde a produção de "estados de exceção" e "zonas de exclusão" (AGAMBEN, 1995/2012) permite que a morte prevaleça sobre o direito à vida?

Testemunhamos o crescimento de um contingente de "pessoas sem valor" (SCANLON, 2015), de homo sacer3 (AGAMBEN, 1995/2012), de pessoas que levam uma vida miserável (BOURDIEU, 1993/2003), "supranumerária" (CASTEL, 1995/2015), marcada por afetos, emoções e sentimentos que parecem importar muito pouco dentro do modelo neoliberal. O filósofo africano, Aquille Mbembe (2003), afirma que o momento atual substituiu o biopoder foucaultiano, pela necropolítica, pelo necropoder. Isto é, o mundo contemporâneo vem criando, tanto na paz, quanto na guerra, "zonas mortas", "zonas de anomia", formas horrendas de coexistência social, onde a vida humana parece ter realmente perdido o valor (MBEMBE, 2003).

Mas, como resgatar, no mundo contemporâneo, os valores humanos da solidariedade, do amor, da amizade, da fraternidade em luta por reconhecimento? Como a teoria e a clínica psicanalítica atual podem implicar-se no sentido de resgatar, citando Hegel, a "intersubjetividade prévia do ser humano?" (HONNETH, 2003, p. 42). Como é possível, em um contexto social quase apocalíptico, como o atual, promover o "desamparo afirmativo" (SAFLATE, 2015) e prover fontes de reconhecimento que valorizem a "eticidade natural nas comunicações humanas?" (HONNETH, 2003, p. 48).

Hannah Arendt (1958/2007) introduziu o conceito de vita activa para explorar as manifestações da condição humana - "o labor", "o trabalho" e a "ação". Observou, contudo, que a Modernidade contribuiu para o sentimento de "perda do mundo", do mundo concebido como uma koinon - koinonia, que significa comunhão, companheirismo, participação, compartilhamento em grego - noção que nos permite pensar que existe algo que possa transcender à mortalidade humana. No mundo contemporâneo, o "labor" - baseado nas necessidades biológicas do animal laborands, assim como o "trabalho" do homo faber, prevaleceu, em detrimento das manifestações de coletividade, pluralidade, diálogo e "ação" (zoon politikon), empobrecendo, drasticamente, a esfera pública. Contudo, a "ação" é, para Arendt, "a única atividade que se exerce entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria" (LAFER, 1981, p. 345). Ela promove liberdade, singularidade, sendo a fonte do significado da vida humana. Contudo, depende de uma koinon, de mundo compartilhado, onde a presença, a participação do outro seja valorizada (ARENDT, 1958/2007, p. 33). Assim, imersos no "labor" ou no "trabalho" ou mesmo no universo "de trabalhadores sem trabalho" (ARENDT, 1958/2007, p. 38; CASTEL, 1995/2015, p. 496) ficamos longe da "ação" e, por conseguinte, sós, isolados, cansados de "sermos nós mesmos" (EHRENBERG, 2000). Distantes da "eticidade natural" (HONNETH, 2003, p. 48), do comprometimento com o rosto do outro (LÉVINAS, 1961/1979), vivemos numa pólis esvaziada (SENNETT, 1974/2014) ocupados demais em sobreviver e trabalhar.

Talvez a prática psicanalítica, clássica e em extensão, tenha que ampliar-se, fazendo com que os psicanalistas estejam envolvidos, não apenas na luta contra a miséria neurótica, mas também, como "agentes de cuidado" (FIGUEIREDO, 2007), possam contribuir na luta contra a miséria do mundo. Figueiredo (2007) afirma que a teoria e a clínica psicanalítica devem servir de base para o desenvolvimento de uma concepção geral do cuidado - uma "metapsicologia do cuidado" - fomentada entre cuidadores em geral, mas também entre os próprios psicanalistas. Nessa direção, parece que a presença atenta do psicanalista, mas também dos profissionais de saúde e educação nas diversas faces do cuidar, acolher, reconhecer e incluir pode favorecer o combate contra a alienação e a miséria do mundo. O psicanalista, comprometido com a ética do cuidado, será capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma "comunidade ética em uma pólis" renovada (HONNETH, 2003, p. 49).

Através de um "desamparo afirmativo" como Safatle (2015) pontuou e que nossas análises pessoais engendraram, talvez possamos partilhar e criar novas formas de reconhecimento mútuo, baseadas na criação de novas "estruturas de sentimento" (WILLIAMS, 1977) que permitam resistir e "agir" (ARENDT, 1958/2007) contra os males e os sofrimentos do mundo, que a caixa (jarro), aberta pela jovem Pandora deixou escapar. Restou-nos a esperança: messiânica, radical ou apenas madura, mas que, incessantemente, desafia a razão e os sentidos através da desconfiada pergunta: Será mesmo, possível?

 

 

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Artigo recebido em: 27/03/2017
Aprovado para publicação em: 05/06/2017

Endereço para correspondência
Carla Penna
E-mail: drcarlapenna@gmail.com

 

 

*Psicanalista, membro efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ), membro efetivo da Group Analytic Society London/International, doutora em Psicologia Clínica/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
1A distinção entre afetos, emoções e sentimentos na obra freudiana seria de enorme valia para discussões sobre o campo dos afetos na interface entre a psicanálise, a sociologia e a filosofia. Apesar de identificarmos tal necessidade, uma pesquisa aprofundada escapa ao âmbito deste artigo. No entanto é possível afirmar que se nos primeiros trabalhos sobre histeria, Freud tendia a tratar afetos e emoções quase como sinônimos, discorrendo de forma indiscriminada nos tratamentos das histéricas sobre 'afetos em conflito' e 'emoções em conflito' (FREUD, 1895/1974), com o decorrer de sua obra algumas distinções puderam ser feitas. No artigo, O inconsciente (1915c/1974), Freud distinguiu afetos de sentimentos afirmando que "os afetos e as emoções correspondem a processos de descarga, cujas manifestações finais são percebidas como sentimentos" (FREUD, 1915c/1974, p. 204-205). Já no capítulo II de O ego e o id (1923/1976) Freud retomou a questão dos afetos e suas representações bem como das sensações e dos sentimentos, conscientes e inconscientes, associando-os às formulações sobre as instâncias psíquicas e ao sentimento de culpa inconsciente. Afirmou que: "enquanto que com as representações inconscientes devem ser criados vínculos de ligação antes que elas possam ser trazidas para a consciência, com os sentimentos, que são transmitidos diretamente, isto não ocorre" (FREUD,1923/1976, p. 36). Ou seja, para Freud a distinção entre consciente e pré-consciente parecia não ter significado no que concernia aos sentimentos, pois - deixando-se o pré-consciente de lado - estes podiam ser conscientes ou inconscientes. Assim, a partir da segunda tópica e da introdução do conceito de Id, foi possível que o conceito de pulsão ficasse mais próximo ao de emoções e sentimentos, fazendo com que a pulsão adquirisse também uma dinâmica emocional (PLASTINO, 2008, p. 35).
2Benjamin relata: "Há um quadro de Klee que se intitula Angelus novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. Tal deve ser o aspecto do anjo da história. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as joga aos seus pés. Ele gostaria de deter-se para despertar os mortos e reunir os vencidos, mas uma tempestade sopra do paraíso e prendese em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele dá as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso" (BENJAMIN, 1987, p. 226).
3Homo Sacer eram figuras obscuras da antiga lei romana. Condenados por um crime, deixavam de ser considerados puros, no entanto não podiam ter sua vida oferecida em sacrifício. Se assassinados, seus assassinos não podiam ser condenados pelo crime cometido. A vida de um homo sacer era, portanto, uma "vida sem valor" e embora sagrada (no negativo), não tinha nenhum valor (AGAMBEN, 1995/2012).

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