Serviços Personalizados
Journal
artigo
Indicadores
Compartilhar
Imaginário
versão impressa ISSN 1413-666X
Imaginario v.13 n.14 São Paulo jun. 2007
Caderno de fotografias: “Entre olhares”
Photo book: “Among Glances”
Cuaderno de fotografías: “Entre Miradas”
Maria de Lourdes Beldi de Alcântara
E N T R E O L H A R E S
Este ensaio fotográfi co tem o objetivo de apresentar como os jovens da Reserva de Dourados, tida como a mais populosa do Brasil, se relacionam com seu lugar e, ao mesmo tempo, constroem um diálogo cultural pleno de tensão com a cidade de Dourados, a segunda maior cidade do Mato Grosso do Sul, com 183.096 habitantes.
A reserva de Dourados localiza-se entre duas cidades, Dourados e Itapora, e a 100 km da fronteira do Paraguai. Tem aproximadamente 15.000 habitantes compostos de duas etnias, Aruak (Terena) e Guarani (Ñandeva e Kaiowa). O casamento entre as etnias marca essa população.
A falta de recursos é uma constante, embora seja a Reserva mais atrativa em termos de migração de outras aldeias do Mato Grosso do Sul – aproximadamente 28 aldeias – tanto de recursos naturais quanto de infra-estrutura.
A falta de trabalho se junta com as péssimas condições de vida fazendo com que os jovens sejam expulsos de seus lugares e não aceitos nas cidades. Dentro da Reserva eles compõem um grupo que não possui classifi cação para os mais velhos, os jovens não casados, atribuindo a eles tudo de ruim que acontece nela. Fora dela, só são aceitos como mão-deobra para o corte da cana de açúcar. Exceto nesse espaço, CADERNO 2.indd 242 21/06/07, 04:16:28 são tidos como vagabundos, sujos e malvados. É nesses “entrelugares” que se localizam; lugares que deveriam ser de passagem tornam-se lugares de permanência.
Como se constroem as identidades nessa situação? Como vivem seus lugares de pertencimentos? Foram essas as perguntas que me fi z ao propor uma ofi cina de fotografi a para esses jovens. Sabedora da importância da imagem, havia tido uma experiência muito gratifi cante. Quando cheguei em 1999 a essa Reserva, havia levado uma Polaroid para deixar os retratos com as pessoas que eu fotografava. Quando reparei que os jovens indígenas ao se olharem faziam uma longa refl exão deles e da Reserva, começamos a dialogar sobre as percepções que tinham deles e do entorno. As fotos tornaram-se um grande instrumento de descrição e interpretação tanto deles quanto meu.
Em 2006 oferecemos uma ofi cina de fotografi a (o fotógrafo foi Andrea Ruggeri) para alguns jovens que tinham passado por situações bem paradigmáticas de violência e tentativas de suicídio. O resultado foi uma exposição na escola da Reserva e este pequeno ensaio, que faz parte de um livro intitulado Nossos Olhares.