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PsicoUSF

versão impressa ISSN 1413-8271

PsicoUSF v.14 n.1 Itatiba abr. 2009

 

RESENHA

 

Psicologia vocacional: perspectivas para a intervenção

 

 

Fernanda Ottati*

Universidade São Francisco, Itatiba, Brasil

Endereço para correspondência

 

 

Taveira, M. C. & Silva, J. T. (Coord.) (2008). Psicologia vocacional: perspectivas para a intervenção. Coimbra: Impressa da Universidade de Coimbra. 185 p.


A psicologia vocacional nasceu no início do século XX nos EUA com a preocupação de entender e poder intervir no bem-estar social e educativo de jovens. Ao longo do desenvolvimento dessa área, as investigações acerca dos aspectos relacionados ao processo de escolha de uma profissão foram e continuam sendo realizadas, e é por isso que atualmente os profissionais de psicologia usufruem de modelos, métodos e materiais que permitem realizar um trabalho focado no desenvolvimento do comportamento vocacional.

É sob essa ótica que o livro Psicologia vocacional: perspectivas para a intervenção foi editado, com objetivo de debater o papel atual da psicologia vocacional, bem como da intervenção realizada pelos psicólogos, com diferentes populações e contextos. A obra é coordenada por dois importantes pesquisadores portugueses, Maria do Céu Taveira, da Universidade do Minho e José Tomás da Silva da Universidade de Coimbra e está dividida em seis capítulos, escritos por pesquisadores de diferentes países.

O capítulo 1, intitulado "Abordagens às intervenções de carreira: perspectiva histórica", é de autoria de Edwin Herr, da Universidade do Estado da Pensilvânia (EUA), que faz um resgate histórico do surgimento e desenvolvimento de teorias sobre o desenvolvimento de carreira, divididos em três épocas. A primeira refere-se aos anos de 1900 a 1950, na qual surgem os primeiros programas de intervenção, destacando a proposta de Frank Parsons, um modelo de intervenção que até hoje ainda é praticado, a abordagem de traço e fator. A segunda mostra que a partir dos anos 50 há o surgimento das teorias de desenvolvimento de carreira, evidenciando nomes como Donald Super e John Holland. Nesse contexto o autor destaca três tipos de intervenções de carreira: programas estruturados de desenvolvimento e planejamento de carreira, modelos de intervenção psicoeducacional e tecnologia. E, por fim, trata dos anos 90, enfatizando que a preocupação dos processos de intervenção nesse momento deixa de ser exclusivamente a busca de uma profissão e passa a incorporar outros aspectos relativos ao mundo do trabalho, como estresse, raiva, distúrbios emocionais, ansiedade, depressão, entre outros.

"Educação para a carreira: aplicações à infância e à adolescência" é o título do capítulo dois, de María Luisa Rodríguez Moreno, da Universidade de Barcelona. A autora parte da premissa que o mundo do trabalho começa a exigir uma atitude de abertura e adaptação constante das pessoas e, por isso a disposição para a aprendizagem deverá ocorrer por toda a vida. Nesse sentido, ela evidencia a necessidade de a orientação profissional estar inserida nos currículos escolares desde a infância e, para isso detalha como é possível colocar em prática essa questão, apresentando algumas técnicas bastante úteis que os profissionais podem utilizar.

O terceiro capítulo "Consulta psicológica vocacional para jovens adultos e adultos" foi escrito por Lígia Mexia Leitão e Maria Paula Paixão, da Universidade de Coimbra. As autoras exploram amplamente o conceito de consulta psicológica vocacional, trazendo as definições de vários autores, bem como as áreas de aplicação e os modelos utilizados. A construção do projeto de vida dos jovens adultos, aqueles com idades entre 18 e 25 anos, segundo consideração das autoras, pode suscitar problemas no desenvolvimento da sua identidade vocacional, o que justifica a prática da consulta como um importante apoio nesse momento. Os diferentes contextos que podem configurar-se como problemas para esses jovens, são detalhadamente descritos, como o contexto de formação, familiar, social, relações íntimas e de trabalho, o que facilita a compreensão do leitor, além de propor algumas possibilidades de intervenção. Em relação aos adultos, Leitão e Paixão enfatizam os problemas de carreira enfrentados por essa população, tais como adaptação ao emprego, mudanças na carreira e desemprego e indicam quais devem ser os objetivos da consulta vocacional.

"O uso de tecnologia na intervenção vocacional: implicações para a teoria e prática" é o quarto capítulo, escrito por Maria do Céu Taveira e José Tomás da Silva, da Universidade do Minho e Universidade de Coimbra, respectivamente. O ponto principal do capítulo versa sobre as limitações e desafios na utilização dos Sistemas de Orientação da Carreira Assistidos por Computador (CAGGS), programas completos de orientação vocacional que oferecem um conjunto de processos que vão desde a avaliação dos interesses, capacidades e valores ocupacionais, até ensinar como se portar numa entrevista de emprego, por exemplo. Os autores indicam os principais sistemas disponíveis na atualidade, destacando que a grande maioria é oriunda dos Estados Unidos. Também é levantada a questão do uso da internet como um recurso a mais nos processos de orientação e o papel do orientador diante dos recursos tecnológicos. Destaca-se neste capítulo a preocupação das comunidades científicas sobre o uso desses recursos informatizados, o que até já gerou uma Lista de Princípios Orientadores para os profissionais que pretendam criar um sistema, que está anexada ao final do capítulo.

O capítulo cinco foi escrito por Maria Eduarda Duarte, da Universidade de Lisboa, e tem como título "A avaliação psicológica na intervenção vocacional: princípios, técnicas e instrumentos". Partindo da premissa que a avaliação psicológica é etapa fundamental nos processos de orientação vocacional, a autora detalha os aspectos dessa avaliação, enfatizando os princípios éticos que devem nortear os profissionais da área. Dentro da definição dos dois modelos clássicos de avaliação, Traço e Fator e Desenvolvimentista, são explicado os objetivos dessa tarefa nos diferentes contextos em que é utilizada, como, por exemplo, ensino básico, secundário e universitário. Além disso, a autora faz uma ampla descrição das técnicas de avaliação, passando pela entrevista, testes de aptidões, inventários de interesses, personalidade, valores e desenvolvimento de carreira, até como utilizar a informação escolar e profissional nos processos de aconselhamento de carreira.

O sexto e último capítulo, "Mudança de paradigma na educação e novos rumos para a actuação dos professores e dos psicólogos nas escolas" é de autoria de Manuel Viegas Abreu, da Universidade de Coimbra. O autor faz uma ampla discussão sobre os aspectos atuais da situação da educação em Portugal e propõe que a intervenção do psicólogo nesse contexto ocorra a partir do desenvolvimento global da personalidade dos alunos. Nesse sentido, Abreu coloca a avaliação psicológica como um importante instrumento de apoio ao processo de desenvolvimento psicológico dos alunos, levando-os à reflexão. Porém, para que essa proposta seja colocada em prática, o autor indica que a participação dos pais, professores e psicólogos deve ser conjunta e, além disso, a escola deverá propor iniciativas que permitam aos alunos se expressarem, reconhecendo e valorizando assim suas potencialidades, aptidões e talentos.

Apesar de o livro apresentar alguns dados específicos da realidade portuguesa, ele se constitui numa importante referência para pesquisadores brasileiros da área de Orientação Profissional. Os aspectos teóricos presentes são de fundamental importância para pesquisas e as práticas apresentadas podem servir como base para propostas de intervenções na realidade brasileira. Os capítulos são de leitura fácil, com uma linguagem acessível tanto a estudantes como profissionais, e por isso o livro deve ser leitura recomendada para todos aqueles inseridos no contexto da orientação profissional.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: fernanda_itb@yahoo.com.br

Recebido em novembro de 2008
Reformulado em janeiro de 2009
Aprovado em fevereiro de 2009

 

 

Sobre a autora:

* Fernanda Ottati é psicóloga e mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista FAPESP.