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Psicologia Escolar e Educacional
versão impressa ISSN 1413-8557
Psicol. esc. educ. v.1 n.2-3 Campinas 1997
RESENHAS
Psicologia escolar
Nely A. Guernelli Nucci
Pontificia Universidade Católica de Campinas
WECHSLER, Solange Múglia (Org.) - "Psicologia Escolar: Pesquisa, Formação e Prática", Editora Alínea, Campinas/SP, 1996.
A partir de temas discutidos e apresentados na Associação Nacional de Pesquisas e Pós- Graduação em Psicologia (ANPEPP) por um grupo de estudiosos e docentes de instituições de ensino superior, foi elaborado o livro em epígrafe, oferecendo uma colaboração para os profissionais da área e interessados no assunto, visando maior desenvolvimento da Psicologia Escolar, enquanto ciência e profissão.
Estruturado em três capítulos, o livro contém artigos agrupados conforme os temas a que estão relacionados, dentro da tríade norteadora dos estudos realizados pelos autores, buscando a interligação entre a prática em Psicologia Escolar.
A Organizadora, Dra. Solange M. Wechsler é professora na Pós-Graduação em Psicologia Escolar da Pontifícia Universidade Católica de Campinas e, também, diretora do Centro Nacional de Desenvolvimento da Criatividade e do Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas.
Nas páginas iniciais faz a apresentação do livro e dos autores colaboradores: Ângela Maria V. Pinheiro (Universidade Federal de Minas Gerais), Antônio Roazzi (Universidade Federal de Pernambuco), Eda M. Custódio (Universidade de São Paulo), Geraldina P. Witter (Pontifícia Universidade Católica de Campinas/SP e Universidade de São Paulo), Maria Helena Novaes (Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Raquel S. L. Guzzo (Pontificia Universidade Católica de Campinas/SP), Samuel pfromm Neto (Pontificia Universidade Católica de Campinas/SP) e Zilda A. P. DeI Prette (Universidade Federal de São Carlos/SP e Universidade Federal de Uberlândia/MG).
No prefácio, o Dr. Thomas Oakland, presidente da International School of Psychology Association, discorre sobre o desenvolvimento da Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), num depoimento pessoal sobre seu trabalho por quatro meses em nosso país e a relevância das contribuições à Psicologia Escolar que vêm sendo fornecidas pela Organizadora e colaboradores.
O capítulo I é reservado à pesquisa em Psicologia Escolar, com a colaboração do Dr. Samuel Pfromm Netto, Dra. Geraldina P. Witter e Dra. M. Helena Novaes. O primeiro autor apresenta as origens e o desenvolvimento da Psicologia Escolar, com um resumo histórico de seu nascimento e crescimento em países como Estados Unidos, Grã Bretanha, Suíça, Bélgica, Alemanha, Itália, França, permitindo ao leitor uma ampla visão de sua caminhada no mundo. Destaca seu surgimento em nosso país e reflete sobre as influências recebidas.
A segunda colaboradora traz em "Pesquisa em Psicologia Escolar", uma revisão bibliográfica de pesquisas realizadas nesse campo nos últimos dez anos, com análise de dissertações e teses enfocando a temática, os sujeitos, a tipologia de análises de dados, a tipologia por delineamento e controle. Apresenta tabelas e conclui que a realidade da Psicologia Escolar em nosso país permite ampliar a produção de pesquisas com o aproveitamento do cotidiano escolar e seus inúmeros problemas, em questionamentos por estudiosos competentes e criativos.
Completando o Capítulo I são apresentadas pela Dra. Maria Helena Novaes, as “Perspectivas para o futuro da Psicologia Escolar”, comentando sobre as tendências atuais e questões relacionadas à definição do papel do psicólogo escolar como agente de mudança, lutando por sua autonomia e reconhecimento social. Estabelecendo ligação entre o passado, o presente e o futuro, coloca sua antecipada visão das transformações institucionais, bem como as conseqüências para a prática profissional do psicólogo escolar.
O Capítulo II trata da formação em Psicologia Escolar, enfocando a preocupação com o ensino de graduação. A Dra. Raquel S. L. Guzzo reflete sobre as dificuldades e expectativas de formação de psicólogos escolares no Brasil. Utilizando parâmetros internacionais, apresentados e discutidos em reunião da Associação Internacional de Psicologia Escolar (ISP A) em 1996, a Autora considera as dificuldades nessa formação em nosso país, agrupando-as em três categorias: as decorrentes do currículo de formação geral e específica; a ausência de modelos para a atuação profissional em nossa realidade; a ausência de padrões éticos e profissionais difundidos e conhecidos pela comunidade.
Os padrões e práticas das associações internacionais em Psicologia Escolar são apresentados no artigo seguinte pela Dra. Solange M. Wechsler, comparando-os em uma pesquisa envolvendo 11 dessas associações, contactadas através de questionários. As discussões e conclusões possibilitam a observação de semelhanças nos objetivos e ações dessas entidades, bem como uma avaliação do crescimento e empenho da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, na promoção de melhores condições de atuação, no fortalecimento da profissão e qualificação, assim como na recuperação de sua história.
Na última seção desse capítulo, a Dra. Maria Helena Novaes destaca a “visão transdisciplinar na formação do Psicólogo Escolar”, referindo-se à questão da heterogeneidade e pluraridade de aspectos que envolvem os objetivos, fenômenos e processos, levando à compreensão e explicação dos mesmos em diferentes linguagens. Através dos recortes psicossociais da transdisciplinaridade, a Autora aponta lacunas na formação do Psicólogo Escolar e os desafios a serem enfrentados.
O Capítulo III enfoca a prática em Psicologia Escolar através de quatro artigos. O primeiro, assinado pelos Drs. Zilda e Amir Del Prette, traz as “habilidades envolvidas na atuação do psicólogo escolar/educacional” situando-as dentro das dimensões de quesitos básicos e questões da prática, em um enfoque social relevante, articulando-o com o desenvolvimento profissional e suas múltiplas abrangências.
No segundo estudo, a Dra. Eda M. Custódio, apresenta uma reflexão sobre a “avaliação das dificuldades de aprendizagem”, e as novas perspectivas para a avaliação psicoeducacional, levando questões como a da relação do professor com a aprendizagem do aluno e a mútua participação nesse processo; o preparo dos alfabetizadores para lidar com os problemas de aprendizagem dos alunos; a atuação dos psicólogos na área dos diagnósticos psicoeducacionais.
O “processamento humano de informação e avaliação de leitura e de escrita de criancãs” são elaborados pela Dra. Angela Vieira Pinheiro no terceiro texto, refletindo sobre o estudo cognitivo nessas áreas, a definição da dificuldade específica da leitura, os requisitos para a avaliação da leitura e da escrita baseada na Teoria de Processamento de Informação, assim como o diagnóstico baseado nesse modelo.
Fechando o Capítulo III, encontra-se o estudo de Antônio Roazzi, Cláudia Loureiro e Circe M. Gama Monteiro, sobre “problemas psicossociais e influências na prática da Psicologia Escolar”, com investigações sobre vandalismo no contexto da escola pública, incluindo uma dimensão social implícita nessa prática. Essas investigações analisam as características arquitetônicas do prédio escolar e a natureza dos seus dados, a percepção da satisfação com o ambiente escolar em função das atividades formais de ensino e as atitudes diante do vandalismo, concluindo que o mesmo tem merecido intervenções políticas concretas que procuram esconder ou minimizar a real origem do problema, decorrente da ineficiência do sistema escolar. Apresentam sugestões, fundamentadas nos resultados obtidos, permitindo demonstrar que pesquisas de fenômenos psicossociais contribuem para a compreensão de problemas educacionais.
Finalizando, o livro traz a síntese do grupo de trabalho da ANPEPP, “Psicologia Escolar: pesquisa, formação e prática”, viabilizada a partir das discussões efetuadas no encontro realizado em 1994, na cidade de Caxambu/MG. Acompanhando cada artigo o leitor pode encontrar as referências bibliográficas utilizadas, atuais e adequadas, permitindo esclarecimentos e aprofundamento nos temas.
Apesar do livro ser escrito por vários autores com estilos próprios, é bem organizado, respeitando em sua articulação uma seqüência temática que estabelece continuidade de interesse ao leitor.
A linguagem, de maneira geral, é objetiva facilitando a compreensão e a reflexão geradas pela comunicação do conhecimento e da experiência dos autores.
Destinado a profissionais e estudiosos da Psicologia Escolar, especialmente do Brasil, o livro contribui significativamente para um avanço em direção a conquistas e progressos científicos, na busca de maior competência e criatividade na atuação profissional e em pesquisa.