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Psicologia da Educação
versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520
Psicol. educ. n.24 São Paulo jun. 2007
Apresentação
This Isseu
Presentación
Luciane Maria SchlindweinI; Marilene Proença Rebello de SouzaII
IDoutora em Educação: Psicologia da Educação pela PUC-SP, Brasil Professora e pesquisadora do Programa de Mestrado Acadêmico e Educação da Univali/SC E-mail: lucmas@univali.br
IIDoutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento: USP, Brasil Docente da Universidade de São Paulo E-mail: mprdsouz@usp.br
Este número da revista Psicologia da Educação destaca parte da produção científica apresentada no Grupo de Trabalho Psicologia da Educação da Anped, na 29ª Reunião Anual, realizada em outubro de 2006, no município de Caxambu. Tal grupo foi constituído em 1997 e, desde então, vem consolidando um espaço profícuo de produções científicas que se configuram na interface possível entre os campos de estudo da Psicologia e da Educação. Encontram-se publicados textos completos, da sessão Comunicações, selecionados pelo Comitê Científico da Anped, dentre o conjunto de trabalhos inscritos e apresentados no GT de Psicologia da Educação.
Conforme analisamos em artigo publicado em 2006, a respeito da produção acadêmica do GT Psicologia da Educação (Schlindwein; Souza; Silva; Asbahr; Nadaleto, 2006), as comunicações expressam as produções recentes, advindas dos programas de pós-graduação brasileiros, em nível de mestrado e doutorado. As temáticas abordadas refletem os interesses postos atualmente, do ponto de vista acadêmico-científico, para a área da Psicologia da Educação, na busca de respostas aos desafios educacionais.
Como veremos a seguir, os trabalhos apresentam as seguintes características: a) revelam a presença de diferentes abordagens oriundas de diversas correntes de pensamento do campo da Psicologia para o estudo do fenômeno educativo, com destaque para as perspectivas histórico-cultural, piagetiana e das representações sociais; b) atêm-se em estudar temáticas relacionadas às políticas educacionais, aos processos educativos e aos dilemas e desafios a serem enfrentados pela prática docente; c) destacam a importância das diversas concepções a respeito do fenômeno educativo presentes no discurso do educador e do educando na constituição das relações de aprendizagem; d) articulam aspectos teórico-metodológicos no campo da perspectiva epistemológica adotada na constituição e para a compreensão do fenômeno educativo; e) analisam diferentes níveis de ensino: básico e superior; e, por fim, f) centram-se em análises de cunho teórico e empírico, de base qualitativa.
Pretende-se, com esta publicação, ampliar o debate em torno da Psicologia da Educação, bem como destacar o conhecimento produzido nesse campo. Para tanto, apresentamos, a seguir, os artigos que farão parte deste número.
As autoras Sonia Mari Shima Barroco e Silvana Calvo Tuleski apresentam, no texto Vigotski: o homem cultural e seus processos criativos, uma discussão teórica acerca da criatividade e dos processos criadores/criativos sob a perspectiva histórico-cultural. Instigadas a pensar sobre a importância da criatividade enquanto um atributo histórico do ser humano, tanto para a Psicologia Educacional quanto para a Psicologia Escolar, a partir de referencial crítico, propõe-se a oferecer subsídios à Educação para o desenvolvimento da criatividade. Para as autoras, faz-se necessário que a psicologia possa contribuir, em sua intervenção junto à escola, para o desenvolvimento de pessoas mais conscientes de si mesmas, do que as leva a ser o que são, bem como acerca do mundo com o qual interagem. Abordar a constituição do homem criativo e criador pode subsidiar professores e psicólogos a pensar alternativas em uma época em que a tendência é a reprodução e a alienação.
Outro estudo, também de cunho teórico, denominado Produção de Vigotski (e grupo) e Wallon: comparação das dimensões epistemológica, metodológica e desenvolvimental pretende estabelecer pontos de aproximação e diferenciação entre as produções de Vigotski (e grupo) e Wallon. Os aportes teóricos desses dois autores, que representam duas grandes contribuições no campo da psicologia, são analisados a partir de três diferentes dimensões: epistemológica, metodológica e desenvolvimental. Para os autores do trabalho, Abigail Alvarenga Mahoney, Laurinda Ramalho de Almeida e Sandro Henrique Vieira de Almeida, a epistemologia fundante de ambas as teorias é o materialismo histórico e dialético, o que os desafia a buscar o diálogo entre as duas teorias.
O texto intitulado Contribuições da teoria da atividade para o debate sobre a natureza da atividade de ensino escolar, de autoria de Nadia Mara Eidt e Newton Duarte, tem por objetivo discutir a natureza da atividade de ensino, a partir dos fundamentos da teoria da atividade de Leontiev. Os autores analisam três aspectos que, do ponto de vista da teoria da atividade, podem ser promotores do desenvolvimento humano, a saber: a qualidade do conhecimento escolar, o modo de ensino desse conhecimento e o modo de sua apropriação pelo aluno. O trabalho apresenta-se como uma discussão profícua sobre o impacto do ensino no desenvolvimento mental da criança, justamente em uma época em que os índices de fracasso e retenção escolar se ampliam no país.
O trabalho Concepções de professores sobre questões relacionadas à violência na escola, apresentado por Vivian da Silva Lobato e Vera Maria Nigro de Souza Placco tem por objetivo discutir o impacto que a violência provoca na ação dos educadores e como ela de fato interfere na qualidade do ensino, nas séries finais do ensino fundamental. A pesquisa realizou-se em um distrito do município de Belém. Os dados foram analisados em uma perspectiva psicossocial, sem, contudo, perder a objetividade da pesquisa científica.
A abordagem das representações sociais ancora, metodologicamente, o trabalho Escola: lugar de conhecimento, compromisso, desafios para estudantes de Pedagogia e Medicina, de Sandra Lúcia Ferreira Acosta Soares e Clarilza Prado de Sousa. A pesquisa apresenta as imagens da escola por universitários da região central do estado de São Paulo. Para as autoras, a imagem congrega um valor simbólico capaz de criar os objetos representados, construindo uma realidade nova a partir da realidade que existente. Assim, a partir de fontes diversificadas, tais como informações, narrativas desenhadas e escritas, foi possível compreender um conjunto de pontos teóricos de aproximação entre representação social e imagem.
O texto Eles "passam de bolo" e ficam cada vez mais analfabetos: discutindo as representações de ciclos de aprendizagem entre professores relata uma pesquisa realizada em Recife, cujo objeto é investigar as representações sociais de professores de ciclos de aprendizagem, bem como suas implicações para as práticas dos professores. Laêda Bezerra Machado elabora um quadro contextual acerca da implantação dos ciclos de aprendizagem no Brasil. Os ciclos de aprendizagem têm como base a reorganização do espaço e do tempo escolar e da prática pedagógica. Pretende-se que o aluno seja respeitado em sua diversidade e tempo para aprender. A partir da teoria das representações sociais, a autora investiga os professores do Recife que, desde 2001, estão envolvidos com essa nova estrutura e funcionamento escolar.
Estudar a bronca na sala de aula como uma das instâncias da dinâmica complexa das relações docentes e os tipos de lições que promove ao se entrelaçar ao conteúdo ensinado que tem impacto na formação do aluno como pessoa e na docência do professor é o objetivo da apresentação A bronca na sala de aula, uma visão do professor, de autoria de Nilda de Oliveira Bentes. No texto, são apresentados os dados de uma pesquisa cujo foco de análise foi a presença da bronca na dinâmica das interações docentes. Apoiada nos pressupostos teóricos de Bakhtin e Vigostski, discute o fluxo verbal das interações de sala de aula, compreendendo-se que os manejos de classe, os rituais pedagógicos e as estratégias que vinculam o instrucional e o disciplinar articulam-se em um jogo dialógico em várias direções. A partir da análise das vozes dos professores, empreendidas nas relações sociais de sala de aula, buscou-se aprender as significações atribuídas à bronca. Em outras palavras: o que as palavras revelam quando a fala verbalizada implica uma bronca a um aluno ou a uma classe toda?
O artigo Psicologia Educacional e Arte Literária: interlocuções para a compreensão dos laços familiares e escolares na atualidade apresenta resultados de um instigante trabalho de investigação no qual a autora propõe uma interlocução entre a Psicologia Educacional e a Arte Literária visando subsidiar os enfrentamentos de educadores e psicólogos no tocante à relação família e escola na atualidade. Graziela Lucchesi Rosa da Silva problematiza a concepção da família atual, que não atende, como poderia, as demandas dos estabelecimentos de ensino, e que não acompanha, como deveria, a vida escolar dos filhos em função sua própria desestruturação e desorganização. A instituição familiar e os papéis sociais que compreende, principalmente os referentes ao acompanhamento da vida escolar dos filhos, são abordados de forma histórica e na perspectiva da psicologia histórico-cultural.
Finalizando, consideramos que esses trabalhos revelam a complexidade do fenômeno educativo e a necessidade de articular, em sua compreensão, os aspectos históricos e sociais de sua constituição presentes em pesquisas realizadas em várias regiões brasileiras e em diferentes contextos escolares.