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Psicologia da Educação
versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520
Psicol. educ. n.25 São Paulo dez. 2007
O uso do vídeo na pesquisa de tipo etnográfico: uma discussão sobre o método
Using videos in an ethnographic research: discussion about the method
El uso del vídeo en la investigación de tipo etnográfico: una discusión sobre el método
Lineu Norio Kohatsu
Instituto de Psicologia - USP. E-mail: li.nk@terra.com.br
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo principal a discussão sobre o método empregado em uma pesquisa de doutorado. O estudo se caracteriza como uma pesquisa de abordagem qualitativa, de orientação fenomenológica, tendo a pesquisa de tipo etnográfica como referência metodológica e a utilização do vídeo como recurso. Participaram da pesquisa 3 ex-alunos de escola especial: um do sexo feminino, 23 anos, e dois do sexo masculino, com 24 e 41 anos. A pesquisa teve como objetivo o conhecimento e a compreensão da relação que os sujeitos mantêm com os seus bairros. Para a realização do estudo, foi proposta a produção de um vídeo aos participantes. A pesquisa ocorreu em três bairros do município de São Bernardo do Campo: a favela Boa Vista, a Vila Rosa e o Jardim das Orquídeas.
Palavras-chave: pesquisa qualitativa; pesquisa de tipo etnográfico; vídeo; escola especial.
ABSTRACT
The use of vídeo in a Etnographic type of research: a discussion about the method. The main objective of the present article is the discussion about method employed in a Doctorship Research. This study is characterized by a Qualitative Research, with Phenomenological Approach, having the Etnographic type of research as a methodological reference and the use of video as a mean of investigation. Three (3) former students of Special Schools took part in this research: one female, 23 y.o., and 2 male, 24 and 41 y.o. The objective of the study was the knowledge and comprehension of the relationship maintained by these persons with their neighbourhood. The survey took place in three districts of São Bernardo do Campo City: Boa Vista, Vila Rosa and Jardim das Orquídeas Slums, this latter placed in a fountainhead reserve (Billings Reservoir).
Keywords: Qualitative Research; Etnographic Research; Video; Special School.
RESUMEN
El uso del vídeo en la investigación de tipo etnográfico: una discusión sobre el método. Lo presente artículo tiene como objetivo principal la discusión sobre el método empleado en una investigación de doctorado. El estudio se caracteriza como una investigación de abordaje cualitativa, de orientación fenomenológica, teniendo la investigación de tipo etnográfica como referencia metodológica y la utilización del vídeo como recurso. Participaron de la investigación 03 exalumnos de escuela especial: una del sexo femenino, 23 años, y dos del sexo masculino con 24 y 41 años. La investigación tuvo como objetivo el conocimiento y la comprensión de la relación que los sujetos mantienen con sus barrios. Para la realización del estudio, fue propuesta la producción de uno vídeo a los participantes. La investigación ocurrió en tres barrios del Municipio de São Bernardo do Campo: la chabola Boa Vista, la Villa Rosa y el Jardín de las Orquídeas.
Palabras clave: Investigación cualitativa; investigación de tipo etnográfico; vídeo; escuela especial.
Introdução
Neste artigo, pretendo compartilhar algumas reflexões que realizei sobre o método de pesquisa empregado em minha tese de doutorado.1 Inicialmente, procurei tecer alguns comentários sobre o modo como procedi na pesquisa, comparando-a à realização de um objeto artesanal, mais especificamente a uma colcha de retalhos, devido a uma ligeira impressão de desarticulação percebida no início da pesquisa. Posteriormente, busquei algumas referências teóricas e pude perceber que essa impressão de desarticulação inicial era característica do tipo de pesquisa que eu pretendia realizar. Pude caracterizá-la, portanto, como uma pesquisa abordagem qualitativa, cujos passos se consolidam na medida em que a investigação avança. Passo então à tarefa de compreender e explicar teoricamente
o que vem a ser uma pesquisa qualitativa, revelando a base fenomenológica presente em sua origem. Em seguida, realizo uma breve discussão a respeito da pesquisa de tipo etnográfico, apontando algumas similaridades com a postura fenomenológica. Apresento, então, alguns dados sobre a utilização de imagens nas pesquisas etnográficas e finalizo com uma discussão sobre o uso do vídeo. Na parte final, apresento a organização da pesquisa: os objetivos, as perguntas decorrentes da problematização, os participantes, os locais das gravações, os procedimentos da pesquisa, a organização do material. Nas considerações finais, compartilho algumas descobertas possibilitadas pela pesquisa.
Algumas reflexões acerca do método
Elaborar uma tese é como confeccionar um objeto artesanal. Lígia Amaral (1998) utilizou a imagem de um jacquart para se referir à elaboração de sua tese de Livre Docência, em virtude do entrelaçamento das idéias que formavam uma "complexa trama". No caso da minha tese de doutorado, penso que a imagem de uma colcha de retalhos é mais apropriada do que a de um tecido cuja confecção segue uma linearidade, uma seqüência contínua no entrelaçamento dos fios. Na colcha de retalhos, os pedaços vão se juntando simultaneamente e formando partes cada vez maiores até formar a peça acabada.
A referida tese pode ser comparada a uma colcha pelo modo como foi se constituindo. As partes da colcha (problematização, metodologia, fundamentação teórica, coleta de dados) foram se constituindo simultaneamente, uma se iniciando e se desenvolvendo sem que a outra, necessariamente, estivesse finalizada. Assim, cada parte, ao se juntar, foi interferindo na constituição da outra.
Em muitos momentos, fui emendando intuitivamente os pedaços, sem prever exatamente onde ia chegar; assim, o desenho e a forma foram se constituindo gradativamente durante o fazer. Certas vezes, algumas peças ficaram de fora, noutras, foi necessário até desmanchar alguns pedaços, corrigir e recomeçar.
Bernadete Gatti defende que, para se elaborar uma tese, é necessária uma elaboração intelectual, um planejamento, um método, mas também a intuição, pois ela é um importante instrumento para nos orientar no momento de juntar os pequenos retalhos: "O pesquisador se utiliza muito da intuição e da imaginação. Não é apenas a lógica a grande arma do pesquisador. No ato de pesquisar ela se associa fortemente com a intuição e a imaginação" (1999, p. 76).
Os pequenos detalhes - o que chamo de retalhos - foram sendo descobertos a cada passo, a cada leitura realizada, a cada orientação recebida, a cada contato com os participantes, a cada linha escrita - cada detalhe que, em sua descoberta, possibilitou uma reelaboração do já existente ou ainda uma ressignificação do que já se pensava como conhecido, revelando um novo sentido possível - saber de um novo jeito o que já se sabia sabido. E isso para mim foi muito curioso e gratificante, pois foi como se, de repente, num esbarrão não intencional, me encontrasse com algo que sempre esteve ali, visto, mas, incrivelmente, não percebido. Assim, foi maior a surpresa; não a descoberta do que estava oculto, mas o espanto diante daquilo que já se pensava conhecido.
Durante a redação, despertou-me ainda uma nova imagem, sintetizada em uma figura: a teia de aranha. Uma construção não linear, mas em forma de rede espiralada, que se tece sustentada nos raios concêntricos e que tem como finalidade a captura da presa. Cada teia é construída e adequada a uma gama restrita de presas, não muito grandes e nem muito pequenas. E, curiosamente, ao brincar com as imagens e os sentidos figurados, vejo uma nova coincidência, agora em relação ao texto de Gatti (ibid., p. 77). Ela escreve:
O pesquisador pode ser comparado a um caçador ou a um pescador. Precisa ter todos os sentidos aguçados, não só a sua mente, agindo sob o comando de um bom conhecimento de sua virtual "presa" e do contexto onde vive. A pesquisa é um cerco em torno de um problema. É necessário escolher instrumentos para acessar a questão, vislumbrar e escolher trilhas a seguir e modos de se comportar nessas trilhas, criar alternativas de ação para eventuais surpresas, criar armadilhas para capturar respostas significativas.
Coincidência ou uma apropriação que se fez consciente? Difícil saber.
Em busca de referenciais teóricos para pensar o método
Como foi abordada anteriormente, a pesquisa não partiu de uma abordagem metodológica pré-definida, mas elaborada passo a passo. O que se pode perceber é que alguns aspectos metodológicos foram ficando mais claros na medida em que a proposta da pesquisa foi tomando forma e corpo. Sobre isso Gatti escreve (ibid.): "O método não é um roteiro fixo, é uma referência. Ele, de fato, é construído na prática, no exercício do 'fazer pesquisa'. O método, nesse sentido, está sempre em construção".
A autora procura mostrar em seu texto que o método é algo concreto, que se constrói no próprio processo de investigação. Deve ser considerado como um ato vivo e que "se revela nas nossas ações, na nossa organização e no desenvolvimento do trabalho de pesquisa, na maneira como olhamos as coisas do mundo" (ibid., p. 63). Em outro trecho a autora complementa:
A colocação dos problemas de investigação é reveladora da perspectiva de abordagem do pesquisador e determinante para seu método. Na abordagem do tema e no enunciado dos problemas revela-se um modo particular de entender e enfocar determinadas questões. A abordagem e o método revelam-se nas formas de pensar e de fazer no transcorrer da própria pesquisa e não por declarações abstratas de adesão a esta ou aquela perspectiva. (Ibid., p. 76)
A partir do objetivo estabelecido na pesquisa, foi necessário pensar numa abordagem que possibilitasse a apreensão e a compreensão do ponto de vista dos sujeitos participantes da pesquisa, assim como os sentidos e significados que atribuíam ao bairro onde moravam e às experiências realizadas nesses locais, enfim, uma abordagem que propiciasse a visualização das relações que esses sujeitos mantinham com o contexto em que viviam; um modo de pesquisa em que o pesquisador não se posicionasse como um observador imparcial, mas que pudesse interagir com os participantes sem negar a sua subjetividade; uma abordagem que pudesse ser construída no próprio caminhar da pesquisa, possibilitando a revisão dos rumos estabelecidos inicialmente.
A abordagem qualitativa
Martins e Bicudo (1994) e Forghieri (2002) estabelecem algumas diferenciações entre a abordagem quantitativa e qualitativa. Segundo esses autores, a pesquisa quantitativa teve sua origem no Empirismo e no Positivismo, enquanto que a pesquisa qualitativa se originou na Fenomenologia. André (1992, p.18), em concordância com Martins e Bicudo, afirma que "a 'pesquisa qualitativa' é a pesquisa fenomenológica", contudo, observa que o termo é muito genérico e permite diferentes concepções.
André aponta ainda que o termo "qualitativo" serviu até determinado momento para "identificar uma perspectiva de conhecimento que se contrapunha ao positivismo" (1992, p. 19), todavia, entende que esse momento parece estar superado, embora não negue a importância que o debate teve, principalmente por colocar em questão o valor da orientação positivista no trabalho científico (ibid., p. 20). A pesquisadora entende que os termos quantitativo e qualitativo deveriam ser usados para "diferenciar técnicas de coleta ou, até melhor, para designar o tipo de dado obtido" (ibid., p. 19).
Para Martins e Bicudo (1994), a pesquisa qualitativa caracteriza-se como um estudo que lida com fenômenos, diferenciando-se da pesquisa quantitativa, que trabalha com fatos.
A origem do significado de fenômeno vem da expressão grega fainomenon, derivada do verbo fainestai, que significa mostrar-se a si mesmo. Desse modo, "a expressão fenômeno tem o significado de aquilo que se mostra em si mesmo, o manifesto" (ibid., p. 22). Os autores contam também que os gregos identificavam os fainonema como ta onta, que significa entidades. Esta, por sua vez, "pode mostrar-se a si mesma de várias formas, dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela" (ibid.). Nessa perspectiva, abrem-se várias possibilidades de acesso ao fenômeno a ser compreendido, implicando, dessa forma, uma mudança de concepção em relação ao método.
A fenomenologia abre também uma outra possibilidade de o homem situar-se no mundo, sair de sua atitude natural, não refletida, para uma atitude reflexiva, na qual toma consciência dos significados que atribui à sua existência. Isso não quer dizer, todavia, que a fenomenologia proponha uma negação da vida cotidiana, pelo contrário, propõe o mundo vivido como ponto de partida para a reflexão. É no mundo vivido que os fenômenos se mostram.
Desse modo, a fenomenologia indica que, para realizar o estudo de determinado fenômeno, este não pode ser compreendido isolado de seu contexto, com as variáveis controladas, pois o "fenômeno mostra-se a si mesmo, situando-se" (ibid.).
Para Forghieri (2002), a abordagem fenomenológica, ao propor o retorno ao mundo da vida, possibilita o estudo das vivências dos sujeitos inseridos no mundo, em determinadas situações; possibilita a compreensão dos sentidos e dos significados das vivências experienciadas pelas pessoas em seu existir cotidiano.
André (1992, p. 11) demonstra compartilhar o mesmo olhar sobre a fenomenologia:
A fenomenologia enfatiza os aspectos subjetivos do comportamento humano e preconiza que é preciso penetrar no universo conceitual dos sujeitos para poder entender como e que tipo de sentido eles dão aos acontecimentos e às interações sociais que ocorrem em sua vida diária. O mundo do sujeito, as suas experiências cotidianas e os significados atribuídos às mesmas são, portanto, os núcleos de atenção da fenomenologia.
Como se pode ver, a particularidade das experiências vividas, na abordagem qualitativa, se torna o foco da atenção do pesquisador:
Uma idéia mais geral sobre tal pesquisa é que ela não se preocupa com generalizações, princípios e leis. A generalização é abandonada e o foco da sua atenção é centralizado no específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados. (Martins e Bicudo, 1994, p. 23, grifo nosso)
Como foi mostrado anteriormente, nesse processo de compreensão da vivência das pessoas, o pesquisador não deve se anular, mas voltar também o olhar para si:
Ao se utilizar da redução fenomenológica para investigar formas concretas de existência, ou experiências vividas em determinadas situações, o pesquisador deve iniciar o seu trabalho voltando-se para a sua própria vivência a fim de refletir sobre ela para captar o significado da mesma em sua existência". (Forghieri, 2002, p. 59, grifo nosso)
Forghieri aponta que a redução fenomenológica, no campo da psicologia, apresenta dois momentos distintos, paradoxalmente inter-relacionados e reversíveis. A autora refere-se também ao "envolvimento existencial" e "distanciamento reflexivo". Sobre o "envolvimento existencial", há um aspecto que me chamou a atenção e que gostaria de destacar:
[...] o pesquisador precisa iniciar seu trabalho procurando sair de uma atitude intelectualizada para se soltar ao fluir de sua própria vivência, nela penetrando de modo espontâneo e profundo, para deixar surgirem a intuição, percepção, sentimentos e sensações que brotam numa totalidade, proporcionando-lhe uma compreensão global, intuitiva, pré-reflexiva, dessa vivência. (Ibid., p. 60)
Quanto ao "distanciamento reflexivo" a autora explica que ele ocorre após o envolvimento existencial. Nesse momento, o pesquisador deve procurar distanciar-se para poder refletir sobre a vivência, analisá-la e enunciar descritivamente os significados, ou o sentido, captados intuitivamente, durante o envolvimento (ibid., p. 62).
Para finalizar esta parte, gostaria de retomar resumidamente alguns aspectos que considerei importantes na abordagem qualitativa:
1. O sujeito e o objeto estão implicados e se revelam mutuamente através da intencionalidade;
2. O conhecimento ocorre sempre situado em um contexto, sendo que o sentido é atribuído a partir dele;
3. Não há uma preocupação com a busca de generalizações, leis e regras, pois o foco se centra no que é particular, específico e individual;,
4. O mundo vivido é o ponto de partida das reflexões e o conhecimento não parte das intelectualizações, mas do que é primeiramente vivido, intuído e percebido.
A pesquisa de tipo etnográfico
No decorrer da pesquisa, deparei-me com algumas investigações caracterizadas como estudo etnográfico e pude notar algumas semelhanças deste com a abordagem fenomenológica, como, por exemplo, a ênfase nos significados dados pelos sujeitos às suas vivências.
Ao entrar em contato com a tese de Livre Docência de André (1992), pude compreender o motivo pelo qual eu percebia uma possível aproximação entre a fenomenologia e o estudo etnográfico. Segundo a autora, a fenomenologia dá origem à abordagem qualitativa de pesquisa, "onde também estão presentes as idéias do interacionismo simbólico, da etnometodologia e da etnografia, todas elas derivadas da fenomenologia" (1992, p. 11).
Em relação à etnografia, André (ibid.) mostra que se trata de uma vertente da antropologia que busca compreender o significado que as pessoas dão às ações e aos eventos. Sato e Souza (2001, p. 30), baseando-se em Rockwell (1986), mostram, mais precisamente, que a etnografia originou-se na Antropologia Social, sendo utilizada também na Sociologia de tradição inglesa. Etimologicamente, pode ser compreendida como "descrição cultural"; pode ser entendida também como um conjunto de técnicas para coletar dados sobre valores, hábitos, crenças e comportamentos de um determinado grupo social e como relato escrito produzido pelo emprego dessas técnicas (André, 1992, p. 21).
André aponta para algumas diferenças entre a etnografia, quando utilizada para o estudo da cultura e da sociedade, e quando passa a ser usada para pesquisa em educação. A diferença no enfoque faz com que certos requisitos da etnografia não necessitem ser cumpridos quando a investigação se der no campo educacional, como, por exemplo, "a longa permanência do pesquisador em campo, o contato com outras culturas e o uso de amplas categorias sociais na análise dos dados" (1992, p. 22).
Sobre o tempo de permanência do pesquisador no campo, Sato e Souza (2001) apontam que, na pesquisa etnográfica, o trabalho de campo é extensivo e não intensivo, pois os acontecimentos e os significados somente surgirão com o tempo. Ainda sobre o tempo no campo, as autoras escrevem:
A pesquisa etnográfica também nos leva a considerar que será o tempo de convivência o meio pelo qual as particularidades, os jeitos de ser, os modos de representar poderão ser expressos de maneira a dificultar que as pessoas exibam apenas aquilo que avaliam que o pesquisador deve ou quer escutar, possibilitando, então, desvelar processos criados pelas pessoas em sua vida diária. (Ibid., p. 45)
Em um artigo anterior, Souza (1997) também referiu-se à questão do tempo de permanência do pesquisador no campo, desta vez explicitamente sobre a escola. Relata que na pesquisa sobre a produção do fracasso escolar, conviveu durante aproximadamente dois anos em uma escola pública da periferia da cidade de São Paulo.
De toda forma, segundo André (1992), como nem todos os requisitos da etnografia precisam ser cumpridos em pesquisas na educação, ela entende que seria mais adequado denominar essas pesquisas estudos do tipo etnográfico e não como pesquisas etnográficas. Desse modo, o que caracterizaria um estudo do tipo etnográfico em educação seria o uso de algumas técnicas da etnografia, como a observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documentos.
Sobre a observação participante, André explica que ela parte do "princípio que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo afetada por ela" (ibid., p. 22).
André (1992, pp. 22-24, 1995, pp. 28-30) aponta para sete princípios que caracterizam a pesquisa do tipo etnográfico:
1. Interação constante entre o pesquisador e o objeto pesquisado;
2. O pesquisador é o principal instrumento na coleta de dados. Os dados são mediados pelo instrumento humano, que responde ativamente às circunstâncias, modificando as técnicas de coleta se necessário, revendo as questões que orientam a pesquisa, revendo a metodologia;
3. Ênfase no processo e não no produto ou no resultado final;
4. Preocupação com o significado dado pelas pessoas às suas experiências. O pesquisador deve tentar compreender o ponto de vista dos participantes;
5. Geralmente envolve um trabalho de campo;
6. Descrição e indução;
7. Formulação de hipóteses, conceitos, abstrações, teorias e não sua testagem. Faz parte ainda o uso de um plano de trabalho aberto e flexível, em que os focos de investigação podem ser revistos.
Ao relatar sobre as qualidades necessárias ao pesquisador que opta por trabalhar nessa abordagem - como tolerância à ambigüidade, sensibilidade, empatia e habilidade de expressão escrita -, André explicita ainda algumas outras características da pesquisa etnográfica, como a presença de dúvidas, incertezas e inexistência de normas prontas decorrente da estrutura aberta e flexível. A autora escreve ainda que "as decisões sobre como analisar e apresentar os dados também não podem ser predeterminadas, a não ser em linhas bem gerais" (André, 1995, p. 60, grifo nosso).
As imagens visuais na pesquisa etnográfica
A etnografia é compreendida como "descrição cultural" e, nesse tipo de pesquisa, o registro escrito tem ocupado lugar predominante. Feldman-Bianco (1998) discute exatamente a tradicional predominância do registro escrito, propondo uma reflexão sobre o que denomina etnografia visual. Em seu texto, a autora propõe uma discussão sobre a relevância da documentação visual e também uma discussão sobre as relações entre o texto etnográfico escrito e a etnografia visual.
O uso do vídeo, assim como outros meios visuais, vem crescendo desde a década de 1980 nas pesquisas antropológicas e sociológicas (ibid., p. 11; Leite, 1998, p. 38). Todavia, o emprego dos recursos visuais tem suas origens em tempos bem mais remotos, podendo ser citado, por exemplo, o trabalho de John Collier Jr. (1973), conhecido como aquele que utilizou pela primeira vez o termo "antropologia visual". Tacca (1990) apresenta, em sua dissertação de mestrado, outros exemplos de antropólogos que já faziam uso dos recursos visuais, como Franz Boas, Margaret Mead e Gregory Bateson, entre outros.
Em sua dissertação, Tacca (ibid.) discute também o modo como os recursos visuais podem ser utilizados na coleta de dados, apontando duas perspectivas:
1. O olhar de fora da cultura: ocorre quando o registro é realizado pelo pesquisador que não pertence ao grupo estudado. Para Tacca, o olhar de fora da cultura não representa o imaginário da cultura estudada, implicando recortes e elementos atravessados pela cultura do pesquisador;
2. O olhar de dentro da cultura: o registro é feito por alguém do próprio grupo.
Sobre a segunda perspectiva, na qual se insere a pesquisa de Tacca, ele cita o trabalho de alguns antropólogos (Sol Worth e John Adair) que ensinaram técnicas de filmagens aos nativos de uma reserva indígena navaho para que eles mesmos pudessem realizar registros de seu cotidiano. Sobre eles, Tacca (ibid., p. 45) faz o seguinte comentário:
Esses autores concordam com Mead e Collier, no que diz respeito às potencialidades cognitivas da visualidade dos meios (fotografia e cinema) na compreensão de aspectos inatingíveis pela abordagem verbal, entretanto, perscrutam uma possibilidade extremamente rica que abriu à pesquisa em antropologia a porta de entrada para o imaginário visual, de dentro do olhar de uma cultura.
Embora o uso dos recursos visuais venha crescendo nas pesquisas em Antropologia e Ciências Sociais, pude observar que na Psicologia ocorre ainda de maneira tímida. Na ocasião da pesquisa de mestrado, pude encontrar a pesquisa realizada por Pesaro (1997), intitulada Identidade e fotografia: reflexões sobre uma experiência junto a um grupo de pacientes psiquiátricos. Nesse estudo, a autora se propôs estudar o olhar dos próprios sujeitos com a utilização da fotografia.
Em minha pesquisa de mestrado (Kohatsu, 1999a), também procurei captar o olhar dos próprios participantes através das fotografias realizadas por eles em seus respectivos universos socioculturais. Realizei também uma discussão sobre o emprego dos recursos visuais, mais especificamente o uso da fotografia na pesquisa.
Relacionado ao uso do vídeo na perspectiva etnográfica, pode ser citada a tese de Doutorado de Luchesi (2003) intitulada Intersubjetividade e diferença: um estudo do contato com pessoas surdas. O estudo relata o contato que a pesquisadora teve com pessoas surdas na Associação de Surdos de São Paulo. Os dados analisados foram provenientes do diário de campo e dos depoimentos gravados em vídeo.
Algumas considerações sobre a utilização de imagens na pesquisa
A fotografia, o cinema e o vídeo, diferentemente de outras formas de representação humana até então conhecidas, como a pintura, a gravura e o desenho - para citar apenas aquelas em que a representação se dá no plano bidimensional -, possuem o poder de fascinar o receptor devido à fidelidade das imagens, que chegam a fazer crer que são mais reais do que o próprio referente. Esse é o aspecto ideológico decorrente da técnica presente nesses meios que merece ser denunciado (Freund, 1989).
Os meios de comunicação - impresso, televisivo e agora o eletrônico - têm explorado eficientemente o fascínio que as imagens fotográficas, cinematográficas e videográficas provocam no espectador, dando-lhe a ilusão de que aquilo que ele vê é a própria realidade, sem mediações.
Se o texto escrito tem o poder de convencer o leitor de que as palavras traduzem e decifram a verdade, as imagens visuais elevam em infinita potência o poder de convencimento. Mais do que prova irrefutável do fato ocorrido, tomam lugar do próprio fato, confundindo o receptor mais desatento.
A tecnologia presente nessas imagens produzidas pelo registro da luz (Dubois, 1994) tornou possível captar recortes do real com impressionante exatidão e fidedignidade, proporcionando a exploração dessas imagens pelos meios jornalísticos e também pelos historiadores, em virtude de seu valor documental (Kossoy, 1989,1999).
Contudo, é importante destacar que essas imagens nunca são neutras e nem totalmente objetivas. Mais especificamente sobre a fotografia, Kossoy apresenta um ponto de vista muito interessante. Para ele, sempre existe uma intencionalidade que antecede toda criação fotográfica, seja ela jornalística ou artística. Assim, toda foto carrega sempre consigo um aspecto da realidade que a gerou e sempre uma parcela de criação, decorrente da intencionalidade do fotógrafo. Desse modo, mesmo a fotografia sendo o resultado de processos ópticos e químicos - e por isso sua natureza indiciária, segundo Dubois (1994) -, existiu anteriormente uma intencionalidade humana que definiu o que iria ser registrado e como seria registrado.
O ponto de vista de Kossoy sobre a fotografia como criação intencional é compartilhado por outros autores como Leite (1998, p. 40):
(...) entre a imagem e a realidade que representa, existe uma série de mediações que fazem com que, ao contrário do que se pensa habitualmente, a imagem não seja restituição, mas reconstrução - sempre uma alteração voluntária ou involuntária da realidade.
Mais adiante ela escreve: "Longe de ser um objeto neutro, a fotografia acolhe significados muito diferentes, que interferem na codificação e nas possíveis decodificações da mensagem transmitida" (ibid.).
Se, do ponto de vista da criação, pudemos ver que as imagens não são neutras, mas, pelo contrário, produto da intencionalidade que as produziu, o mesmo se pode afirmar quanto à recepção delas.
Isso me faz pensar, ou melhor, retornar a um ponto anteriormente discutido, sobre a questão metodológica no que diz respeito à neutralidade, objetividade e subjetividade na pesquisa.
Ainda que se privilegie a produção do olhar na perspectiva de quem olha por dentro da cultura, a recepção e a interpretação serão sempre atravessadas pelo olhar daquele que olha de fora, ou seja, o pesquisador. Além disso, há que se considerar que o produtor das imagens, mesmo sendo membro do próprio grupo estudado, deve minimamente imaginar quem serão os receptores virtuais de suas imagens, supondo ainda que estes não sejam necessariamente apenas aqueles de dentro de seu grupo. Assim sendo, penso que dificilmente a presença do estranho, do intruso, possa ser totalmente suprimida durante a produção das imagens e do contexto pesquisado. E, ainda, mesmo que o pesquisador não seja tomado como intruso, a câmera certamente será, pois sua presença jamais será totalmente ignorada, retirando, desse modo, a naturalidade do ambiente.
Como já foi dito anteriormente, nas pesquisas em ciências humanas e sociais, o pesquisador é o principal instrumento da pesquisa e nada poderá substituir sua capacidade de reflexão. Desse modo, o pesquisador não deve tentar "desaparecer" do contexto da pesquisa para que se possa mostrar objetivamente a realidade retratada. Pelo contrário, ele deve explicitar o lugar que ocupa, assim como ter clara a sua intencionalidade. A intencionalidade do pesquisador pode ser comparada à sua lente. Quanto mais precisa, melhor será o seu foco sobre o objeto. E no que se refere aos participantes da pesquisa, estes devem ser considerados como parceiros, aqueles com os quais o pesquisador dialogará sobre o significado das imagens produzidas.
Considerações sobre o vídeo
Segundo Leite (1998, p. 43), palavra e imagem, o "texto verbal e o visual são polissêmicos e complementares". Para Godard (apud Joly, 1996, p. 115), "palavra e imagem são como cadeira e mesa: se você quiser se sentar à mesa, precisa de ambas".
A imagem, segundo Bittencourt (1998, p. 198), pode contribuir para a captura de aspectos visuais que transcendem a capacidade de representação da escrita. E ainda: "Na realidade, a imagem e os meios visuais, quando utilizados como instrumentos etnográficos, ampliam as condições para o estabelecimento de um diálogo fecundo com outros universos culturais" (p. 200).
O vídeo apresenta algumas semelhanças em relação a outras formas de representação, porém carrega também especificidades.
Diferentemente da fotografia, que é uma imagem estática, o vídeo, assim como o filme de cinema, é essencialmente imagem em movimento.
Em sua tese de Livre Docência intitulada De Altamira a Palo Alto: a busca do movimento, Mario Guidi (1991) reconstrói os passos que levaram ao surgimento do cinema. Ele parte dos primeiros estudos ópticos realizados no período do Renascimento até a descoberta da fixação da imagem que deu origem à fotografia, passando em seguida para as experiências de Marey e Muybridge, que realizaram as primeiras experiências científicas para capturar a imagem em movimento.
Samain (1998) discute a singularidade das imagens a partir de seus respectivos suportes técnicos. Partindo das considerações feitas por Dubois, ele analisa a natureza objetal das imagens. A fotografia é uma inscrição, uma queimadura produzida pela luz em uma superfície fotossensível. Ela é simultaneamente imagem e artefato, um objeto que pode ser tocado, tem uma textura, peso, enfim, uma materialidade que não se encontra nem na imagem fílmica e nem na imagem televisiva e eletrônica. Mesmo originada da película, a imagem fílmica é apenas uma projeção e seu reflexo, abstrata, intocável e inatingível. A imagem televisiva, por sua vez, é uma imagem fantasma originada por feixes de elétrons projetados em uma tela fosforescente, desprovida de toda realidade concreta.
Tanto a imagem fílmica quanto o vídeo são imagens em movimento e, diferentemente da fotografia, apresentam ainda mais uma diferença significativa: permitem o registro simultâneo da imagem e do som, ou melhor, das palavras. Enquanto a fotografia é uma imagem silenciosa, o vídeo e o filme são imagens falantes. Em relação à pesquisa, esse foi um detalhe importante por duas razões: para o videomaker, essa fusão entre som (narração) e a imagem, possibilitou uma significação (pela narração) simultânea ao processo captação das imagens; para o receptor-pesquisador possibilitou a contextualização das imagens pela narrativa presente e a melhor compreensão sobre o que foi. Para a pesquisa, essa praticidade foi um aspecto bastante relevante.
Um outro aspecto (técnico e metodológico) importante proporcionado pelo vídeo foi o processo de edição. Para realizar a montagem, foi necessária a decupagem do material gravado, ou seja, a seleção das partes para compor o trabalho final. Ao realizá-la, puder notar que estava, de certa forma, tematizando o que havia sido gravado, facilitando o processo de análise.
A decupagem, desse modo, permitiu uma melhor compreensão do vídeo realizado pelos participantes e, mesmo na ausência de um roteiro prévio e de domínio técnico do equipamento de vídeo, possibilitou, pelo levantamento dos temas gravados, observar a presença de uma lógica no trabalho realizado.
Sobre a pesquisa
1. Objetivos da pesquisa
1. Proporcionar o conhecimento e a compreensão da relação que ex-alunos de escolas especiais mantinham com o bairro onde moravam a partir da produção de um vídeo realizado pelos próprios participantes;
2. Analisar o processo de produção do vídeo em todas as suas etapas.
A investigação partiu de cinco perguntas básicas, formuladas no momento da problematização:
Como se constituiu o universo social dessas pessoas (ex-alunos de uma escola especial) para além dos muros institucionais da escola?
Será que a permanência na escola especial dificultou ao aluno o conhecimento de seu bairro e será que a saída da escola proporcionou essa aproximação?
Como vivenciaram e ocuparam o espaço do bairro? Quais foram as experiências mais significativas? Em que período ocorreram (infância, adolescência, fase adulta)?
Como é para essas pessoas (ex-alunos da escola especial) morar na periferia? Será que o contexto comunitário (se existente) favoreceu de algum modo a sua socialização?
Em que medida o vídeo auxilia no conhecimento da realidade vivida pelo participante da pesquisa?
2. Participantes:
Três ex-alunos de escola especial:
Luzia, 23 anos, funcionária de uma empresa de limpeza.
Mário, 41 anos, trabalhador de uma oficina abrigada.
Márcio, 24 anos, trabalhador de uma oficina abrigada.
Foram utilizados três critérios para escolha dos participantes:
Independência na locomoção;
Que morassem desde criança no bairro;
Que demonstrassem interesse na participação da pesquisa.
3. Local da pesquisa
A pesquisa ocorreu em três bairros do município de São Bernardo do Campo:
Boa Vista (favela);
Vila Rosa (bairro residencial, comercial e industrial);
Jardim das Orquídeas (bairro situado em zona de manancial).
4. A proposta
Cada participante da pesquisa, em posse de uma câmera de vídeo, realizou vários registros do bairro em que moravam. Foi solicitado a eles que mostrassem o bairro, os lugares que conheciam, que mais gostavam, etc. As gravações não seguiram um roteiro preestabelecido, sendo realizadas de modo espontâneo pelos participantes.
As gravações dos bairros foram realizadas individualmente. A primeira experiência (Luzia) foi considerada como piloto, sendo a gravação realizada em um único encontro, com cerca de quinze minutos de duração. A segunda (Mário) ocorreu em cinco encontros e aproximadamente 60 minutos de gravação. A terceira e última (Márcio) foi realizada em seis encontros e aproximadamente 90 minutos de gravação.
Todas as gravações foram realizadas em minha companhia. Algumas instruções básicas sobre o funcionamento, recursos e manejo do equipamento foram dadas inicialmente e durante o processo, quando era necessário.
5. Procedimentos / Etapas
Contato com o participante, esclarecimento da proposta da pesquisa e agendamento para a data da gravação do vídeo;
Encontros para realizar as gravações;
Observação das cenas gravadas, comentários do participante sobre o resultado obtido, escolha das cenas que se pretendem manter e outras que se desejam cortar, escolha do fundo musical (se desejado) e esclarecimentos necessários;
Edição.
A edição foi realizada em dois estúdios diferentes e somente Luzia e Márcio puderam participar de parte do processo pela dificuldade em conciliar a agenda dos estúdios com a dos participantes.
6. Organização e reflexão sobre o material coletado
O material consiste basicamente em:
Registro em vídeo realizado pelos participantes;
Registro em áudio das conversas realizadas com os participantes
Anotações de campo realizadas pelo pesquisador sobre todo processo de produção.
As gravações foram realizadas na experiência-piloto com uma câmera de vídeo no formato VHS e as duas posteriores em câmera digital em função da qualidade de som e imagem obtidas na primeira experiência.
Organização dos materiais
A organização dos materiais seguiu os passos seguintes:
- Transcrição das falas contidas no vídeo e no áudio;
- Separação do material de vídeo em pequenas cenas/assuntos.
Essa terceira etapa foi realizada após várias observações do material gravado e, a partir da identificação do assunto, a ele será dado um título. Exemplo: A casa de Luzia. Junto ao assunto gravado será registrado o momento em que a cena aparece no filme, ou seja, a minutagem. Ex: 01:58 - Panorâmica da favela. Esse processo prepara o material para o trabalho de edição e serve também como facilitador do trabalho de análise.
- Discussão sobre os assuntos gravados;
- Discussão sobre o conjunto produzido pelos participantes.
Nessa última etapa, realizei uma discussão sobre o material produzido no sentido de estabelecer algumas relações e destacar aspectos comuns interessantes.
Considerações finais
A minha intenção neste artigo foi compartilhar as discussões acerca do método utilizado em minha pesquisa de doutorado, conforme anunciado inicialmente.
Tal como foi mostrado, trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de orientação fenomenológica, tendo a pesquisa de tipo etnográfica como referência metodológica e a utilização do vídeo como recurso.
Embora não tenha sido proposta a apresentação dos resultados da pesquisa, penso que alguns aspectos merecem ser mencionados. A partir da pesquisa, pode-se perceber que cada um dos participantes apresentou diferentes modos e níveis de integração às comunidades dos bairros, todavia, pode-se observar também que parte significativa do círculo de relacionamentos é formada por amigos que conheceram nas instituições especiais. Outro aspecto interessante foi a possibilidade de recordarem e relatarem eventos da infância a partir do contato com diversos lugares dos bairros. Nesse sentido, a partir da pesquisa, pode-se notar como cada um dos participantes incorporou em suas histórias de vida parte da história de seus respectivos bairros, revelando-os como testemunhos e participantes das histórias de suas comunidades.
O estudo mostra, portanto, as possibilidades de utilização dos recursos visuais como o vídeo em pesquisa do tipo etnográfico para a descoberta e compreensão dos significados dados pelas pessoas, no caso ex-alunos de escola especial, ao mundo vivido em toda sua extensão e profundidade temporal e histórica.
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1. Do lado de fora da escola especial: histórias vividas no bairro e contadas por ex-alunos por meio do vídeo. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.