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Psicologia da Educação

versão impressa ISSN 1414-6975versão On-line ISSN 2175-3520

Psicol. educ.  n.25 São Paulo dez. 2007

 

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Educação e pessoas talentosas* - resenha

 

Teaching talented people

 

Educación y personas con talento

 

 

Geraldina Porto Witter

Unicastelo. E-mail: witter@uol.com.br

 

 

Fleith a Alencar atuam na Pós-Graduação da Universidade Católica de Brasília, a primeira, e na Universidade de Brasília, a segunda, sendo pesquisadoras conhecidas na área. Reuniram trabalhos de vários autores, titulados e produzindo na área. O livro, além da apresentação, é constituído por 14 capítulos organizados em três partes: Características do aluno com altas habilidades (5 capítulos), Identificação e avaliação de altas habilidades e talentos (4 capítulos) e Influência da família, da escola e da cultura no desenvolvimento de talentos e altas habilidades (5 capítulos).

Na Apresentação, as organizadoras começam por destacar a importância do talento humano, a necessidade de detectá-lo e promover seu desenvolvimento. Embora tenham estabelecido como leitores-alvos os membros da família e da escola, a atualidade e o nível dos textos também os tornam de grande utilidade para alunos de graduação e mesmo de pós-graduação que começam a se interessar por matéria tão relevante.

O primeiro capítulo da Parte I conceitua altas habilidades e traça um panorama de fatores individuais, familiares e culturais que influem no desenvolvimento das pessoas com tais características. O capítulo foi elaborado por Chagas, que, de forma clara, descreve as características dos talentosos, suas implicações negativas e positivas na sala de aula. Destaca a seguir as dificuldades e facilidades decorrentes de variáveis da família como a percepção dos pais do talentoso, o conhecimento com que contam para compreender o filho. Trata também de variáveis culturais como as associadas ao nível socioeconômico e de escolaridade dos pais, que podem facilitar ou não o desenvolvimento dos talentos.

O capítulo seguinte é de Virgolim. Retoma a importância e a necessidade de se dar maior atenção a essas pessoas, o que implica pesquisas, sendo que no Brasil, nos últimos anos, vem crescendo a investigação na área. Em seguida, conceitua e estabelece as relações entre habilidade intelectual e QI, fazendo uma breve revisão da evolução da área para chegar ao conceito de inteligência em constante evolução, que exemplifica com uma breve síntese histórica, apresentando a caracterização de várias teorias sobre a inteligência.

Fleith (Capítulo 3) enfoca o desenvolvimento socioemocional das pessoas talentosas, com ênfase nos mitos sobre as crianças com tais características. Destaca e apresenta dados em contraposição para vários mitos. Em seguida, descreve o que as pesquisas mostram como características das pessoas com altas habilidades: idealismo e senso de justiça, desenvolvimento moral avançado, perfeccionismo, alto nível de energia, senso de humor, independência, paixão por aprender, perseverança, multipotencialidade, tendência à introversão, consciência aguçada de si mesmo, grande sensibilidade e intensidade emocional.

Altas habilidades e hiperatividade são a temática do Capítulo 4, que leva a assinatura de Ourofino, tendo por interesse central a dupla excepcionalidade: a de cunho positivo e a de caráter negativo. Entre estas últimas enfoca o déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), seus problemas de avaliação, o efeito do medicamento e associação com a hiperatividade e chega aos que apresentam a dupla situação, com uma descrição muito didática. Também inclui recomendações aos pais que podem ser úteis aos profissionais que atendem a crianças com essas características.

Lustosa é a autora do capítulo seguinte, no qual é focado o desenvolvimento moral das pessoas com altas habilidades, tem por referencial a complexidade e a dinâmica do desenvolvimento da personalidade, destacando que "a moral não diz respeito apenas ao relacionamento com o outro, mas também ao trabalho de auto-aperfeiçoamento, do qual fazem parte, além dos valores, as virtudes e os sentimentos morais" (p. 74).

A segunda parte começa com um capítulo de Guimarães, que trata de aspectos gerais da avaliação psicológica de alunos com altas habilidades, destacando-se a relação QI versus inteligência, aspectos a avaliar, os papéis do psicólogo, os de professores e os da família no processo de avaliação.

Nakano e Wechsler levam o leitor para a análise da questão de identificação e avaliação do talento criativo, cujas principais características resumidas pelas autoras são: fluência e flexibilidade de idéias, pensamento original e inovador, alta sensibilidade, fantasia e imaginação, inconformismo e independência de julgamentos, abertura para novas experiências, uso de analogias e combinações, idéias elaboradas, preferência por situações de risco, motivação e curiosidade, senso de humor, impulsividade e espontaneidade, autoconceito positivo e sentido de destino criativo.

Dando continuidade à questão básica dessa parte, no capítulo 8, Galvão enfoca os fatores associados ao talento musical. Trata da importância da prática, das fases da aprendizagem, da motivação, do ambiente de aprendizagem, da personalidade e do estilo cognitivo. Mostra que são muitos os fatores interconectados que viabilizam ou dificultam o desenvolvimento do talento musical.

O último capítulo da parte enfoca a questão da criatividade nas artes plásticas e Losada responde pelo texto. Retoma o conceito de gênio criativo e trabalho criativo passando à questão das perspectivas teóricas da criatividade que enfocam a arte contemporânea: construtivista, descontrutivista, estéticista e pós-moderna. Em seguida, tece algumas considerações gerais sobre a aprendizagem da arte.

A parte final do livro começa com o trabalho de Delou sobre o papel da família. Descreve o funcionamento das famílias que têm crianças talentosas e como podem atuar de modo a propiciar-lhes o desenvolvimento de seus talentos, mostrando a relevância da orientação profissional aos pais, ilustrada por projetos bem-sucedidos. O assunto tem continuidade direta no capítulo seguinte, no qual Sabatella trata do atendimento às famílias com filhos com altas habilidades. Retoma algumas das características do referido tipo de crianças para mostrar como docentes devem orientar a sua educação e para encontrar soluções eficientes e eficazes. Retoma o papel dos pais. Considera que fazer grupos de discussão orientada é uma estratégia útil para trabalhar com a família.

No capítulo 12, Alencar enfoca o papel da escola na estimulação da criança talentosa. Justifica a preocupação com o tema pelo que representa no desenvolvimento de todas as pessoas a dimensão criativa, sendo ainda mais preocupante cuidar desse aspecto nas pessoas com altas habilidades. Destaca os inibidores presentes no processo educacional que não viabilizam o desenvolvimento do potencial criativo e que podem ser desativados pela adequada atuação do docente. Também arrola estratégias de promoção da criatividade que o docente pode pôr em prática em sua sala de aula. Lembra ainda que gestor (diretor) e equipe técnica da escola também devem colaborar e faz recomendações sobre como podem ajudar o corpo docente para criar um clima pró-criatividade e talento.

O penúltimo capítulo é de Pereira e Guimarães e enfoca programas educacionais preparados para atender aos alunos com altas habilidades. Para tanto, é preciso introduzir mudanças no contexto de aprendizagem, investir na excelência, promover enriquecimento curricular, oferecer programas de aceleração, formar grupos de habilidades se for conveniente. Apresenta possíveis alternativas e perspectivas de atendimento, cujos objetivos explicita e contextualiza.

No último capítulo, Gama considera propostas de atendimento a alunos de baixa renda, mas com potencial superior. Descreve alguns programas postos a funcionar no Brasil. Discute a definição de metas e a avaliação.

A rica bibliografia usada na base de sustentação da maioria dos capítulos é uma abertura para outras leituras por parte do leitor, especialmente se for um aluno de curso de graduação ou de pós-graduação e professor. É um livro de grande valor para os que atuam na área, de leitura agradável e que, certamente, convida a pessoa a se aprofundar no assunto.

 

 

* Este texto é uma resenha do livro: Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores, de Fleith, D. de S. e Alencar, E.M.L.S. (orgs.) (Porto Alegre, Artmed, 2007, 188 p.).

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