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Psicologia da Educação

versão impressa ISSN 1414-6975

Psicol. educ.  no.34 São Paulo jun. 2012

 

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RESENHA

 

Representações sociais no campo da educação1

 

 

Daniela Freire

Professora do Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. db.freire@terra.com.br

 

 

O livro Representações sociais: estudos metodológicos em educação oferece ao leitor um bom exemplo do potencial dialógico da Teoria das Representações Sociais a partir da apreciação de procedimentos metodológicos oriundos da articulação entre a Psicologia Social, a História, a Hermenêutica e a Retórica. Os trabalhos apresentados dedicam-se ao exercício de se pensar questões metodológicas alinhadas às interações sociais, aos processos de comunicação e a influência social, fenômenos que circunscrevem a construção do senso comum. Assim, a Teoria das Representações Sociais pode ser compreendida como um quadro conceitual que possibilita grande diversidade metodológica capaz de auxiliar pesquisadores a explorar diversos objetos em diferentes contextos. Por se tratar de publicação em torno de estudos articulados no interior do Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade - Educação (CIERS-Ed), cujos esforços dedicam-se ao estudo sobre as significações do trabalho docente, a maioria dos objetos de representações analisados pertencem ao domínio educacional.

O livro inicia-se com a introdução elaborada pelas autoras que anunciam a intenção de oferecer ao leitor alternativas teórico-metodológicas férteis no estudo de representações sociais. O capítulo que inaugura a publicação refere-se à conferência de Denise Jodelet por ocasião do recebimento do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em seu relato, Jodelet analisa o cenário em que se deu a difusão da teoria na America Latina, sobretudo no Brasil, contexto em que se observa a emergência de estudos fecundos e inovadores muitos dos quais participou ativamente. A autora também analisa a Teoria das Representações Sociais no plano empírico e metodológico em torno do qual observa a variedade de técnicas qualitativas e quantitativas adaptadas à construção e a exploração dos objetos de pesquisa. Dessa perspectiva, anuncia o caráter transversal da noção de representação social e o diálogo interdisciplinar por ela autorizado.

Os pontos analisados por Jodelet podem ser reconhecidos nos entrecruzamentos apresentados em cada um dos textos que se seguem.

Villas Bôas e Sousa no texto intitulado Apontamentos sobre a questão da historicidade no estudo das representações sociais anunciam a seguinte pergunta: o que a análise da dimensão histórica possibilita ao estudo das representações sociais? Pretende-se com esse questionamento buscar aspectos de continuidade e de descontinuidade presentes em uma representação de modo a compreender seus processos de generatividade e de estabilidade. Atentas ao equívoco do anacronismo as autoras oferecem pistas para se pensar a apropriação do passado pelo contemporâneo.

A partir dos resultados de investigações sobre representações sociais do trabalho docente, segundo licenciandos de uma instituição de ensino superior privada de Ribeirão Preto - SP e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Braz, Carvalho, Lima, Sicca e David analisam, em articulação com a abordagem estrutural em representações sociais, O procedimento de classificação múltipla (PCM) e sua pertinência ao estudo das representações sociais. Nesse texto, as autoras anunciam PCM como uma técnica que permite acesso às funções sociocognitivas de categorizar elementos constituintes do objeto de estudo. Nessa publicação, caracterizam os estudos como a análise sociogenética das representações sociais cujo objetivo empreende a busca de aspectos da objetivação e ancoragem. Persegue-se então a indissociabilidade entre discurso, instituições e práticas sociais.

Por sua vez, ancorado na tradição filosófica hermenêutica, Duran e Bahia propõem o diálogo entre o método biográfico e a Teoria das Representações Sociais tendo como eixos orientadores a subjetividade e a historicidade. Para tanto, dedicam-se à reflexão sobre a relação entre o individual e o social, entre a narrativa e seu potencial formativo.

Alba contribui com o texto intitulado Mapas cognitivos: uma ferramenta para a análise de representações socioespaciais por meio do qual apresenta o mapa mental ou cognitivo como metodologia capaz de revelar as três dimensões do espaço: social, territorial e subjetiva. Da revisão do conceito, passando pela descrição dos primeiros estudos sobre mapas cognitivos, a autora analisa os mapas mentais como representações sociais em articulação com os processos de ancoragem e objetivação, bem como discorre sobre seus alcances e suas limitações.

Mazzotti, partindo do pressuposto que a Psicologia Social tem como objeto central o fenômeno da influência, anuncia sua aproximação da persuasão tal como é estudada pela Retórica. Deste modo propõe: Análise retórica: por que e como fazer?, em cujo texto o autor apresenta a análise retórica como forma para se identificar representações sociais. Para tanto, caracteriza as situações discursivas, anuncia o caráter da desejabilidade social das respostas, o esquema de comparação das noções, a metáfora, a metonímia, dissociação de noções, a ironia e a retórica abreviada. O autor ainda discorre sobre estudos em representações sociais elaborados em atenção aos pressupostos da retórica, mostrando ao leitor possibilidades metodológicas para a interpretação dos discursos.

Enfim, pode-se dizer que o livro Representações sociais: estudos metodológicos em educação é menos um livro em que o leitor encontrará debates sobre grandes temas em educação, mas, sim, um livro que demonstra como esforços investigativos articulados em uma rede de pesquisadores especialistas em educação podem ser desdobrados em lições de pesquisa enraizadas no espírito democrático e inovador dos estudos em representações sociais do qual fala Jodelet. Um livro para quem se interessa pela arte de fazer pesquisa em ciências humanas e sociais.

 

 

1 Este texto é uma resenha do livro Representações sociais: estudos metodológicos em educação, de C. P. Souza; L. P. S. Villas Bôas; A. O. Novaes e M. C. G. Duran (Orgs.) (Curitiba/São Paulo, Champagnat/Fundação Carlos Chagas, 2011).