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Psychê

versão impressa ISSN 1415-1138

Psyche (Sao Paulo) v.11 n.20 São Paulo jun. 2007

 

ARTIGOS

 

Os significantes da escuta psicanalítica na clínica contemporânea

 

The significant of the psychoanalytical listening in contemporary clinic

 

 

Elzilaine Domingues Mendes1; João Luiz Leitão Paravidini*2

*Universidade Federal de Uberlândia

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho é percorrer alguns significantes que nos permitam demarcar a transformação da escuta psicanalítica na clínica contemporânea, como a família e suas múltiplas reconfigurações; a economia de mercado e o processo de globalização, com seus avanços tecnológicos e científicos; a ênfase nas relações sociais sustentadas pelo consumismo, individualismo e a importância que o corpo “belo e rejuvenescido” alcançou em nossa civilização. Uma vez que essas mudanças sócio-histórico-econômico-familiares estão articuladas às atuais transformações dos processos de subjetivação, acreditamos que o Fazer Psicanalítico possibilita-nos investigar e compreender o que há em comum nas patologias, como a síndrome do pânico, depressões, doenças psicossomáticas, compulsões e fracasso escolar, enfim, os paradoxos da sociedade contemporânea, e assim constituir meios críticos de (re)significações.

Palavras-chave: Psicanálise, Contemporaneidade, Subjetividade, Corpo, Formações clínicas.


ABSTRACT

The objective of this work is to traverse some significants that allow us to demarcate the transformation of psychoanalytical listening within the contemporary clinic, such as the family and its multiple reconfigurations, the market economy and the globalization process with its technological and scientific advances; the emphasis in social relationships supported by consuming, individualism and the importance that the “beautiful and rejuvenated” body acquired in our civilization. Since these social historical, economical and familiar changes are articulated to the current transformations of the subjectivation processes, we believe that the psychoanalytical practice makes possible the investigation and understanding of what is common to pathologies such as panic syndrome, depressions, psychosomatic diseases, compulsions and school failure and, finally, the paradoxes of the contemporary society, thus constituting critical ways of (re)significations.

Keywords: Psychoanalysis, Contemporary age, Subjectivity, Body, Clinical formations.


 

 

Introdução

Os meios de comunicação nos bombardeiam o tempo todo por meio de pesquisas científicas e índices estatísticos das formas de adoecimento mais comuns no nosso tempo. Vários psicanalistas têm afirmado, em trabalhos atuais, que já não recebemos em nossos consultórios pacientes para análise nos moldes tradicionais. Pesquisas recentes discorrem sobre as doenças da pós-modernidade, destacando a síndrome do pânico, as depressões, as doenças psicossomáticas, as compulsões, o fracasso escolar etc. Junto com esta avalanche de informações, são anunciados também vários tipos de tratamentos, que prometem ser mais rápidos e eficazes do que a psicanálise. Então, podemos nos perguntar: o que há de comum nessas psicopatologias? Por que a psicanálise tem dificuldades para tratá-las? Será que é o fim da análise clássica? O que a psicanálise pode nos dizer sobre isso?

Estudiosos das mais diversas áreas, como filósofos, psicanalistas, historiadores, sociólogos, analisam os fenômenos sociais de nosso tempo, destacando a importância da globalização, do desenvolvimento tecnológico e científico como responsáveis pelas transformações sociais.

Partindo do pressuposto de que a forma de apresentação dos sintomas é fruto de sua época, discutimos como as mudanças sócio-econômicas e ideológicas ocorridas na contemporaneidade contribuem para o surgimento de novas modalidades de subjetivação. Analisamos os sintomas apresentados pelos pacientes na contemporaneidade, destacando a interferência da cultura e dos acontecimentos sociais na organização psíquica dos indivíduos. Fazemos uma análise das relações familiares na modernidade e na contemporaneidade, ressaltando que houve uma mudança na organização familiar. Enquanto na modernidade a família era regida pela figura paterna, atualmente, o que se nota é que a mulher vem conquistando cada vez mais espaço, tanto no núcleo familiar quanto na sociedade. Em relação aos valores tradicionais, Jurandir Freire Costa (2004) ajuda-nos a compreender que eles não foram perdidos, mas redefinidos, conservando-se os princípios democráticos da igualdade, liberdade e direitos do homem. Depois, tentamos compreender o conceito de “hipermodernidade” de Gilles Lipovetsky (2004), para quem o termo pós-modernidade é insuficiente para exprimir o mundo que se anuncia, visto que a sociedade atual não faz oposição à modernidade democrática, liberal e individualista.

O termo hipermodernidade, ainda conforme o autor, é mais adequado por se tratar de uma modernidade desenfreada. Segundo ele, o que deve nos preocupar na hipermodernidade é a fragilização dos indivíduos, pois se antes os homens se sentiam seguros pelo fato de serem regidos por ideais coletivistas, hoje eles se sentem completamente desorientados em função da multilpicidade de escolhas que têm ao seu dispor. Depois, comparamos ainda a escuta psicanalítica dos tempos freudianos com a escuta psicanalítica na atualidade. Jorge Forbes (2004), apoiado no pensamento de Lipovetsky, faz uma interessante análise da passagem da era industrializada, que ele denomina “pai-orientada”, para a era da globalização, e afirma que o homem contemporâneo está “desbussolado”. A globalização gerou uma variedade de ofertas de novos serviços e produtos, então o homem se angustia ao ser convidado a fazer escolhas, pois em qualquer uma lidamos também com perdas.

Para finalizar, retomamos o pensamento de Costa (2004), o qual aponta que a preocupação da psicanálise com o corpo é legítima em função da proliferação dos novos sintomas corporais, e de o corpo ter se tornado um referente na construção das identidades; ressalta ainda a existência de um novo modelo de identidade, a “bioidentidade”, e de uma nova forma de preocupação consigo, a “bioascese”. O cuidado de si, que antes estava vinculado à vida sentimental, atualmente concentra-se na imagem corporal. Nesse caso, os analistas não devem negar que os sofrimentos dos pacientes hoje estão relacionados à sua imagem corporal, portanto, não devem ficar presos ao mundo sentimental.

 

Discurso moderno versus discurso contemporâneo

Para compreendermos a escuta psicanalítica na atualidade, primeiro analisaremos em que contexto se deu o nascimento da psicanálise, e com que tipo de pacientes Freud se deparava. Depois, refletiremos sobre as mudanças ocorridas na contemporaneidade; e ainda, com a finalidade de compreendermos nossa realidade clínica, faremos uma comparação entre a era freudiana e nosso mundo.

Freud cria a psicanálise em um momento histórico específico, no qual a figura do pai era sinônima de autoridade. A marca vitoriana distintiva desse período, que tanto interessa a Freud, encontra-se na repressão da sexualidade. Os sintomas apresentados pelos pacientes se referiam às fantasias sexuais, principalmente da sexualidade feminina. A mulher não tinha acesso à vida fora do lar. Era educada para o matrimônio, com o objetivo de cuidar da casa, do marido e dos filhos. Seus interesses deveriam se restringir ao lar. Seus desejos deveriam ser os do marido, com a finalidade de garantir a manutenção do casamento.

Assim, de acordo com Fuks (2003), o indivíduo da modernidade procurava dar mais sentido e consistência à sua vida constituindo um lugar privilegiado aos sentimentos e aos vínculos afetivos, os quais eram carregados de dramaticidade. A maternidade era considerada como natural na realização da mulher, do mesmo modo que a condição passiva ante o desejo sexual e a conquista do homem. Os papéis sexuais eram definidos da seguinte forma: ao homem cabia o papel de proteger e sustentar a família, trabalhando fora do lar e tomando decisões importantes no contexto externo, ao passo que à mulher cabia apenas desejar casar e ter filhos.

Em uma perspectiva histórica, Santos (2001) traça um significativo panorama das famílias pré-capitalistas. A começar por seus vínculos afetivos, que se davam na casa grande onde recebiam as visitas, sendo que estas tinham acesso à privacidade domiciliar. Elas não se preocupavam com o tempo, pois às vezes essas visitas ficavam dias. Não havia separação entre os espaços familiar e profissional, pois as oficinas funcionavam no interior dos domicílios. As casas tinham um caráter público, que no capitalismo foi transferido para os cafés, bares, clubes. Um outro aspecto diz respeito à escolha do cônjuge, em que prevalecia a quantidade de bens, e não o desejo afetivo do casal. Cabiam todos os tipos de iniciativas ao homem: econômica, social, cultural e sexual. Os demais membros da família assumiam um comportamento passivo diante do pai, o que, conseqüentemente, desestimulava qualquer motivação e desejo individual. O convívio familiar não privilegiava os interesses particulares.

Entretanto, quando voltamos nosso olhar para o que se passa com a família no momento atual, concordamos com Santos (2001) quando declara que a casa passa a ser cada vez mais privatizada. Aqueles que antes partilhavam dela, com o decorrer do tempo passam a anunciar sua visita. A família se reduz, e com a retração das relações de trabalho, vizinhança e parentesco, intensifica-se o sentimento familiar. O contrato conjugal passa a se basear no amor. A arquitetura da casa passa a privilegiar a sexualidade do casal, o que é cada vez mais comprovado pela privacidade e segregação do quarto do casal, com suítes exclusivas no interior das residências. A sexualidade conjugal ganha o caráter de exclusividade e privilégio, passando a ser sinônimo de saúde e bem-estar. A sexualidade extraconjugal passa a ser perseguida.

Dentro desta perspectiva, vemos que com a revolução sexual e o feminismo, a família passa a ser acusada de sufocar a individualidade dos parceiros e de restringir a liberdade das crianças. Atualmente, o modelo de relação que as pessoas procuram estabelecer é de valorizar a autonomia dos indivíduos e de respeitar as diferenças. Nesse caso, o pai não é mais o agente da castração. O casal passa a dividir os direitos e os deveres. Não há mais divisão do trabalho em função do sexo. Nesse contexto, a igualdade entre os sexos contribui para o declínio da função paterna, ou seja, para dissolver o lugar do pai como lei, agente da castração. Os laços sociais se tornaram frouxos e precários. O indivíduo ganhou um valor maior no âmbito familiar e social (Santos, 2001).

Deste modo, o homem tradicional perde lugar para o homem contemporâneo, pois este vive no mundo da técnica, no mundo industrializado. O homem não participa mais de forma integral do processo de produção, pois as atividades na fabricação de um produto são divididas. É uma produção que difere da produção artesanal. Nesta, o artesão participa de todo o processo e transmite sua experiência de geração para geração, conservando assim todo o processo de elaboração e troca de experiências. Esse processo contribui para o enriquecimento do mundo interno. Ao homem contemporâneo, são cobradas rapidez, eficácia e quantidade de produção. O trabalho passa a ser automatizado, o que causa o embotamento da criatividade e contribui para a homogeneização do pensamento. O centro da vida passa a ser o trabalho. É exigido do homem que se adapte e controle suas emoções.

Em consonância com estas transformações sócio-histórico-econômico-familiares, Ferraz (2003) afirma que estamos diante de novas formas de sofrimento psíquico que são peculiares ao nosso tempo, pois são manifestações psíquicas diferentes das neuroses descritas por Freud. Dentre as psicopatologias contemporâneas destacam-se: a anorexia, a bulimia, as doenças psicossomáticas, as depressões, a síndrome do pânico, as adicções. Tais patologias se caracterizam por sintomas que se apresentam no corpo, por uma pobreza do mundo interno, por uma dificuldade de falar e por uma diminuição da capacidade de elaboração mental. Dentre os fatores responsáveis por essas mudanças, podemos ressaltar a quebra dos valores tradicionais ocorrida no decorrer do século XX e a busca de êxito e de sucesso promovida
pelo capitalismo.

Fuks (2003) explica que o diálogo perde espaço para a imagem. Assistimos ao culto dos corpos bem cuidados, “malhados” e uniformizados em um mesmo padrão de beleza. A aparência passa a ser mais valorizada do que os pensamentos e as emoções. Ao desejar um corpo idealizado como belo, o sujeito não é mais o dono de seu próprio desejo, uma vez que este desejo é atravessado pelo discurso ideológico do corpo belo, com as normas e padrões ditados pela sociedade. Nesse sentido, podemos falar da morte do sujeito desejante. Assim, a vida passa a ser marcada por isolamento, solidão, embotamento criativo e tédio. Na contemporaneidade, o indivíduo assume um posicionamento de menor compromisso com a vida. O homem mostra-se indiferente em relação aos afetos.

Nesse contexto, as psicopatologias contemporâneas são conseqüências do fracasso psíquico dos indivíduos diante do mundo idealizado das belas imagens, do sucesso profissional, da eficácia e do culto narcísico. Se o sujeito não atinge os ideais proclamados pela sociedade, nada mais lhe resta senão sua condição de exclusão, de doente. Na contemporaneidade, os ideais, as tradições, a autoridade paterna e as religiões perderam sua importância. Tomaram seu lugar a liberação da sexualidade, o feminismo, o conflito de gerações e os novos vínculos afetivos. As pessoas passaram a reivindicar mais liberdade e mais prazer sexual.

Nesse sentido, será que podemos falar de perda dos valores tradicionais, e conseqüentemente, atribuí-la um lugar de determinante maior nas novas formações psicopatológicas? A fim de compreendermos melhor esta questão, retomaremos as análises de Roudinesco e Jurandir Freire.

Segundo Roudinesco (2003), temos hoje uma organização familiar que difere em muito da realidade da família moderna dos tempos freudianos. Apesar do aumento significativo do número de divórcios, as uniões atuais prezam valores tradicionais, como o vínculo baseado na duração do amor, a valorização da maternidade, o reconhecimento dos filhos como a maior realização dos casais. A família baseada na soberania da autoridade paterna foi desafiada no século XVIII pela irrupção do feminino, pela importância que foi dada à maternidade. Porém, ao invés de ser reduzida ao papel de mãe e de esposa, a mulher foi se individualizando à medida que o acesso ao prazer foi dissociado da procriação.

Outro fato interessante analisado por Roudinesco é que as minorias que se viram perseguidas pela ordem familiar – por exemplo, os homossexuais – tentam hoje se integrar na família, buscando nela reconhecimento, ou seja, quando brigam na justiça pelo direito ao casamento, à adoção de filhos e à procriação medicamente assistida, estão na verdade querendo construir uma família e resgatar valores que outrora questionaram. O modelo da família moderna é ao mesmo tempo questionado e desejado. Surgem novos estilos de família, novos modelos. De acordo com a autora, na contemporaneidade os valores tradicionais da modernidade, que antes eram questionados, agora são resgatados.

De maneira distinta, para Costa, o que houve foi um remanejamento na esfera dos valores. Enquanto o passado nos é familiar, porque é conhecido, o futuro nos é estranho, pois está por vir, é completamente desconhecido. E para muitos de nós, o que assusta nessas mudanças é o fato de não sabermos ao certo aonde elas nos levarão. Daí a necessidade de nos agarrarmos ao passado e temermos em relação a um futuro em grande parte inesperado e talvez prenhe de surpresas. Estamos diante de uma crise de autoridade e vivemos a angústia da “destradicionalização” ou o temor da perda de valores. No entanto, a tradição não se perdeu, vestiu uma nova roupagem ou foi remodelada – nas palavras do autor: “os preceitos morais dominantes permanecem os mesmos, modelados, é claro, pelo colorido da atualidade” (Costa, 2004, p. 15).

Nesse contexto, não podemos falar que é o fim das ideologias tradicionais, mas apenas que foi dispensado o que envelheceu na tradição. Os indivíduos continuam atentos aos princípios democráticos da igualdade, liberdade e direitos do homem. Houve uma adaptação dos valores tradicionais ao nosso tempo. Costa explica: “o lugar do universal, do incontestável, passou a ser ocupado pelo mito cientificista. A mitologia científica, e não a moda, vem substituindo as instituições tradicionais, na tarefa de propor recomendações morais de teor universal” (p.189-190).

O mito científico, por meio da mídia, passa a ocupar o lugar da verdade, antes concedido aos valores tradicionais, religiosos, éticos ou políticos. O bem ou o bom passam a ser definidos pela distância ou proximidade da qualidade de vida. Houve uma retradução dos antigos valores no triunfalismo cientificista.

O que até aqui traçamos permite-nos delimitar que as transformações sócio-histórico-econômico-familiares se fazem presentes no mesmo campo das formações subjetivas em que, sob certas condições específicas, como resgates ou remodelações, os valores considerados tradicionais. Este campo de formação do sujeito e das psicopatologias (subjetivação) é forjado por meio da conjugação do encontro da ruptura (transformação) e conservação dos valores, assim como dos próprios desdobramentos de tais encontros – as subjetividades contemporâneas e suas condições paradoxais.

Julgamos que vários autores que trabalham com crítica da contemporaneidade, sob diferentes perspectivas teóricas (Bauman, 1998; Birman, 2001), trazem contribuições valiosas para a discussão deste assunto, inclusive sob prisma conceitual-terminológico: pós-modernidade, modernidade tardia, hipermodernidade. Escolhemos discorrer no próximo item apenas sobre uma destas perspectivas, a de Gilles Lipovetsky, por ir ao encontro de nossas preocupações centrais, pois ele questiona as interpretações apocalípticas e apoteóticas sobre o futuro, e traz contribuições valiosas que nos auxiliam na compreensão do paradoxo no qual está inserido nosso mundo, dividido entre a cultura do excesso e o elogio da moderação sem, no entanto desconsiderar a importância valiosa dessas outras contribuições.

 

A hipermodernidade

Para Lipovetsky (2004), já estamos na era do hiper, que se caracteriza pelo hiperconsumo, pela hipermodernidade e pelo hipernarcisismo. Ele afirma que o termo pós-modernidade já caiu em desuso por ter esgotado sua capacidade de exprimir o mundo que se anuncia. Devemos falar em hipermodernidade, em modernização desenfreada. É uma modernização da própria modernidade. A sociedade atual não faz oposição à modernidade democrática, liberal e individualista. A hipermodernidade é uma sociedade liberal, caracterizada pelo movimento, pela fluidez e pela flexibilidade. Há uma reconciliação com os princípios básicos que antes estruturavam a modernidade: a democracia, os direitos humanos, o mercado. Estes princípios são reorganizados e adaptados à era hipermoderna. Na hipermodernidade impera o reinado da urgência, não há escolhas, a não ser evoluir para não ser ultrapassado. Exige-se sempre mais dos indivíduos, mais competência, mais eficiência, mais flexibilidade, mais rentabilidade, mais rapidez, mais desempenho.

Em relação à administração do tempo, o que observamos são agendas hiperlotadas, sem discriminação de faixa etária. São várias as atividades diárias, sendo que os objetivos desses excessos também são contraditórios. Podemos pensar em uma compulsão por atividades com a finalidade de viver intensamente o momento presente, ou em um desejo de se preparar para o futuro. Atualmente, os pais colocam os filhos em inúmeras atividades, com a finalidade de melhor prepará-los para o mercado de trabalho. Outro fato interessante são os livros e revistas de auto-ajuda, que colaboram na administração desses excessos, prometendo ajuda na organização do tempo, por exemplo, ensinando a emagrecer fazendo exercícios físicos sem sair de casa e economizando o tempo.

A respeito dos paradoxos da hipermodernidade, Lipovetsky declara: “por meio de suas operações de normatização técnica e desligação social, a era hipermoderna produz num só movimento a ordem e a desordem, a independência e a dependência subjetiva, a moderação e a imoderação” (2004, p. 56).

Por exemplo, em relação ao corpo, em nossa sociedade predominam os exageros. Por um lado, há uma obsessão nos cuidados com o corpo, os quais têm como retaguarda uma preocupação higienista, a qual preconiza uma melhora na saúde, e conseqüentemente, na qualidade de vida. Proliferam os programas de orientação em relação às dietas saudáveis e aos cuidados com o corpo, que incluem todas as faixas etárias. Por outro lado, assistimos a um aumento significativo de doenças que afetam o corpo, como bulimia, anorexia, compulsão alimentar, obesidade etc. Ultimamente fala-se na “vigorexia”, nova patologia prestes a ser incluída na Classificação Internacional das Doenças Mentais, a qual atinge homens que malham excessivamente em busca do corpo belo de Apolo.

No dizer de Lipovetsky, na hipermodernidade os indivíduos se mostram desorientados. Em primeiro lugar, porque não há mais uma sociedade regida por ideais coletivistas. Não existem mais os grandes ideais a serem alcançados – por exemplo, tornar-se um dia como o pai, assumir uma liderança no estado. O que vemos hoje é uma multiplicidade de escolhas que deixam os indivíduos completamente desnorteados. As pessoas não sabem o que escolher, qual é o melhor caminho a ser seguido. Se por um lado morrem as utopias coletivas, por outro assistimos a uma intensificação de atitudes de prevenção, como o desenvolvimento da medicina preventiva.

As preocupações com o presente não são absolutas, uma vez que a ética da previsão e da prevenção também nos leva a fazer escolhas. Ou vive-se intensamente os prazeres momentâneos, correndo o risco do exagero e dos excessos – por exemplo, a compulsão alimentar, tendo como conseqüência a obesidade ou outro tipo de transtorno alimentar – ou abrimos mão dos prazeres imediatos, cuidando da saúde e da possibilidade de uma qualidade de vida futura.

A preocupação com o futuro torna-se inevitável e inquieta os indivíduos. Diante de um futuro dominado pela insegurança, por riscos e incertezas em função da violência social, do desemprego, do subemprego, surge uma obsessão com o que está por vir. Uma necessidade de prever e organizar o futuro. Surge a medicina preventiva, as técnicas de vigilância e de segurança urbana, todas com expectativas positivas em relação ao futuro.

Como vimos anteriormente, o homem ultramoderno é convidado o tempo todo a tomar decisões, a fazer escolhas e também a perder alguma coisa, pois toda escolha implica em perdas. Mas o que deve nos preocupar é a fragilização das personalidades. O homem contemporâneo é mais autônomo, mas ao mesmo tempo é muito mais frágil, pois aumentam suas responsabilidades, as obrigações e as exigências. Além disso, o processo da “hiperindividualização” enfraquece os vínculos humanos. As relações humanas, que antes exigiam uma certa proximidade, dão lugar aos intercâmbios virtuais. Surge uma cultura caracterizada pela hiperatividade, na busca de melhor eficiência, desempenho, rapidez, flexibilidade.

 

A clínica freudiana e a clínica contemporânea

A clínica freudiana se deu na modernidade, quando havia a repressão da sexualidade e o pai funcionava como interditor da lei. Podíamos falar em estruturas clínicas, como neurose, psicose e perversão. A estrutura familiar e social valorizava mais as relações sociais, a troca de experiências, o contato entre as pessoas. O discurso tinha um caráter coletivo. No entanto, o avanço da ciência e a difusão da psicanálise contribuem para o fracasso da função paterna. Na contemporaneidade, o discurso individualista faz surgir novos laços sociais e novos sintomas. Não se fala mais em repressão da sexualidade, mas em liberdade e igualdade entre os sexos. O discurso individualista promove a expansão dos direitos, inclusive do gozo sexual. Diante do excesso de gozo, os indivíduos inventam novos sintomas, que se estruturam em função do que falta ao próprio corpo e ao eu.

O enfraquecimento dos laços sociais, de parentesco, de vizinhança e de trabalho provoca no indivíduo um sentimento de estranheza de si mesmo e uma dificuldade de gerir a própria vida. No caso das patologias contemporâneas, o corpo é o local atingido pelo sofrimento que não pode ser simbolizado. A falta de comunicação e de troca de experiências presente na atualidade causa o empobrecimento da subjetividade, pois não há mais espaço para a transmissão e elaboração da experiência.

Talvez seja interessante pensarmos que houve uma mudança na organização psíquica dos indivíduos contemporâneos, em função da globalização. Costa (2004) faz uma análise muito interessante desse processo. Ele explica que na modernidade o homem buscava o ideal de perfeição por meio dos sentimentos; então seus interesses se concentravam na tentativa de realizar suas fantasias emocionais. Hoje, com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o homem busca alcançar o ideal de perfeição por meio da imagem corporal. O corpo físico volta a ser julgado como causa real da ferida narcísica, pois assistimos a um investimento maciço na imagem corporal. O homem busca uma imagem perfeita de si mesmo e padece de um fascínio pelas possibilidades de transformação física oferecida pelas próteses, cirurgias plásticas, medicamentos, exercícios físicos. O corpo passa a ser visto como capaz de causar o desejo do outro.

Dessa forma, todos os interesses do indivíduo passam a se concentrar na aparência física. A moral dos sentimentos é substituída pela moral do corpo e das sensações. Costa afirma que o mal do século é o mal do corpo, sem a boa forma e a saúde ficam minadas nossas chances de alcançarmos sucesso. Nesse contexto, a construção dos ideais de felicidade depende do desempenho sensorial do corpo. Então, tudo o que denuncia o envelhecimento corporal – rugas, a flacidez, a celulite, os cabelos brancos – deve ser combatido. Todos os recursos devem ser usados para manter a aparência jovem do corpo.

Há uma luta constante contra os efeitos do tempo no corpo contemporâneo, uma tentativa de desvincular corpo e tempo. As marcas – rugas, cabelos brancos, acúmulos de gorduras etc – deixadas no corpo pelo tempo são negadas, apagadas pelas cirurgias plásticas e pelos exercícios físicos e medicamentos que prometem o rejuvenescimento.

Em seu livro mais recente, Você quer o que deseja?, Jorge Forbes (2004), apoiado no pensamento de Gilles Lipovetsky, analisa a passagem da era industrializada, que ele denomina “pai-orientada”, para a atual, da globalização. O mundo foi sacudido violentamente pela globalização, a qual gerou uma enormidade de ofertas de novos serviços e novos produtos. Isso trouxe como conseqüência a possibilidade de uma multiplicidade de escolhas; e diante da variedade destas, o homem contemporâneo se angustia ao ser convidado a tomar decisões, a fazer escolhas.

De acordo com Forbes, o homem contemporâneo está “desbussolado”, desorientado. Na modernidade, as identidades eram organizadas verticalmente, as pessoas tinham um ideal a seguir – por exemplo, ser um dia como o pai –, ao passo que na globalização, o laço social se horizontaliza, os ideais se pulverizam. O problema que antes era “como vou chegar lá?” passou a ser “qual o caminho a escolher entre tantos possíveis?”. Explica que nada que alguém possa querer é suficiente para satisfazer o desejo; assim, qualquer decisão é arriscada e induz à perda. Vivemos uma mudança de época, de era, em que as pessoas se angustiam por não conseguirem tomar decisões. Porém, não podemos nos esquecer que é sob este fundo aparente de multiplicação infindável de possibilidades e escolhas que se vê o sujeito estancar ante ao imperativo sedutor que a tudo está suposto a desejar.

Para o autor referido anteriormente, no mesmo texto, a psicanálise nasceu na época da industrialização, e o complexo de Édipo era nosso melhor meio de orientação. Atualmente, os novos sintomas – como o fracasso escolar, a toxiconomia, a bulimia, a anorexia, a obesidade, a depressão, a síndrome do pânico, a violência etc – não são talvez capturados pela estrutura edípica. Isso porque a estrutura edípica era apropriada a um mundo padronizado, e na globalização não há padrão. Na globalização, a hierarquia social está indo por água abaixo. É o império do efêmero, no qual o que importa é o que vivemos no presente. Os laços sociais não se multiplicam em pequenos mundos. Na pós-modernidade há uma valorização do individualismo, a opinião dos outros deixa de ser importante e as emoções íntimas são privilegiadas. Nesse sentido, podemos nos perguntar: o que fazer, então, diante das novas modalidades de sofrimento psíquico? Como escutar de maneira mais eficaz os pacientes que nos procuram? Qual é, para os psicanalistas, o melhor caminho a seguir?

 

Considerações finais

Como pudemos perceber no decorrer deste estudo, algumas questões intrigam grande parte dos analistas atuais. Por exemplo: como a psicanálise pode lidar com os impasses do mundo contemporâneo e que se atualizam nas patologias dos excessos e escassez? Qual o destino da escuta psicanalítica diante de tantas transformações a que estão assujeitados os sujeitos?

Dentre as mudanças ocorridas, podemos ressaltar a remodelação dos valores tradicionais, a substituição da moral dos sentimentos pela moral sensorial, a substituição das relações de proximidade real pelas relações de intercâmbio virtual e a proliferação das patologias corporais.

De acordo com Lipovetsky (2004), na hipermodernidade assistimos a uma reconciliação com os princípios básicos da modernidade, como a democracia, os direitos humanos e o mercado. O autor fala de uma reciclagem da modernidade. Se por um lado falamos de uniões mais frágeis e precárias, por outro, constatamos, nessas uniões, a preservação do matrimônio, a revalorização da fidelidade e a vontade de contar com relações estáveis na vida amorosa. Segundo Costa (2004), nossa sociedade preservou os grandes princípios democráticos da igualdade, liberdade e direitos do homem, descartando neles o que se tornou caduco e dando-lhes o colorido da contemporaneidade. As instituições tradicionais, que antes eram universais e incontestáveis e estavam vinculadas à vida sentimental, foram substituídas pela mitologia científica. Dessa forma, os novos valores são definidos pelos princípios científicos que garantem a longevidade, a preservação da beleza, da boa-forma e da saúde. O bem ou o bom passam a ser definidos pela distância ou proximidade da qualidade de vida.

Segundo Lipovetsky (2004), o desenvolvimento desenfreado da ciência, da tecnologia e da informática, na era da globalização, multiplicou a oferta de produtos e serviços, deixando os indivíduos completamente desorientados e angustiados diante da liberdade de escolhas. Mas o que deve nos preocupar, segundo esse autor, é a fragilização das personalidades, propiciada pelo enorme avanço da individualização e pelo declínio do poder organizador que o coletivo tinha sobre o individual. Se por um lado o indivíduo hipermoderno é mais autônomo, por outro acaba por se tornar mais frágil em função da quantidade de exigências e obrigações que o nosso mundo lhe impõe. Para o autor, a hipermodernidade é marcada por tendências contraditórias, pois enquanto de um lado há pessoas que cuidam excessivamente do corpo, de outro, há uma proliferação de patologias individuais marcadas também pelo excesso. Ao mesmo tempo em que morrem as utopias coletivas, intensificam-se as atitudes de prevenção e previsão. As expectativas em relação ao futuro inquietam os indivíduos, então é preciso prevê-lo e organizá-lo. Há uma obsessão com o que está por vir. Surge a medicina preventiva.

As relações que antes eram cultivadas por meio do contato direto entre os seres humanos, de encontros, passeios e conversas, são substituídas pelo contato virtual. As circunstâncias da vida na contemporaneidade, com a valorização da produtividade, eficiência, flexibilidade, rapidez, levam os indivíduos a uma busca acelerada de mais conhecimento e aperfeiçoamento, o que tem como conseqüência a priorização da vida profissional em detrimento da vida afetiva. Desse modo, as relações afetivas perdem a substancialidade e são substituídas pela ação. Não conseguimos mais acompanhar a velocidade dos acontecimentos nem fazer uma análise crítica dos fatos divulgados pela mídia; então os acontecimentos são repetidos de forma banalizada, sem um maior comprometimento do indivíduo.

Mas nosso objetivo aqui não é ver qual mundo é melhor, se o nosso ou o anterior. Trata-se, sim, de analisarmos o nosso mundo com mais cuidado, entendendo os progressos científicos, tecnológicos e da informática como parte da evolução humana. Em primeiro lugar, deve ficar claro para todos nós que o nosso tempo é muito diferente do tempo freudiano. Muitas mudanças aconteceram e o homem teve que lidar com elas, e também encontrar novos meios para absorvê-las. Estamos diante de uma nova era, pois surgiram novos laços sociais e também novos sintomas. As psicopatologias contemporâneas encontraram novas formas de apresentação, e por conseguinte, necessitamos articular a formação da subjetividade e o próprio psiquismo como tal, sob diferente enfoque. Nesse sentido que o corpo e os afetos (intensidades) vêm readquirir seu lugar de importância.

Nossa sociedade deu grande ênfase à imagem corporal, de tal forma que o corpo tornou-se uma referência para a construção da identidade. O que somos ou devemos ser está condicionado a nossos atributos físicos. O mal do século é o mal do corpo; e sem a boa-forma e a saúde, minam nossas chances de alcançarmos sucesso. A mídia reforçou a participação do corpo na constituição da subjetividade de dois modos: primeiro, por meio de propagandas de produtos e serviços para corrigir e melhorar a imagem corporal; e depois, associando as qualidades corporais à capacidade do indivíduo de alcançar sucesso social.

Assim, a busca por um padrão de beleza exigido pela sociedade parece ofuscar o bom-senso das pessoas em relação à própria saúde. Percebemos que boa parcela dos adultos contemporâneos vive como os adolescentes, acreditando no mito da eterna juventude, reforçado pelo consumo desenfreado de produtos que prometem a beleza e a vida eternas, desprovidos de rituais de passagem que lhes permitam lidar com seus problemas reais e ascenderem à condição de sujeitos desejantes, porém incompletos e responsáveis por seus atos. Por outro lado, existem os aspectos positivos dos cuidados com o corpo e com a saúde, como por exemplo, o desenvolvimento da medicina preventiva, da engenharia genética, as exigências de cuidados com a natureza, nos quais qualquer ato poluidor ou predatório são condenados.

Talvez possamos associar a pobreza do mundo interno e a dificuldade de simbolização dos indivíduos contemporâneos a uma dificuldade na articulação e desenvolvimento da subjetividade em função de um extenso prolongamento ou manutenção de satisfações pulsionais para além dos limitessuportáveis pela própria criança em nome da garantia ou alívio frente à dor e à angústia humanas. Assim, podemos pensar a cotidiana dificuldade dos pais em colocarem limites para seus filhos, em uma sociedade na qual não há lugar para a angústia, que não tolera a falta. Nossa sociedade tem dificuldade para lidar com faltas, falhas, frustrações, limites. No entanto, todos esses processos fazem parte do desenvolvimento psíquico.

Outro fato curioso relatado por Herrmann (1994) e Costa (2004) é o papel da mídia na formação da opinião. Para esses autores, a velocidade dos acontecimentos e a multiplicidade de informações fazem com que o indivíduo deixe de refletir sobre os fatos divulgados pela mídia, passando a acatá-los sem maiores questionamentos. Assim, o que é verdadeiro passa a ser definido pelos proprietários dos meios de comunicação, e a durabilidade de um anúncio fica condicionada à sua capacidade de manter a audiência dos expectadores. Dessa forma, os acontecimentos passam a ser banalizados e acabam funcionando simplesmente como entretenimento.

Herrmann (2001) afirma que, com Freud, a psicanálise buscava compreender o mundo, pois ele se interessava pelos acontecimentos sociais e culturais de sua época, pelas produções artísticas, lendas, mitologias, literatura etc. Além disso, Freud deixava-se impregnar pela experiência concreta dentro e fora do consultório. Entretanto, depois de Freud, com a proliferação das escolas psicanalíticas, a psicanálise reduziu-se à terapia analítica, ao estudo da relação analítica e do psiquismo individual. Para esse autor, a linha de horizonte da psicanálise é tornar-se uma ciência geral da psique, uma teoria da alma humana. Para isso, cabe ao analista atual compreender as transformações do mundo em que vivemos e ampliar a escuta psicanalítica, criando formas de intervenção mais profundas e amplas, com uma flexibilidade e diversidade maior no que diz respeito aos rituais psicanalíticos, permitindo assim que a psicanálise sustente uma variedade maior de práticas que extrapolem o consultório privado. Nesse contexto, a psicanálise não deve se reduzir a uma tradução simultânea da fala do paciente; as análises devem ser menos repetitivas; o analista deve deixar que o paciente se explique. O método interpretativo deve ser levado para outros espaços – por exemplo, instituições públicas, como hospitais, ambulatórios, creches, escolas, ou para a compreensão das obras artísticas. O que significa que a psicanálise deve ser reinventada a cada encontro, a cada vez que iniciamos uma análise. Desse modo, a teoria psicanalítica deve ser vista como um conjunto de proposições a serem testadas e desenvolvidas criticamente.

A escuta psicanalítica necessita de olhos novos para lidar com os novos sintomas. Na clínica atual buscamos pautar-nos pela responsabilização da fala do paciente e em constante abertura ao que está por vir, isto em muito se distingue do trabalho do psicanalista que buscava dar sentido à fala em função de uma lógica inconsciente pré-configurada. Porém, o que vemos destacar em nosso trabalho clínico são tanto as narrativas não construídas e desconstruídas, com as quais temos que lidar, e paradoxalmente, com formações sintomáticas densas e cristalizadas, como atributos que não se conectam ao campo subjetivante/subjetivado. Desta feita, para o analista nada resta a não ser “nada” esperar para além do que foi dito (transcendência). Sendo assim, a alternativa do analista, e por conseguinte do analisando, é ater-se ao próprio dito (imanência), responsabilizar-se pelo próprio discurso, reconhecendo-se como sujeitos que se constituem por meio de palavras, escolhas e ações.

Para lidar com as psicopatologias contemporâneas, pensamos que assim como Freud inventou a psicanálise por meio da escuta clínica de suas histéricas, o analista atual deve acreditar na possibilidade de inventar novos estilos, pautados pela ética psicanalítica, para estar com o paciente contemporâneo, e assim compreender suas novas modalidades de subjetivação. Cabe aos analistas propiciar um espaço, por meio da escuta clínica, para que os pacientes resgatem suas narrativas e desenvolvam suas singularidades, tornando-se protagonistas de sua própria história e adquirindo, com isso, uma consciência crítica capaz de possibilitar que esses corpos passivos possam se inserir como sujeitos desejantes na contemporaneidade. Esperamospr: que a escuta psicanalítica possa ser reinventada a cada encontro, respeitando a singularidade de cada paciente.

 

Referências Bibliográficas

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Endereço para correspondência
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Recebido em 16/03/06
Aprovado em 15/12/06

 

 

1Psicóloga Clínica; Mestre em Psicologia (Universidade Federal de Uberlândia).
2Psicanalista; Professor Adjunto da Universidade Federal de Uberlândia; Doutor em Saúde Mental (UNICAMP).