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Construção psicopedagógica
versão impressa ISSN 1415-6954versão On-line ISSN 2175-3474
Constr. psicopedag. vol.30 no.31 São Paulo jul./dez. 2021
https://doi.org/10.37388/CP2021/v30n31a08
ARTIGOS DE REVISÃO
O ensino e a atividade estruturada para a aprendizagem de pessoas com transtorno do espectro autista
Teaching and structured activity for learning people with autism spectrum disorder
Fernanda de Souza Machado Rasmussen1; Rosemeire da Costa Silva2; Carine da Silva Vieira Neix3
Faculdade Messiânica - SP
RESUMO
O trabalho com o ensino estruturado não faz parte de um outro currículo a ser utilizado em sala, mas sim da adequação e adaptação para torná-lo mais flexível, ajustando-o às necessidades do aluno autista. É possível alfabetizar uma pessoa autista desde que o professor dê um suporte para esse aprendizado, podendo ser necessário atendimento individual com uma prática flexível e recursos didáticos alternativos, adaptações tanto no ambiente quanto dos materiais, atividades e comportamento e supervisão de um psicopedagogo. Portanto, este trabalho mostra a importância da conscientização dos docentes sobre a adequação do currículo e a utilização de materiais estruturados para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), para que o aluno compreenda a atividade de uma forma lúdica e dinâmica, facilitando o aprendizado. Além de apontar para a importância do ensino estruturado e para a organização do ambiente e dos materiais, faz-se necessário compreender o funcionamento do pensamento do aluno autista ajustando suas necessidades ao seu estilo de aprendizagem, com no desenvolvimento de habilidades, para garantir a estruturação e organização dos pensamentos, que facilitarão o aprendizado do aluno com TEA.
Palavras-chave: Autismo. Atividades estruturadas. Ensino estruturado. Educação especial.
ABSTRACT
Working with structured teaching is not part of another curriculum to be used in the classroom, but the adaptation and adaptation to make it more flexible, adjusting it to the needs of the autistic student. It is possible to make an autistic person literate if the teacher supports this learning process, individual assistance with flexible practice and alternative teaching resources, adaptations both in the environment and in the materials, activities and behavior and supervision of a psychopedagogist may be necessary. Therefore, this work shows the importance of raising awareness among teachers about the adequacy of the curriculum and the use of structured materials for students with Autistic Spectrum Disorder (ASD), so that the student understands the activity in a playful and dynamic way, facilitating learning. In addition to pointing out the importance of structured teaching and the organization of the environment and materials, it is necessary to understand the functioning of the autistic student's thinking, adjusting their needs to their learning style, with the development of skills, to ensure structuring and organization of thoughts, which will facilitate student learning with ASD
Keywords: Autism. Structured activities. Structured teaching. Special education.
Introdução
O autismo é um transtorno do desenvolvimento, uma desorganização neurobiológica, por isso, quando falamos em autismo, é necessário pensar em um trabalho de intervenção que envolva psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos, uma vez que as habilidades acadêmicas ficam defasadas e atrapalham, comumente, o desenvolvimento da criança no ambiente escolar (WHO - World Health Organization, 1992).
A criança autista apresenta muitas barreiras comportamentais, como dificuldade na comunicação, no relacionamento, estereotipia, dentre outros, e enfrenta o despreparo dos docentes, ou seja, os profissionais não conseguem identificar as características do autista e como desenvolver o aprendizado desses estudantes, necessitando da supervisão de um especialista, principalmente na área da psicopedagogia, que é a responsável por avaliar, investigar e detectar dificuldades e habilidades da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com Beauclair (2009).
Este artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre a necessidade de a escola buscar conhecimentos sobre dos alunos com transtorno do espectro autista, e da necessidade de adequar o currículo escolar, para que o ensino estruturado seja eficaz para o aprendizado desses estudantes, sob a supervisão de um psicopedagogo.
Segundo Bossa (2000), o trabalho psicopedagógico
pode e deve ser pensado a partir da instituição escolar, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo. A escola, afinal, é responsável por grande parte da aprendizagem do ser humano (Bossa, 2000, p. 118).
É preciso adaptar o currículo, trabalho este realizado pela escola, sem, contudo, alterar os conteúdos, porém, adaptando-os para pessoas com TEA (Fonseca e Ciola, 2016).
Essas alterações oferecem ao aluno condições necessárias para cumprir o currículo comum, e fazer ajustes necessários para torná-lo adequado, ou seja, não deve criar um currículo novo para o aluno com Transtorno do Espectro Autista, mas sim adequá-lo.
O ensino estruturado abrange desde o ambiente a aplicação das atividades; o ambiente deve ser o mais limpo possível visualmente para não haver distrações. É importante desenvolver uma rotina de tarefas, o que contribui para diminuir a ansiedade do aluno, e as atividades aplicadas têm que seguir a ordem da escrita da esquerda para a direita e de cima para baixo. Dessa forma, o aluno autista pode aprender de forma intensiva e eficaz.
Para que isso aconteça, o docente tem que organizar todos os sistemas metodológicos: adequar o ambiente, preparar os materiais, adequá-los às tarefas, selecionar objetivos adaptados e funcionais, integrar o trabalho da escola com a família e os outros profissionais, favorecer a comunicação alternativa e registrar as evoluções e dificuldades do aluno, lembrando que essa organização precisa estar sempre sob a supervisão de um profissional especializado, a saber, o psicopedagogo.
Toda essa organização metodológica deve contar com o apoio de uma equipe multiprofissional, onde a presença do psicopedagogo é essencial, na evolução das aprendizagens, afinal, a Psicopedagogia surgiu para somar e colaborar com as instituições, sejam quais forem (escolas, hospitais, empresas, igrejas), contribuindo e orientando professores a repensarem suas práticas de ensino, principalmente na intervenção preventiva dos problemas de aprendizagem.
Segundo Pitombo (2004), numa visão sociointeracionista:
Os estudantes que apresentam ritmos e comportamentos tidos como problemas no aprendizado escolar fazem parte da constituição heterogênea do grupo-escola, assim sendo, não deveriam ser vistos como casos estigmatizados e isolados. Trata-se, então, de olhar a criança com problema de aprendizado escolar muito mais para identificar as suas capacidades potenciais no seu próprio desenvolvimento e aprendizado, para reconstruir a fratura do momento, do que patologizá-lo em "distúrbios" ou "doenças". (PITOMBO, 2004).
Deve existir entre todos os profissionais que atuam na área da Educação uma enorme responsabilidade de trabalhar colaborativamente, delimitando o que cada profissional que atua no processo ensino e aprendizagem pode trazer como contribuição nas aprendizagens da criança autista, pois a educação é a base para que se alcancem todos os objetivos planejados.
Nesse sentido, o trabalho com as atividades estruturadas vai de encontro ao nível cognitivo do aluno, e, cabe ao professor, na escola, e ao psicopedagogo, na clínica, avaliar o aluno para identificar o nível que ele se encontra, para poderem selecionar os materiais adequados de intervenção pedagógica e psicopedagógica. Uma análise do comportamento poderá ajudar na compreensão dos comportamentos e reações da criança autista e poderá também colaborar com os procedimentos de ensino que deverão ser adotados na aplicação de atividades pedagogicamente pensadas para estimular habilidades específicas.
Sendo assim, o professor deverá ter alguns cuidados ao confeccionar as atividades. Primeiramente, deve pensar em confeccionar diversas atividades com o mesmo objetivo, ou seja, repetir a habilidade (não a atividade), assim o aprendizado se torna significativo e evita que o aluno decore a atividade (forte característica do autismo).
Para aplicar a atividade, as vezes torna-se necessário algumas dicas para a compreensão da tarefa, a partir de comandos concisos. Essas dicas podem ser verbais (ler enunciado), motoras (pegar na mão) ou gestuais (apontar indicando o que é para ser feito, auxiliar com exemplo), como aponta Camargo e Rispoli (2013)
Tanto Fonseca e Ciola (2016 p. 47) quanto Camargo e Rispoli (2013) apontam que é possível observar que quando trabalhamos com crianças autistas, falamos da aprendizagem sem erro, ou seja, impedir que o erro ocorra com frequência, isso evita frustrações favorecendo o acerto.
O aluno se motiva a continuar e aceita as dificuldades propostas pelo professor, pois o acerto é frequente, assim nas próximas intervenções, o aluno realiza as atividades de modo mais independente e autônomo. Esse processo não é fácil, pode demorar um pouco para atingir a compreensão do aluno, a persistência do educador é fundamental para alcançar o seu objetivo.
As crianças autistas têm por costume se recusar a fazer determinadas atividades ou seguir uma ordem. Algo muito utilizado são os reforçadores (Lear, 2004), que devem ser algo que a criança gosta muito como: carrinho, boneca, pano, doce e até mesmo atenção.
Esse reforçador deve ser oferecido imediatamente a ação, portanto ocorre logo depois que o aluno faz atividade proposta, assim este método tem o efeito de fazer com que o aluno execute as atividades com mais frequência e prazer.
Os reforçadores devem ser oferecidos somente quando a criança apresentar comportamentos adequados: como comer sozinha, guardar seus pertences, realizar as atividades. Não se deve reforçar comportamentos inadequados, mesmo em momentos de birra ou crise, pois caso ao contrário, o aluno frequentemente se comportará de maneira inadequada para ter acesso ao reforçador. Temos que lembrar que os reforçadores não são pré-definidos eles podem mudar ao decorrer do dia, da semana, do mês ou até mesmo do interesse do aluno. O docente tem que se atentar à motivação e ao interesse do aluno naquele dia específico (Camargo e Rispoli, 2013).
Esse modelo estruturado não serve apenas para os autistas, mas para todas as pessoas que apresentam dificuldade de aprendizagem. Muitas vezes, o professor cria uma atividade estruturada com um objetivo prático e o aluno surpreende criando outras maneiras de execução.
Principalmente para o autista, o modelo estruturado de ensino é essencial para o desenvolvimento da aprendizagem e se torna um facilitador para as didáticas do professor.
Metodologia
Segundo Bossa (2002), quando falamos de dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, na maioria das vezes implica em avaliar o papel da escola em sua ocorrência, por isso, o presente trabalho, de cunho qualitativo, não se preocupou com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de como se dá a utilização de materiais estruturados no processo de aprendizagem de crianças com transtorno do espectro autista na instituição escolar, preferencialmente, sob a supervisão de um psicopedagogo.
O principal objetivo foi demonstrar a importância da adaptação e adequação dos materiais, para conhecimento das dificuldades e identificação das mediações necessárias para o processo de ensino e aprendizagem da criança autista, a partir de materiais estruturados adequados para que a aprendizagem realmente ocorra.
Utilizamos a pesquisa bibliográfica para compreender inicialmente os fundamentos dos principais programas realizados com materiais estruturados para os estudantes com Transtorno do Espectro autista (TEA): o Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados à Comunicação - TEACCH®, na sigla em inglês) e o ABA® (Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês), bem como a organização de tempo e espaço para a utilização deles.
A partir dessa compreensão, buscamos exemplos de aplicação do ensino estruturado e suas bases teóricas para tornar o ambiente mais agradável, previsível e acessível, assim potencializando o momento da aprendizagem, através de rotinas individualizadas, baseadas nas necessidades dos estudantes, já que, para alguns, essa rotina e materiais tem que ser totalmente adaptados, desde apoio físico ou motor (conduzir de forma física ao acerto), visual (demostrar com modelo ou exemplo) ou verbal (Leitura do enunciado, dicas verbais), e para outros podem ter poucas adaptações.
Essa pesquisa nos permitiu visualizar a utilização desses programas, principalmente o TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados à Comunicação) que se baseia na adaptação do ambiente para que a criança o compreenda e consiga se organizar nele, sabendo de antemão o que se espera dela, no que tange às tarefas a serem realizadas em cada ambiente.
Isso possibilita o desenvolvimento de certa independência por parte do estudante, que, embora precise do professor para o desenvolvimento de novas atividades, pode trabalhar com as atividades rotineiras com certa autonomia, respeitando suas características próprias.
Ao professor caberá a adaptação das ideias gerais e dos recursos disponíveis às características próprias da personalidade de cada estudante.
Dito isto, é imprescindível ressaltar o papel do professor como mediador e facilitador dessas aprendizagens para o sucesso na viabilização delas.
Registramos e analisamos todos os exemplos colhidos e observados numa escola de educação especial da Zona Norte de São Paulo e passamos então a conceituar o que é e arrolar os benefícios trazidos pelas atividades estruturadas, bem como os benefícios trazidos ao ensino quando o professor detém esse conhecimento para alavancar a aprendizagem de seus alunos.
O ensino e a atividade estruturada para a aprendizagem de pessoas com transtorno do espectro autista
O Transtorno do Espectro autista (TEA) engloba alguns diagnósticos, podendo variar conforme a área de menor ou maior prejuízo ao indivíduo, e comprometer o comportamento, a comunicação e a interação social. Tais manifestações variam, pois dependerão do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.
Segundo Santos (2008), o autista tem dificuldade em se relacionar e adaptar a novos ambientes.
Esse comportamento é logo confundido com falta de educação e limite. E por falta de conhecimento, alguns profissionais da educação não sabem reconhecer e identificar as características de um autista, principalmente os de alto funcionamento, com grau baixo de comprometimento (SANTOS, 2008 p.9)
Ainda, Santos (2008) afirma que o transtorno pode variar da hiperatividade, inquietação, ansiedade, empobrecimento e até mesmo ausência na fala. Para garantir o desenvolvimento dessas áreas, é necessária uma equipe multidisciplinar de profissionais capacitados.
Uma vez que o TEA (Transtorno do Espectro Autista) se configura como uma condição, cujos traços causam impacto na habilidade social, na fala e na linguagem; na comunicação verbal e não verbal e no aspecto comportamental, Moreira (2010) descreve que a alfabetização das pessoas com autismo é um processo lento e exige paciência do docente, pois o autista demonstra dificuldade em compreender regras, e necessita de recursos visuais e organização espacial.
É possível alfabetizar um aluno com autismo, porém em alguns casos, é necessário atendimento individual, uma prática flexível e recursos didáticos alternativos, visando um aprendizado significativo, por isso, além da equipe de educadores, a presença do psicopedagogo também deve ser frequente.
Segundo a Secretaria da Educação Especial (2003) o Currículo é um só, porém podem ocorrer adequações curriculares, que irão atender as necessidades particulares de aprendizagem do aluno.
Adaptações Curriculares, portanto, são respostas educativas que devem ser dadas pelo sistema educacional, de forma a favorecer a todos os alunos e, dentre estes, os que apresentam necessidades educacionais especiais [...]. (BRASIL, 2000, p. 5)
A adequação curricular é feita dentro do planejamento comum, assim o professor faz as adaptação e ajustes nas atividades, sem mudar o conteúdo.
Conforme a secretaria da educação (2003):
As Adaptações Curriculares no âmbito do Projeto Pedagógico devem focalizar principalmente a organização escolar e a disponibilização de serviços de apoio. Elas devem propiciar as condições para que as demais adaptações que se façam necessárias para atender às necessidades especiais de alunos possam também ser implementadas (Secretaria Da Educação Especial, 2003 p.10).
Existem três níveis de adaptação curricular previstos nos documentos de orientação curricular do Ministério da Educação para o planejamento educacional, à saber:
no âmbito do Plano Municipal de Educação e no do Projeto Pedagógico, tanto do Município como da Unidade Escolar; no âmbito do Plano de Ensino, elaborado pelo professor; no âmbito da Programação Individual de Ensino, também elaborada pelo professor. As Adaptações Curriculares no âmbito do Projeto Pedagógico devem focalizar principalmente a organização escolar e a disponibilização de serviços de apoio. Elas devem propiciar as condições para que as demais adaptações que se façam necessárias para atender às necessidades especiais de alunos possam também ser implementadas (Secretaria Da Educação Especial, 2003 p. 8).
Enfocamos nesse trabalho as adaptações que estão no âmbito do Plano de Ensino e da Programação Individual de Ensino, ambas elaboradas pelo professor.
A atividade estruturada é uma forma de adequação muito eficiente para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), onde o aprendizado é visual e o modelo estruturado possibilita a organização mental, assim facilitando o processo do ensino e aprendizagem.
Paiva (2012), relata que o sistema apostilado utilizado em sala de aula pode ser facilmente adaptado e organizado a fim de tornar mais lógico para a criança autista, ou seja, atividade adaptada tem que ter o mesmo objetivo da apostila. Para adaptar, sugere pequenas adequações dos materiais didáticos como o uso de velcro para colar e para maior durabilidade, a plastificação das atividades.
As atividades estruturadas são práticas pedagógicas que facilitam e permitem o desenvolvimento das crianças, esse ensino consiste em técnicas comportamentais para educação especial. O modelo estruturado procura tornar o ambiente mais agradável, previsível e acessível, assim potencializando o momento da aprendizagem. Para que o resultado seja eficaz é apropriado o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar que engloba o psicopedagogo, fonoaudiólogo, Terapia ocupacional e psicólogo, dentre outros. Essa equipe auxilia o professor no processo do ensino e aprendizagem do autista, orientando conforme as dificuldades apresentadas.
Segundo Fonseca e Ciola (2016), para compensar os déficits cognitivos, sociais, sensoriais, comunicativos e comportamentais presentes na pessoa autista, é adequado compor um modelo estruturado de ensino, ou seja, propor um ambiente organizado, uso de agendas de rotina individualizada, e atividades estruturadas.
Quando tratamos de ambiente estruturado ele só terá significado se houver uma proposta para a organização, caso contrário, será um ambiente meramente produzido sem nenhuma função.
A disposição física do ambiente de ensino é importante quando se planeja o currículo para alunos com TEA. Até a disposição dos moveis da sala pode ajudar ou atrapalhar o funcionamento independente do aluno, o reconhecimento e respeito pelas regras e limites. Muitos alunos têm dificuldades de organização, não sabendo aonde ir e como chegar, perdendo-se no ambiente quando este não lhe oferece dicas e referências. (FONSECA e CIOLA, 2016, p. 26).
Ainda segundo Fonseca e Ciola (2016), para aplicar uma atividade estruturada, o ambiente tem que ser visualmente o mais limpo possível, isso faz com que o aluno foque no que realmente é necessário no momento do aprendizado. Muitos estímulos podem causar irritação e confusão interna, desorientando a locomoção física e de materiais. Os espaços devem ser definidos principalmente para as crianças mais comprometidas, elas necessitam de um ambiente organizado, onde ao entrar identifiquem os lugares apropriados, favorecendo a rotina da criança com TEA. Atividades funcionais e rotineiras, como de higiene pessoal, deverão ter um ambiente específico, como por exemplo, uma caixa para guardar os objetos de higiene, agenda, entre outros. A mesa do professor deve estar separada e próxima do aluno com autismo, para que o aluno saiba onde recorrer caso necessite de auxílio. Esse tipo de organização física permite que o aluno se localize adequadamente.
De acordo com Fonseca (2016), a pessoa com Transtorno do Espectro Autista tem a necessidade de uma rotina e organização visual. Uma estratégia que possibilita a previsibilidade é o uso da agenda/mural individual da rotina. Nesse sistema de organização de tempo e tarefas, o aluno se orienta para as atividades programadas, reduz a ansiedade, esclarece o início e término das atividades. A agenda pode ser elaborada por figuras, fotos ou escrita, conforme o cognitivo do aluno.
Quando tratamos de forma de ensino, Fonseca e Ciola (2016) citam que o aluno com TEA têm dificuldade na compreensão e seu processo de aprendizagem é mais lento. O docente deve atentar para alguns detalhes nesse processo como, por exemplo, a organização dos materiais. A forma adequada de ensino é a orientação sempre da esquerda para a direita ou de cima para baixo preparando-o para a escrita, deixar a vista somente as atividades que serão trabalhadas no momento. O professor pode trabalhar com instruções diretas e claras, dicas visuais, quebras de enunciados, destaque de itens importantes, interesse restrito, uso de vocabulário simplificado, diminuir o volume da voz, demonstração de como realiza a atividade. Vimos que as pessoas com autismo demostram dificuldade na linguagem, portanto, explicações teóricas e longas promove desinteresse.
Dependendo no nível da pessoa com autismo, ela pode necessitar de apoio físico ou motor (conduzir de forma física ao acerto), visual (demostrar com modelo ou exemplo) ou verbal (Leitura do enunciado, dicas verbais)
Para usar dicas de forma eficaz, o professor deve ser sistemático na sua apresentação. Isso quer dizer que a dica deve ser clara, consistente e direcionada ao aluno antes que ele responda incorretamente. É o que chamamos de "aprendizagem sem erros". (FONSECA e CIOLA, 2016 p. 48).
O uso das dicas no momento da aprendizagem é muito eficaz, evitam frustrações com o erro e o acerto motiva a continuação das atividades propostas. Sutilmente, podemos fazer movimento positivo ou negativo com a cabeça, mãos ou por comando verbal. Os elogios são reforçadores para o desenvolvimento da aprendizagem. O professor tem que expressar alegria ao elogiar o acerto. O reforçador pode ser verbal (elogios), comestível (balas, salgadinho, bolacha em pequenas quantidades) e concreto (brinquedo ou material que a pessoa gosta). O professor tem que identificar o que motiva o aluno, para então esse reforçador ser utilizado no momento de acerto.
Ainda Almeida e Martone (2018) confirmam:
O ensino por tentativas discretas se baseia na aprendizagem sem erros, que consiste em planejar situações de ensino expondo o aprendiz a quantidade mínima de erros possível. Quando o aprendiz erra, essa resposta errada pode ser aprendida e passar a concorrer com a resposta esperada, ou seja, pode acontecer ao mesmo tento ou substituindo o comportamento que queremos ensinar, produzindo resposta incorretas ou gerando padrões que dificultam o desenvolvimento da aprendizagem.
Piaget (1985) relata que só devemos apresentar novas habilidades ao aluno quando a anterior estiver completamente assimilada. E com pessoas com necessidades especiais não é diferente. Dependendo da habilidade motora e cognitiva, a aprendizagem pode ser mais demorada. O professor tem que ter sensibilidade e aplicar atividades estruturadas de acordo com a capacidade intelectual do aluno.
Conforme Fonseca e Ciola (2016) a criança autista tem dificuldade de aprendizagem tradicional, o docente tem que adaptar a estratégia curricular para que ocorra avanço na aprendizagem. O autismo provoca uma desorganização cerebral e isso faz com que o aluno aprenda de uma forma peculiar, isso significa que aprendizagem tem que ser adaptada para que o ensino seja lógico e objetivo. O ensino estruturado faz com que o aluno compreenda a atividade proposta com clareza e sem muita intervenção do professor. O importante não é a repetição da atividade (isso gera ensino mecânico), mas sim da habilidade (diversos materiais adaptados com o mesmo objetivo). A variação de atividades estruturadas dificulta a memorização e favorece a aprendizagem generalizada.
Segundo Fonseca e Ciola (2016) as atividades têm que ser de fácil acesso e manuseio no dia a dia escolar.
Uma tarefa organizada em uma superfície muito ampla pode ser de fácil de ser carregada e possivelmente não caberá no espaço de trabalho da criança (mesa ou carteira). Por isso, adaptamos sempre as atividades disposta em organizadores como cesta, pranchas, pastas, bandejas, caixas, recipientes e qualquer outra forma que possa oferecer estrutura ao material. (Fonseca, Ciola, 2016, p. 83)
Com criatividade as atividades podem ser confeccionadas com materiais recicláveis e objetos do dia a dia, pensando na intencionalidade e no objetivo da atividade proposta. Atividade estruturada pode ser usada com alunos com autismo ou não, tornando aprendizagem mais prazerosa, lúdica e eficaz.
Para que o aprendizado seja eficaz, os profissionais têm que entender a importância da adaptação e adequação dos materiais, conhecer as dificuldades e identificar quais são as mediações necessárias para o ensino aprendizado da criança autista e quais são os materiais mais indicados para a realização deste. A conscientização da importância do ensino estruturado e a dedicação do professor na adaptação das atividades promove um ensino prazeroso.
Considerações finais
Através da pesquisa bibliográfica fundamentada em diferentes autores e da prática de atuação na modalidade de Educação Inclusiva, mais especificamente no trato dos transtornos do Espectro Autista (TEA), foi possível perceber a viabilidade do trabalho com materiais estruturados, sob a supervisão de um profissional da psicopedagogia.
Essa pesquisa bibliográfica, pôde demonstrar e comprovar a importância para os profissionais da Educação em adaptar e adequar o currículo escolar para criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sempre com a supervisão de um psicopedagogo, que vai ajudar a compreender e intervir nas situações comportamentais e de aprendizagem.
A criança com autismo tem uma desorganização neurobiológica, assim, para um melhor aproveitamento e rendimento destas, faz-se necessário a estruturação de atividades que, organizadas visualmente, favorecerão o desenvolvimento das habilidades desejadas.
Quando se trabalha com o ensino e aprendizagem de crianças com transtorno do espectro autista, os professores têm que entender qual é o nível de compreensão desse aluno, quais são os materiais adequados, se a criança tem necessidade de reforçadores ou mesmo se a criança consegue ter uma alfabetização com pequenos ajustes em determinadas materiais e essa adequação deve ser feita em parceria e com a supervisão de um profissional da psicopedagogia.
As atividades estruturadas têm que ser desenvolvidas de acordo com a necessidade do aluno, assim sendo, para alguns alunos deve ser totalmente adaptada enquanto para outros não seja necessário.
Para desenvolver o aprendizado da criança com TEA é necessário estruturar o ambiente/atividade, pois as respostas são mais satisfatórias em situações com estrutura, organização e ordem.
No ambiente escolar, o professor é responsável por elaborar o ambiente, criar atividades com apoios visuais, dividir as tarefas em pequenas etapas, destacar o que é importante e descartar o que não é preciso na atividade, adaptar materiais, favorecendo assim, a aprendizagem dos alunos autistas.
Diversas atividades podem e devem ser utilizadas para que a criança autista aprenda o mesmo conteúdo dos demais alunos. Elas podem ser confeccionadas com materiais descartáveis sucatas, papelões etc.
Adequações simples, como colocar somente as informações necessárias à compreensão do conteúdo, retirando desenhos ou ilustrações utilizadas para deixar a atividade bonita e apresentável, por exemplo; segurar na mão do aluno (se necessário); indicar o início da atividade; apontar o que se deseja naquele momento; adaptar materiais escolares; diminuir o tom da voz e ruídos na sala de aula; etc. Atitudes como essas favorecem para um aprendizado eficaz.
Lembrando que a evolução da criança com TEA é lenta até mesmo com as atividades estruturadas. Muitas crianças as vezes demoram semanas até meses para obter uma evolução, por conta disso o professor precisa ser persistente e criativo, pois conforme se vai trabalhando surgem ideias de atividades para beneficiar o aluno, e estas podem ajudar a compreensão para as demais atividades.
Portanto, o docente que tem em suas salas estudantes de educação especial tem que sempre tentar criar recursos para a aprendizagem de seu aluno, sendo necessário adaptar o currículo e as atividades propostas, flexibilizando sua prática educacional para atingir um ensino de qualidade na diversidade, como preconiza as orientações do Ministério da Educação (Secretaria Da Educação Especial, 2003 p.7)
Alunos autistas são aprendentes visuais, portanto, aprenderão mais facilmente se o aprendizado for direto, sem erro e com recursos visuais como: gravuras e ilustrações vão de acordo com os seus interesses, facilitando sua compreensão.
A pessoa com TEA enfrenta dificuldade de trabalhar com situações abstratas, sendo assim, os recursos visuais e os materiais concretos facilitam a compreensão e consequentemente facilitam o bom desempenho.
Por meio da pesquisa podemos afirmar que a criança autista pode ser alfabetizada, mas é necessário que a escola faça uma adaptação curricular e uma adequação nas estratégias de ensino e aprendizagem, com a utilização de recursos estruturados para os estudantes com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Não estamos falando de criar um outro currículo, pois o currículo é único e não existe divergência para educação especial, mas sim de uma adaptação no que é existente para que o ensino seja eficaz para os estudantes com o transtorno do espectro autista (TEA).
Existem muitos exemplos de materiais disponíveis na internet, em livros, revistas especializadas em educação e educação especial, a maioria de fácil confecção, mas é preciso uma mobilização das escolas e dos educadores em geral (incluindo toda a equipe escolar) para que esses materiais sejam confeccionados e disponibilizados para os estudantes.
Encontramos com facilidade exemplos de confecção e aplicação desses materiais, alguns deles constantes de nossa bibliografia, em relação à aplicação dos programas TEACCH® (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados à Comunicação) - (Fonseca e Ciola, 2016) e ABA® (Applied Behavior Analysis) - (Lear, 2004), bem como muitos materiais de auxílio à alfabetização (Moreira, 2010), além dos próprios materiais do Ministério da Educação, que servem como orientação curricular e desenvolvimento de estratégias pertinentes aos estudantes com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Em toda a pesquisa, no entanto, foi possível perceber o quanto a concepção do professor (a) interfere na busca por condições que permitam uma aprendizagem eficaz e significativa e como o trabalho colaborativo com os profissionais, privilegiadamente o psicopedagogo, além de revalorizar o papel dos mesmos, possibilita a reflexão e a apropriação de novos conhecimentos e formação de identidade, permitindo aos educadores transformação de antigas práticas e uma efetiva melhoria das mesmas, caminhando para uma práxis educativa mais crítica e voltada à criança, adolescente ou adulto com transtorno do espectro autista (TEA).
O professor (a) facilitador, mediador, preconizado por todos os documentos oficiais de orientação curricular é aquele que "organiza e coordena as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características individuais dos alunos para desenvolver suas capacidades e habilidades intelectuais". (PCN, vol. 1, 1997, p. 31)
Vale lembrar que as adequações curriculares dizem respeito não só as formas de ensinar e conduzir a aprendizagem, como também às formas de avaliar (SEE, 2006).
Sendo assim, os critérios e procedimentos de avaliação devem levar em conta um necessário acompanhamento constante das pequenas evoluções no aprendizado de cada estudante com TEA (Transtorno do Espectro Autista), em relação aos seus próprios avanços, focando
os aspectos do desenvolvimento (biológico, intelectual, motor, emocional, social, comunicação e linguagem); o nível de competência curricular (capacidades do aluno em relação aos conteúdos curriculares anteriores e os a serem desenvolvidos); o estilo de aprendizagem (motivação, capacidade de atenção, interesses acadêmicos, estratégias próprias de aprendizagem, tipos preferenciais de agrupamentos que facilitam a aprendizagem e condições físico-ambientais mais favoráveis para aprender). ((Secretaria Da Educação Especial, 2006 p.80).
Todas essas considerações nos reportam ao objetivo central desse trabalho que foi o de apontar a possibilidade de adequação curricular para os estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a respectiva conscientização dos docentes sobre a importância de adequar o currículo e considerar a atividade estruturada como metodologia específica para esses estudantes.
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1 Pedagoga - Faculdade Messiânica - SP- Rua Humberto I, 612, Vila Mariana. São Paulo, SP. nanda.sramussen@gmail.com
2 Pedagoga, Psicopedagoga, Orientadora Educacional. Faculdade Messiânica - SP. Rua Humberto I, 612, Vila Mariana. São Paulo, SP. rose.e.silva@bol.com.br
3 Pedagoga, especialista em Ensino Estruturado para autismo, especialista em Intervenção ABA para autista e deficiência intelectual. Faculdade Messiânica - SP. Rua Humberto I, 612, Vila Mariana. São Paulo, SP. carine.neix@gmail.com